Peixes ornamentais do Amazonas: conheça prática que atrai entusiastas do mundo inteiro

A criação de peixes ornamentais tem uma importância econômica e sustentável. Atualmente, é uma das atividades extrativistas mais sustentáveis. Por ano, o Brasil exporta cerca de 20 milhões de peixes ornamentais de água doce.

Quem já assistiu ‘Procurando Nemo’, filme de 2003 dos estúdios Pixar, provavelmente deve ter ficado encantado com a beleza do peixe-palhaço (Amphiprioninae), o Nemo. Esse animal, na verdade, é uma espécie de peixe ornamental, que são espécies de peixes com cores e formas exuberantes vendidos e criados como “pets”. Além disso, o peixe ornamental é caracterizado pela facilidade de manutenção em recipientes e representa fonte de subsistência para pescadores.

No Brasil, a prática ganhou forma na segunda metade do século XX e com o passar do tempo foram surgindo normas e o mercado se consolidou. Apesar de ser uma prática ainda muito criticada, tem sua importância econômica e sustentável. Contudo, as fiscalizações são necessárias para garantir a sustentabilidade da pesca.

Então de que forma a pesca ornamental fomenta a economia de comunidades ribeirinhas em municípios do interior do Amazonas? 

O Portal Amazônia mostra curiosidades sobre a pesca ornamental, seu comércio, sustentabilidade e eventos relacionados. Confira a seguir:

Foto: Reprodução/My Aquarium

De acordo com dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), atualmente, a pesca ornamental é uma das atividades extrativistas mais sustentáveis quando comparada, por exemplo, com a extração de madeira e mineração, que trazem enormes prejuízos ao ambiente à curto e longo prazo.

O Brasil exporta, por ano, cerca de 20 milhões de peixes ornamentais de água doce, o que gera um lucro de cerca de 4 milhões de dólares. 

Na Amazônia

Com uma das maiores biodiversidades de fauna do planeta, a Amazônia apresenta uma enorme quantidade de espécies de peixes ornamentais, de diferentes tipos, tamanhos e cores. Mais de 90% das espécies de peixes ornamentais exportados são de espécies capturadas no Pará e no Amazonas.

A bióloga e mestra em biologia de água doce e pesca interior Lucia Rapp Py-Daniel, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), alerta para os alguns impactos provocados pelo descarte irregular dos animais.

Durante um bom tempo, a prática do aquarismo, e a própria fiscalização, não respeitava essas diferentes regionalizações e o que ocorria eram descartes de espécies ou apreendidas em comércio ilegal ou até pelos próprios aquaristas, em locais que não eram a procedência original, muitas vezes provocando introdução de espécies que poderiam prejudicar a fauna local e causando desequilíbrios nessas populações.

Lucia Rapp Py-Daniel

Ela comenta sobre espécies de bodas do Xingu, no Pará, que são vendidos como se fossem do Rio Negro, no Amazonas, o que ocasiona distúrbios por conta de descartes irregulares. Por isso, é importante que compradores saibam a procedência dos peixes. 

Conheça as espécies mais populares de peixes ornamentais:

Tetra cardinal (Paracheirodon axelrodi)

De todos é o mais popular. Ganhou a preferência de aquaristas do mundo todo devido a facilidade de criar, por ser pequeno e com cores exóticas. É uma espécie extremamente pacífica e cardumeira e pode ser mantida em aquário comunitário, desde que não possua espécies de porte muito maior. Deve-se mantê-los em pelo menos dez indivíduos para que fiquem desinibidos e a vontade.

Foto: Reprodução/Escola de aquário

Limpa-vidros (Otocinclus affinis e Otocinclus vittatus)

São muito procurados por seus serviços de “higienização” nos aquários. Conquista aquaristas iniciantes e experientes. Além disso, é muito apreciado por sua capacidade de se alimentar de algas. Alguns cuidados são necessários para não perder peixes na fase de adaptação. Devido ao seu tamanho, é uma ótima escolha para um aquário pequeno.

Foto: Reprodução/Pinterest-mundoacuariofilo

Acará- disco (Symphysodon)

São peixes mais indicados para fãs de aquário mais experientes. Uma disca para entusiastas é não misturar criados e importados com selvagens, pois os selvagens tem doenças e anticorpos que os criados e importados não tem. Selvagens quase sempre só se alimentam de comida viva.

Foto: Elma Cook/Depositphotos

Coridora (Corydoras sp)

Semelhante aos limpa-vidros, a Coridora é conhecida também como limpa-fundo e gosta de se alimentar de minhocas e animais semelhantes presentes nos fundos dos aquários.

Foto: Reprodução/Aquarium Domain

Peixe-borboleta (Carnegiella strigata)

Essa espécie é chamada assim devido ao seu comportamento de pular, literalmente, para fora do aquário. Por isso, deve-se sempre observar se a tampa foi colocada.

Foto: Reprodução/Aquarismo paulista

Comércio pouco estruturado

A pesquisadora Lúcia Py-Daniel relata que apesar da fiscalização recente, o comércio em alguns municípios interioranos ainda é pouco estruturado no Amazonas. O município de Barcelos, atualmente, é o que comporta o maior volume de comércio de peixes ornamentais amazônicos. 

Existe comércio também em municípios como Tapauá, no Rio Purus, Humaitá, e outros nas margens do Rio Madeira. A cientista relembra o caso da zebrinha do Xingu (Hypancistrus zebra): 

Tivemos na década 90 o problema com o zebrinha do Xingu, uma espécie muito popular de bodó e muita cara no comércio exterior. O alto preço do zebrinha na Europa e Estados Unidos provocou uma febre de pesca deste bodozinho que provocou uma diminuição drástica das populações naturais. Se uma espécie sofre uma diminuição muito grande de sua população, ela pode chegar a um ponto de não recuperação e, a partir daí, definhar até se extinguir na natureza.

Lucia Rapp Py-Daniel

Sustentabilidade

 “Compre um peixe, salve uma árvore” é o lema do projeto que o Oceanário de Lisboa começou a apoiar. O objetivo é promover a pesca sustentável de peixes ornamentais na Amazônia através do Projeto Piaba, um projeto de conservação da natureza que, desde 1989,  promove a captura destes pequenos peixes ornamentais.

A ideia até pode parecer contraditória à primeira vista, contudo, os mentores do projeto lembram que 60% dos rendimentos do município de Barcelos, no Amazonas, dependem da captura e venda destes peixes. 

Quando retirada essa atividade, outras com impacto ambiental aparecem, como abate de árvores, criação de gado, exploração mineira de ouro e até migração para zonas urbanas.

Festival do Peixe Ornamental de Barcelos

Em 1994, a Prefeitura Municipal de Barcelos criou o Festival do Peixe Ornamental de Barcelos, com o objetivo de divulgar a cultura e os produtos regionais, principalmente o peixe ornamental, por representar uma das maiores fontes de renda do município.

No evento, que é um dos mais tradicionais do município, as agremiações Cardinal e Acará-Disco se enfrentam em uma disputa que envolve elementos de dança e música da cultura indígena. A programação também inclui shows de músicos locais e das atrações nacionais e acontece todo mês de janeiro. Em 2021, o evento não foi realizado em função da pandemia da Covid-19. 

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

IBGE divulga que Brasil tem mais de 8,5 mil localidades indígenas

Pesquisa indica que entre 2010 e 2022 a população indígena cresceu 88,9% e aponta desafios em temas como saneamento, coleta de lixo e educação.

Leia também

Publicidade