A Amazônia é um dos pontos mais preocupantes que estão sofrendo com as mudanças climáticas e as consequências que isso pode causar em todo o planeta.
O Dia Mundial do Planeta Terra, comemorado no dia 22 de abril, representa a luta em defesa do meio ambiente, levantando a reflexão sobre a importância do planeta e o desenvolvimento da consciência ambiental.
A data foi criada por meio de um protesto ambiental que ocorreu em 1970, liderada pelo ativista ambiental e senador estadunidense Gaylord Nelson (1916-2005), no dia 22 de abril, nas cidades de Washington, Nova York e Portland. Com o auxílio de diversas áreas da educação, somando aproximadamente 20 milhões de pessoas, o ativista realizou um grande movimento com passeatas e discursos que alertavam sobre as questões ambientais.
Alguns dos temas abordados foram a poluição, a destruição do ambiente, o desmatamento e o efeito estufa. A intenção também era pressionar o governo e atingir alguns dos seus objetivos. Passados oito meses após o evento, um órgão responsável pelos assuntos ambientais, a Agência de Proteção Ambiental (Environmental Protection Agency), foi criado, além de implementados e executados alguns projetos.
A partir desse momento, outros encontros, conferências e debates foram sendo criados em torno da questão ambiental, como a Conferência de Estocolmo (1972). Entretanto, a data só foi implementada pela ONU no ano de 2009.
As mudanças climáticas e suas consequências são as preocupações atuais do mundo científico, sendo debatido principalmente pela Conferência das Partes, a COP, realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), anualmente.
Nesse contexto, a Amazônia é uma das regiões que mais preocupam os especialistas. Em março de 2023, doze pesquisadores do Brasil, Canadá, China, Estados Unidos e Reino Unido mapearam as evidências científicas atuais acerca de ‘pontos de não retorno’ para dez elementos, descrevendo mecanismos, riscos humanos e ecossistêmicos. Ao atingir o ponto de ruptura, esses elementos passam por mudanças drásticas em relação ao seu estado original, que podem iniciar um efeito cascata sobre outros sistemas terrestres.
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A região amazônica é responsável por 15% da fotossíntese terrestre total do mundo, além de possuir rica biodiversidade e também representa um importante sumidouro biológico de carbono terrestre. De acordo com o estudo, a perda da Floresta Amazônica pode levar a floresta tropical a uma vegetação tipo Cerrado.
Acredita-se que a floresta amazônica tenha perdido cerca de 20% de sua extensão de área anterior a 1970, e desde 1985 os impactos humanos na Amazônia aumentaram 174%. Uma estimativa calcula uma perda líquida de carbono da biomassa acima do solo na Amazônia entre 1996 e 2017 como resultado do desmatamento e perturbação.
A preocupação é que caso a Amazônia atinja o ‘ponto de não retorno’, poderá afetar o mundo todo. No ano passado, o Portal Amazônia conversou com o doutor pelo Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade de Michigan e pesquisador no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Philip Fearnside, para entender o cenário atual da região.
De acordo com Fearnside, o desmatamento e a degradação por exploração madeireira e incêndios, junto com mudança climática, pode levar ao colapso da floresta remanescente. Isto teria consequências gravíssimas para o Brasil, inclusive para a manutenção da cidade de São Paulo, que depende de água reciclada pela floresta e transportada para o Sudeste pelos “rios voadores”.
No âmbito mundial, a perda de floresta também faria uma contribuição crítica ao agravamento do aquecimento global e poderia ser um fator chave em provocar a passagem de um ponto de não retorno climático, levando ao aquecimento global fora do controle humano.
Ponto de Inflexão na Amazônia está chegando
De acordo com um estudo divulgado na revista Nature Climate Change, mais de três quartos da floresta amazônica já perdeu resiliência nas últimas duas décadas devido a um aumento dos eventos extremos.
De acordo com um estudo publicado em março de 2022 na revista Nature Climate Change por pesquisadores do Reino Unido e da Alemanha constataram que o ponto de inflexão da Amazônia está mais próximo do que se imaginava.
O estudo foi conduzido a partir de dados relativos à degradação florestal da Amazônia entre 1991 e 2016, coletados por meio de imagens de satélite. Além de observar a evolução da cobertura vegetal, os pesquisadores também se atentaram para as reações ecossistêmicas a esses distúrbios.
Alterações climáticas e exploração da Amazônia impactam conhecimento meteorológico popular em quilombo no Pará
Uma pesquisa, apoiada pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa), apontou dados físico-químicos e fluxos de gases preliminares de transição entre o período seco e chuvoso, nos canais de Breves e Boiuçu, são similares aos observados no percurso do rio Amazonas, o que confirmou a conexão entre o rio Amazonas e o estuário do rio Pará. O estudo inédito também revelou que as águas do rio Tocantins apresentam um padrão biogeoquímico similar a outros rios de águas claras, como por exemplo Xingu e Tapajós. A expedição foi composta por 10 pesquisadores de diferentes instituições do Brasil, percorreu cerca de 900 quilômetros entre Belém, estreito de Breves, Canal Boiuçu, Rio Tocantins, Rio Pará, Guamá e Acará.
Savanização da floresta amazônica ameaça espécies de mamíferos
O estudo ‘Os padrões de uso do habitat sugerem que as mudanças na vegetação causadas pelo clima impactarão negativamente as comunidades de mamíferos na Amazônia’, publicado na revista Animal Conservation, assinado pelos pesquisadores Daniel Rocha e Rahel Sollmann, da Universidade da Califórnia, (Davis, nos Estados Unidos), apontou que mesmo os animais que usam habitats de floresta e savana, como pumas e tatus gigantes, são vulneráveis a essas mudanças.
De acordo com o estudo, esses resultados sugerem que “a maior parte da comunidade de mamíferos terrestres é potencialmente vulnerável à savanização, incluindo várias espécies tipicamente consideradas generalistas de habitat”.
Quais os limites para a sobrevivência da floresta amazônica?
Em setembro de 2021, um megaestudo, envolvendo dezenas de pesquisadores de vários países, buscou achar as respostas para entender até que ponto as florestas tropicais podem aguentar o aquecimento global. Para isso, integrou dados de 590 áreas florestais permanentes, distribuídas pela faixa tropical do planeta, correlacionando as variáveis climáticas com o ciclo de carbono das florestas. As conclusões foram publicadas na revista Science.
“O estudo mostrou que a temperatura máxima é o fator que mais influencia a biomassa situada acima do solo. Em primeiro lugar, reduzindo sua capacidade de assimilar carbono por meio da fotossíntese e de convertê-lo em madeira. Em segundo lugar, aumentando a taxa de mortalidade das árvores, o que acentua as emissões de carbono e, por decorrência, o aquecimento global, em um círculo vicioso”, diz Luiz Aragão.
Para que as florestas tropicais possam se adaptar às mudanças climáticas é preciso que a temperatura global não exceda o limite de dois graus Celsius (2 °C) acima da temperatura da época pré-industrial, conforme a meta fixada no Acordo de Paris. E que, localmente, a temperatura da área florestal não ultrapasse 32,2 °C
Qual a importância da preservação das florestas?
O Portal Amazônia, em junho de 2022, conversou novamente com o doutor pelo Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade de Michigan e pesquisador no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Philip Fearnside, para entender sobre a importância da preservação das florestas.
De acordo com Fearnside, a preservação das florestas amazônicas têm importância vital para a manutenção de todo ecossistema brasileiro, a exemplo da seca que ocorreu em 2014 no sudeste brasileiro. O pesquisador também comentou que a perda da floresta, seja por desmatamento ou queimadas, por exemplo, implica em grandes perdas de biodiversidade. “[…] também há perda de valor intrínseca. Junto com a floresta também perde os povos indígenas e viola os seus direitos”, declara.
A exemplo da importância biológica da floresta, as árvores funcionam como uma espécie de ‘esponja’ que absorve as águas da chuva que, por sua vez, abastecem lençóis freáticos e recarregam aquíferos, ou seja, a carga de água dos rios está diretamente relacionada à existência de florestas. Além disso, a manutenção das florestas ajuda a evitar a erosão do solo.