Em um contexto em que a Amazônia Legal apresentou o pior índice de desmatamento nos últimos 10 anos, torna-se cada vez mais essencial a preservação das florestas.
As florestas, de modo geral, são as principais responsáveis por termos ar puro, água potável de qualidade e muito dos alimentos que consumimos.
Contudo, nos últimos anos, evidenciam-se fatores como o desmatamento das florestas, ações antrópicas que ocasionaram queimadas, monocultura e pecuária extensiva, corte ilegal de madeira, entre outras razões que estão causando a perda da biodiversidade nas florestas, além de perdas biológicas e sociais imensuráveis.
O Portal Amazônia conversou com o doutor pelo Departamento de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade de Michigan e pesquisador no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Philip Fearnside, sobre a importância da preservação das florestas.
Em um contexto em que a Amazônia Legal apresentou o pior índice de desmatamento nos últimos 10 anos, com 29% a mais de áreas desmatadas em relação à 2020, totalizando 8.096 km² de áreas desmatadas, torna-se cada vez mais essencial a preservação das florestas.
De acordo com Fearnside, a preservação das florestas amazônicas têm importância vital para a manutenção de todo ecossistema brasileiro, a exemplo da seca que ocorreu em 2014 no sudeste brasileiro.
“Em 2014, São Paulo quase ficou sem água até para beber e em 2021 aquela região também sofreu uma grande seca. O novo padrão de secas no Sudeste brasileiro, que está ligado ao aquecimento global, diminui a margem de tolerância para perda da água suprida pelos ventos conhecidos como “rios voadores” da Amazônia, que transportam água que foi reciclada pelas árvores da floresta. A perda dessa água também implicaria em grandes perdas para a agricultura brasileira”,
lembra.
O pesquisador também comentou que a perda da floresta, seja por desmatamento ou queimadas, por exemplo, implica em grandes perdas de biodiversidade. “[…] também há perda de valor intrínseca. Junto com a floresta também perde os povos indígenas e viola os seus direitos”, declara.
A exemplo da importância biológica da floresta, as árvores funcionam como uma espécie de ‘esponja’ que absorve as águas da chuva que, por sua vez, abastecem lençóis freáticos e recarregam aquíferos.
Ou seja, a carga de água dos rios está diretamente relacionada à existência de florestas. Além disso, a manutenção das florestas ajuda a evitar a erosão do solo.
“A floresta também estoca grandes quantidades de carbono e se isto for lançado na atmosfera seria uma contribuição substancial ao efeito estufa. O aquecimento global é um problema para o mundo inteiro e o Brasil é um dos países que tem mais para perder ser o aquecimento for permitido a avançar sem controle”,
complementou Fearnside.
No mais, a retirada de floresta afeta o habitat de animais que vivem na região e sua diminuição e até mesmo de animais que se alimentam de vetores como o Aedes aegypti, transmissor de doenças como dengue, chikungunya e zika vírus.
Em relação aos impactos sociais, a retirada da cobertura vegetal também prejudica os povos indígenas devido ao fato de ameaçar reservas e territórios ocupados por estes povos.
Desenvolvimento VS Equilíbrio
Esses fatores nos fazem questionar se há como ocorrer um desenvolvimento econômico aliado a um equilíbrio ecológico e ambiental. Nesse sentido, ele explica:
“A primeira prioridade é de reconstruir IBAMA, ICMBio e FUNAI, que foram desmantelados nos últimos anos, colocando lideranças comprometidos com o enfrentamento dos problemas ambientais, repondo e aumentando o quadro de servidores, dando orçamento adequado e revogando a enorme “boiada” de normas internas instituídas para inibir a sua atuação e eficacidade”.
Phillip Fearnside
E o especialista completa lembrando que muitas ações que tem ocorrido na região amazônica devem ser urgentemente evitadas.
“Também precisa bloquear os muitos projetos de lei pendentes que visam mudanças como abrir terras indígenas para mineração, barragens e agronegócio; impedir criação de terras indígenas e unidades de conservação; rebaixar ou reduzir unidades de conservação; facilitar legalização de terras griladas; diminuir ou eliminar exigências de licenciamento ambiental para projetos de infraestrutura; etc”,
enumerou.
Amazônia Que Eu Quero
A plataforma ‘Amazônia Que Eu Quero‘ realiza, no dia 30 de junho, o quinto e último fórum da temporada, dessa vez com a temática ‘Florestas‘. O evento acontece às 20h (hora Manaus/AM) e será transmitido simultaneamente no perfil da Fundação Rede Amazônica no Youtube, no canal de TV Amazon Sat e no Portal Amazônia. O evento faz parte da série de cinco fóruns previstos para a edição ‘Caminhos da democracia’ em 2022.
Assuntos como gestão e concessão de florestas, desmatamento e mercado de carbono serão discutidos por especialistas de toda região norte do país, como o professor e doutor Philip Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas na Amazônia (INPA); o Secretário de Estado do Meio Ambiente do Amazonas (SEMA), Eduardo Taveira; a representante do Conselho Nacional da População Extrativistas (CNS), de Porto Velho em Rondônia, Dione Torquato; e a diretora-executiva do do Instituto do Homem e Meio Ambiente (Imazon), Ritaumaria Pereira, no Pará.
Após o evento, o comitê formado por especialistas, professores e representantes de órgão ambientais, apresentará soluções e propostas sobre os assuntos abordados no fórum. Essas propostas serão incluídas em um caderno com todas as propostas dos cinco fóruns – Infraestrutura, Energia Limpa, Modelo Econômico na Amazônia, Empreendedorismo e Florestas – que será entregue em setembro de 2022 aos parlamentares.