Savanização da floresta amazônica ameaça espécies de mamíferos, aponta estudo

Consequências das mudanças climáticas podem por em risco a existência de espécies como onças, capivaras e jaguatiricas.

Mamíferos que vivem na floresta amazônica, como onças, jaguatiricas e capivaras estão ameaçados pelas consequências das mudanças climáticas, como a projetada savanização da região, ou seja, a transformação das áreas de densa vegetação em desertos causados pela intensa ação humana. 


O alerta está no estudoOs padrões de uso do habitat sugerem que as mudanças na vegetação causadas pelo clima impactarão negativamente as comunidades de mamíferos na Amazônia’, publicado na revista Animal Conservation, assinado pelos pesquisadores Daniel Rocha e Rahel Sollmann, da Universidade da Califórnia, (Davis, nos Estados Unidos).
Jaguatirica. Foto: Tom Smylie (US Fish & Wildlife Service, Image Archive) [Public domain], via Wikimedia Commons

O estudo, que usou inclusive levantamentos de armadilhas fotográficas e modelos de ocupação comunitária, constatou que mesmo os animais que usam habitats de floresta e savana, como pumas e tatus gigantes, são vulneráveis a essas mudanças. 

“Agrupamos as espécies em categorias de acordo com a sobreposição de suas distribuições globais com os biomas Amazônia e Cerrado (Amazônia, Cerrado e espécies generalistas) e investigamos o efeito sobre o uso do espaço da cobertura de savana dentro de um buffer de 100 m e do tipo de habitat imediato (floresta contínua, mata ciliar e savana) na armadilha fotográfica. Tanto a cobertura de savana quanto o tipo de habitat de savana afetaram negativamente o uso do espaço da maioria das espécies amazônicas e generalistas. Apenas as espécies do Cerrado já mostraram fortes respostas positivas à cobertura de savana”, informam.

De acordo com o estudo, esses resultados sugerem que “a maior parte da comunidade de mamíferos terrestres é potencialmente vulnerável à savanização, incluindo várias espécies tipicamente consideradas generalistas de habitat”. 

“Nossos resultados sugerem que as mudanças na vegetação induzidas pelas mudanças climáticas podem reduzir a capacidade das áreas protegidas no sul da Amazônia brasileira de proteger as populações de mamíferos terrestres e devem ser consideradas ao avaliar os potenciais efeitos das mudanças climáticas sobre essas espécies”.

Trecho do estudo Os padrões de uso do habitat sugerem que as mudanças na vegetação causadas pelo clima impactarão negativamente as comunidades de mamíferos na Amazônia’.

O que é savanização?

A savana intocada é um bioma único que suporta uma gama diversificada de vida. Mas a savanização no contexto do estudo se refere a quando a vasta floresta tropical dá lugar a uma paisagem mais seca e aberta que se assemelha à savana, mas, na verdade, é um bioma degradado. 

O desmatamento local e as mudanças climáticas globais na temperatura e na precipitação favorecem essa conversão ao longo das bordas sul e leste da Amazônia brasileira.

Impactos 

Os autores frisam que os impactos das mudanças climáticas em plantas no sul da Amazônia brasileira, “caracterizados pelo aumento de espécies tolerantes à seca” tem sido documentados, mas os impactos sobre a fauna ainda não possuem muitos estudos.

Apesar disso, as previsões são de redução, fragmentação e deslocamento das distribuições de espécies de mamíferos amazônicos de formas mais severas para os mamíferos endêmicos da Amazônia.

O estudo teve apoio logístico do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e com o uso dos dados disponíveis e modelos estatísticos, os pesquisadores quantificaram como 31 espécies já foram afetadas pelo habitat de savana na região de transição Amazônia-Cerrado. 

“Os cinco levantamentos com armadilhas fotográficas renderam 5.516 registros de 31 mamíferos terrestres, com um esforço amostral de 14.781 dias de armadilhas fotográficas. Com base nos mapas de distribuição da Lista Vermelha da IUCN (IUCN, 2021 ), a maioria das espécies registradas (22 de 31 espécies, 70%) eram generalistas. Cinco espécies foram consideradas associadas à Amazônia; quatro espécies foram consideradas espécies do Cerrado”, especificam.

Os resultados indicam que, se a savanização causada pelo clima fizer com que as espécies percam o acesso ao seu habitat preferido, mesmo as generalistas, isso reduzirá a capacidade até mesmo das áreas protegidas de preservar a vida selvagem. 

“Embora a comunidade de mamíferos terrestres no sul da Amazônia brasileira seja dominada por espécies associadas aos biomas Amazônia e Cerrado, a maioria das espécies respondeu negativamente em seu uso do espaço para a savana na escala local imediata e de 100 m. Apenas espécies associadas ao Cerrado ou tolerantes responderam positiva ou de forma neutra. A importância da cobertura de savana como um impulsionador do uso do espaço pelos mamíferos depende do contexto imediato do habitat local: quantidades crescentes de savana reduzem o uso do espaço mais fortemente em locais localizados no habitat de savana para a maioria das espécies amazônicas e generalistas, que perfazem 87% das espécies analisadas. Isso sugere que a maioria da comunidade de mamíferos terrestres no sul da Amazônia brasileira é potencialmente vulnerável à savanização prevista pela mudança climática”, alertam os pesquisadores.

Leia o artigo completo AQUI.

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