O projeto conta uma equipe de pesquisadores que vai entregar ao Estado do Pará um banco de dados com informações essenciais para subsidiar as decisões do governo frente às alterações climáticas em curso.
Uma pesquisa, apoiada pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa), apontou dados físico-químicos e fluxos de gases preliminares de transição entre o período seco e chuvoso, nos canais de Breves e Boiuçu, são similares aos observados no percurso do rio Amazonas, o que confirmou a conexão entre o rio Amazonas e o estuário do rio Pará. O estudo inédito também revelou que as águas do rio Tocantins apresentam um padrão biogeoquímico similar a outros rios de águas claras, como por exemplo Xingu e Tapajós.
Ao longo do ano hidrológico foram observadas intensas mudanças físico-químicas nos rios, o que torna necessário coletas nos períodos seco, chuvoso e a transição (chuvoso para o seco), a fim de obter dados precisos e contínuos de fluxo e exportação de carbono e nutrientes do estuário e contribuição dos gases de efeito estufa na região.
A expedição composta por 10 pesquisadores de diferentes instituições do Brasil, percorreu cerca de 900 quilômetros entre Belém, estreito de Breves, Canal Boiuçu, Rio Tocantins, Rio Pará, Guamá e Acará.
A pesquisa é o primeiro registro com grau detalhado do registro contínuo de pH da água, condutividade elétrica da água, oxigênio dissolvido, turbidez, salinidade, clorofila, concentração de CO2, CH4 e valores isotópicos de carbono, e permitiu se ter o primeiro mapa com tais parâmetros biogeoquímicos. Amostras de água, sedimento, gases, microplástico e vazão do rio estão sendo determinados em pontos estratégicos.
O banco de dados gerados com monitoramentos interanuais possibilitam prever possíveis impactos antrópicos e determinar até que ponto a natureza é capaz de suportar estas alterações. À medida que se constituir um banco de dados detalhado, preciso e com amostragens a longo prazo, será possível realizar o planejamento estratégico sustentável para uma determinada bacia, de forma a manter sua funcionalidade e a prestação de seus serviços ecossistêmicos. Por meio de modelos numéricos também será possível integrar informações para regiões onde não haja medições.
O presidente da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas do Pará (Fapespa), Marcel Botelho, destacou que investimentos em ciência e sua divulgação na Amazônia permitem tomadas de decisões precisas que impactam na melhora da qualidade de vida da sociedade.
“Expedições como essa são fundamentais para que tenhamos dados concretos sobre nossa realidade para podermos planejar políticas públicas viáveis. Compreender como nossos ecossistemas se mantêm saudáveis e investir em ciência e tecnologia, nos coloca como protagonistas do desenvolvimento da região”,
enfatizou o presidente da Fapespa.
O projeto de pesquisa conta com três anos, a equipe de pesquisadores vai entregar ao estado do Pará um banco de dados com informações essenciais para subsidiar as decisões do governo frente às alterações climáticas em curso.
Junto dos resultados, foi apresentado o analisador de gases de efeito estufa, Picarro, primeiro e único no Pará, instalado no PCT Guamá, que faz o monitoramento em tempo real da emissão dos gases e determina o valor isotópico do carbono, podendo rastrear sua origem.
A pesquisadora Vânia Neu, coordenadora do estudo, explica que a expedição irá coletar dados fundamentais para garantir segurança alimentar e hídrica. “Os dados coletados nos permitirão monitorar a qualidade da água e poluentes que afetam o pescado, além de identificar locais que possam ser afetados de maneira hostil por mudanças climáticas”. A pesquisadora destaca ainda a importância da formação de pesquisadores paraenses que possam atuar na região Amazônica. “Com conhecimento científico é possível entender e desenvolver a região de forma mais sustentável”.
*Por Sérgio Moraes (PCTGuamá e Ascom Fapespa)