Lago do Cuniã. Foto: Reprodução/Prefeitura de Porto Velho
Localizada à margem esquerda do Rio Madeira, a aproximadamente 110 km de Porto Velho (RO), entre igarapés e uma floresta que muda de paisagem conforme as cheias e secas do bioma amazônico, está a Reserva Extrativista Lago do Cuniã, local que une a resistência comunitária à preservação ambiental.
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Criada oficialmente em 1999, a reserva ocupa uma área de 55.850 hectares e abriga cerca de 90 famílias, organizadas em cinco núcleos: Araçá, Neves, Pupunhas, Silva Lopes Araújo e Bela Palmeira, segundo o Instituto Socioambiental (ISA).
No entanto, a história da reserva começou bem antes disso, em 1980, quando os próprios moradores lutaram e impediram a transformação da área em uma estação ecológica que inviabilizaria a ocupação no território.
A população local é formada por descendentes de migrantes nordestinos que chegaram à Rondônia durante o ciclo da borracha e por indígenas da etnia mura, que ali estabeleceram seus modos de vida e resistem ao tempo com saberes tradicionais e uma relação ancestral com a natureza.
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O cotidiano das famílias é sustentado por atividades extrativistas e pela agricultura de subsistência. A pesca, a coleta da castanha-do-pará, o cultivo de banana e mandioca e a produção artesanal de farinha são os principais pilares da economia local. A caça, embora presente, na maioria das vezes é limitada ao consumo próprio.
Desafios
A reserva enfrenta sérias limitações no acesso a serviços públicos, como a falta de energia elétrica regular em que a iluminação e uso de eletrodomésticos dependem de geradores particulares, que operam por poucas horas ao dia e consomem combustível caro e de difícil transporte. O acesso à educação também é comprometido: as escolas locais sofrem com a falta de professores e com instalações precárias.
Outro desafio constante é o transporte de mercadorias, que é lento, custoso e regulado pelo próprio órgão gestor da unidade de conservação. Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o transporte e a comercialização de produtos da reserva precisam seguir normas específicas para garantir a sustentabilidade da atividade e a preservação da biodiversidade local.
Superlotação de Jacarés
Nos últimos anos, os moradores da Reserva do Lago do Cuniã passaram a conviver com um novo desafio: o crescimento descontrolado da população de jacarés. A proibição da caça por mais de 40 anos contribuiu para o aumento expressivo desses animais, o que tem gerado episódios de ataques e restringido o uso dos rios e lagos pela comunidade, tanto para a pesca quanto para o lazer.
De acordo com o ICMBio, a criação de um frigorífico especializado no manejo sustentável do jacaré foi uma alternativa implementada para equilibrar a população da espécie e, ao mesmo tempo, gerar renda para os extrativistas, respeitando os princípios da conservação ambiental.
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Atrativos na reserva
Embora pouco visitada, a Reserva Extrativista Lago do Cuniã é rica em biodiversidade e atrativos naturais. A região abriga vários igarapés e uma avifauna diversa, com destaque para pássaros aquáticos, o que a torna um potencial destino para o ecoturismo e a observação de aves.
No entanto, a visitação à reserva só é permitida mediante autorização prévia, justamente para proteger os ecossistemas frágeis e o modo de vida das comunidades tradicionais.

A criação da reserva foi um marco na proteção de territórios ocupados por comunidades tradicionais e se tornou símbolo da convivência harmoniosa entre o ser humano e a floresta. A boa conservação do território é resultado direto do modo de vida sustentável dos moradores, que veem a natureza não como recurso a ser explorado, mas como um lar a ser cuidado.
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*Com informações do ISA e do ICMBio