‘O Território’ relata luta do povo indígena Uru-Eu-Wau-Wau em Rondônia e ganha prêmios no Festival Sundance

O documentário se apropria da arte e da linguagem audiovisual para denunciar desmatamentos, invasões de terras, queimadas e perseguições.

‘O Território’, um documentário produzido com ajuda de indígenas Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia, que mostra a história desse povo pela defesa de suas terras, venceu duas categorias no Festival Sundance de Cinema: Prêmio do Público e Prêmio Especial do Júri para Arte Documental. 

O festival é conhecido por exibir o melhor do cinema independente e aconteceu entre os dias 20 e 30 de janeiro, nos Estados Unidos. Em 2022, por causa da propagação da variante ômicron, do novo coronavírus, todas as estreias foram realizadas de forma virtual.

O documentário foi primordialmente filmado em Rondônia, com participação de cineastas locais. Quem ajuda a traçar a linha narrativa é Bitaté, um jovem Uru-Eu-Wau-Wau, e a indigenista Ivaneide Bandeira, conhecida como “Neidinha”. 

A partir deles, ‘O Território’ se apropria da arte e da linguagem audiovisual para denunciar desmatamentos, invasões de terras, queimadas e perseguições.

Foto: Reprodução/O Território

Bitaté também é fotógrafo, comunicador e foi uma das lideranças indígenas de Rondônia que esteve na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), em Glasgow, na Escócia, no ano passado.

“É muito importante também mostrar como os indígenas estão ligados à arte, nas suas várias formas, como cinema, fotografia, música, nossas pinturas e mais”,

lembrou.

Bitaté, liderança indígena Uru-Eu-Wau-Wau. Foto: Reprodução/O Território

Já a Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, onde Neidinha atua, pontuou que chegar ao festival é relevante para colocar em evidência para todo o planeta a luta diária dos povos indígenas da Amazônia.

“Feito com sentido de urgência, o documentário é um testemunho em tempo real do avanço sobre terras indígenas já homologadas, estimulado pelas declarações e pela omissão do presidente Jair Bolsonaro, opositor das demarcações e aliado incondicional do agronegócio”, descreve a associação.

Ivaneide Bandeira, conhecida como “Neidinha”. Foto: Reprodução/O Território

Terra indígena Uru-Eu-Wau-Wau

O território Uru-Eu-Wau-Wau passa por pelo menos 12 dos 52 municípios de Rondônia. Ele abriga nove povos indígenas, incluindo povos isolados. Entre as principais ameaças apontadas estão: desmatamento, queimadas e ações de grileiros, segundo o Instituto Socioambiental (ISA).

Também há registros de ameaças às lideranças indígenas. Em 2019, por exemplo, Awapu e Juwi Uru-Eu-Wau-Wau denunciaram à Polícia Federal (PF), em Porto Velho, que foram ameaçados de morte por madeireiros.

Segundo as vítimas, homens os procuraram pela aldeia, mas não os encontraram, pois o casal estava na capital participando de um treinamento de pilotagem de drones. O curso fez parte de um projeto da ONG World Wide Fund for Nature (WWF) para ajudar na proteção de terras indígenas em Rondônia.

No ano seguinte Ari Uru-Eu-Wau-Wau foi encontrado morto em um distrito de Jaru (RO). Ele trabalhava registrando e denunciando extrações ilegais de madeira dentro da aldeia, pois fazia parte do grupo de vigilância do povo indígena.

Ele foi morto durante a noite de 17 de abril de 2020 e o corpo foi encontrado na manhã seguinte, com sinais de lesão contundente na região do pescoço, que ocasionou uma hemorragia aguda.

Conforme um relatório do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), publicado em 2021, em Rondônia, há anos a Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau sofre com invasões, desmatamento, grilagem e queimadas. As ameaças, segundo apontado pelo relatório, acabam deixando o povo sem liberdade e segurança mesmo no seu próprio território.

*Por Ana Kézia Gomes 

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