Ilha da Amazônia receberá sistema de construção sustentável modular

A ilha será composta de módulos sustentáveis, de fácil transporte, que possam ser encaixados e fixados conforme o projeto do imóvel.

A Ilha de Tatuoca fica no Pará. Foto: Reprodução / Katia Pinheiro

Um observatório situado em ilha no rio Pará, no estado do Pará, vai receber o mais novo projeto de construção sustentável desenvolvido por professores da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Elaborado em parceria com professores da Universidade Federal do Pará (UFPA), o projeto se baseará em recursos naturais típicos da Amazônia para desenvolver um sistema de construção leve e resistente, de características modulares.

📲 Confira o canal do Portal Amazônia no WhatsApp

A iniciativa financiada por meio do Programa Integrado de Desenvolvimento Sustentável da Região Amazônica (Pró-Amazônia), do CNPq, segue o rastro de outra experiência no campo da construção sustentável desenvolvida por docentes da Unesp, a Casa da Floresta.

Ilha de Tatuoca
Ilha de Tatuoca. Foto: Reprodução/Agência Gov.

Casa da Floresta

A Casa da Floresta possui uma estrutura geodésica construída com ripas de bambu e folhas da palmeira buçu. Além do uso de materiais regionais, a estrutura apresenta aberturas na altura do solo e uma claraboia que contribuem para a circulação do ar, o resfriamento do ambiente e o aproveitamento da luz natural.

A Casa da Floresta foi construída como resultado de uma parceria entre a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Unesp e o Instituto Peabiru. Está localizada no município de Acará, na Grande Belém, e serve como um espaço aberto ao público que se dirige à cidade durante a realização da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), articulando conhecimento científico, cultura e saberes tradicionais, promovendo a busca de soluções para conjugar o desenvolvimento social e a preservação da floresta.

A Casa da Floresta foi projetada pela arquiteta Juliana Cortez, docente da Faculdade de Ciências e Engenharia da Unesp, câmpus de Itapeva. Durante os preparativos para a construção, ela conheceu o professor da UFPA Cristiano Mendel, vice-diretor do Instituto de Geociências da UFPA. A UFPA atua na gestão e no desenvolvimento de pesquisas junto ao Observatório Magnético de Tatuoca. O nome designa uma ilha desabitada onde, desde 1957, funciona o observatório, distante 12 km de Belém.

O protótipo

A ilha vai receber o protótipo do novo sistema de construção. Ele será composto de módulos sustentáveis, de fácil transporte, que possam ser encaixados e fixados conforme o projeto do imóvel. A expectativa é que o conceito de estruturas modulares possa ajudar comunidades ribeirinhas da região, que muitas vezes enfrentam dificuldades logísticas na construção de seus imóveis.

Ilha de Tatuoca. Foto: Reprodução/Agência Gov.

“Diferentemente da Casa da Floresta, em que montamos um pavilhão geodésico, nesse projeto queremos criar peças modulares pré-fabricadas, que sejam leves e que possam ser colocadas em um barco e montadas no próprio local”, explica Cortez.

Leia também: Localizado em ilha desabitada, Observatório Magnético no Pará estuda mistérios da Terra

O Observatório Magnético de Tatuoca é vinculado ao Observatório Nacional, órgão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Ele produz medições contínuas do campo geomagnético terrestre, fornecendo dados para uma rede global com mais de 200 observatórios pelo mundo, chamada Intermagnet. No Brasil, apenas o município de Vassouras, no Rio de Janeiro, possui um observatório semelhante.

A escolha por erigir o observatório em uma pequena ilha amazônica sem ocupação humana e com poucas construções é estratégica. A proximidade com o Equador geográfico e o Equador magnético da Terra faz de Tatuoca um local privilegiado para a captação de dados magnéticos. Já a ausência de moradores e de atividades econômicas impede que outros elementos alterem a assinatura, as características magnéticas, da área e interfiram na sensibilidade dos instrumentos que analisam a variação do campo magnético.

Segundo os pesquisadores que atuam no local, o movimento de um automóvel a cem metros de distância dos equipamentos já produz “ruídos” que alteram as medições. Na Ilha de Tatuoca, não existem automóveis.

Ilha de Tatuoca. Foto: Reprodução/Agência Gov.

Essa sensibilidade dos dispositivos do laboratório é mais um motivo para se investir em um projeto que aplique materiais naturais na construção e constitui a principal razão para escolher a Ilha de Tatuoca para receber o protótipo.

“A presença de um material ferromagnético, como um vergalhão de aço ou mesmo um parafuso, pode criar uma fonte interferente e provocar variações na leitura dos dispositivos, contaminando os dados que são fornecidos para centros de todo o mundo”, explica Mendel.

Embora o uso de materiais construtivos naturais seja algo fundamental para o observatório, a ideia é que o projeto ofereça soluções para um público mais amplo. Os pesquisadores explicam que o contexto amazônico impõe algumas situações desafiadoras para a construção de casas e imóveis em geral.

O transporte de materiais de construção, por exemplo, muitas vezes precisa ser feito por canoas que entram nos rios e igarapés e depois são carregadas à mão até o local da obra, o que pode encarecer ou mesmo inviabilizar o projeto. O uso de barcos ou máquinas maiores, por outro lado, tem o potencial de causar danos à vegetação e ao ambiente local.

“É dessa forma que sempre foi feito pelas populações ribeirinhas e tradicionais na Amazônia. Respeitar esse contexto é fundamental. Surge, então, a necessidade de uma arquitetura adaptada à realidade amazônica, que é a chave do projeto. A aplicação no observatório da ilha de Tatuoca será um teste de prova, porque, se funcionar ali, funcionará em qualquer lugar na Amazônia”, afirma Cortez.

Leia também: A ilha geomagnética no Pará, conheça a Ilha de Tatuoca

Coordenação do projeto

A coordenação do projeto ficará a cargo do professor Carlos Emmerson Ferreira da Costa, docente da UFPA e responsável pelo Laboratório de Óleos da Amazônia, localizado no Parque de Ciência e Tecnologia Guamá, em Belém. Costa lidera uma equipe de mais de 200 pesquisadores, de perfil multidisciplinar, que se dedicam ao estudo e prospecção de insumos da Amazônia para setores de alimentos, cosméticos e bioprocessos. O conhecimento acumulado pelo grupo sobre as características, funcionalidades e aplicações desses produtos locais é uma das chaves do projeto.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal da Unesp, escrito por Marcos do Amaral Jorge. Leia a reportagem completa AQUI.

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Comissão de Direitos Humanos aprova criação da Política Nacional de Segurança dos Povos Indígenas

A proposta reafirma competências de vários órgãos de Estado relacionadas ao combate à violência contra os povos indígenas.

Leia também

Publicidade