Para responder essa pergunta é preciso compreender o que é a taxa básica de juros.
Na última quarta-feira, dia 4 de maio de 2022, o Comitê de Política Monetária (COPOM) elevou a taxa básica de juros de 11,75% para 12,75% ao ano, sendo a mais alta desde 2017. Muitas pessoas acreditam que essa elevação é apenas notícia de jornal e que não gera impacto em suas vidas. Será mesmo? Para responder essa pergunta é preciso compreender o que é a taxa básica de juros e de que forma ela nos afeta.
Uma das principais funções do Banco Central do Brasil (BC) é a estabilidade dos preços, ou seja, por meio do uso de instrumentos de política monetária o BC atua de forma a garantir que a elevação geral dos preços, isto é, a inflação, atinja determinada meta. A inflação de referência para o BC é medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que atingiu 10,06% em 2021. Acontece que a meta para 2021 era de 3,75%, com uma margem de 1,5 pontos percentuais para mais ou para menos. Isso significa que em 2021, a inflação deveria estar entre 2,25% e 5,25%. No entanto, a inflação do ano passado foi quase duas vezes maior ao limite superior da meta (5,25%) e atualmente apresenta persistência de alta.
Um dos instrumentos de política monetária que o BC pode adotar para controlar a inflação é por meio da elevação da taxa básica de juros, a taxa Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia). Essa taxa é uma referência para todas as demais taxas de juros praticadas no mercado, tais como taxa de juros para empréstimos, financiamentos, para os juros do rotativo (juros do cartão de crédito quando o consumidor paga apenas a fatura mínima) e também para as taxas das aplicações financeiras (poupança, títulos públicos e privados).
Mas como a elevação na taxa básica de juros pode controlar a inflação? Quando essa taxa sobe o crédito torna-se mais caro e as aplicações financeiras (em renda fixa) mais atrativas, reduzindo o consumo das famílias. Em janeiro do ano passado a taxa Selic era de 2,00% ao ano, hoje ela está em 12,75% ao ano. Isso significa que, considerando que os juros praticados no mercado sejam iguais a taxa Selic, em janeiro do ano passado a parcela de um computador de R$ 3.500,00 comprado em doze vezes era de R$ 294,80. Com a taxa atual, o valor da parcela sobe para R$ 311,06, uma diferença de R$ 16,26 ao mês. Logo, o preço do computador no crediário tornou-se mais alto, desestimulando o consumo. E essa situação é válida para todos os bens e serviços financiados ou comprados no crediário, o que provoca uma redução generalizada do consumo e, por conseguinte, nos preços.
E para quem compra à vista, será que o aumento da taxa básica de juros impacta no consumo? A resposta é sim, o indivíduo que compra à vista pode adiar o consumo presente e investir o valor poupado. No exemplo anterior, se o consumidor investir os R$ 3.500,00 a taxa de 12,75% ao ano, daqui doze meses ele terá R$ 3.946,25, ou seja, R$ 446,25 a mais. Esse prêmio faz com que os consumidores adiem o consumo presente. Além disso, o aumento da taxa básica de juros também afeta as empresas. O custo para obter capital de giro ou financiamento de máquinas e equipamentos torna-se mais alto, impactando as decisões de investimento.
Assim o resultado de uma taxa de juros mais alta é a redução da demanda agregada, reduzindo a pressão sobre os preços o que leva ao controle da inflação. No entanto, embora consiga controlar a inflação, uma taxa de juros maior reduz o crescimento do país e a criação de novos empregos. Pode-se dizer que o aumento na taxa básica de juros é um remédio amargo para o controle da inflação.
Sobre o autor
Lucas Sousa é economista pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), Mestre em Economia pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Doutor em Economia pela Universidade de Brasília (UnB). Atualmente, é professor adjunto no Departamento de Economia e Análise da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Atua principalmente nas seguintes áreas de pesquisa: Economia Ambiental e Métodos Quantitativos em Economia.
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