A Ucrânia é um país europeu localizado a mais de 10 mil quilômetros do Brasil e a pergunta que não quer calar é: como uma guerra tão distante pode nos afetar?
A invasão da Ucrânia pela Rússia tem causado uma série de consequências, não somente para os dois países em conflito, mas também para o resto do mundo. A Ucrânia é um país europeu localizado a mais de 10 mil quilômetros do Brasil e a pergunta que não quer calar é: Como uma guerra tão distante pode nos afetar?
Primeiramente, é importante ressaltar que são os ucranianos que sofrem as consequências mais graves e diretas. Afinal de contas, é o país deles que está sendo atacado pela tirania do governo russo. Além disso, o conflito é totalmente desigual. Enquanto centenas de bombas atingem o território ucraniano, destruindo residências, infraestruturas e matando dezenas de pessoas, praticamente nenhuma bomba cai em território russo.
Embora, por enquanto, no Brasil não ocorra nenhuma consequência direta (não cai bombas aqui), o país é afetado indiretamente pela Guerra na Ucrânia, sobretudo no que se refere as questões econômicas. Isso acontece porque vivemos em um mundo globalizado. Possuímos relações comerciais com praticamente todos os países do planeta, ou seja, compramos bens e serviços de vários países, inclusive da Ucrânia e da Rússia, dois grandes produtores de trigo, petróleo, gás e fertilizantes.
Com a eclosão da guerra, a primeira consequência para o resto do mundo é a eventual interrupção das relações comerciais com esses países e, por conseguinte, menor disponibilidade de produtos. Num primeiro momento, em virtude dos danos diretos causados pelos bombardeios em portos e aeroportos, fuga de trabalhadores e redirecionamento de grande parte dos recursos (inclusive humanos) para o conflito. Num segundo momento, devido as sanções econômicas impostas pelos demais países, sobretudo, para à Rússia. Tais sanções impendem que produtos russos passem por determinados países e até mesmo afetam o sistema de pagamentos dessas transações.
Nesse cenário, a consequência é o aumento no preço dos produtos, principalmente daqueles em que a quantidade ofertada tenha grande influência da Rússia e da Ucrânia, como é o caso de fertilizantes agrícolas, petróleo, gás e trigo. A produção agrícola do Brasil é dependente de fertilizantes importados e 23% deles são oriundos da Rússia. Assim, uma eventual interrupção das importações russas poderá afetar a produção agrícola brasileira. Além disso, desde a eclosão da Guerra na Ucrânia, no dia 24 de fevereiro de 2022, o preço do barril do petróleo chegou a subir quase 30%. Essa alta expressiva implicará no aumento dos produtos derivados do petróleo (plástico, embalagens, fertilizantes, combustíveis etc.). Isso tanto é verdade, que a Petrobrás
anunciou hoje (10/03/2022) aumento de 24,9% no preço do diesel e 18,7% no preço da gasolina.
Portanto, o principal efeito da Guerra na Ucrânia para nós brasileiros é a menor disponibilidade de bens e serviços oriundos desses países, que por sua vez, provoca preços mais elevados. Essa situação é bastante preocupante tendo em vista que já estamos enfrentando um processo inflacionário. A inflação acumulada de 2021 ultrapassou os 10% e preços mais altos ainda, em decorrência da Guerra na Ucrânia, implica em menor poder de compra dos brasileiros.
Sobre o autor
Lucas Sousa é economista pela Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), Mestre em Economia pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Doutor em Economia pela Universidade de Brasília (UnB). Atualmente, é professor adjunto no Departamento de Economia e Análise da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Atua principalmente nas seguintes áreas de pesquisa: Economia Ambiental e Métodos Quantitativos em Economia.
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