Conheça o Tambor de Gambá, símbolo da identidade musical de Maués

Além do guaraná, principal símbolo do povo maueense, o Tambor de Gambá é uma manifestação cultural que surgiu em meados do século XIX e também faz parte da identidade da cidade.

Foto: Adriano Sarmento

A identidade cultural é caracterizada por um conjunto de elementos que fazem com que um povo se reconheça enquanto agrupamento cultural que se difere dos demais. Distante cerca de 260 quilômetros de Manaus (AM), em linha reta, o município de Maués é mundialmente conhecido por ser a terra do guaraná, além de suas praias naturais e suas festas populares como o Festival de Verão de Maués.

Mas existe outro símbolo cultural do povo maueense, uma manifestação que surgiu na Amazônia em meados do século XIX: o Tambor de Gambá.

Leia também: Saiba como o guaraná se tornou símbolo da cultura de Maués

Foto: Ismael Pinheiro/Acervo pessoal

O Batuque na Amazônia

Foto: Ismael Pinheiro/Acervo pessoal

Em sua monografia de conclusão de curso, intitulada ‘A prática do tambor de gambá na cultura de Maués‘,  o turismólogo Cleumir da Silva Leda explica que o batuque é uma denominação genérica que os portugueses davam para as danças de tambor da população negra.

Por isso, a chegada dos tambores na Amazônia está diretamente relacionada à chegada de negros na região, que geralmente entravam por Belém (PA) e eram distribuídos pelos demais Estados.

Já o Tambor de Gambá consiste em um instrumento musical percussivo de origem africana usado tradicionalmente em festas como a Festa do Guaraná, e a Festa da Comunidade de Nossa Senhora da Conceição, localizada no interior de Maués.

Irmandade da folia do Divino Espírito Santo

Ao Portal Amazônia, o maueense Ismael Pinheiro, condutor de de um grupo de percussão que atua percorrendo as ruas da cidade e espalhando o Tambor de Gambá, explicou:

“A Irmandade do Divino Espírito Santo surgiu nos idos de 1821 e foi crescendo, formado por caboclos remanescentes dos grupos étnicos […] que se reuniam para arrecadar recursos para realizar a festa do Divino Espírito Santo. Esse grupo percorria os rios e igarapés onde havia pessoas para rezar e cantar e é neste movimento que o Tambor de Gambá está inserido, sendo um ritmo específico para acompanhar cantorias e rezas chamadas de folia”.

Ele lembra também que em 1903 o Papa Leão XIII reconheceu o grupo como irmandade e em 1910 o padre Paulo Rauccy mandou confeccionar uma coroa denominada ‘Coroa Real Imperial do Divino Espírito Santo’. 

Foto: Acervo pessoal/Ismael Pinheiro

Instrumentos utilizados

De acordo com o trabalho de Cleumir Leda, “o músico e autor Ygor Saunier M. C. Monteiro, refere-se ao gambá como um gênero musical, com incidência em alguns municípios do interior do estado do Amazonas e também no estado do Pará. Para Ávila (2016), ‘o ritmo produzido pelos grupos de gambá é criado pela conjunção de três instrumentos rítmicos de altura indeterminada: o gambá, o tamborinho e o caracaxá'”.

Conheça os instrumentos:

Tambor de Gambá

O Tambor de Gambá é um instrumento de percussão da família dos membranofones, feito de tronco de árvores da Amazônia como, a itaúba ou a cupiúba. A madeira é escavada no meio e com uma pele de boi ou de veado cobrindo apenas um dos lados do instrumento. Para prender a pele, são usados pinos feitos de madeira, que funcionam como pregos.

Tamborinho

O tamborinho mede cerca de 30 centímetros de comprimento. Esse instrumento possui um corpo cilíndrico com duas peles de animal silvestre presas em cada extremidade. São usados, para percuti-lo, duas baquetas que medem em média 20 centímetros.

Foto: Cleumir da Silva Leda/Acervo pessoal

Caracaxá

Outro instrumento indispensável no Gambá é o caracaxá. Um idiofone, feito de bambu, medindo em torno de 30 a 40 centímetros. No corpo do instrumento são feitos cortes que formam “dentes”, que serão friccionados com um pedaço fino de madeira. Esse instrumento se assemelha ao reco-reco, inclusive na forma de tocar.

Foto: Cleumir da Silva Leda/Acervo pessoal

Incentivo à proteção do Tambor de Gambá

O projeto ‘Tamboreando Cultura na Terra do Guaraná’, uma iniciativa do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), foi realizado com o intuito de fortalecer as manifestações culturais de Maués. 

Foto: Divulgação / IDESAM

Em 10 meses, o projeto formou mais de 100 crianças e jovens da região, que participaram de oficinas de Luthieria percussiva e Tambor de Gambá.

A produção audiovisual foi realizada pela La Xunga Produções e o ‘Tamboreando Cultura na Terra do Guaraná’ é um projeto do Ministério do Turismo, Secretaria Especial de Cultura e Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam); com o patrocínio da Ambev e Guaraná Antarctica, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

O resultado pode ser visto em um minidocumentário:

Imersão

O canal no Youtube ‘Museu CULTUAM Maués‘, de Waldo Mafra (Mestre Barrô do Gambá), realizou, em 2021, um ciclo de lives quase como imersões com os grupos de Maués, sobre as formações do ritmo chamado de ‘Amazônico e Afro-Indígena-europeu’, produção dos instrumentos e outras características importantes para perpetuação da cultura do Tambor de Gambá na cidade amazonense. Confira:

Referências

LEDA, Cleumir da S. A prática do tambor de gambá na cultura de Maués. Escola Superior de Artes e Turismo (ESAT/UEA). Manaus-AM, 2018.

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