Pesquisadores são surpreendidos com descoberta de sapo bilíngue na Amazônia; veja o vídeo

Todo sapo tem uma única vocalização com som próprio, o que chamam de canto de anúncio, mas no caso da descoberta, a nova espécie emite sons diferentes.

Uma nova espécie de sapo foi descoberta por pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). O sapo bilíngue, como foi apelidado, é da espécie Amazophrynella bilinguis, e sua incidência ocorre na Fazenda Taperinha, região de Santarém, no Pará.

A descoberta faz parte de uma expedição durante o doutoramento do professor da Universidade Federal do Amazonas, Igor Kaefer, que, desde a graduação, estuda os anfíbios e répteis, e descobriu a nova espécie por acaso.

“O meu interesse por sapos vem desde que eu iniciei o curso de Biologia, foi meu primeiro estágio em pesquisa, e desde então, eu me dedico a estudá-los. Já na pesquisa do doutorado, fui até a Fazenda Taperinha, em Santarém, com o objetivo de coletar sapos do gênero Allobates, e quando entrei na mata, a primeira espécie que ouvi foi a Amazophrynella bilinguis. Eu estava sozinho e gravei a vocalização do sapo, depois, já na base da Fazenda, mostrei para a pesquisadora doutora Albertina Lima, do Inpa, que estava comigo também pesquisando outras espécies, e ela se interessou e me acompanhou de volta à mata no mesmo dia, e lá fomos fazendo mais coletas e registros do sapo”, conta.

Sobre o sapo ser bilíngue, Igor ressalta que todo sapo tem uma única vocalização com som próprio, o que chamam de canto de anúncio, mas no caso da descoberta, a nova espécie emite sons diferentes.

“Essa nova espécie emite dois sons bastante distintos, alternando o tempo todo entre eles: por isso escolhemos o nome bilinguis. Logo que ouvi os dois sons, pensei que fossem duas espécies, mas minha orientadora, doutora Albertina Lima, logo identificou ser apenas um sapo. Com a colaboração de Rommel R. Rojas, Miquéias Ferrão e Izeni Farias, passamos anos realizando análises morfológicas, acústicas e genéticas para descrever formalmente a espécie. Sete anos depois, aí está o sapinho bilíngue em um artigo publicado na revista científica Zootaxa”, conta Igor.

Da coleta dos sons até a publicação do artigo, anunciando o “sapinho” bilíngue, foram sete anos de pesquisa que culminou com a publicação. Igor lembra que, como esse não era o objetivo principal de seu doutorado, o projeto foi feito mais nas horas vagas.

“Eu não estava pesquisando essa espécie para meu doutoramento, e a descoberta por acaso não foi uma das minhas prioridades nesses últimos anos. Não segui com a pesquisa do Amazophrynella bilinguis em full time, por ter outros compromissos, e por isso demorou mais, mas passei esse tempo descrevendo a espécie junto com os colaboradores”, ressalta.

A descoberta de anfíbios e sapos na Amazônia tem aumentado no últimos anos, e segundo Igor já são mais de 350 espécies registradas. “A descoberta de espécies na Amazônia tem aumentado por dois motivos principais: amostragens em lugares pouco explorados e disponibilidade de técnicas como bioacústica e genética molecular”, disse.

Assista ao vídeo e ouça os sons emitidos pelo sapo.

 

Atualmente, existem cerca de 8 mil espécies de anfíbios no mundo, mais de 1.100 no Brasil e mais de 350 na Amazônia brasileira. “Os números aumentam constantemente em uma taxa altíssima, revelando o quanto ainda desconhecemos acerca da diversidade de espécies de países megadiversos como o Brasil”, revela.

Sobre a ocorrência do sapo bilíngue, Igor acredita que pode existir a mesma espécie em outras localidades da Amazônia. “Sim, existem possibilidades dela ocorrer em outros locais além da Fazenda Taperinha. A gente ainda não tem noção da distribuição geográfica da espécie, mas deve ocorrer em outros locais da região de Santarém”, disse o professor.

Os estudos da espécie ainda estão no começo, e Igor ressalta que as duas vocalizações ainda serão objetos de estudos futuros, pois ainda não se sabe a função delas.

Sobre a Amazophrynella bilinguis

A nova espécie que habita a margem sul do rio Amazonas, em Santarém, no Pará, e pode ser diagnosticada pelo tamanho corporal médio para o gênero, focinho acuminado em vista lateral, características dos dedos da mão e coloração do ventre e dorso. Além disso, a espécie se diferencia das demais por características acústicas e genéticas.

 
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