Dia do Meio Ambiente: A Amazônia não é cenário — é protagonista da vida no planeta

Por séculos, a Amazônia foi vista como terra distante, a ser explorada, ocupada ou ignorada. Mas essa narrativa está mudando. E precisa mudar de vez.

Comunidade ribeirinha na Amazônia. Foto: Adriano Gambarini/Instituto Mamirauá

Por Olimpio Guarany

No Dia Mundial do Meio Ambiente, a Amazônia não pede licença — ela se impõe.

Com seus rios que cortam fronteiras, suas árvores que tocam o céu e seus povos que vivem em profunda conexão com a terra, a Amazônia é muito mais do que uma pauta ambiental: ela é uma chance real de futuro.

Para nós, amazônidas, o meio ambiente nunca foi apenas um tema de conferência ou um slogan de campanha. Aqui, o meio ambiente é o quintal da casa, a água que se bebe, o alimento que se colhe, o som do tambor que ecoa nos festejos populares, o conhecimento que passa de geração em geração.

Em 2025, o mundo vai olhar para nós. A COP 30 será realizada em Belém do Pará, pela primeira vez em território amazônico. Será a hora e o lugar para que a floresta fale — e que o mundo escute.

Mas o que a Amazônia tem a dizer?

Ela fala de urgência, porque é nela que os efeitos da crise climática já são sentidos com força. O regime de chuvas alterado, a seca histórica dos rios em 2023, a perda acelerada da biodiversidade e o aumento das queimadas são sinais de um ecossistema pressionado ao limite. Estudos mostram que já perdemos cerca de 20% da floresta original — e o ponto de não retorno, quando a Amazônia deixaria de ser floresta para se transformar em savana, está perigosamente próximo.

Ela fala de sabedoria, porque seus povos conhecem formas de viver em equilíbrio com a natureza. Povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas, extrativistas e agricultores familiares têm tecnologias sociais, práticas sustentáveis e modos de vida que garantem a conservação da floresta. Eles não são obstáculos ao progresso — são guardiões do futuro.

Ela fala de resistência, porque tem enfrentado a exploração predatória e a indiferença histórica. Por séculos, a Amazônia foi vista como terra distante, a ser explorada, ocupada ou ignorada. Mas essa narrativa está mudando. E precisa mudar de vez.

Neste dia simbólico, é preciso lembrar: não há solução para o clima sem a Amazônia viva.

Por do sol na floresta amazônica. Foto: Reprodução/Conexão Planeta

É hora de valorizar a ciência que brota da floresta, os saberes ancestrais que nela habitam, a cultura que pulsa em seus territórios, e os projetos sustentáveis que unem economia, inclusão e conservação. Bioeconomia, restauração florestal, energias limpas, manejo comunitário e certificação de produtos da sociobiodiversidade são caminhos reais — mas precisam de apoio, visibilidade e investimento.

A COP 30 precisa ser mais do que uma reunião diplomática. Ela precisa ser uma oportunidade de escuta dos povos da floresta, de pactos concretos para frear o desmatamento, de compromissos com a justiça climática e com o desenvolvimento de baixo carbono. E quem vive aqui tem muito a contribuir — com voz própria, e não como figurante de discursos prontos.

Que o Dia do Meio Ambiente não seja apenas lembrança, mas chamado.

Chamado à escuta.
Chamado à ação.
Chamado à responsabilidade.

Porque a Amazônia não é o pulmão do mundo.
Ela é o coração de um planeta que ainda pode pulsar mais forte — se aprendermos a respeitá-la.

Sobre o autor

Olimpio Guarany é jornalista, documentarista, economista e professor universitário. Realizou a expedição histórica, navegando o rio Amazonas, desde a foz até o rio Napo (Peru) por onde atingiu o sopé da cordilheira dos Andes e depois subiu a Quito, Equador (2020-2022), refazendo a saga de Pedro Teixeira, o conquistador da Amazônia (1637-1639).

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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