Nos dois últimos finais de semana, foram soltos mais de 2,5 mil animais nos rios
Se esgueirando no meio da mata, indígenas da região do Oiapoque, no Amapá buscam por ovos de tracajás, espécie de tartaruga da Amazônia que corre risco de extinção. A operação de resgate e manejo dos ovos faz parte do projeto “Amigos dos Tracajás” e está ajudando a salvar milhares de filhotes.
Nos dois últimos finais de semana, foram soltos mais de 2,5 mil animais nos rios. Segundo a Coordenadora do Programa Oiapoque do Iepé – Instituto de Pesquisa e Formação Indígena, Rita Lewkowicz, o manejo é importante não só para a conservação da espécie, como também para a valorização dos conhecimentos tradicionais indígenas.
Cuidados com o manejo
Antes da soltura, há um longo e difícil trabalho de coleta dos ovos, que são cuidadosamente armazenados em isopores, para serem levados para as incubadoras. Depois de dois meses, os ovos eclodem e os tracajás ainda recebem mais um período de cuidados até serem devolvidos para os rios e igarapés.
Além de salvar muitos animais, o ritual de soltura dos tracajás envolve toda a comunidade numa verdadeira reunião, quando conversam sobre regras internas para o consumo e para garantir a manutenção e crescimento da espécie.O tracajá faz parte da alimentação de várias populações tradicionais, além de servirem como remédios e integrarem a cultura com o grafismo e os artesanatos. Mas para o restante da população, a captura desses bichos é proibida e pode render multa, conforme explicou Ricardo Mota Pires, analista Ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.
O projeto Amigos dos Tracajás começou em 2005, ganhou mais força a partir de 2016 e conta com o apoio do Iepé, da Funai e da Universidade Federal do Amapá. Na última soltura, apesar do número recorde de animais, os indígenas observaram uma redução do tamanho dos bichos e ainda, ovos que não eclodiram. Eles atribuem o acontecimento ao processo de mudanças climáticas e vão observar o fenômeno nos próximos anos.