Fim do El Niño deve provocar aumento do uso de termoelétricas até a transição para o La Niña

O professor da USP, Pedro Luiz Côrtes, diz que, apesar de os reservatórios não estarem com uma margem ruim, ainda estão abaixo do necessário para fornecer energia suficiente, e culpa a falta de chuvas na região amazônica por essa situação.

O El Niño é um fenômeno natural que está ativo desde o ano passado e provocou chuvas intensas nas regiões Sul e parte do Sudeste, e provocou uma seca histórica na Amazônia. No ano de 2024, apesar das chuvas, a vazão de alguns rios ficou abaixo da média histórica, provocando o acionamento de termoelétricas para atender à demanda da população.

O professor Pedro Luiz Côrtes, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo (USP), explica os fenômenos provocados pelo El Niño e como será a transição desse acontecimento para o La Niña.

Comunidade na zona rural de Parintins atingida pela seca em 2023. Foto: Jean Beltrão/Rede Amazônica

Transição para o La Niña 

Para o especialista, o El Niño se comportou de forma tradicional, apesar de que os fenômenos estão sendo potencializados pelas mudanças climáticas. Isso causou, segundo Côrtes, chuvas mais abruptas e mal distribuídas, além de uma forte seca na região Norte.

Com um prognóstico de fim do El Niño em conjunto com o verão, o docente explica que ocorrerá uma fase de transição até o La Niña. 

“Se espera que essa situação fique estável durante três ou dois meses para que ocorra o que se chama acoplamento, ou seja, aquilo que está acontecendo no oceano seja reproduzido pela atmosfera. A partir do momento que isso acontece você pode caracterizar que se tem o El Niño ou o La Niña”, 

complementa.

Segundo Côrtes, a volta do La Niña provocará períodos mais secos na região Sul, o que pode afetar os agricultores locais, e chuvas na região amazônica, o que colocará condições diferentes em relação à recuperação dos reservatórios.

Efeitos no uso de energia 

Pedro Luiz Côrtes. Foto: USP Imagens

O professor explica que os principais reservatórios para as usinas hidrelétricas, apesar de não estarem com uma margem ruim, ainda estão abaixo do necessário para fornecer energia suficiente para a sociedade brasileira. Isso se deve muito ao fato da falta de chuvas amazônicas, que abastecem muitos desses reservatórios.

Ele ainda fala que a conta de energia deve subir no período entre a transição do El Niño para o La Niña, já que, apesar da volta de chuvas na Amazônia, a reposição do nível nos grandes reservatórios deve ocorrer somente no segundo semestre — período em que começa o inverno amazônico, provocando chuvas na Amazônia. Esse período, de acordo com o professor, vai provocar uma diminuição importante do nível das hidrelétricas, criando a necessidade de um uso maior das termoelétricas.

“As termoelétricas mais frequentemente utilizadas, a carvão, gás e óleo, representam um custo muito alto, e elas vão ser acionadas com o final do El Niño até a estabilização do clima, já para o final do segundo semestre deste ano”, finaliza.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal da USP

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