Foto: Isabelle Lima/Portal Amazônia
O uso adequado do solo pode ser de grande importância para a preservação ambiental, sustentabilidade agrícola, controle da poluição e mitigação das mudanças climáticas.
A classificação e correlação de solos está diretamente associada ao manejo harmônico da terra. Nesse sentido, o PronaSolos é o maior programa de investigação do solo brasileiro e busca, através de coletas e análises, consolidar a integração de dados e colaborar com o avanço do conhecimento de terras no Brasil.
Região carente de conhecimento
Com uma enorme dimensão, a Amazônia é uma região que ainda carece de conhecimento acerca da formação, geografia, tipos, atributos e vulnerabilidades dos solos na região.
O conhecimento sobre os solos da região, além de contribuir na preservação do ecossistema, pode ser um aliado para evitar tragédias. No início de outubro de 2024, por exemplo, um deslizamento de terra abriu uma cratera na orla de Manacapuru, distante cerca de 100 quilômetros de Manaus, e engoliu parte do Porto da Terra Preta. O ocorrido deixou desaparecidos.
Desbravando solos da Amazônia
Com o objetivo de se aprofundar e divulgar conhecimentos sobre os solos do bioma amazônico, o Estado do Amazonas recebe pela primeira vez uma Reunião de Classificação e Correlação de Solos (RCCs).
Em resumo, as RCCS são eventos que unem profissionais de diferentes estados que estudam e pesquisam sobre os perfis de solos representativos de um determinado ambiente.
A XV RCC, pioneira na Amazônia, teve como objetivo a classificação dos solos das várzeas do Médio Rio Amazonas. A calha do Médio Amazonas engloba municípios nos arredorres da região metropolitana. São eles: Itacoatiara, Presidente Figueiredo, Rio Preto da Eva, Autazes, Urucurituba e Itapiranga.
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A ‘expedição’
A abertura do evento ocorreu em 18 de outubro, em Manaus (AM), com uma série de palestras que abordaram a geomorfologia fluvial da Amazônia; o projeto PronaSolos; e o roteiro da viagem.
“O PronaSolos é um programa bastante ambicioso que busca conhecer de forma mais detalhada, fazer o mapeamento do solo do Brasil para ter um conhecimento mais das potencialidades do solo, da destinação de uso, enfim, apoiar a gestão territorial, tanto do país, como dos estados e municípios. As RCCs são os eventos mais detalhados da Amazônia sobre os solos. É ainda um desafio para todos nós que temos o desejo e a obrigação de colocar esse tema nas pautas importantes desse país”, afirmou Maria do Rosário Lobato Rodrigues.
Maria do Rosário é pesquisadora da Embrapa Amazônia Ocidental e da equipe de coordenação da XV RCC. O início do evento contou com cerca de 80 pesquisadores de diferentes partes do Brasil.
A expedição que foi iniciada em Manaus, passou também por Iranduba, Manacapuru, Parintins e outros municípios do interior do Amazonas e também do Pará. A previsão de finalizar é no dia 25 de outubro, no município de Santarém (PA). Serão feitas análises de 17 perfis de solos.
A análise de solo permite avaliar o nível de cada parâmetro químico e físico do solo, o que permite identificar o tipo de deficiência nutricional e a necessidade de adubação, irrigação e rotação de culturas.
Dificuldades
José Francisco Lumbreras, pesquisador da Embrapa Solos, é um dos participantes do evento. Ele relatou ao Portal Amazônia que foi realizado um trabalho de campo prévio para a coleta de dados.
“O desafio, no momento, depois de todo esse trabalho prévio, pois já viemos aqui em três campanhas, eu diria que é mais na questão logística, porque nós vamos iniciar o evento aqui, em Manaus, vamos até Santarém, mas até lá nós temos que ter uma estrutura enorme. No primeiro vamos de ônibus e veículos de apoio, como vans e caminhonetes. Depois seguimos para Parintins de barco. Depois alugamos lanchas a jato e depois pegamos mais trechos de estradas. Então, esse preparo logístico demandou bastante tempo”, comentou acerca das dificuldades.
A escolha dos locais não foi aleatória, como já comentado. Ao todo foram três trabalhos de campo, com duração de 10 a 15 dias. Foram realizados em novembro de 2022, maio de 2023 e outubro de 2023.
Parceria entre universidades e institutos
Maria do Rosário relata o que será feito com as coletas realizadas.
“Serão desde análises micromorfológicas, análises de química do solo, de física do solo, análises de datação, matéria orgânica, enfim, tudo nesse momento que foi feito muitas coletas. Esses materiais coletados, essas amostras, são compartilhadas com as instituições parceiras, as instituições, institutos e principalmente universidades, as universidades. Então, a gente chama para isso uma série de estudos com essas análises que foram feitas, que vão gerar. Conhecimento sobre os solos”, finalizou.
As análises, resultados e conhecimentos gerados a partir desta expedição tem como objetivo final compor o “Guia de Campo da XV Reunião Brasileira de Classificação e Correlação de Solos: RCC das Várzeas do Médio Rio Amazonas e Entorno”, que tem como previsto ser publicado em setembro de 2025.
No dia 19, o grupo seguiu para uma visita de campo: