Tecnologias de saneamento rural vão impulsionar produção sustentável em municípios do Maranhão

As três tecnologias validadas – Fossa Séptica Biodigestora, Clorador Embrapa e Jardim Filtrante - hoje estão sendo disseminadas em todo o território nacional.

Foto: Flávia Bessa

Cerca de 24 milhões de brasileiros ainda sofrem com o problema crônico e grave da falta de saneamento básico. O Maranhão está entre os 24 estados que precisam ampliar seus investimentos em saneamento básico (cerca de 8,66 vezes a mais), segundo levantamento do Instituto Trata Brasil realizado em 2020, para atingir a meta de universalização até 2033. Na área rural, essa situação se exacerba.

Para trazer informação transformadora, a Embrapa Cocais e a Embrapa Instrumentação (São Carlos – SP) realizaram capacitação sobre Tecnologias de Saneamento Básico Rural nos dias 17 e 18 de setembro. O evento foi realizado no Instituto Formação, no bairro Maracanã, em São Luís, para agentes multiplicadores, como extensionistas, técnicos, agrônomos, engenheiros, biólogos, profissionais da área de meio ambiente, saúde e educação, e ainda gestores públicos e estudantes de nível superior, etc.

A capacitação englobou:

  • conteúdo teórico e prático sobre dados de saneamento básico rural;
  • conceitos básicos do tratamento de esgoto e parâmetros físicos-químicos-biológico;
  • Fossa Séptica Biodigestora;
  • Jardim Filtrante;
  • Clorador Embrapa;
  • transferência de tecnologia
  • e políticas públicas e ainda relatos de casos de sucesso de parcerias Embrapa.

Essa é uma das ações de multiplicação do conhecimento previstas dentro do projeto Voa Maracanã, que é uma iniciativa da Vale com parceria da Embrapa e execução por parte do Instituto Formação em São Luís para transferir tecnologia para agricultura familiar. O projeto abrange também o município de Itapecuru, onde a execução está à cargo da Estação Conhecimento da Vale.

Segundo o analista João Zonta, coordenador do projeto, já foram realizados cursos sobre Roça Sustentável, hortas e Sisteminha. A ideia é capacitar agentes e famílias multiplicadoras para irradiar o conhecimento tecnológico no território. “O primeiro dia do evento da semana passada foi dedicado à parte teórica e o segundo, à prática, momento em que foram instaladas as URTs da Fossa Séptica Biodigestora e do Clorador Embrapa. Em um próximo momento, as URTs serão instaladas em Itapecuru. Foi uma semana muito proveitosa”.

Para o analista Carlos Renato Marmo, da Embrapa Instrumentação, ministrante do treinamento, desde o início os trabalhos de Pesquisa & Desenvolvimento no tema seguiram premissas como: tecnologias simples, de eficiência adequada e facilmente replicáveis; necessidade de poucos insumos externos e custos de instalação e manutenção acessíveis; harmonização dos sistemas de tratamento com o ambiente; reciclagem segura de nutrientes e água na agricultura e fácil adaptação à rotina da propriedade agrícola e apropriação pelo agricultor.

As três tecnologias validadas – Fossa Séptica Biodigestora, Clorador Embrapa e Jardim Filtrante – hoje estão sendo disseminadas em todo o território nacional. “A experiência foi muito interessante, tanto para mim como para os participantes, que estão agora capacitados para transferir esse conhecimento na região. As URTs serão usadas para dias de campo, visitação em geral e divulgação das tecnologias. Me sinto honrado em fazer parte desse processo”. Carlos Renato também ministrou duas palestras, uma no Instituto Federal do Maranhão – IFMA e outra na Universidade Estadual do Maranhão – UEMA, para apresentar essas tecnologias para estudantes.

A diretora do Instituto Formação, Regina Cabral, destaca que o projeto Voa Maracanã visa a melhoria de renda e de vida de moradores do  Maracanã.

Ieda Valente, da comunidade Alegria Maracanã, disse estar bastante empolgada com as perspectivas a partir do treinamento nas tecnologias da Embrapa. “Veja como uma mudança na vida da nossa comunidade, ao podermos fazer nosso saneamento básico e cultivar alimentos para nosso consumo e comercialização. Estamos muitos entusiasmados e alegres. E tudo isso graças às tecnologias da Embrapa”.

Conheça as tecnologias

Fossa Séptica Biodigestora

Tecnologia que trata o esgoto do vaso sanitário (a água com urina e fezes humanas), de fácil instalação e custo acessível, produz um efluente que pode ser utilizado no solo como fertilizante (recomendado para plantas perenes). Substitui a chamada “fossa rudimentar”, não gera odores desagradáveis, não procria ratos, moscas, baratas e evita a contaminação do lençol freático. O sistema básico, dimensionado para uma residência com até 5 moradores, é composto por três caixas interligadas e a única manutenção é adicionar mensalmente uma mistura de água e esterco bovino fresco (5 litros de cada).

A solução é uma alternativa frente à falta de saneamento básico em algumas regiões rurais, o que afeta diretamente a saúde do morador do campo; evita a contaminação do solo e da água consumida pelos moradores (os resíduos não chegam ao lençol freático e aos rios que abastecem as cidades), além da proliferação de doenças.

Jardim Filtrante

É um pequeno lago impermeabilizado, que contém pedras, areia e plantas aquáticas, com manutenção muito simples, para tratamento do esgoto proveniente de pias, tanques e chuveiros, ricos em sabões, detergentes, restos de alimentos e gorduras – a chamada “água cinza”. Foi adaptado pela Embrapa para complementar o uso da Fossa Séptica Biodigestora e do Clorador Embrapa, tecnologias desenvolvidas para o saneamento básico rural.

Contribui com a sustentabilidade do meio ambiente ao evitar o descarte de esgoto não tratado, bem como permitir a reutilização da água para irrigação de lavouras, lavagem de pisos e janelas, uso no vaso sanitário, entre outras, ou mesmo o descarte de maneira adequada. O sistema possibilita ainda harmonia paisagística, pelo uso de plantas ornamentais.

Clorador Embrapa

Tecnologia simples, de baixo custo e fácil instalação, desenvolvida para clorar a água do reservatório (caixas d’água) das residências rurais. Pode ser montado pelo próprio morador, com peças adquiridas em lojas de material de construção e deve ser instalado entre a entrada de captação de água e o reservatório da residência. Auxilia a descontaminação da água, reduzindo o risco de a população rural ser exposta a doenças como a hepatite, diarreia, tifo, giardíase e outras.

*Com informações da Embrapa

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