Enquanto alguns cientistas acreditam que tenha sido descartado por aquaristas, outros dizem que chegou ao mar após o furacão Andrew ter devastado a Flórida (EUA), em 1992.
O peixe-leão, espécie invasora e venenosa, teve seu primeiro registro no Maranhão, durante o cruzeiro científico realizado em maio de 2022. O registro também se constitui em outra ocorrência inédita: a profundidade de 70 metros, conforme imagens feitas por câmeras subaquáticas, a maior para avistagens no país. Em Fernando de Noronha, estava a 23 metros; e, no Ceará, em currais de pesca, com 3 a 4 metros de profundidade.
Natural da Ásia e cultivado como peixe ornamental, o exuberante peixe-leão alcançou o Oceano Atlântico a partir do Caribe. Enquanto alguns cientistas acreditam que tenha sido descartado por aquaristas, outros dizem que chegou ao mar após o furacão Andrew ter devastado a Flórida (EUA), em 1992.
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O certo é que, sem os predadores naturais do Oceano Índico, o peixe-leão está se reproduzindo no Atlântico e representa uma ameaça às espécies nativas. Voraz, alimenta-se de muitas espécies de peixes pequenos e juvenis de peixe de grande porte. Uma fêmea pode expelir até 30 mil ovos.
A expedição do navio Ciências do Mar II, voltada para estudos do pargo, uma espécie de peixe ameaçada de extinção, encontrou três peixes-leões. Eles tinham cerca de 50 centímetros de comprimento. Estavam parados no fundo do mar, aparentemente à espera de uma presa.
“A princípio pensei que fosse um lírio ou uma samambaia-do-mar. Mas, ao examinar melhor as imagens, identifiquei que era o peixe-leão”, descreve o oceanógrafo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Mauro Maida, coordenador do cruzeiro científico.
As imagens são do sistema de câmeras Sassanga, o mesmo que faz o videomonitoramento da Área de Proteção Ambiental (APA) Federal Costa dos Corais, entre Pernambuco e Alagoas. A tecnologia, que permite gravar no fundo do mar sem a presença de um mergulhador, é fruto de uma parceria entre a UFPE e o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Nordeste (Cepene-ICMBio).
Outra surpresa da expedição científica foi um grupo de quatro golfinhos do gênero Tursiops, chamado comumente de golfinho-nariz-de-garrafa. Estavam próximos a uma área recifal conhecida como mesofótica, por estar localizada à meia-luz. É que, no mar, a luz penetra até 130 a 140 metros de profundidade. “Esses do Maranhão são recifes coralíneos isolados e pouco conhecidos”, avalia Mauro Maida.
O achado dos peixes-leões está sendo reportado ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, pela coordenação do cruzeiro científico.
Segundo o professor do curso de Engenharia de Pesca da UFMA Danilo Lopes, o primeiro registro oficial do peixe-leão na costa maranhense acendeu o sinal de alerta para os gestores públicos.
“Considerando que essa espécie não possui predador natural, podemos afirmar que existe um risco eminente, principalmente ao Parque Estadual Marinho do Parcel de Manuel Luís, que faz limite ao norte com os corais rasos e ao sul com o Sistema de Recifes da Amazônia, e possui características singulares, servindo como área de abrigo e reprodução para diversas espécies marinhas. Diante disso, é de extrema importância que a Secretaria de Meio Ambiente e o ICMbio, apoiados pela UFMA e demais instituições de pesquisa do Maranhão, iniciem um planejamento de ações estratégicas para a contenção do crescimento populacional do peixe-leão na região costeira do estado”, afirma.