Invasão de peixe-leão pode afetar biodiversidade amazônica, alerta zoólogo

Apesar de sua beleza exótica, o peixe “invasor” pode gerar sérios danos sociais, ambientais e à saúde.

De beleza extravagante e exótica, o peixe-leão (Pterois) é um peixe carnívoro que habita naturalmente corais dos oceanos Índico e Pacífico. Destaca-se pela presença de listras verticais brancas e vermelhas alaranjadas e raios prolongados nas suas nadadeiras laterais e ventrais, surgindo daí o seu nome.

No Brasil sua ocorrência é recente e, por não ser natural, é considerado um invasor, que não possui predadores naturais e ocasiona um desequilíbrio ambiental. A primeira ocorrência registrada na Amazônia foi em 2020.

O Portal Amazônia conversou o doutor em zoologia e pesquisador colaborador do Museu Paraense Emílio Goeldi, Luciano Montag, que contou algumas particularidades dessas ocorrências e quais os possíveis danos para o meio ambiente da região que o peixe-leão pode causar.

Peixe-leão. Foto: Reprodução/Pixabay

Causa medo porque… 

Animal peçonhento com 18 espinhos venenosos, o peixe-leão chega a medir 47 centímetros e injeta um veneno como forma de defesa para não ser predado. Apesar da substância química normalmente não ser fatal em pessoas saudáveis, a dor pode chegar a ser bastante intensa e alguns estudos afirmam que o veneno em humanos pode também provocar náuseas e até convulsões. 

Caminho percorrido 

O peixe-leão é originário do Indo-Pacífico, uma região biogeográfica oceânica que compreende o Oceano Índico e a porção ocidental e tropical do Oceano Pacífico. 

Geralmente, a espécie é observada em regiões de recifes, onde tendem a deslizar pelas rochas e corais durante a noite e se esconder durante o dia. Mas também é uma espécie ornamental muito comercializada por aquaristas.

Então, como ele apareceu no oceano atlântico?

Duas possibilidades são as mais difundidas: a primeira é que em meados da década de 80, um exemplar de aquário tivesse sido despejado no mar da Flórida, os Estados Unidos; já a segunda é que durante a passagem do furacão Andrew pela Flórida, em 1992, um aquário ornamental que continha seis peixes-leão foi destruído e os peixes se tornaram invasores no golfo do México. 

Nenhuma foi confirmada 100% até o momento, mas desde que o animal passou a se reproduzir no oceano Atlântico, tem causado prejuízos ambientais e econômicos.

No ano de 2000, a espécie já invadia o mar do Caribe, em Cuba. Em 2010, chegou no continente sul-americano pela Venezuela. Quase 40 anos depois das primeiras aparições no Atlântico, em 2020, chegou ao Brasil através de Fernando de Noronha (Pernambuco) e mais recentemente na Amazônia. 

Na Amazônia 

O biólogo Luciano Montag explica melhor a ocorrência do peixe-leão na Amazônia: 

“As primeiras ocorrências (dois indivíduos) para o Estado do Pará foram em setembro de 2020 por pescadores artesanais nos corais da foz do Rio Amazonas. Ainda não foram registrados em outras regiões do Estado, porém esses corais formam um corredor ecológico de biodiversidade entre o Caribe e o Atlântico Sul, o que acreditamos que vem acontecendo, uma vez que a ocorrência desta está espécie é antiga (década de 80) para o Caribe e agora vem ocorrendo na costa norte do Brasil”,

relata.

Apesar de sua beleza exótica, pode trazer sérios danos sociais, ambientais e à saúde. O motivo é simples: o peixe-leão não tem predadores naturais na costa brasileira, não serve para alimentação e se reproduz de maneira descontrolada, como explica Montag: “Isso pode causar um desequilíbrio ecológico, perda de biodiversidade, principalmente em espécies endêmicas dos recifes de corais; e diminuição da pesca comercial, pois o peixe-leão poderá se alimentar dos juvenis das espécies comerciais”.

Muitos pescadores dos locais onde há ocorrências do peixe-leão já reclamam da diminuição de peixes de espécies menores e existem registros de acidentes destes com os peixes invasores, como o caso de um pescador que teve convulsões e paradas cardíacas após pisar em um dos exemplares. Já o desequilíbrio ecológico se dá justamente pela reprodução desenfreada e maior consumo das espécies locais.

Peixe-leão. Foto: Reprodução/Pixabay

Controle populacional

Há alguns anos, acreditava-se que o peixe-leão não chegaria a Amazônia devido à baixa salinidade da foz do Rio Amazonas. Porém, alguns corais presentes na foz do rio têm facilitado a vinda e permanência da espécie. 

“A descoberta recente de recifes de corais tornam esse caminho do Caribe ao Atlântico Sul facilitado, essas áreas possivelmente tem um salinidade adequada à sobrevivência da espécie. Ainda falta muita pesquisa para respondermos estas perguntas, mas pode estar ocorrendo uma adaptação da espécie a salinidades menores também”,

comentou o zoólogo.

Foto: Angel Valentin/NYNTS

Em relação ao controle populacional do peixe-leão, Luciano comenta que a única maneira adequada sem prejuízos econômicos e sociais é a eliminação dos peixes: “A única forma de controle seria a eliminação física da espécie do ambiente natural. Orientando a todos os pescadores, mergulhadores e banhistas, que caso encontrem essa espécie que mate, tomando cuidado com os espinhos que são venenosos”.

O zoólogo acrescenta que em caso de registro da espécie no Pará, é importante informar ao Laboratório de Ecologia e Conservação do Instituto de Ciências Biológicas da UFPA, no campus Guamá, pelo telefone (91) 3201 8664.

Foto: Reprodução/Costa Norte

O que fazer ao encontrar um peixe-leão? 

Aqui vão algumas dicas do doutor em zoologia para caso você se depare com a espécie:

  • Evite contato físico com o peixe;
  • Se afaste do local;
  • Anote a ocorrência da espécie: local e horário;
  • Informe ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) ou à polícia ambiental de sua região.
Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Parque do Utinga bate recorde de visitantes em 2024 e projeta ações para a COP30 em Belém

Até o dia 13 de dezembro, mais de 470 mil pessoas passaram pela Unidade de Conservação (UC), superando em 40 mil o total registrado no mesmo período de 2023.

Leia também

Publicidade