É a capital com a mais rica ictiofauna do Planeta, com a maior área territorial do Brasil e a única que é vizinha de outro país e dois estados brasileiros
Cidade cosmopolita, nasceu graças à implantação da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré que trouxe trabalhadores de cerca de 50 países para a Amazônia. Assim é Porto Velho, que surgiu como cidade em 2 de outubro de 1914, na época localizada ao sul do estado do Amazonas. Portanto, hoje faz 108 anos.
Com a criação do Território Federal do Guaporé [antigo nome de Rondônia], em 1943, foi elevada à capital. A maior capital em área territorial de todo o país: são 34.090,952 km² e a quarta maior população do Norte, cerca de 550 mil habitantes. Outra curiosidade: Porto Velho é a única capital brasileira que faz fronteira com outro país, no caso, a Bolívia, além da divisa com dois estados: Amazonas e Acre.
A cidade cresceu e abriga empreendimentos gigantes, como são as usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau que geram energia para em torno de 20% dos brasileiros. Mesmo assim, Porto Velho não perdeu suas características ribeirinhas e ferroviárias. As famílias tradicionais mantém vivas as culturas presentes na religiosidade, na fala, nos folguemos e na culinária. No turismo, Porto Velho tem a pesca esportiva, a floresta e os balneários como excelentes atrativos.
O porto-velhense é um povo alegre e acolhedor desde quando vivia economicamente por conta da lendária “Ferrovia do Diabo” e dos seringais que trouxeram muitos nordestinos — os chamados “Soldados da Borracha” — para a região, acentuando bastante as caraterísticas nordestinas até hoje presentes nos costumes e no linguajar locais.
Festeiro, é um povo que não perde o Arraial Flor do Maracujá e o Carnaval — a Banda do Vai Quem Quer é, proporcionalmente, o maior bloco do país, com cerca de 110 mil brincantes. É uma população que também ama falar das belezas naturais da cidade, a exemplo do lindo por do sol e do grandioso Rio Madeira, que representa a maior ictiofauna registrada do mundo — são mais de 900 tipos de peixes catalogados — e a hidrovia do Madeira é uma das mais relevantes do Brasil, pela qual são exportados produtos do agronegócio do Norte e do Centro-Oeste do país para a Europa, Ásia e Estados Unidos.
Na culinária, Porto Velho oferece tudo que é saboroso e tradicional na Amazônia. Seu prato oficial é Pirarucu Rondon. Contudo, possui excelentes restaurantes de linhagem internacional que significam muito para o receptivo turístico regional e agradam os mais diversos paladares.
Com vários museus abertos — destaques para o Memorial Rondon, Museu da Memória, Memorial Jorge Teixeira e Museu Internacional do Presépio — a cidade também dispõe de um belo centro histórico que inclui o complexo da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, o Mercado Cultural, a Catedral Metropolitana Sagrado Coração de Jesus, a UNIR Centro, o antigo Palácio Presidente Vargas, e elas: as icônicas Três Caixas d’Água, monumento que é o cartão-postal e símbolo presente até na bandeira de Porto Velho.
Cidade abençoada
Da primeira vila, a da Candelária, de 1909, aos dias da hoje, Porto Velho passou por muitos estágios, personalidades jurídicas e ciclos econômicos até se firmar como a capital de Rondônia.
A cidade dispõe de uma das maiores frotas (proporcionais) do Brasil, quinto porto e o vigésimo sexto aeroporto mais movimentado do país; é a nona cidade que mais recebe turistas na região Norte.
Porto Velho pulsa, forte, no coração de quem aqui vive e a respeita. Que sabe que muito precisa ser feito em matéria de infra-estrutura e urbanismo, mas já a reconhece como tendo uma identidade e um espírito empreendedor que suplanta qualquer debilidade – que será superada com o esforço de todos!
Com vida cultural intensa, dispõe do maior teatro do Norte do Brasil, tem 190 escolas públicas e tantas outras particulares; universidade e faculdades renomadas, muitos artistas e talentos incontestáveis na música, nas artes cênicas e plásticas, na literatura, na dança…
Nosso carnaval, a Jerusalém da Amazônia, a Flor do Maracujá, Festejo de Nazaré [na região do Baixo Rio Madeira] são algumas das tantas tradições.
Teve como embrião uma cidade fundada por jesuítas, Santo Antônio do Rio Madeira [no antigo norte do Mato Grosso, cidade extinta em 1945 e incorporada a Porto Velho], e consolidou sua identidade às margens da odisséia representada pela construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.
Cresceu sem perder o lastro de cidade ribeirinha, que tem no Rio Madeira a sua referência maior. Rio dos botos, das divindades, das lendas, do ouro, da navegação que trouxe e levou riquezas; que trouxe a gente que fez Porto Velho surgir em terra mas sendo fruto das águas.
Porto Velho dos estrangeiros, dos índios, dos soldados da borracha, dos homens e mulheres de todos os quadrantes do planeta que fizeram nascer uma nova civilização nos trópicos.
Rondon. Franz Keller. Church. Joaquim Tanajura. Os Rescky e outros “turcos”. Aluízio Ferreira. Centeno. Vespasiano Ramos. Ary Pinheiro. Renato Medeiros. Jorge Teixeira. Manelão. Euro Tourinho… tantos expoentes, e tantos outros anônimos! Tantos homens e mulheres ousados! tanta gente essencial à compreensão da formação desta cidade; gente de tantas áreas (letras, política, humanismo, negócios, operários) me vêm à memória neste instante para lembrar um passado de glória e um presente carregado de esperanças.
Minha homenagem, ainda que singela, à capital dos ipês, do Caiari (primeiro conjunto habitacional do país), do bolo Moka, do rio que tem mais espécies de peixes do Globo, do pôr do sol mais bonito, da gente mestiça, do povo audacioso que, tal qual Júlio César, “veio, viu e venceu”.
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