Há 136 anos nascia o poeta Vespasiano Ramos

Escritor maranhense foi sepultado em Porto Velho

Dia 13 de agosto faz 136 anos o nascimento de Joaquim Vespasiano Ramos. Poeta nascido em Caxias, Maranhão, ele morreu em Porto Velho, em 1916; tinha apenas 32 anos. Foi autor de único livro: “Cousa Alguma”, publicado em maio de 1916, com 170 páginas, contendo 41 sonetos e 22 poemas.

O título do livro revela dois traços da personalidade de Vespasiano: a modéstia e a ironia. Ele mesmo justificou-o: “Lede estas rimas todas uma a uma. Podereis encontrar alguma cousa no livro que não vale cousa alguma”

Embora tenha vivido apenas seus últimos dias em terra rondoniense, deixou seu nome marcado na história local. Aliás, o escritor aparece no Mapa Brasileiro de Literatura como o representante de Rondônia. Seu espírito boêmio o trouxe para cá, fugindo de um amor não correspondido no Maranhão.

Vespasiano Ramos aos 18 anos. Foto: Acervo/JO

Humberto de Campos (1886/1934), da Academia Brasileira de Letras, escreveu que “Vespasiano procurou na poesia uma consolação generosa para os momentos de intimidade com a sua alma, nas horas não dissipadas pela voracidade boêmia”.

A vida de Vespasiano vai além de sua poesia. Ele se fez notado em seu meio pelo que escrevia e declamava; uma obra popular carregada de lirismo. Ficou eternizado muito mais, no entanto, por ser folgazão, carismático e cavalheiro. Fácil de chegar a essa conclusão. Basta observar a imprensa da época, que fez preciosos registros sobre o quão ele, desde menino, era amável e virtuoso; conquistava facilmente as pessoas que dele se aproximavam, sem deixar de lado a fuzarca social que o arrebatava.

Nos meios acadêmicos, Vespasiano Ramos ainda é nome recorrente em Rondônia, no Maranhão e no Pará. O período de publicações dos poemas de Vespasiano Ramos, que durou 14 anos, isto é, de 1902 a 1916, coincide com o Pré-Modernismo (1902/1922): transição entre o simbolismo e o modernismo.  Vespasiano não foi um poeta de vanguarda, pelo contrário. Dos 32 anos que ele viveu, a metade foi no século XIX; a outra, no século XX. Ele refletia bem esse dois períodos localizados entre o Brasil Império e a insipiente república. 

Vespasiano Ramos. Foto: Acervo/JO

Obra vespasiânica é empírica, mas elucubra três escolas: 

  • Romantismo: idealização da mulher, espírito sonhador, valorização da liberdade
  • Parnasianismo: com preferência pelos sonetos, linguagem rebuscada e alheia a questões sociais
  • Simbolismo: visível em seu viés religioso e místico. 

O autor conhecido entre amigos como “Vespa” e em família como “Quincas” manteve seu estilo eclético, porém conservador, em conformidade com os padrões dominantes.Foi apreciador de genuínos escritores caxienses [principalmente, Gonçalves Dias, 1823/1864], autores franceses e o carioca Olavo Bilac (1865-1918). Contudo, Vespasiano Ramos não se declarou “filiado” a nenhuma escola literária brasileira e nem foi um gramático ranzinza.

“O poeta morreu sem a influência de ninguém, mas com uma semelhança de vida com o poeta americano Edgar Alan-Poe, que desgraçadamente cantou a maldição do “Corvo” naqueles versos geniais do nunca mais…” [Fernando Braga, 1984, da Academia de Letras de Brasília].

As histórias que se contam sobre ele colocam-no no patamar de mito. Acontece que morte cá na terra e o tempo transcorrido do desaparecimento físico de qualquer pessoa são capazes de dois lances contrários entre si: a condenação ao irreversível esquecimento ou a consolidação da imortalidade que se começa a adquirir em vida e se firma no pós-túmulo. É o caso do poeta.

Poeta representa Rondônia no Mapa Brasileiro de Literatura. Arte: Hunter Lowis/Acervo JO

Cirrose

Muito pálido, anêmico, entregue à luxúria. Assim estava Vespasiano à beira da morte. Jazeria numa tarde chuvosa. Deu seu último suspiro lá pelas 14 horas de 26 de dezembro nos braços de João Alfredo de Mendonça, jornalista, cuja esposa colocou a vela nas mãos do moribundo, como era costume.
Atestado de óbito assinado pelo médico e prefeito de Porto Velho, Joaquim Tanajura: malária — agravada porque ele estava desnutrido e com cirrose.

João Alfredo admitia em telegrama a Heráclito [irmão de Vespasiano] que o amigo estivesse acometido de “afecção do peito e do pulmão”.
Não menciona a tuberculose, doença conhecida como o “mal do século”.

Túmulo perpétuo foi doado por força de lei municipal de 1925, nove anos após o sepultamento em cova ordinária. Jazigo foi feito com donativos da sociedade porto-velhense e do Clube Recreativo V.R. (extinto). Em 2016, centenário da morte do poeta, seu mausoléu foi revitalizado no Cemitério dos Inocentes. Houve uma solenidade conduzida pela Academia Rondoniense de Letras (ARL). Na ocasião, o desembargador Alexandre Miguel, membro da ARL, declamou o poema “Ao Cristo”, de Vespasiano: 

Ó Sombra!
Ó Essência!
Ó Espírito
Ó Bondade!

Soberano de todos soberanos,
Esperança dos míseros humanos,
Jesus – Misericórdia e Caridade;

Cristo – Amor
Cristo – Luz
Cristo – Piedade!

Divino apagador dos desenganos
Tu que foste há quase dois mil anos,
Sacrificado pela Humanidade,

Prometeste voltar! Não voltes, Cristo:
Serás preso, de novo, às horas mudas,
Depois de novos e divinos atos,

Porque, na terra, deu-se apenas, isto:
Multiplicou-se o número de Judas
…E vai crescendo a prole de Pilatos.

 Homenagens póstumas 

  • Patrono da cadeira 5 da Academia Caxiense de Letras.
  • Patrono da cadeira 23 da Academia de Letras de Rondônia.
  • Patrono da cadeira 2 da Academia Rondoniense de Letras.
  • Busto na Praça do Pantheon, em Caxias (MA).
  • Rua Vespasiano Ramos, bairro Nova Porto Velho, em Porto Velho (RO).
  • Praça Vespasiano Ramos, centro de Caxias (MA).
  • Rua Vespasiano Ramos, bairro Diamante, São Luís (MA).
  • Centro de Ensino Vespasiano Ramos, escola pública estadual, Imperatriz (MA). 

Sobre o autor

Às ordens em minhas redes sociais e no e-mail: julioolivar@hotmail.com . Todas às segundas-feiras no ar na Rádio CBN Amazônia às 13h20.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Pará perde Mestre Laurentino; artista completaria 99 anos em janeiro de 2025

Natural da cidade de Ponta de Pedras, na Ilha do Marajó, ele era conhecido como o roqueiro mais antigo do Brasil.

Leia também

Publicidade