Animal na reserva biológica. Foto: Acervo NGI Cautário-Guaporé
Por Júlio Olivar – julioolivar@hotmail.com
O Ministério Público Federal (MPF) exige que o Estado de Rondônia apresente uma solução para o desequilíbrio ambiental registrado na Reserva Biológica Guaporé, onde vivem cerca de cinco mil búfalos selvagens. Os animais, que ocupam uma área equivalente a 60 campos de futebol, estariam desertificando a região devido à sua reprodução desenfreada.
O MPF acionou o Governo Estadual e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), exigindo a erradicação dos búfalos e aplicando uma multa de R$ 20 milhões ao Estado pelos supostos danos causados.
Originalmente, apenas 36 búfalos asiáticos, das raças Carabao e Jarafabadi, foram introduzidos na antiga Fazenda Pau d’Alho em 1953, como parte de um projeto estatal de expansão da pecuária na região.
O abate dos búfalos para consumo foi cogitado, mas descartado devido à ausência de controle de zoonoses no rebanho. Em 2014, uma audiência pública na Assembleia Legislativa discutiu até a “caça turística” como forma de mitigar o impacto ambiental. No entanto, a ação ficou no discurso.
Em 2016 o então governador Confúcio Moura (MDB) sancionou a Lei 3771 permitindo o abate desses animais para se evitar mais prejuízos à fauna e à flora. Na prática, porém, nada ocorreu de lá para cá.
A falta de acesso à área isolada de 96 mil hectares onde os búfalos vivem torna o controle populacional inviável.
48% da área alagada foram reduzidos devido ao hábito dos búfalos de chafurdar na lama e desviar os leitos de água. Espécies nativas, como onças-pintadas e cervos-do-cerrado foram praticamente extintos pelos “invasores”.
Agora, o MPF determina que os búfalos devem ser abatidos com o menor grau possível de sofrimento, e o plano de extermínio deve ser apresentado pelo Governo Estadual, sob fiscalização do órgão federal e acompanhamento do ICMBio. A probabilidade é de que o abate seja a tiros e de que ps corpos sejam incinerados no próprio local.
O ICMBio divulgou uma nota afirmando que “estuda tecnicamente a melhor alternativa para a retirada dos búfalos, considerando as dificuldades logísticas para a destinação desses animais selvagens, diante da geografia do local”.
Possível exagero nos números
O MPF alerta que, sem uma solução imediata para a dizimação dos búfalos, a população poderá chegar a 50 mil animais até 2030. No entanto, os números parecem exagerados. Mesmo que se mais da metade do rebanho for composta por fêmeas – e não há exatidão sobre esse dado – e 100% delas se reproduzissem, a quantidade de búfalos dobraria em cinco anos, no máximo. Normalmente, apenas animais confinados e submetidos à inseminação artificial e manejo específico conseguem parir com menos de dois anos de vida.
Outro lado da história – o olhar de um defensor da causa animai
As propostas até agora ventiladas enfrentam resistência das políticas de defesa da vida animal. Um cidadão, que prefere não ser identificado por ser servidor do Estado, questiona: “Qual o bem natural de maior valor: uma família de búfalos ou uma árvore? Quem pode aquilatar?” Ele diz, ainda, que “não existe abate a tiro sem sofrimento”. Órgãos ambientais estão de olho na questão
Tratando os animais como “gigantes gentis do Guaporé”, o naturalista chama-os de “majestosos, de olhos profundos e movimentos serenos”.
Segundo ele, “os búfalos selvagens do Guaporé não são predadores, não representam ameaça. Eles pastam silenciosamente, banham-se nos rios e protegem seus filhotes com um instinto que só os mais nobres seres possuem: o amor.
Eles não escolheram estar ali. Foram trazidos, esquecidos, mas nunca perderam sua docilidade. Quem já os observou de perto sabe: há uma beleza tranquila neles, uma força que não se impõe pela violência, mas pela presença serena.
O olhar poético prossegue: “Exterminá-los não é apenas apagar vidas, mas silenciar para sempre uma parte da natureza que encontrou seu próprio equilíbrio. Eles não merecem ser punidos pela sua existência. Eles merecem ser protegidos pelo que são: seres vivos que só pedem para continuar respirando”.
Sobre o autor
Júlio Olivar é jornalista e escritor, mora em Rondônia, tem livros publicados nos campos da biografia, história e poesia. É membro da Academia Rondoniense de Letras. Apaixonado pela Amazônia e pela memória nacional.
*O conteúdo é de responsabilidade do colunista