Cândido Rondon, militar pacifista indicado três vezes ao Prêmio Nobel. Foto: Arquivo Nacional
Em 5 de maio de 1865, há exatos 160 anos, nasceu Cândido Mariano da Silva Rondon, um homem que não se contentou em desenhar mapas, mas em reinventar destinos. Com passos firmes, atravessou selvas, conectou vozes e ofereceu ao Brasil não apenas território, mas identidade.
Não era um conquistador, era um semeador. Ele fez brotar diálogo em um Brasil cujos governadores contratavam “bugreiros” para limpar áreas. Cada fio telegráfico que estendeu não foi apenas um avanço técnico—foi um elo entre mundos, uma ponte sobre o abismo da incompreensão. Sob sua liderança, cientistas penetraram a imensidão amazônica e revelaram segredos ocultos em suas entranhas: etnografia, mineralogia, ciências naturais… Cada descoberta era um novo alicerce da civilização.
Inspirado pelo positivismo do filosófico francês Auguste Comte (1798-1857), Rondon acreditava que o progresso verdadeiro era aquele que respeitava e incluía.
“Viver para os outros é não somente a lei do dever, mas também a lei da felicidade”, disse Comte—e Rondon, em sua trajetória, tornou este preceito um caminho concreto. No início do século XX, enquanto revoluções se impunham pela força, ele ergueu uma civilização pelas mãos da ciência e pela alma da humanidade.
Rondônia carrega seu nome, mas seu legado pulsa muito além de qualquer fronteira. Ele não apenas desbravou terras—desbravou consciências. Trouxe aos povos originários a dignidade da comunicação, aos estudiosos o convite à investigação, ao Brasil a lição de que um país se faz não apenas com ferro e fogo, mas com conhecimento e respeito.
Rondon não foi apenas um construtor de estradas, mas de sonhos. Traçou caminhos sem apagar rastros, uniu sem subjugar, avançou sem ferir. E hoje, ao olharmos para a vastidão amazônica, vemos nele mais do que um nome inscrito em um estado—vemos o testemunho de que a verdadeira grandeza não está em tomar, mas em oferecer.

Sobre o autor
Júlio Olivar é jornalista e escritor, mora em Rondônia, tem livros publicados nos campos da biografia, história e poesia. É membro da Academia Rondoniense de Letras. Apaixonado pela Amazônia e pela memória nacional.
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