Diesel verde. Foto: Michel Chedid
O diesel verde, também conhecido como diesel renovável ou HVO (Hydrotreated Vegetable Oil), é um biocombustível destinado a motores de ciclo diesel. Sua composição é semelhante ao óleo diesel de petróleo, porém é derivado de matérias-primas renováveis.
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Diferente do diesel convencional, um derivado do petróleo, e do biodiesel (FAME), que contém oxigênio em sua composição e pode exigir ajustes técnicos nos motores, o diesel verde se destaca por ser quimicamente semelhante ao diesel de origem fóssil, mas produzido a partir de fontes renováveis como óleos vegetais, gorduras animais e até resíduos orgânicos.
Além disso, o diesel verde integra a segunda geração de biocombustíveis, sendo resultado de um processo tecnológico avançado que remove o oxigênio e outras impurezas por meio do hidrotratamento.
“Nesse processo, as matérias-primas (óleos vegetais e gorduras animais) são tratadas com hidrogênio em altas temperaturas e pressão. Isso remove o oxigênio e outras impurezas, resultando em um combustível composto por hidrocarbonetos parafinícos, quimicamente idênticos aos encontrados no diesel convencional derivado do petróleo”, explicou o doutor em engenharia de transportes, Geraldo Alves de Souza, ao Portal Amazônia.
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Características do diesel verde
Entre as principais características do diesel verde estão sua maior estabilidade, longa vida útil (podendo chegar a 10 anos) e maior resistência à absorção de umidade, o que reduz significativamente os problemas de armazenamento. Segundo Souza, essa estabilidade contribui também para menor risco de entupimento de filtros, bicos injetores e bombas de combustível.

Além disso, o diesel verde também apresenta um número de cetano elevado (medida da qualidade da ignição do combustível diesel), fator que melhora a qualidade da combustão e a eficiência do motor, além de ser isento de contaminantes, o que reduz o desgaste dos componentes dos veículos (IBP).
De acordo com Souza, o diesel verde, conhecido como HVO, é um combustível “drop-in“, o que significa que pode ser usado puro (100% HVO) ou misturado ao diesel convencional em qualquer proporção, sem a necessidade de modificações nos motores ou na infraestrutura existente.
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Vantagens do biocombustível
Um dos principais desafios do mundo atualmente é reduzir o impacto das fontes de energia sobre o clima. O grande problema está nos combustíveis fósseis, como o diesel, a gasolina e o carvão, que são responsáveis por grande parte das emissões de CO₂ (dióxido de carbono), um dos gases que intensificam o efeito estufa e contribuem para o aquecimento global.
“Esses combustíveis vêm do subsolo, onde o carbono está armazenado há milhões de anos. Quando extraímos e queimamos esse material, ele reage com o oxigênio do ar e libera energia, e também dióxido de carbono. O problema é que esse CO₂ não fazia parte do ciclo atual da natureza: ele estava ‘escondido’ e, ao ser liberado, aumenta a quantidade total de gases na atmosfera, contribuindo para o aquecimento global”, explica Geraldo Souza.

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De acordo com o Geógrafo, os biocombustíveis, como o etanol (álcool da cana-de-açúcar) ou o biodiesel (produzido a partir de soja, por exemplo), funcionam de forma diferente, já que plantas usadas para fabricar esses combustíveis crescem absorvendo CO₂ da atmosfera durante o processo de fotossíntese. Ou seja, quando queimamos esse combustível, o CO₂ que é liberado é o mesmo que foi retirado do ar antes pela planta.
“Isso significa que, embora também emitam CO₂, os biocombustíveis não aumentam a quantidade total de carbono na atmosfera, pois fazem parte de um ciclo natural de renovação. Essa é a grande vantagem deles em relação aos combustíveis fósseis”, afirmou Geraldo.
A combustão (queima de combustível no motor) libera CO₂ e consome oxigênio, já a fotossíntese consome CO₂ e libera oxigênio. Por isso, quando biocombustíveis são usados, o ciclo natural está apenas se repetindo, sem adicionar ‘carbono extra’ ao planeta, como acontece quando o petróleo é utilizado.
Por isso, o biodiesel e o diesel verde entram no grupo de energias limpas, já que eles representam uma forma mais consciente e equilibrada de produzir energia, sem contribuir para o aumento do efeito estufa.
Diferenças entre diesel convencional, biodiesel e diesel verde
De acordo com o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás, o diesel convencional é derivado do petróleo e vem sendo utilizado por séculos. O biodiesel e o diesel verde, embora sejam biocombustíveis e derivados de fontes renováveis como óleos vegetais e gorduras animais, são produzidos por processos químicos distintos e têm características diferentes.
O biodiesel (também conhecido como FAME – Fatty Acid Methyl Ester) é produzido por um processo chamado transesterificação. Nesse processo, óleos vegetais ou gorduras animais reagem com um álcool (geralmente metanol ou etanol) na presença de um catalisador.
Já o diesel verde ou HVO (Hydrotreated Vegetable Oil) é produzido por um processo de hidrotratamento, em que as matérias-primas (óleos vegetais e gorduras animais) são tratadas com hidrogênio em altas temperaturas e pressão.
Diesel verde na Amazônia
No Amazonas, um projeto de pesquisa desenvolvido em iniciativa conjunta da Universidade Estadual do Amazonas (UEA), da empresa Eneva e de outras instituições parceiras, ‘Diesel Verde na Amazônia’, tem como foco estudar o potencial de oleaginosas nativas da região amazônica como matéria-prima para a produção de diesel verde.

“O diesel verde tem características muito parecidas com a do diesel fóssil, porém ele é uma fonte renovável. Sendo assim, nossa proposta visa apoiar comunidades locais que possam vir a produzir essa oleaginosa. Dentro dos nossos laboratórios, vamos verificar aquelas propriedades interessantes para que possamos escolher uma oleaginosa, de fato, capaz de suprir essa demanda”, explicou a Prof.ª Dra. Patrícia Melchionna, integrante do projeto e pesquisadora do Grupo de Pesquisa Química Aplicada à Tecnologia (GP-QAT) da UEA.
Segundo Melchionna, o projeto lançado em julho terá duração de 30 meses e prevê a transformação das oleaginosas selecionadas em HVO, a implantação de uma planta-piloto, a realização de análises técnicas e econômicas, além da avaliação do uso do combustível renovável no transporte fluvial e na geração de energia elétrica.
“Estamos muito felizes com o início deste projeto na EST/UEA. Imagine se, ao final dessa pesquisa, comprovamos que o HVO derivado das oleaginosas amazônicas pode ser usado em rabetas no interior do estado. Isso significaria redução de custos, menor impacto ambiental e maior integração com as comunidades ribeirinhas”, afirmou Márcio Lira, coordenador da Eneva, maior operadora privada de gás natural do Brasil.
*Por Rebeca Almeida, estagiária sob supervisão de Clarissa Bacellar
