A busca por oportunidades de conexão com os agentes do ecossistema da bioeconomia no Pará trouxe ao estado um grupo de startups, pesquisadores e representantes de órgãos de ensino, financiamento e apoio bilateral suíços durante o nexBio Amazônia. A imersão aconteceu no dia 30 de julho no Campus de Pesquisa do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), onde os participantes contataram pesquisadores, projetos e soluções desenvolvidas no Museu Goeldi e trataram dos desafios para o fomento à inovação na região.
O nexBio Amazônia 2024 é uma iniciativa da Swissnex, um programa da Secretaria de Estado de Educação, Pesquisa e Inovação do governo suíço que visa apoiar soluções tecnológicas sustentáveis, de curto prazo, fáceis e de rápida implementação que melhorem a sustentabilidade e a eficiência das cadeias de produção existentes.
No Pará, o principal interesse é contribuir com o desenvolvimento de soluções baseadas na biodiversidade amazônica, como frutas comestíveis, óleos essenciais, produtos florestais não madeireiros e indústria pesqueira. Entre as propostas destacadas estão projetos realizados por pesquisadoras do Museu Goeldi e o papel da instituição na promoção e compartilhamento de boas práticas de gestão da inovação, apoio a proteção e transferência de conhecimento por meio do seu Núcleo de Proteção ao Conhecimento, Inovação e Transferência de Tecnologia (NITT) e da Rede de Núcleos de Inovação Tecnológica da Amazônia Oriental (Redenamor).
“Apresentamos em linhas gerais a missão, a visão de futuro e a cadeia de valor, os principais programas e linhas de pesquisa estratégicas para mostrar o que o Museu Goeldi faz. Falamos ainda sobre as coleções e os laboratórios que dão suporte às linhas de pesquisa, em especial nas áreas da bioeconomia e biotecnologia; o trabalho no campo da gestão da inovação e proteção do conhecimento; além do portfólio de produtos e processos inovadores que estão em fase de patenteamento”, explica o coordenador do NITT e da Redenamor, o pesquisador Amilcar Carvalho Mendes.
Startup
Em um cenário em que um dos principais gargalos é a falta de recursos financeiros, humanos e materiais para a melhor estruturação do ambiente de inovação nas unidades de pesquisa da Amazônia, Amilcar Mendes considera que o nexBio pode contribuir para acelerar os projetos e chamar atenção para a importância da ciência para o fortalecimento da bioeconomia na região.
“O Museu Goeldi gera inovação tendo como base os ativos da bio, geo e da sociodiversidade amazônica”, resume Amilcar Mendes, que exemplifica esse propósito com a experiência da Iasauatec Amazon, a primeira startup formalizada dentro da instituição.
A Iasauatec Amazon é responsável pela elaboração de tecnossolo ancestral, um biofertilizante que tem como referência o solo mais fértil da Amazônia: a terra preta arqueológica, assunto que o Museu Goeldi se destacou com os estudos pioneiros da pesquisadora Dirse Kern. A solução da Iasauatec é capaz de restaurar a fertilidade de áreas degradadas e aumentar sua produtividade, promovendo benefícios socioambientais.
“Todo produto que é acrescentado na área da agricultura pode ter várias funções, como acelerar o crescimento das plantas ou melhorar a condição do solo. Nosso biofertilizante faz ambas as coisas. Ele melhora as condições do solo e contribui para acelerar o crescimento das plantas,” destaca a doutora em Química Analítica e CEO da startup, Milena Moraes.
Com um pedido de patente em curso junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e a marca em processo de registro, Milena Moraes avalia que a startup tem um grande potencial para contribuir com o setor, o que já vem sendo reconhecido com a participação em programas de aceleração e inovação, como Inova Amazônia (fase de Ideação), Programa Empreende Amazônia (Bridge For Billions / PNUD), recentemente aprovada na 2ª edição do Empreendedoras Tech (ENAP/MDIC) e primeira fase do Sinapse da Bioeconomia.
“O apoio do Museu Goeldi à Iasauatec Amazon tem sido fundamental por ser uma instituição centenária que vem trabalhando com ativos da biodiversidade há muitos anos e dando apoio à inovação tecnológica de ponta. Essa posição da instituição tem sido um divisor de águas para a consolidação da startup no cenário atual da bioeconomia”, afirma Milena.
Ciência e estratégias inovadoras
Projetos com aplicações de conhecimentos químicos e botânicos também estão em estágio avançado rumo à transferência tecnológica. No Laboratório de Análises Químicas (LAQGOELDI), a tecnologista Cristine Bastos do Amarante conduz estudos com as espécies Montrichardia linifera e Montrichardia arborescens, conhecidas da população como aninga. Estudos conduzidos por Cristine comprovaram que esta planta aquática tem propriedades repelentes e antimalárica, além de fibras que podem ser utilizadas como biomateriais sustentáveis, substituindo produtos sintéticos.
“Estamos em fase de testes de validação dos bioprodutos e realizando o depósito das referidas patentes no INPI para proteger nossas inovações. Além disso, estamos iniciando o desenvolvimento de protótipos de novos bioprodutos de aninga, explorando outras aplicabilidades na medicina. Esses novos produtos têm o potencial de contribuir para tratamentos de diversas condições de saúde, expandindo significativamente o impacto de nossas pesquisas”, explica Cristine Amarante.
Outro projeto apresentado na NexBio Amazônia é a proposta de uma microcápsula em pó a base de óleo essencial desenvolvida pela engenheira química Lidiane Diniz do Nascimento, tema que investiga desde sua tese de doutorado na área de Engenharia de Processos. A pesquisadora esclarece que a característica do produto em pó evita a volatilização e a ação de fatores externos como a luz, a umidade e o oxigênio. O produto final, com propriedades diferenciadas quando comparado ao óleo essencial “bruto”, antes do processo de microencapsulação, permite a sua utilização em aplicações cosméticas e alimentícias.
Para Lidiane Diniz, a pesquisa reforça também a necessidade de valorização dos saberes dos povos e comunidades tradicionais sobre a floresta e de suas culturas do fazer, sobretudo do uso medicinal e nutricional das plantas. “Esse conhecimento é uma base valiosa para a pesquisa científica e parcerias entre pesquisadores e comunidades tradicionais precisam ser implementadas, a fim de desenvolvermos uma pesquisa ética e sustentável. Essa é a base para a inovação sustentável, capaz de garantir que os recursos naturais sejam usados com responsabilidade e que os benefícios econômicos, sociais e ambientais sejam equilibrados”, defende a cientista.
Já a doutora em agronomia e ex-pesquisadora do Programa de Capacitação Institucional (PCI), Monyck Lopes, desenvolveu um projeto para prospectar a microbiota visando promover o desenvolvimento de espécies vegetais, em especial as florestais, e a geração de um depósito de patentes. Para ela, as oportunidades de parceria favorecem a biodiversidade, conservação e uso sustentável dos recursos naturais a partir do fortalecimento do tripé ciência, inovação e tecnologia.
“O evento foi essencial para unir forças em prol da inovação e desenvolvimento, sobretudo na Amazônia, pois proporciona a interação da Suíça, como país inovador, com a nossa região, solucionando as demandas de gerar bioeconomia, mas conservando a biodiversidade”, ressalta Lopes.
*Com informações do Museu Goeldi