Quando o amor decide o apogeu do craque: Pavão

Discutia-se em família, no entanto, que o atleta colocara o seu noivado acima de todas as ofertas.

Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Por Abrahim Baze – literatura@amazonsat.com.br 

O amazonense Cláudio Carvalho de Souza, com seus 1,79 m de altura e 69 kg, era conhecido no mundo do esporte, especialmente voleibol, como maior atleta de basquetebol também daquele período. Ele fez história, tornou-se celebridade.

Na despedida do Clube do Remo, de Belém do Pará, numa noite memorável para o basquetebol amazonense, apesar de não ganhar a partida, ali ficara registrado, mais uma vez, que possuía um atleta de alto padrão aproveitável, com muita força de vontade e atributos que, à época, eram relegados a plano inferior pelos dirigentes do esporte local. Exatamente porque tais dirigentes não tomavam a decisão para superar os obstáculos que impediam a realização do campeonato de basquetebol.

Cláudio Carvalho de Souza, conhecido no mundo esportivo como Pavão, naquela noite foi o astro mais figurante das três constelações: Rio Negro, Bancrévea e Caiçara. Com a jaqueta dessas três equipes Pavão deu muito trabalho ao Clube do Remo do Estado do Pará, no qual desfilavam campeões brasileiros e jogadores que direta ou indiretamente viviam do basquetebol profissional no Estado do Pará.

Pavão constituía naquela noite um espetáculo à parte pela velocidade, precisão nas marcações, golpe de vista espantoso, pontaria nos arremessos e lealdade nos choques. Disso talvez, valeu-lhe o convite que recebera do Clube do Remo para fazer parte de seu plantel.

O Clube que nos visitava conhecido como Leão Azul deixou proposta em poder do jogador, cujo valor à época era 150 contos com casa e comida e ainda a sua indicação pelo clube para exercer uma atividade no comércio de Belém. Naquele período o atleta ficou indeciso, não sabia se ia ou não, seus amigos afirmavam a provável possibilidade de não aceitar o convite permanecendo no Bancrévea que acabara de surgir com uma proposta de 600 contos pelo seu passe, cujo seu clube na época haveria de aceitar.

Discutia-se em família, no entanto, que o atleta colocara o seu noivado acima de todas as ofertas. Sua noiva Izete Correa, estudante do Instituto de Educação, representava para ele a última palavra.

Rio Negro, sempre Rio Negro

Pavão foi uma espécie de “cria” do Rio Negro, em Manaus. Desde a idade de 11 anos que ele frequentava e praticava esportes no Líder. Foi levado por Álvaro Santos e burilado no voleibol e basquetebol pelo saudoso técnico Carlos Coelho, de quem ele guardava amizade e eternas recordações e ainda afirmava que aquele técnico conhecia fundo todos os segredos e os recursos das duas modalidades e era detentor de seis títulos de campeão de basquetebol, todos pelo Atlético Rio Negro Clube que, no ano de 1957, tornou-se campeão no Torneio Canto Frio. E ainda pelo campeonato oficial em 1958, tornou-se vice-campeão nos jogos da ACLEA, em 1959, no Torneio Canto Frio, tornou-se campeão em 1961, 1962 e 1963 e ainda foi o cestinha.

Mas o voleibol, já a partir do ano seguinte, começou a enfrentar a dificuldade pelos dirigentes da época, para salvar o basquetebol, ficando em iminência de desaparecer embora houvesse seis equipes muito boas em condições de realizar o certame.

Assim, Cláudio Carvalho de Souza integrou a equipe do Rio Negro na excursão de 1964 para o Estado do Pará. Naquela viagem ganharam de todos os times paraenses (Paysandu, Atuna e o Clube dos 14) sem perder um set. No campeonato brasileiro, ocorrido em Brasília, o Amazonas conquistou o terceiro lugar. Lá estava o Pavão e tiveram que enfrentar as poderosas equipes de São Paulo e Pernambuco.

Fotos: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Manaus – Uma cidade em plena floresta amazônica onde vive Cláudio Carvalho de Souza

A baía do Rio Negro era bem a vitrine do que significou o poderio do período econômico do látex. Apesar de ser um período difícil para a economia do Amazonas, muitos navios de todos os tipos permaneciam no local, cujo contato com a terra eram ligados por dezenas de catraias remadas por portugueses da cidade de Póvoa de Varzim que traziam e levavam passageiros e tripulantes desses barcos nacionais e internacionais que aguardavam aqui por suas cargas a serem transportadas para Nova York, Liverpool, Hamburgo e outras praças.

Mesmo com a queda vertiginosa do látex ainda mantínhamos a exportação de castanha, óleos vegetais, couros de animais silvestres e demais produtos menores que eram trazidos do interior do Estado por navios a vapor, que foram denominados ‘gaiolas’, ‘chatinhas’ e ‘vaticanos’.

Manaus, neste período, apesar da crise, oferecia aos seus visitantes e moradores ruas largas, cortadas por belos espaços e logradouros públicos, com bondes de tração elétrica e carroças com tração animal que cruzavam a cidade. Naquele período os animais também eram uma forma de transporte de mercadorias, especialmente nas serrarias para transportes de madeiras.

Se a arquitetura é o símbolo mais visível de uma sociedade, a fisionomia urbana de Manaus reflete bem o espírito da sociedade que aqui floresceu. Na verdade, a arquitetura de Manaus daquela época apresentava uma atitude emocional e estética do apogeu de período do látex e da burguesia, enriquecida por um processo produtivo.

De uma aldeia dos indígenas Manáos, o antigo lLugar da Barra, se transformara num dos mais importantes centros do mundo tropical, graças à vitalidade econômica da borracha que lhe deu vida, riqueza e encantos, como na antiguidade o comércio intenso, no Mediterrâneo, nas artes, nas letras e na arquitetura da Velha Europa.

O movimento no centro comercial regurgitando de gente de todos os lugares: nordestinos, ingleses, peruanos, franceses, israelenses, norte-americanos, alemãs, italianos, árabes e portugueses. A Avenida Eduardo Ribeiro concentrava um número expressivo de casas comerciais. Nas proximidades do Mercado Municipal Adolpho Lisboa e nas ruas Marcílio Dias, Guilherme Moreira, Quintino Bocaiúva, Henrique Martins, Praça XV, não era diferente. Tudo o que o comércio internacional poderia oferecer era encontrado nesta longínqua cidade, plantada a milhares de quilômetros dos principais centros capitalistas.

As atividades comerciais bem constituídas abrigavam, no andar inferior, no comércio e no andar superior a residência do proprietário, instalado próximo ao seu trabalho, era razão para uma dedicação de maior tempo ao trabalho o que ocorria normalmente das 7h às 21h. Esse espaço residencial era o que predominava em nosso centro comercial. Mas, afastados como na Praça dos Remédios, onde havia uma grande concentração de árabes, ao longo da Joaquim Nabuco, Largo de São Sebastião, Sete de Setembro, Barroso, 24 de Maio, Saldanha Marinho e outras ruas circunvizinhas, dispunha-se as residências mais ricas, magníficos palacetes construídos no melhor estilo da época, assoalhos de acapu, pau-amarelo e pinho de riga, onde sol vazava as janelas e vitrais europeus. As salas normalmente iluminadas com belíssimos lustres europeus, paredes de tetos decorados de pinturas e telas ou ar frescos. Seus salões amplos exibiam luxuosíssimos móveis, porcelanas, cristais e pratarias e, que permaneciam sempre abertos para receber visitas e festas de aniversários, banquetes e saraus, as diversões familiares da Belle Époque.

Casas de alvenaria com porões habitáveis, com fachadas de painéis de azulejos europeus, com suas entradas de escadas em degraus de pedra de lioz ou mármore, sala de visita, alcova, sala de jantar, o grande corredor ladeado de dois ou três quartos, cozinha e mais dependências.

As famílias de menores recursos habitavam as extensas vilas de casas populares, o que encontramos ainda hoje nas ruas 24 de Maio, Lauro Cavalcante e Joaquim Nabuco e, as chamadas estâncias, extensas construções de meia-água, divididas em pequenos quartos para aluguel, vale apena lembrar a estância do Cangalha, que entrava pela 7 de Setembro até o Igarapé de Manaus, na antiga Ponte Cabral que existe até hoje.

Entre os hotéis destacavam-se: o Cassina, na Praça Dom Pedro II e, o Grande Hotel na Rua Municipal n.º 70, belíssimo edifício de dois andares com 42 quartos, cujos, cômodos eram caprichosamente mobiliados (este prédio muito mais tarde sofreu um grande incêndio, de suas ruínas sobrou apenas as fachadas pelas ruas 7 de setembro e Marechal Deodoro. A prefeitura propôs a demolição e em seguida houve a intercessão do então Secretário de Cultura da época Robério Braga que imediatamente, tomou providências para que as referidas fachadas fossem escoradas com enormes vigas de aço para sua sustentação, onde mais tarde foi restaurado).

O Atlético Rio Negro Clube é um clube que têm história

Não foi difícil constituir-se em nossa cidade times de futebol. O apogeu da borracha facilitava com a presença de firmas exportadoras aqui instaladas, cujos escritórios havia grande número de jovens que já praticavam o esporte em seus países de origens. De certa forma a economia da borracha permitia a prática desse esporte, dentre eles alguns se destacaram: o Satélite Clube, o Naval Foot ball, Manáos Sporting Clube, Manáos Atletic Club.

O Jornal a Gazeta da Tarde que circulava a época revelaria sociedade amazonense através da votação direta qual dos clubes de ‘Football’, da época que concorreria ao prêmio, participavam do concurso:

  • Atlético Rio Negro Club,
  • Luso Sporting Club,
  • Nacional Futebol Club,
  • União Sportiva Portuguesa,
  • Associação Athletica Desportiva,
  • América Futebol Club,
  • União Esportiva Hespanhola,
  • Amazonas Futebol Clube,
  • Monte Cristo Futebol Club,
  • Brasil Sporting Club,
  • Paysandu Futebol Club,
  • Liga Esportiva Italiana.
Fotos: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Em 6 de outubro de 1918, o Atlético Rio Negro Club foi declarado vencedor com 3.703 votos e o segundo colocado foi o Luso Sporting Club com 3.485 votos, tendo sido entregue uma placa em prata ao vencedor. Mais tarde, em 17 de abril de 1929, no aniversario da Revista de Carlos da Silva mesquita chamada “Amazônida”, o Atlético Rio Negro Club, foi eleito o mais querido do Amazonas.

De certa forma, naquele período a sede do clube era na rua Marcílio Dias, era o n.º 4.648, hoje 259 no famoso Palacete Vila Gião, foi nesta sede que o clube cresceu e saiu para grandes vitórias esportivas e sociais. Isso ocorreu em 1919, o Presidente do Atlético Rio Negro Club a época era o maranhense Francisco de Assis de Souza Guimarães, o precursor que deu início aos bailes de segunda feira gorda, o baile infantil e o baile de sábado de aleluia e a obrigatoriedade de ornamentar a sede. Foi neste momento que nasceu o celebre “Tanguinho” do maestro João Donizette Gondin.

Fotos: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

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