Além de proporcionar o compartilhamento de conhecimento entre gerações, o encontro também busca fortalecer a união de diversos povos da região.
Uma cultura rica em tradições, seja na vestimenta, na dança, na crença ou no tratamento medicinal, é a cultura indígena. Tradição de gerações seculares, a medicina indígena na Amazônia trabalha a cura por meio do que a natureza tem a oferecer. Segundo Francisca das Chagas, do povo Wapichana em Roraima, um dos exemplos é a folha santa. “Ela cura feridas por fora e por dentro, nas crianças. Desde ferrada de arraia, cobra, tudo que for picada”, garante.
A Comunidade Truaru da Cabeceira, na região de Murupu (distante cerca de uma hora da capital Boa Vista), foi sede do 1° Encontro Estadual de Medicina Tradicional Indígena, evento realizado pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR) no último fim de semana. “A gente vem dando cada vez mais valor e importância para a medicina e cultura também. E a importância da nossa mãe terra, que é dela que a gente tira todos os nutrientes para fazer cada produção”, comenta a secretária geral do Movimento de Mulheres do CIR, a macuxi Maria Betânia.
Entre os produtos feitos pelas representantes dos diferentes povos reunidos no encontro, foram apresentados alguns itens típicos da medicina tradicional como, por exemplo, o ‘xarope sara-tudo’, garrafadas diversas e a ‘pomada milagrosa’ (para dores nos joelhos).
E, como explica Maria Betânia, todos os itens são reconhecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Todos os produtos feitos aqui são reconhecidos à nível estadual e trazem a importância da nossa cultura, da nossa medicina tradicional”, afirma.
Cada medicamento possui uma receita específica e a garrafada, por exemplo, um dos itens mais populares, leva pedaços de jucá, cascas de jatobá, de copaíba e da planta unha-de-gato. “A gente colhe aqui mesmo na comunidade e ela serve para todo tipo de inflamação”, assegura a wapichana Rosa Cadete.
Além dos remédios, tem até produtos de beleza, como sabonetes. “Uma das funções deles é para a limpeza da pele, para tirar os cravos”, explica a wapichana Rosa Matias, jovem de 22 anos que está aprendendo a fazer os produtos.
“Nós adquirimos esse conhecimento com a nossa família, nossas avós, bisavós. E nessa vivência em casa, com chá, banhos de ervas, nós produzimos o que chamamos de remédios. Aqui somos várias mulheres que viemos de vários municípios para passar o conhecimento e aprender”, afirma a macuxi Tatipepe.
Quem teve muito à ensinar foi a wapichana Isabel Eduarda. Aos 70 anos ela fez questão de ir da região da Serra da Lua, em Bonfim, para participar do encontro.
“O fortalecimento do remédio tradicional é para que ajude a nossa juventude e que essa juventude pegue esse conhecimento e não se esqueçam de geração em geração”,
lembrou.
Para que tudo isso se perpetue, além do compartilhamento dos conhecimentos, também é necessário ter consciência ambiental. “Por isso é importante mantermos nossas florestas, nossas terras intactas e nossas nascentes, rios, lagos e igarapés para que possam se manter reproduzindo. Essa troca de saberes de uma região para outra é viver o coletivo, é manter a cultura e a troca de saber