Bahserikowi: o primeiro centro de medicina indígena da Amazônia

O antropólogo João Paulo Barreto explica que a visão indígena sobre corpo, saúde e doença não se restringe ao aspecto biológico

No município de São Gabriel da Cachoeira, a 852 km de Manaus, no Amazonas, uma jovem teve a perna picada por uma cobra e o fato, ocorrido em 2009, foi o embrião para a criação do Bahserikowi, o primeiro centro de medicina indígena da Amazônia.

A menina, hoje com 24 anos, é Luciane Barreto, sobrinha do antropólogo Tukano João Paulo Barreto, coordenador do Bahserikowi, um lugar de fortalecimento da identidade sociocultural dos povos originários. Fundado em 2017, o centro já realizou mais de três mil atendimentos.

Awire (Rapé) vendido no Bahserikowi (Foto: Reprodução / Facebook)

O centro de medicina indígena está localizado na Rua Bernardo Ramos, Centro histórico de Manaus, com atendimento realizado por especialistas das etnias Dessana, Tuyuka e Tukano.

A reza, o benzimento e tratamentos com plantas e ervas são elementos comuns na medicina alternativa da Amazônia, mas, mesmo aqui na região, nem sempre esses conhecimentos são bem aceitos e respeitados como aliados da medicina ocidental.

Ao ser transferida para Manaus, Luciane, João Paulo e sua família ouviram de médicos do Hospital e Pronto -Socorro João Lúcio, da rede estadual de saúde do Amazonas, que seria necessário realizar o procedimento de amputação da perna.

A família indígena da etnia Tukano não concordou que a medida fosse realizada sem antes aliar o tratamento ocidental ao tratamento com bahsese (benzimento) e plantas medicinais.

Para garantir o direito a um atendimento de saúde diferenciado, a família passou por uma experiência angustiante e discriminatória. O caso semeou o processo de integração do conhecimento indígena às políticas de saúde pública de Manaus.

O antropólogo João Paulo Barreto explica que a visão indígena sobre corpo, saúde e doença não se restringe ao aspecto biológico.

“Os kumuã (pajés) têm um conceito muito bem claro do corpo, do que é o corpo pra eles, ou pra nós. O corpo é resultado de tudo que existe. É síntese do cosmos, ou seja, da terra terrestre. No corpo está a vida animal, da terra, a vida luz, vida água, a vida animal. O corpo é síntese da vida animal”, diz o antropólogo.

Conheça mais sobre o Bahserikowi:

A riqueza medicinal da Amazônia Brasileira e a iniciativa do Bahserikowi chamam atenção em todo o mundo.

O caso que originou a criação do centro de medicina indígena nos alerta a melhorar a relação entre a humanidade e a floresta. Além de ser uma questão ambiental, estreitar o diálogo entre conhecimentos acadêmicos e tradicionais também é uma questão de saúde pública.

Respeitar nossas florestas e os tratamentos medicinais que nascem dela é valorizar e difundir a nossa cultura e nossas costumes. 

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