Pará tem a maior diversidade e variedade de sementes de cacau no mundo

Condições climáticas, composição do solo e do sedimento de várzea são pontos importantes na diferenciação do aroma e terroir do cacau.
A matéria-prima do chocolate, o cacau, é um dos frutos mais famosos em todo o mundo. Seu nome científico (Theobroma cacao) significa “alimento dos deuses”, indicando a importância na história humana.


O Pará tem hoje a maior diversidade e variedade de cacau no mundo, com potencial para produzir amêndoas diferenciadas, ou seja, existem diferentes produtos que atendem a preferência de diferentes públicos, o que amplia o nicho de mercado onde o cacau amazônico pode ser inserido.

Processo de secagem das amêndoas de cacau paraense. Foto: Pedro Guerreiro/Agência Pará

Além de sabor marcante, o cacau gera benefícios para a saúde, como: melhorar o humor, ajudar na redução do risco cardiovascular, fortalecer a memória e redução do estresse. Por esses e outros motivos, o mercado do cacau se mantem em grande crescimento.

A pesquisadora Milena Carvalho, colaboradora do Museu Paraense Emilio Goeldi, explica que “o geoambiente amazônico é o grande diferencial nas qualidades organolépticas (as que são percebidas pelos nossos sentidos, como cor, brilho, transparência, textura, odor e sabor) do cacau. Ou seja, condições climáticas, composição do solo e do sedimento de várzea, são pontos muito importantes na diferenciação do aroma e terroir do produto final”, ressalta Milena.

O Terroir é um conceito que engloba aspectos e fatores do cultivo de um produto, como topografia, geologia, pedologia, drenagem, clima e microclima, castas, intervenção humana, cultura, história e tradição. Cada pedaço de terra possui seu próprio terroir, quase como um DNA, específico daquela área e que é impresso no produto colhido. 

Sementes de cacau. Foto: Reprodução/Agência Brasil

Cacau nativo amazônico

O cacaueiro é uma árvore nativa da Amazônia que pode chegar a até seis metros de altura com tronco que varia entre 20 e 30 centímetros de diâmetro e casca de cor pardo-amarronzada. As folhas medem entre 15 e 25 centímetros. Seu fruto pode ter cor amarela, branca ou avermelhada com sementes envoltas na polpa branca de aroma e sabor doce.

No cultivo do cacaueiro na Amazônia temos o plantio em terra firme e da área de várzea. A várzea é uma área tipicamente inundada, situada na margem de cursos d´água e muito propícia à agricultura devido à fertilidade do solo.

O cultivo do cacau nativo em área de várzea na Amazônia traz grandes benefícios para o produto. 

“Sobretudo por meio da produção orgânica, sem o uso de fertilizantes e aditivos químicos, porque a área é adubada naturalmente com os sedimentos em suspensão presentes nos rios, altamente ricos em nutrientes químicos. Fato que agrega valor ao produto final”,

comenta Milena.

Diversidade e variedade de cacau. Foto: Divulgação

Pesquisas

Para entender melhor essa relação entre o solo de várzea e o plantio do cacau a aluna de Biologia da Universidade Federal Rural da Amazônia e bolsista do Museu Goeldi, produziu um artigo sobre o tema.

“O trabalho fala sobre a caracterização do solo e composição florística. E é importante para a região avaliar o solo, tanto a parte física quanto química, como ele contribui para o crescimento do cacau e de outras espécies presentes no ambiente.”, explica Thalia.

Os trabalhos do grupo de pesquisa do Goeldi sobre o cacau e seu cultivo estão sendo feitos na região de Mocajuba e Cametá, especificamente na Ilha de Santana, Costa de Santana, Ilha do Tauaré, em Tauaré grande e Tauarézinho.

Um dos intuitos das pesquisas sobre cacau é a criação de um sistema de informação geográfico, como esclarece Milena Carvalho: “É muito mais do que um mapa, muito mais do que imagens. Na verdade, ele integra dados de informação do solo, da qualidade da água, dos sedimentos e produtividade. O objetivo principal em desenvolver esse sistema é agregar todas essas informações analíticas dentro de uma plataforma que responde a quem está consultando sobre a produtividade e qualidade em diferentes épocas”.


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