O Pará tem hoje a maior diversidade e variedade de cacau no mundo, com potencial para produzir amêndoas diferenciadas, ou seja, existem diferentes produtos que atendem a preferência de diferentes públicos, o que amplia o nicho de mercado onde o cacau amazônico pode ser inserido.
Além de sabor marcante, o cacau gera benefícios para a saúde, como: melhorar o humor, ajudar na redução do risco cardiovascular, fortalecer a memória e redução do estresse. Por esses e outros motivos, o mercado do cacau se mantem em grande crescimento.
A pesquisadora Milena Carvalho, colaboradora do Museu Paraense Emilio Goeldi, explica que “o geoambiente amazônico é o grande diferencial nas qualidades organolépticas (as que são percebidas pelos nossos sentidos, como cor, brilho, transparência, textura, odor e sabor) do cacau. Ou seja, condições climáticas, composição do solo e do sedimento de várzea, são pontos muito importantes na diferenciação do aroma e terroir do produto final”, ressalta Milena.
O Terroir é um conceito que engloba aspectos e fatores do cultivo de um produto, como topografia, geologia, pedologia, drenagem, clima e microclima, castas, intervenção humana, cultura, história e tradição. Cada pedaço de terra possui seu próprio terroir, quase como um DNA, específico daquela área e que é impresso no produto colhido.
Cacau nativo amazônico
O cacaueiro é uma árvore nativa da Amazônia que pode chegar a até seis metros de altura com tronco que varia entre 20 e 30 centímetros de diâmetro e casca de cor pardo-amarronzada. As folhas medem entre 15 e 25 centímetros. Seu fruto pode ter cor amarela, branca ou avermelhada com sementes envoltas na polpa branca de aroma e sabor doce.
No cultivo do cacaueiro na Amazônia temos o plantio em terra firme e da área de várzea. A várzea é uma área tipicamente inundada, situada na margem de cursos d´água e muito propícia à agricultura devido à fertilidade do solo.
O cultivo do cacau nativo em área de várzea na Amazônia traz grandes benefícios para o produto.
“Sobretudo por meio da produção orgânica, sem o uso de fertilizantes e aditivos químicos, porque a área é adubada naturalmente com os sedimentos em suspensão presentes nos rios, altamente ricos em nutrientes químicos. Fato que agrega valor ao produto final”,
comenta Milena.
Pesquisas
Para entender melhor essa relação entre o solo de várzea e o plantio do cacau a aluna de Biologia da Universidade Federal Rural da Amazônia e bolsista do Museu Goeldi, produziu um artigo sobre o tema.
“O trabalho fala sobre a caracterização do solo e composição florística. E é importante para a região avaliar o solo, tanto a parte física quanto química, como ele contribui para o crescimento do cacau e de outras espécies presentes no ambiente.”, explica Thalia.
Os trabalhos do grupo de pesquisa do Goeldi sobre o cacau e seu cultivo estão sendo feitos na região de Mocajuba e Cametá, especificamente na Ilha de Santana, Costa de Santana, Ilha do Tauaré, em Tauaré grande e Tauarézinho.
Um dos intuitos das pesquisas sobre cacau é a criação de um sistema de informação geográfico, como esclarece Milena Carvalho: “É muito mais do que um mapa, muito mais do que imagens. Na verdade, ele integra dados de informação do solo, da qualidade da água, dos sedimentos e produtividade. O objetivo principal em desenvolver esse sistema é agregar todas essas informações analíticas dentro de uma plataforma que responde a quem está consultando sobre a produtividade e qualidade em diferentes épocas”.