A ciência imperfeita da inovação

Se mergulharmos nos ecossistemas mais inovadores do mundo, vamos verificar que toda inovação começa com uma coleção de pensamentos, pessoas, locais e/ou momentos imperfeitos.

Atualmente, nada é tão debatido, incentivado, buscado e almejado quanto a inovação – seja para o desenvolvimento pessoal e profissional, seja para uma gigante multinacional, para manter-se relevante no mercado.

Ao longo da história humana, fomos direcionados para celebrar e reverenciar o melhor: o melhor aluno, o melhor profissional, a melhor escola, a melhor empresa, os melhores designers, os melhores arquitetos, os melhores chefs, os melhores administradores, os melhores carros, os melhores celulares, os melhores restaurantes, os melhores filmes, os melhores países. Resumindo: os melhores dos melhores, fazendo o que de melhor eles sabem fazer.

Só para ilustrar, em um mundo “perfeito”, o ciclo seria: as melhores pessoas teriam as melhores ideias, que por sua vez, trabalham nas melhores empresas, que possuem a melhor clientela possível, que pagariam os melhores preços pelos melhores produtos ou serviços.

Talvez este seja o momento para duas reflexões iniciais: é isso que vivenciamos hoje e é isso que queremos para o nosso futuro, uma sociedade perfeita?

Foto: Reprodução/Pexels

Predominantemente, esta busca incessante pela perfeição é a grande máxima dos profissionais e das organizações, criando e romantizando métodos, processos, atividades etc. Mas a pergunta que sempre faço aos meus clientes é: como buscar a perfeição se a inovação é uma ciência imperfeita?

Em minha opinião, a perspectiva e a busca deveriam ser outras. Deveríamos aceitar e utilizar as imperfeições como um grandioso ativo no processo de inovação. Todavia, para a grande maioria dos profissionais e das organizações, a imperfeição não tem valor e deve ser rechaçada.

Evidentemente, a perfeição e a sua busca fazem todo o sentido, tem o seu lugar e o seu valor, mas a grande verdade é que, no mundo real, raramente são as melhores ideias, as melhores empresas ou os melhores profissionais que vencem.

Ademais, se mergulharmos nos ecossistemas mais inovadores do mundo, vamos verificar que toda inovação começa com uma coleção de pensamentos, pessoas, locais e/ou momentos imperfeitos. Ou seja, é o reconhecimento e a valorização das imperfeições que impulsionam os “melhores” ecossistemas de inovação.

Antes mesmo de residir no Japão, eu já conhecia e praticava o conceito do Wabi-sabi, que em uma definição básica, seria uma perspectiva japonesa sobre o reconhecimento da assimetria, da irregularidade, da transitoriedade e da imperfeição.

Tudo é impermanente
Tudo é imperfeito
Tudo está incompleto

Como diria o visionário, designer, arquiteto, inventor e escritor estadunidense Richard Fuller: “não há nada em uma lagarta que diga que será uma borboleta”. Portanto, em nosso cotidiano devemos nos libertar do apego ao absoluto e relativizar os momentos e as circunstâncias, nos direcionarmos para o presente ao invés do futuro, aceitarmos a ambiguidade ao invés de ser intolerante a ela.

Portanto, se você deseja se tornar uma pessoa inovadora ou se você é líder/gestor de uma organização e busca desenvolver um time inovador, encoraje a busca, o reconhecimento e a valorização da imperfeição – pois a inovação existe pela imperfeição humana.

Que possamos sempre reconhecer e valorizar as nossas imperfeições!

Sobre o autor

Vitor Raposo é empreendedor em diversos segmentos, mentor, consultor e professor. Doutorando em Humanidades e Artes pela Universidade Nacional de Rosario – UNR, na Argentina; especialista em inovação e negócios pela Nova Business School em Portugal, em Gerenciamento de Projetos pela FGV e em Gestão Estratégica de Negócios pela UCB. Atua como voluntário no Instituto Soka Amazonas e no Capítulo Amazônia do Project Management Institute (PMI-AM).

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista 

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