O Capital Natural da Amazônia

Nossas ações geram impactos que podem ser irreversíveis e, por vezes, é necessário um período de cerca de 100 anos para o Capital Natural se recuperar – dependendo do dano.

No coração do nosso planeta, resplandece a majestosa Amazônia, uma riqueza natural inestimável que transcende fronteiras e instiga a imaginação daqueles que não a conhecem e, tampouco, seus desafios contemporâneos.

Ao olhar para a Amazônia, é impossível ignorar sua importância econômica que desempenha um papel vital no equilíbrio global, fornecendo serviços ecossistêmicos que impactam diretamente setores econômicos fundamentais. A biodiversidade amazônica é uma fonte inestimável de recursos para a vida neste planeta.

Reprodução | Emanuel Pires / Tiago Corrêa/UGPE

Para além do aspecto econômico, devemos reconhecer o potencial do Capital Natural da Amazônia. Ele refere-se ao estoque de recursos naturais, ecossistemas e serviços ambientais que contribuem para o bem-estar das pessoas e do planeta – incluindo recursos como ar, água, solo, biodiversidade e ecossistemas, que fornecem diversos bens e serviços necessários para a sobrevivência humana e atividades econômicas.

A Amazônia enfrenta ameaças significativas causadas pelos interesses privados de grandes empresários que buscam explorar a região para ganhos imediatos e soberania de mercado. Contudo, a busca por lucros muitas vezes resulta em práticas insustentáveis, desmatamento desenfreado e desrespeito aos direitos das comunidades locais. 

O Capital Natural desempenha um papel crucial na sustentabilidade e na economia porque é dele que vêm os recursos para a produção de alimentos e de bens de consumo, a regulação do clima, a água e a manutenção da biodiversidade que possibilita a vida no planeta.

Infelizmente, as nossas ações geram impactos que podem ser irreversíveis. Por isso a importância de desenvolver ações de sustentabilidade efetivas e assertivas, pois o Capital Natural tem um período mínimo de 100 anos para se recuperar (dependendo do dano).

Capital Natural versus Capital Manufaturado 

Ao longo da última década, testemunhamos uma explosão de ações e projetos de inúmeras organizações em resposta às boas práticas em consonância aos ODS, ao ESG, à sustentabilidade e tantas outras narrativas.

Entretanto, você observou que após um determinado período, a grande maioria desses projetos caíram na obscuridade? Mas, por quê?

Sinceramente, motivos não faltam para justificar o fiasco apresentado por diversas organizações – sejam elas locais, sejam elas nacionais e/ou multinacionais. Ênfase em resultados financeiros de curto prazo, greenwashing, busca por emissão de debêntures “verdes”, desafios econômicos, regulamentação insuficiente, pressão de acionistas, foco em setores tradicionais… são só alguns dos fiascos que temos vivenciado nas últimas décadas.

Essas organizações são as que praticam a sustentabilidade “fraca” – e uma das principais razões está na execução de projetos e de ações de ESG ou sustentabilidade que se baseiam na suposição de que o Capital Manufaturado (bens materiais e ativos fixos necessários para a produção e o Capital Natural, o estoque de materiais biológicos e abióticos) podem ser substituídos um pelo outro, ou seja, são projetos sem fundamentos e estão mais ligados ao “boom ESG” do que realmente embasados em uma matriz de materialidade bem elaborada.

Na contramão dessa corrente, estão os projetos fundamentados no conceito de sustentabilidade “forte”, que reconhece que o Capital Manufaturado é completamente derivado do natural. Sendo assim, uma vez esgotados os recursos naturais, muitas formas de Capital Manufaturado deixarão de existir. A extinção de uma espécie animal, como o caranguejo-ferradura por exemplo, seria irreversível, pois o sangue dessa espécie é uma substância valiosa na indústria farmacêutica.

Quantas soluções para problemas reais estão na floresta? E se pelos nossos hábitos de consumo desenfreados gerarmos impactos no ecossistema de uma espécie diminuta de anfíbio que ainda não foi descoberta, mas que tem o potencial de erradicar o câncer e transformá-lo numa simples gripe?

Seria magnífico!

Mas, primeiro, precisamos começar a fazer o básico. Por exemplo, temos a maior bacia hidrográfica do mundo e um potencial extraordinário para piscicultura, mas não temos uma cadeia produtiva completa. Temos muitos recursos financeiros alocados em institutos de pesquisas que direcionam para elos específicos da cadeia… mas do que adianta desenvolver a capacidade de reprodução e crescimento, se não existem frigoríficos, fábricas de gelo e ração, infraestrutura logística, graxaria, curtume e até mesmo pesquisas acadêmicas capazes de contribuir de forma efetiva com o desenvolvimento da nossa região?

Quantas outras cadeias produtivas poderiam ser exaltadas, gerando desenvolvimento para toda a Amazônia? Sabemos que os departamentos de marketing das mais diversas organizações em todo o mundo compreendem o valor de rotular seus produtos e serviços como “sustentáveis” – às vezes com poucas evidências.

Para muitos, esta palavra perdeu o significado após suportar o peso de uma enxurrada de usos fantasiosos e enganosos – desde apelos para ações individuais ineficazes, até campanhas maciças de marketing corporativo. Esses tipos de usos são frequentemente chamados de “lavagem verde” (greenwashing).

No entanto, o conceito de “sustentabilidade” mantém um grande significado e continua sendo um princípio essencial que orienta as tendências emergentes em economia, ciência política e outras ciências sociais e naturais.

Um grande case de sucesso em nossa região é a Warabu Chocolate, que desenvolveu toda a cadeia produtiva: capacitando, certificando e levando desenvolvimento para comunidades originárias e ribeirinhas, ao mesmo tempo que respeitam e valorizam o Capital Natural.

O nosso poder de escolha e compra pode incentivar projetos como o da Warabu… ou podemos continuar alimentando indústrias que produzem projetos “para inglês ver”, a fim obterem créditos, com o objetivo de atingir resultados financeiros de curto prazo e enriquecer seus acionistas.

Reflita e observe como as nossas ações individuais contribuem de forma positiva ou negativa para o todo! 

Vitor Raposo é Humanista e Empreendedor. Fundador da Hayashi Consultoria, Sócio-Diretor da TravelCorp e da Sala VIP Harmony Lounge.

Atua como empreendedor, mentor e consultor. Foi gestor de grandes organizações no Brasil e no exterior. Articulista sobre Sociedade 5.0, Novos Negócios, Revolução Humana Individual, Sustentabilidade e ESG no Portal Amazônia. Idealizador e apresentador do Ser Humano Podcast, um programa sobre a essência das pessoas de valor e o impacto de ser genuíno.

Idealizador e realizador do Amazonia Forest Summit – fórum para debater as oportunidades para a Amazônia com diversidade e um olhar para o futuro da região com foco na inovação, na sustentabilidade, nos recursos humanos, no ESG, nos negócios, na tecnologia e nas tendências.

Doutor em Administração e Mestre em Ciências da Educação para a Sociedade 5.0 pela Facultad Interamericana de Ciências Sociales – FICS; Foresight Practitioner; Especialista em Sustentabilidade pelo MIT; em Inovação e Negócios pela Nova Business School, em Gerenciamento de Projetos pela FGV e em Gestão Estratégica de Negócios pela UCB.

Paralelamente, atua como voluntário e Presidente no Capítulo Amazônia do Project Management Institute (PMI-AM), foi por 14 anos como Diretor de Programas e Projetos Ambientais do Instituto Soka Amazonia. Recentemente, foi indicado e conduzido à função de Presidente do Conselho Fiscal da Fundação Opção Verde.

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

O futuro incerto dos botos da Amazônia no meio de uma seca histórica

Este ano, a seca dos rios amazônicos já é pior que a de 2023, quando 209 botos-cor-de-rosa e tucuxis foram encontrados mortos no Lago Tefé, no Amazonas, em grande parte devido ao superaquecimento das águas.

Leia também

Publicidade