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Indígenas de Roraima criam plano inédito contra crise climática como modelo para outros países

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Plano de enfrentamento foi produzido por pesquisadores indígenas organizados pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR). Foto: Reprodução/Rede Amazônica RR

Indígenas de Roraima elaboraram um plano de enfrentamento da crise climática que será apresentado na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30), em Belém, no Pará. O trabalho inédito reúne vivência e ciência indígena, evidencia os impactos da crise climática nas comunidades e propõe estratégias de adaptação, com metodologia que pode ser replicada em outros países.

O Grupo Rede Amazônica mostra como o plano pode orientar estratégias de adaptação e mitigação não só na Amazônia, mas em qualquer lugar do planeta. Marcada para novembro, a COP30 deve reunir 196 países para discutir metas de enfrentamento à crise climática. É neste cenário que o trabalho em Roraima se insere.

Batizado de “Plano de Adaptação Indígena“, o estudo detalha os impactos da crise climática nas plantações, na caça, na pesca e na disponibilidade de frutas ao longo das últimas duas décadas. O material teve como base relatos de moradores de 20 comunidades em oito terras indígenas.

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As informações foram coletadas por pesquisadores indígenas que atuam como agentes territoriais e ambientais (Atais). Todos fazem parte do departamento de Gestão Territorial, Ambiental e Mudanças Climáticas do Conselho Indígena de Roraima (CIR), chefiado pela cientista e referência mundial nas discussões sobre clima, Sineia do Vale.

“No Dia da Amazônia, a importância que a gente traz nesse plano é que as soluções para o clima podem vir a partir dos próprios povos indígenas, principalmente sobre a adaptação [às mudanças do clima]. Questões sobre como eles ajudam na manutenção da biodiversidade da Amazônia, por exemplo, com sua sabedoria no manejo de várias espécies, de caça e de pássaros”, resumiu Sineia.

Entenda: adaptação às mudanças do clima é o conjunto de ações e estratégias para lidar com os efeitos da crise climática, como aumento das temperaturas e eventos extremos. É uma preparação para impactos atuais ou futuros, com objetivo de reduzir danos e proteger vidas, ecossistemas e economias.

No plano, pesquisadores indígenas ouviram as comunidades para registrar percepções sobre os impactos das mudanças climáticas nos modos de vida, com base no conhecimento tradicional e em indicadores naturais.

Parte do processo foi ilustrado com mapas feitos à mão, mostrando os ciclos da natureza e as transformações do ambiente ao longo dos meses. O plano refere-se às comunidades do município de Amajari, mas tornou-se uma referência pelo modo como as questões foram explicadas.

Calendários etnoecolócios

Além dos mapas, os pesquisadores indígenas produziram calendários etnoecológicos, também chamados de calendários culturais. Eles mostram como os povos sabiam o tempo certo de plantar, colher e realizar outras atividades produtivas. Com a crise do clima, essa precisão deixou de existir.

Historicamente, os calendários guiavam não apenas as roças, mas também práticas vitais como a caça e a pesca. Além disso, evidenciam a conexão direta dos modos de vida indígenas com os ciclos do clima – essa percepção pode ser reconhecida como ciência indígena.

“Quando eu trago um pouco dessa questão [da ciência indígena] no plano de enfrentamento das mudanças climáticas, junto com a ciência acadêmica, estou dizendo que precisamos unir as duas ciências [no enfrentamento à crise do clima]”, frisou Sineia.

Os relatos descritos no estudo reforçam que a sabedoria ancestral tem sido desafiada pelas mudanças climáticas. Com o clima cada vez mais imprevisível, as comunidades “não sabem mais quando plantar”, o que afeta diretamente a qualidade e a produção dos alimentos.

“Antigamente, nós tínhamos o tempo de fazer roça, plantação e colheita […]. Hoje, quando chove, é muita chuva e quando faz verão, é muito quente, o que afeta as plantações e faz com que se estraguem. Por causa do tempo incerto, hoje eu não tenho mais roças”, cita trecho de um dos relatos no plano.

Esses calendários, além de registrarem o conhecimento tradicional, passaram a servir como indicadores dos impactos das transformações do clima no cotidiano e na cultura das comunidades indígenas. É nesse ponto que os povos defendem ser modelo para outros países, reforçando que as comunidades tradicionais precisam ser ouvidas nas decisões climáticas.

“Cada povo tem sua percepção diferente. Por mais que o nome seja ‘Plano de adaptação indígena’ [de Roraima], cada povo pode construir com sua percepção, seus indicadores naturais diferentes”, resume Sineia.

Ações para enfrentamento das mudanças climáticas

Plano de enfrentamento foi produzido por pesquisadores indígenas organizados pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR)

O plano sistematiza, a partir do ponto de vista dos indígenas, três ação consideradas cruciais para o enfrentamento da crise climática:

  • As mudanças do tempo;
  • Os impactos nas roças, na fauna e na flora;
  • Quais ações são necessárias para lidar com elas.

As mudanças do tempo identificadas incluem estações imprevisíveis; invernos prolongados (com enchentes); focos de incêndio descontrolados; e calor e chuva fora de época. Esses fatores, segundo o estudo, impactam a produção agrícola, a variedade de sementes e frutas, e reduzem as espécies de animais.

Para mitigar o cenário, o estudo destaca ações práticas adotadas pelas comunidades e outras definidas para lidar com os efeitos do clima. Entre elas estão a manutenção do plantio em roças com planejamento coletivo, a limpeza ao redor das roças para protegê-las contra incêndios e a melhoria dos sistemas de irrigação.

Na pesca, o estudo recomenda respeitar o período da piracema, manter vigilância contra a pesca ilegal e construir açudes para piscicultura.

Para proteger a fauna, indica a preservação de habitats, educação ambiental e prevenção de queimadas. O documento ressalta ainda a necessidade de praticar a caça apenas para subsistência e nos períodos permitidos.

O monitoramento feito pelos agentes territoriais e ambientais indígenas e queimas prescritas conduzidas por brigadas indígenas são citadas como mecanismos de implementação das medidas necessárias.

Pesquisadores indígenas: quem fez o estudo?

O estudo foi feito por cinco pesquisadores indígenas: Nilson Thome (Ouro), Vanderly Peres dos Santos (Urucuri), Laiane da Silva Torreias (Anigal), Francileneny Campino Lima (Araçá) e Josirene Santiago Vanderlei (Guariba).

O grupo foi coordenado por Maria de Fátima da Silva André, professora do curso de Gestão em Saúde Coletiva Indígena da Universidade Federal de Roraima (UFRR) e membro do CIR, com Sineia do Vale como facilitadora.

Desde 2011, o CIR elabora planos de enfrentamento às mudanças climáticas. Sineia do Vale contou ao g1 que a ideia surgiu há 15 anos, após contato com uma organização das Filipinas.

“Começou justamente porque tivemos um impacto na Serra da Lua em 2010, quando todas as mandiocas ‘cozinharam’ dentro da terra. Contamos o caso à organização das Filipinas, que já trabalhava com a crise climática e nos apoiou para fazer um estudo e entender o que estava acontecendo” explicou.

Segundo ela, os planos são feitos pelos próprios indígenas, com metodologia que identifica alterações climáticas por indicadores naturais, como cantos de pássaros, aquecimento das águas e sumiço de peixes. Essa metodologia é complementada pela ciência acadêmica.

“Olhar 20 anos atrás dá muitas informações sobre o que mudou: na cultura, na plantação, na pesca, na caça; e indica que soluções precisamos. Por exemplo: plantar sementes mais resistentes ao inverno e ao verão”, destacou.

O CIR planeja produzir planos para todas as regiões de Roraima. Ao final, a ideia é concluir o Plano de Adaptação de Roraima e apresentá-lo ao Ministério do Meio Ambiente como maneira apoiar políticas públicas relacionadas ao clima.

*Por João Gabriel Leitão e Valéria Oliveira, da Rede Amazônica RR

Por que dizem que Rondônia fica ‘onde o vento faz a curva’?

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Bandeira de Rondônia balançando com o vento. Foto: Daiane Mendonça/Secom RO

A expressão popular “onde o vento faz a curva” geralmente é usada para se referir a lugares distantes. Porém, em Rondônia essa frase ganha um significado literal: o estado está localizado exatamente no ponto onde os ventos que cruzam a América do Sul mudam de direção.

O Grupo Rede Amazônica conversou com o professor João Gobo, especialista em climatologia da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), que explica como a posição do estado está diretamente relacionada aos ventos e às chuvas de todo o país e até ao futuro da floresta amazônica.

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Ele explica que esse papel estratégico de Rondônia no clima sul-americano está diretamente ligado aos Jatos de Baixos Níveis (JBN), que são correntes de vento carregadas de umidade que se deslocam próximo à superfície, partindo da Amazônia.

Esses jatos também são conhecidos como “rios voadores” porque levam água na forma de vapor e alimentam chuvas em outras regiões do Brasil. Rondônia está justamente no ponto onde esses ventos mudam de direção, o chamado “ponto de inflexão”.

Leia também: Portal Amazônia responde: O que são os rios voadores?

“Esse vento vem do Leste [Manaus e Belém]. Por conta da Cordilheira dos Andes, eles não conseguem seguir caminho em direção ao Pacífico, então fazem uma curva em direção ao Sul e ao Sudeste do Brasil. Essa curva é exatamente em cima de Rondônia, Acre e da Bolívia”, explica.

Mas por que os ventos não conseguem passar pelas Cordilheiras? 

Os Andes formam a cadeia de montanhas mais extensa do mundo, com relevo elevado e pressão atmosférica reduzida. Essas características criam uma barreira natural que impede o avanço dos ventos vindos da Amazônia. É como se os Andes fossem uma parede, e Rondônia, a esquina onde esses ventos dobram o caminho.

Rondônia como epicentro da umidade continental

De acordo com Gobo, a posição geográfica do estado faz dele uma espécie de “esteira rolante de umidade”. O vapor d’água que evapora da floresta e do oceano é empurrado pelos ventos entre os Andes e o Planalto Brasileiro, ganhando velocidade e seguindo em direção ao centro-sul do continente.

Esse movimento é essencial para formar a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), que leva chuvas para regiões como o Sudeste e o Centro-Oeste do Brasil.

A posição geográfica de Rondônia é estratégica:

  • Está a leste dos Andes, o que a coloca diretamente na rota dos JBN.
  • Fica abaixo da faixa equatorial, onde há forte influência da Monção Sul-Americana, que regula os ciclos de chuva e seca.
  • Está entre biomas como a Amazônia e o Cerrado, o que contribui para uma rica interação entre umidade, temperatura e relevo.

Essa combinação faz com que o estado receba grandes volumes de umidade e registre chuvas intensas, especialmente no verão, quando a monção está ativa.

A monção sul-americana é um sistema de ventos que muda com as estações, trazendo chuvas intensas no verão. Ela ocorre pela diferença de temperatura entre o continente e o oceano, que atrai ar úmido para o interior do Brasil.

Um inimigo: o desmatamento

desmatamento em rondônia
Desmatamento na Terra Indígena Igarapé Lage em Rondônia. Foto: Divulgação/PF

A floresta amazônica funciona como uma gigantesca fábrica de vapor d’água. As árvores liberam umidade para a atmosfera por meio da evapotranspiração: um processo natural que mantém o ar úmido e alimenta os ventos que transportam essa umidade pelo continente.

Quando há desmatamento, essa produção de vapor diminui. Isso afeta diretamente os Jatos de Baixos Níveis (JBN), que dependem dessa umidade para levar chuva para outras regiões. Com menos vapor disponível, os ventos perdem força e a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) também enfraquece.

Rondônia não é apenas “onde o vento faz a curva”, é onde o clima da América do Sul se desenha. A ciência confirma o que a sabedoria popular já manifestava. Entender essa dinâmica é essencial para proteger a floresta, o clima e o futuro da região.

*Por Beatriz Rodrigues, estagiária sob supervisão de Jaíne Quele Cruz, da Rede Amazônica RO

Tradição e cultura viva: conheça o Mercado das Tulhas do Maranhão

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Foto: Reprodução/TV UFMA

Localizado no coração do Centro Histórico da capital maranhense, o Mercado das Tulhas, também conhecido como Casa das Tulhas ou Feira da Praia Grande, é um dos espaços mais tradicionais de São Luís. Com mais de 200 anos de existência, o mercado faz parte do conjunto arquitetônico declarado Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco em 1997, reforçando sua importância histórica, turística e cultural.

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Construído no início do século XIX, o Mercado das Tulhas mantém sua relevância até os dias atuais, funcionando como ponto de encontro entre moradores, turistas e comerciantes.

De acordo com informações da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), o mercado foi “construído no século XIX e o seu nome ‘tulha’ se refere a inicialmente ser um local para venda de grãos, um celeiro público, onde o lavrador guardava e vendia os gêneros que seriam comercializados. Entre 1855 e 1861, a Companhia Confiança Maranhense incorporou a Casa das Tulhas, demolindo o prédio e construindo um edifício regular. Em 1895, o seu controle foi repassado para a Câmara Municipal de São Luís”.

Em seu interior, o visitante encontra uma diversidade de produtos típicos que traduzem a essência da cultura maranhense: desde gêneros alimentícios regionais, como castanhas, doces e temperos, até bebidas artesanais, entre elas a tradicional tiquira, considerada a mais antiga bebida destilada do Brasil.

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O artesanato local também marca presença no Mercado das Tulhas, valorizando o trabalho manual de artistas que preservam técnicas e tradições passadas de geração em geração.

interior do mercado das tulhas, em são luis, no maranhão
Foto: Reprodução/TV UFMA

Com quatro entradas principais, sendo a principal pela Rua da Estrela, além de acessos pela Rua Portugal e laterais voltadas para o Centro de Criatividade Odylo Costa Filho e para a Câmara Municipal de São Luís, o Mercado das Tulhas ocupa uma construção retangular que mescla história e dinamismo. Nas áreas externas, pequenas lojas oferecem roupas e peças artesanais, enquanto, no interior, bancadas e barracas dão cor, aroma e sabor à experiência de quem circula pelo espaço.

Mercado mantém a cultura maranhense viva

Mais do que um centro de comércio, o Mercado das Tulhas é também um retrato vivo da cultura ludovicense. Suas paredes históricas abrigam manifestações folclóricas, expressões gastronômicas e tradições que fazem parte do cotidiano da população. Por isso, o espaço é visto como um importante atrativo turístico, com potencial de maior valorização e promoção para que se torne referência consolidada dentro do roteiro cultural do Centro Histórico de São Luís.

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O Mercado também é popularmente chamado de ‘Feira do Reviver’ e continua desempenhando papel essencial no abastecimento e no fortalecimento da economia local, conectando o passado ao presente e reafirmando a identidade cultural do Maranhão.

Imac investiga derramamento de óleo no Rio Juruá; imagens mostram manchas

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Foto: Reprodução/Governo do Acre

O Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac) está investigando as causas de um derramamento de óleo no Rio Juruá, próximo à Ponte da União, em Cruzeiro do Sul, após imagens feitas por moradores da região mostrarem manchas na água.

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Em nota, o Imac informou que enviou uma equipe técnica ao local, confirmou a presença do material e relatou que a possível causa seria a manutenção de uma embarcação que estava parada e sem funcionamento.

O órgão descartou que o vazamento tenha vindo de um pontão, embarcação que funciona como posto de combustível flutuante, localizado próximo ao local do ocorrido.

Segundo a representante do Imac no município, Lacione Maia, a denúncia chegou por meio de mensagens e imagens enviadas ao órgão.

“Nós iremos seguir com os procedimentos administrativos, que são autos de infração e multa. Esses valores [para crimes ambientais] variam de R$ 5 mil a R$ 50 milhões”, disse .

O proprietário da embarcação suspeita de ter causado a contaminação foi notificado a prestar esclarecimentos à representação do órgão no Juruá. Caso a responsabilidade seja confirmada, o dono ou a pessoa que fez a manutenção poderão ser responsabilizados.

derramamento de óleo no Rio Juruá é investigado
Foto: Reprodução/Governo do Acre

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Impactos ambientais causados pelo óleo

De acordo com o Imac, a presença de óleo no rio pode causar sérios danos ambientais, comprometer a qualidade da água e afetar diretamente a vida aquática.

“O óleo contamina o lençol freático, provoca a morte de animais aquáticos, atinge os solos e impede a entrada de luz. Ele tem várias consequências, inclusive no abastecimento de água da cidade”, explicou a representante.

O órgão destacou ainda que a contaminação ameaça espécies, pode gerar desequilíbrios no ecossistema e preocupa ribeirinhos que dependem do rio para o sustento e o consumo diário.

Nota do IMAC

O governo do Acre, através do Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac), esclarece que após uma denúncia de que havia ocorrido um derramamento de óleo no Rio Juruá, em Cruzeiro do sul, enviou uma equipe técnica para analisar a situação de um possível dano ambiental. Chegando ao local, foi detectado que a causa do derramamento não era proveniente de um pontão – embarcação que serve como posto de combustível flutuante – que funciona nas proximidades do ocorrido.

Os técnicos, então, identificaram que a possível causa seria devido à uma manutenção de uma embarcação parada e sem funcionamento que estava no rio. O dono da embarcação foi notificado a comparecer à Representação do Imac no Juruá (Repju) para prestar esclarecimentos. O órgão esclarece que caso seja confirmado que o derramamento de óleo tenha sido devido à manutenção, o proprietário ou a pessoa que realizou a manutenção serão responsabilizados.

André Luiz Pereira Hasem

Presidente do Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac).

*Por Jhenyfer de Souza e Carla Carvalho, da Rede Amazônica AC

Balanço preliminar aponta que a 54ª Expofeira do Amapá recebeu mais de 2,2 milhões de visitantes

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Foto Iago Fonseca/GEA

O Governo do Amapá divulgou o balanço preliminar de visitantes e veículos que passaram pela 54ª Expofeira este ano, consolidada como a maior vitrine de negócios sustentáveis e oportunidades da Amazônia. Os dados, de 30 da agosto a 6 de setembro, apontam que o evento recebeu 2,2 milhões de pessoas antes do encerramento da programação no domingo (7). Até a data, 671 mil veículos passaram pela Rodovia Josmar Chaves Pinto.

Somente no sábado (6), noite do Festival das Aparelhagens e do cantor nacional Xand Avião, mais de 570 mil pessoas estiveram no Parque de Exposições da Fazendinha. Dados apontam, ainda, que mais de 230 mil veículos passaram pela rodovia em uma única noite. 

“Isso mostra a consolidação desse evento e tudo foi em função de uma decisão política da gestão, que visa emprego e renda. Esses dados são reflexo de um trabalho crescente que vem desde 2023”, destaca o coordenador geral da Expofeira, Richard Madureira.

Além nos números da movimentação de pessoas e veículos, também destaca-se o êxito econômico da Expofeira que, no balanço parcial, mostra que quase R$ 1 bilhão em negócios foram fechados em 7 dias de programação, até 5 de setembro. Os dados totais ainda estão em consolidação e serão divulgados em breve.

Aprovação do público na Expofeira

O Governo divulgou também, nesta terça-feira (9), os dados gerais das avaliações realizadas pelo Instituto Opinião, que apresentou questionários ao público visitante de 30 de agosto a 7 de setembro, no Parque de Exposições da Fazendinha.

Entre os dados divulgados, está a aprovação de 88,5% do público entrevistado sobre a Expofeira de 2025. Além disso, 98,6% avaliaram como adequada ou muito adequada a decisão do Governo do Estado de retomar a feira.

EXPOFEIRA DO AMAPÁ 2025
Foto: Arthur Alves/GEA

Outro número do evento de 2025 é que 56,6% dos entrevistados consideraram a 54ª edição da Expofeira melhor que a anterior, contra 39% que preferiram a de 2024. Ainda conforme os dados, para 56,3% do público as atrações artísticas foram a melhor parte, seguida das apresentações culturais, com 43%, e a organização e estrutura, que ficou com 32,4%.

De acordo ainda com os levantamentos, para 52,56% dos entrevistados, geração de oportunidades de negócios é a principal marca que a Expofeira deixa para o Amapá. A pesquisa foi realizada com 900 frequentadores, a margem de erro é de 3,5% e a confiabilidade de 95%.

Na quarta-feira o governador Clécio Luís, com secretários de Estado, apresentará o balanço geral da 54ª Expofeira do Amapá no Espaço Nuance Eventos, na Rua Jovino Dinoá, n.º 4570, bairro Beirol, em Macapá.

Expofeira na Rede

A Expofeira na Rede tem o objetivo de valorizar e ampliar o impacto social, cultural, econômico e turístico da tradicional ExpoFeira do Amapá. É uma realização da Fundação Rede Amazônica (FRAM), com apoio do Grupo Equatorial, Tratalyx e Governo do Amapá.

Pesca esportiva na Floresta de Faro garante conservação ambiental e renda à comunidade

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Foto: Reprodução/Agência Pará

O ordenamento da temporada de pesca esportiva na Floresta Estadual (Flota) de Faro, na região oeste paraense, foi discutida em reunião entre o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio), moradores da unidade de conservação e operadores de pesca esportiva na unidade de conservação.

Leia também: Entenda como funciona a pesca esportiva e como deixar o peixe menos ‘estressado’ durante a pescaria

O encontro teve como foco a melhoria da gestão da atividade, que ocorre entre os meses de agosto a dezembro. A pesca esportiva alia conservação ambiental e geração de renda para as comunidades ribeirinhas de Monte Sião e do Português.

Durante a reunião, no Centro Comunitário Integrado da Flota de Faro, foram tratados temas como os processos de autorização da pesca esportiva, a contratação de moradores tradicionais para prestação de serviços turísticos e a apresentação da ficha de avaliação dos condutores da atividade, o que permitirá identificar pontos que necessitam de qualificação.

Também foram entregues camisas personalizadas para os condutores de pesca esportiva, confeccionadas pela Diretoria de Gestão e Monitoramento de Unidades de Conservação (DGMUC) do Ideflor-Bio.

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Geração de Renda

O turismo de pesca esportiva, quando bem organizado, é considerado um segmento de turismo sustentável de alto potencial econômico. No Brasil, movimenta cerca de R$ 1 bilhão por ano.

Em 2024, somente na Flota de Faro, a atividade gerou mais de R$ 25 mil em taxa socioambiental destinada à Associação dos Moradores da Flota de Faro (AmoFlota). Para este ano, o Ideflor-Bio garantiu que cada piloto de pesca esportiva receba um piso de R$ 210, por diária de serviço, valor que pode ser acrescido de gorjetas que chegam a até R$ 2 mil, representando uma importante fonte de renda para as famílias locais.

Leia também: Tucunaré Vazzoleri rende recorde histórico na pesca esportiva para amazonense

pesca esportiva
Foto: Reprodução/Agência Pará

Segundo Daiane Ribeiro, secretária da AmoFlota, a atividade tem efeitos positivos múltiplos para a região. “A prática da pesca esportiva promove a conservação dos nossos ecossistemas aquáticos, principalmente do tucunaré, que é o principal produto da região, além de outras espécies. Isso incentiva práticas sustentáveis no rio e também gera desenvolvimento econômico. Os turistas atraídos movimentam a economia local, trazendo renda para ribeirinhos e comunidades. Além disso, a pesca esportiva promove o turismo sustentável e experiências únicas para quem visita a Flota de Faro”, destacou.

Para os condutores locais, a padronização e a capacitação oferecidas pela parceria entre a AmoFlota e o Ideflor-Bio fortalecem a atividade. Com maior segurança, visibilidade e reconhecimento profissional, os moradores passam a ter papel central no ordenamento da temporada de pesca esportiva, garantindo que a atividade siga alinhada aos princípios da sustentabilidade.

Oportunidades

Com a temporada em andamento, a expectativa é de que a pesca esportiva na Flota de Faro continue a se consolidar como referência no Pará, unindo conservação ambiental, valorização cultural e benefícios econômicos para as comunidades que vivem na unidade de conservação.

O presidente do Ideflor-Bio, Nilson Pinto, destacou que a pesca esportiva na Flota de Faro é uma demonstração clara de que é possível conciliar desenvolvimento econômico com conservação ambiental.

pesca esportiva
Foto: Reprodução/Agência Pará

Leia também: ‘Elas Pescando’: projeto impulsiona participação feminina em campeonatos de pesca esportiva em Rondônia

“Quando promovida de forma ordenada e participativa, como estamos fazendo, essa atividade se transforma em uma importante estratégia de geração de renda para as comunidades locais, além de fortalecer a proteção da biodiversidade e valorizar o conhecimento tradicional dos moradores. O Ideflor-Bio seguirá comprometido com esse modelo de turismo sustentável, que respeita a natureza e promove a inclusão social”, frisou.

Para o técnico de planejamento e gestão em turismo do Ideflor-Bio, Deoclécio Junior, ressaltou a importância da união entre conservação e geração de oportunidades.

pesca esportiva
Foto: Reprodução/Agência Pará

“A pesca esportiva na Flota de Faro é um exemplo concreto de como o turismo pode ser sustentável e justo. O envolvimento dos moradores tradicionais é fundamental, pois são eles que garantem a autenticidade e a qualidade da experiência. Ao mesmo tempo, essa atividade contribui diretamente para a preservação da biodiversidade e para o fortalecimento da economia comunitária”, afirmou.

*Com informações do Ideflor-Bio

Primeiro hospital de saúde indígena do Brasil começa a funcionar na Terra Yanomami

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Centro de Referência em Saúde Indígena Xapori Yanomami tem capacidade para 120 leitos-rede. Foto: Lucas Wilame/Rede Amazônica RR

O Centro de Referência em Saúde Indígena Xapori Yanomami, localizado na Terra Indígena Yanomami começou a funcionar em Roraima, no início de setembro, dois anos após o governo federal decretar emergência em saúde pública na região. A unidade é o primeiro hospital de referência em saúde indígena do Brasil e atenderá cerca de 60 comunidades do território, alcançando aproximadamente 10 mil indígenas.

A Terra Yanomami é o maior território indígena do Brasil com quase 10 milhões de hectares entre os estados do Amazonas e Roraima, onde está a maior parte. Cerca de 32 mil indígenas vivem na região, em 392 comunidades.

Leia também: Quem são os Yanomami? Conheça um dos maiores povos indígenas da Amazônia Internacional

Há décadas, o território é alvo do garimpo ilegal, que destrói a floresta, contamina os rios e afeta diretamente o modo de vida dos Yanomami. A região está em emergência de saúde desde janeiro de 2023, quando o governo federal começou a criar ações para atender os indígenas, como o envio de profissionais de saúde e cestas básicas, além da retirada de garimpeiros.

A construção do hospital fez parte de um acordo de cooperação técnica firmado entre a Central Única das Favelas (Cufa), o Ministério da Saúde (MS) e a organização Target Ruediger Nehberg Brasil.

Uma das ações de assistência, o Centro de Referência em Saúde Indígena (CRSI) Xapori Yanomami começou a ser construído em agosto de 2024 e custou cerca de R$ 29 milhões. A unidade é preparada para realizar atendimentos de urgência e emergência, consultas médicas, exames e o tratamento de malária e desnutrição, principais doenças identificada entre os Yanomami.

A unidade ainda não foi oficialmente inaugurada, mas começou atender os indígenas no último sábado (6). Durante a construção do prédio, os atendimentos aconteciam em alojamentos provisórios para pacientes. Antes da emergência de saúde, ocorriam em um barracão de madeira.

Ministro da saúde fez visita técnica

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, realizou uma visita técnica ao local e acompanhou os primeiros atendimentos, junto com o xamã Davi Kopenawa e Júnior Hekurari, principais lideranças do povo Yanomami.

Também estiveram presentes o secretário de Saúde Indígena (Sesai), Weibe Tapeba, e o governador de Roraima, Antônio Denarium (PP).

“É uma unidade que, além de cuidar melhor da população indígena aqui na Terra Yanomami, também faz com que a gente possa investir melhor os recursos da área da saúde. Aqui teremos médicos, enfermeiros, nutricionistas, profissionais de saúde. Uma equipe multiprofissional vai ser mantida de forma permanente pelo Ministério da Saúde, os medicamentos e exames que são realizados aqui [também]”, disse Padilha.

hospital de saúde indígena yanomami roraima
Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, e o xamã Davi Kopenawa, principal liderança do povo Yanomami. Foto: João Risi/MS

Para Júnior Hekurari, presidente da Urihi Associação Yanomami, a unidade representa um avanço na saúde do povo indígena. Ele foi o responsável pelas principais denúncias de desassistência à comunidade Yanomami durante o período em que o território enfrentava o auge do garimpo.

“É um grande avanço para a população Yanomami. Esse é um atendimento diferenciado, com respeito, que estamos [promovendo] para garantir, o próprio estado brasileiro garantir o direito, o bem-estar, o direito de proteção à saúde Yanomami e da floresta”, disse Hekurari em entrevista à Rede Amazônica.

Unidade com leitos-rede e quase 200 profissionais

O Centro de Referência, que realiza procedimentos de média complexidade, possui uma área de mais de 1.300 m² e tem capacidade para 120 suportes com leitos-rede, para seguir a cultura e a tradição do povo indígena.

A unidade conta ainda com um leito de isolamento, enfermarias com ala feminina e masculina e uma farmácia. Ela tem três blocos principais: um espaço de 387 m² destinado ao alojamento de profissionais de saúde, uma área de 801 m² voltada aos atendimentos e um refeitório de 122 m²,

O hospital não tem uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI), mas possui uma sala de estabilização com estrutura para cuidados intensivos até a transferência do paciente para Boa Vista, capital de Roraima, caso seja necessário.

“A gente precisava construir uma unidade. O que vimos aqui era uma situação sub-humana, nos deparamos com uma realidade em que as pessoas eram deixadas para morrer. [Isso vai servir] de lição para que a sociedade, as empresas e o governo entreguem um Brasil melhor, inclusive para os povos originários. É mais que uma questão de saúde, é justiça”, disse o presidente da Cufa, Preto Zezé.

Foto: Lucas Wilame/Rede Amazônica RR

Além da estrutura física, a unidade conta com uma equipe de 164 profissionais, entre os setores de saúde, logística, infraestrutura e saneamento, que atuam em escala de revezamento. As equipes de saúde incluem:

  • Cinco médicos clínicos em regime contínuo;
  • Três médicos especialistas conforme demanda, como ginecologista, infectologista e emergencista;
  • Dois cirurgiões-dentistas;
  • Três socorristas;
  • Cinco agentes de combate a endemias;
  • Um técnico de laboratório;
  • Seis enfermeiros;
  • 12 técnicos em enfermagem;
  • Um supervisor de campo.

Além disso, o Centro de Referência em Saúde Indígena conta com dois nutricionistas e quatro auxiliares de cozinha. Segundo o Ministério da Saúde, há ainda equipamentos de suporte à assistência hospitalar e ambulatorial, como raio-x, ultrassonografia e eletrocardiograma.

Terra Indígena Yanomami

Com 9,6 milhões de hectares, a Terra Yanomami é o maior território indígena do Brasil em extensão territorial. Localizado no Amazonas e em Roraima, o território abriga 31 mil indígenas, que vivem em 370 comunidades. O povo Yanomami é considerado de recente contato com a população não indígena e se divide em seis subgrupos de línguas da mesma família, designados como: Yanomam, Yanomamɨ, Sanöma, Ninam, Ỹaroamë e Yãnoma.

A região está em emergência de saúde desde janeiro de 2023, quando o governo federal, a partir da posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), começou a criar ações para atender os indígenas.

*Por Alessandro Leitão, Lucas Wilame e Yara Ramalho, da Rede Amazônica RR

Centro internacional em Manaus une forças de nove países para combater crimes na Amazônia

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Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia vai funcionar em Manaus. Foto: Michel Castro/Rede Amazônica AM

Garimpos ilegais, queimadas, desmatamento e narcotráfico, crimes que muitas vezes ultrapassam as fronteiras brasileiras e que necessitam do apoio das forças de outros países. Para isso foi criado o Centro de Cooperação de Polícia Internacional (CCPI/Amazônia), em Manaus (AM), que recebe nesta terça-feira (9) o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O centro conta com agentes de forças de segurança federais dos oito países que compõem a Pan-Amazônia (Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela), além de agentes dos nove Estados da Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins). A Polícia Federal coordena e administra as operações.

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As ações do CCPI também incluem a cooperação com instituições internacionais como Interpol, Ameripol e Europol.

“O trabalho principal aqui é de integração entre essas forças. Trazer todos os representantes desses países e desses estados para cá, para que se elaborem planejamentos operacionais, conjuntos e integrados, para que se dê um combate efetivo à criminalidade na região”, explicou o coordenador do CCPI/Amazônia, Paulo Henrique Rocha.

Segundo as autoridades, a cooperação direta entre as forças de segurança vai facilitar e agilizar o combate a crimes além fronteira.

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Sede do Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia (CCPI/Amazônia). Foto: Michel Castro/Rede Amazônica AM

“Era muito dificultoso, porque os crimes eles não tem fronteiras e nós temos que respeitar a soberania. Quando você tem o país trabalhando aqui, lado a lado, sentado do seu lado, você pode fazer essa troca de informações de forma muito mais rápida e de fato ali colaborar para a investigação como um todo”, explicou o delegado de planejamento do CCPI/Amazônia, Adriano Sombra.

Tecnologia será aliada do Centro

A tecnologia vai ser uma das maiores aliadas ao trabalho do Centro de Cooperação de Polícia Internacional. A partir de imagens de satélite, o sistema de segurança mostra em mapa situações de crimes ambientais filtradas na Amazônia brasileira. A cor indica a quantidade de alertas e pode dar início a investigações ou a planos de ação.

O centro começou a funcionar em fase de teste em junho, mas em fevereiro já ajudou na operação que chegou a uma área extensa de garimpo no município de Maués no Amazonas, onde cerca de 50 pessoas foram encontradas em situação semelhante à escravidão.

“É essencial que todos esses órgãos entrem em contato e façam alinhamento, Organize as operações para que cada um, dentro da sua expertise, possa levar o serviço público a esse trabalho que é importantíssimo para a região”, diz a procuradora do Trabalho do Ministério Público do Trabalho no Amazonas e Roraima, Joali Oliveira.

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Central de monitoramento do novo Centro de Cooperação Policial Internacional, inaugurado nesta segunda-feira (17), em Manaus. Foto: Lucas Macedo/Rede Amazônica AM

“Uma parceria que é necessária. Não há, devido à capilaridade, por exemplo, da Polícia Federal, de alcançar certos lugares que o Ministério do Trabalho não alcançaria. E assim a gente consegue unir os esforços para a gente chegar ao nosso objetivo de combate, no nosso caso, ao trabalho, às formas de trabalho análogo à de escravo”, ressaltou o auditor-fiscal do Trabalho, Edson Ferreira Rebouças.

Suspeitos de financiar o garimpo ilegal na região foram presos há dez dias também com a ajuda do trabalho de cooperação do centro.

Este Michael León Rivera é major da Polícia Nacional do Peru e faz parte da equipe do CCPI. Segundo ele, a defesa da Amazônia está fortalecida.

“O Peru tem sérios problemas na Amazônia, que também são compartilhados com outros países da região. Então, entendo que o espírito deste centro é articular e coordenar para obter melhores resultados na luta contra esse tipo de crime”.

*O conteúdo foi originalmente publicado no G1 Amazonas e escrito por Daniela Branches.

Arcos de Nazaré marcam simbolicamente início e fim do Círio em Belém

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Arcos de Nazaré. Foto: Reprodução/TV Círio

O Círio de Nazaré é marcado por símbolos que traduzem a força da fé e da devoção do povo paraense a Nossa Senhora de Nazaré. Entre esses elementos de profunda significação estão os Arcos de Nazaré. Hoje, são duas estruturas localizadas na Avenida Nazaré, entre a Generalíssimo Deodoro e a Travessa 14 de Março, em Belém, que marcam simbolicamente o início e o fim da grande procissão. Mas você conhece a origem e o significado deles?

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Ao longo da história, arcos têm sido utilizados por diversas culturas como portais, marcos comemorativos e entradas simbólicas em cidades e espaços sagrados. Eles representam transições, proteção, acolhimento e espiritualidade. Como explica a arquiteta Carla Abreu, criadora dos arcos atuais: 

“Eles podem significar fé, proteção, acolhida, renovação espiritual, uma transição da vida para o sagrado, dentro da simbologia religiosa”.

No caso do Círio, os Arcos de Nazaré surgem como símbolos de passagem do cotidiano ao sagrado, um convite à introspecção e à celebração mariana. Há registros da existência de Arcos no Círio desde 1897, embora o ano exato em que se consolidaram como símbolo oficial da festividade seja incerto.

Nos primeiros anos, os arcos eram montados e desmontados a cada edição, como parte da tradição. “Antigamente, eles eram muito esperados, como o manto que reveste nossa Mãe Santíssima — como uma renovação da fé e da esperança”, lembra Carla.

Com o tempo, e diante das dificuldades técnicas e orçamentárias para manter versões temporárias, surgiu a proposta de criar uma estrutura permanente, que pudesse ser decorada a cada Círio, mantendo seu valor simbólico.

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arcos de nazaré em belém
Foto: Rosana Pinto/Ascom DFN

Arquitetura dos arcos: com alma e significado

O projeto dos arcos atuais foi concebido por Carla Abreu, Hélcio Arruda e Joaquim Meira, e inaugurado no Círio de 2008. A proposta reúne elementos da tradição cristã com traços contemporâneos e simbólicos:

  • A estrutura simula fitas entrelaçadas, como mãos em oração que conduzem o olhar até a imagem de Nossa Senhora de Nazaré.
  • Nas laterais, a referência ao peixe — símbolo usado pelos primeiros cristãos perseguidos — reforça o aspecto espiritual e remete à origem da fé.
  • No topo, um arco sobre o arco simboliza o manto de Maria, as mãos erguidas ao divino e a busca pela presença de Deus, numa alusão às catedrais góticas e à elevação espiritual.

“Dele saem as fitas que ligam a Mãe ao Filho e o Filho à Mãe, numa eterna aliança. Os arcos delimitam o território sagrado, do achado da imagem ao Santuário de Nazaré”, explica Carla.

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Feitos em aço branco, em harmonia visual com a Basílica Santuário, os Arcos têm design vazado e recebem, a cada ano, iluminação especial e adornos temáticos inspirados no Cartaz Oficial do Círio. Por isso, a finalização da decoração é feita somente após o lançamento do cartaz, geralmente em maio.

Para o coordenador do Círio 2025, Antônio Sousa, os Arcos de Nazaré representam muito mais do que um elemento visual. Eles são um símbolo vivo da fé paraense. 

“Resgatar essa história e manter esse legado vivo é um dos compromissos da Diretoria da Festa. Tentamos preservar a memória dos símbolos do Círio — no nosso site, no Museu Memórias de Nazaré e na TV Círio. Os Arcos são um verdadeiro portal de fé: anunciam a chegada do Círio e acolhem cada romeiro com emoção, esperança e devoção. A cada ano, eles são pensados com carinho para representar não apenas a grandiosidade da nossa festa, mas também a simplicidade e a fé do povo paraense”.

O Círio 2025

O Círio de Nazaré é uma realização da Arquidiocese de Belém, Basílica Santuário de Nazaré, Diretoria da Festa de Nazaré, Governo do Estado do Pará e Prefeitura de Belém.

Até o momento, a Festa de Nazaré tem como patrocinadores master Banpará, Instituto Cultural Vale e Hydro. Como patrocinadores Alubar, CN Produções, Belágua, Cresol, Econômico Comércio de Alimentos, Equatorial Energia, GAV Resorts, Gráfica Miriti, Guamá Resíduos, Hospital Porto Dias, ITA Center Park, Magazine Luiza, Pag Bank, Sebrae, Rodrigues Colchões e Tramontina. Como apoiadores master Alucar, Artemyn, Bagliolli Dammski Bulhões e Costa Advogados, Energéticos Bally e Jefferson. E mais 93 apoiadores.

*Com informações da Ascom DFN

11 espécies da floresta amazônica encontradas no Acre

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Espécies podem ser encontradas no Acre e em outros estados. Fotos: Reprodução

Amazônia é cheia de biodiversidade. Aqui vivem peixes, aves, mamíferos, répteis, anfíbios e insetos que só é possível encontrar na região. Para conhecer mais dessa natureza, mais precisamente nas proximidades do Acre, o Grupo Rede Amazônica conversou com dois especialistas: o biólogo Ricardo Plácido e Marcos Silveira, coordenador do Programa de Pesquisa em Biodiversidade do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Ricardo é biólogo e trabalha na Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema-AC). Ele também se dedica a observar pássaros e estuda as aves do Acre como hobby nas horas livres.

Inclusive, em janeiro deste ano, ele encerrou uma espera de sete anos e conseguiu fazer o primeiro registro fotográfico e em vídeo do tovacuçu-xodó, pássaro raro da Amazônia que habita regiões do Acre, Amazonas e Peru.

Leia também: Ave rara é fotografada pela primeira vez no Parque Estadual Chandless, no Acre

“É meu passatempo preferido. Ao longo de 10 anos venho percorrendo o território acreano em busca de registros fotográficos e outras informações ecológicas das espécies. Sou especialmente fascinado pelas aves mais raras e difíceis de serem localizadas. E nisso tudo a gente vem contribuindo com o conhecimento sobre nossas espécies”, afirmou ele.

Marcos Silveira é professor Na Universidade Federal do Acre (Ufac) e, além de pesquisador, se dedica a divulgar plantas, fungos e histórias do Acre nas redes sociais, com postagens de descobertas novas e antigas das espécies acreanas.

Em 2008, o pesquisador publicou o Primeiro Catálogo da Flora do Acre e com registros de 4.004 espécies.

“Em 2014 realizamos a primeira atualização do checklist e adicionamos 347 novos registros para a flora, agora são 4.351 espécies. No momento estamos atualizando a lista de espécies que deverá conter em torno de 5 mil espécies de plantas ou quase um terço da flora conhecida na Amazônia”, celebrou.

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Os dois montaram uma lista com espécies de animais e plantas que só existem na região amazônica perto do Acre. Confira:

Choca-do-acre fêmea

A espécie foi descoberta no Acre com uma primeira aparição em 1994. Em 2004 ela foi descrita e apresentada oficialmente. Já em 2016, Ricardo Plácido fez o segundo registro da ave da história.

A ave também foi vista no Peru, país que faz fronteira com o estado. “Bicho não vê fronteira geográfica, o que separa são os rios”, afirmou Ricardo.

espécies encontradas no acre
Choca-do-acre fêmea. Foto: Ricardo Plácido

Flautim-rufo

Um dos animais que representa a fauna acreana. Avistada em áreas adjacentes, como no Peru e sul da Amazônia, mas é endêmico da região acreana. A maior população do animal está concentrada no Acre.

Flautim-rufo. Foto: Ricardo Plácido

Maria-sebinha-do-acre

A espécie também foi descoberta no Acre em 2015, porém, há incidência, em menor quantidade, no território vizinho peruano, que faz fronteira com o estado brasileiro.

Maria-sebinha-do-acre. Foto: Ricardo Plácido

Sagui-imperador ou bigodeiro

O bigode longo difere a espécie das demais do gênero e chama atenção dos observadores de natureza. Ocorre no Acre e Amazonas, além de ser encontrado no nordeste do Peru. “Ele é encontrado em menor quantidade nas áreas vizinhas”, disse Ricardo.

Sagui-imperador ou bigodeiro. Foto: Ricardo Plácido

Uacari ou uacari-da-cara-vermelha

Pode ser avistado nas florestas menos exploradas do Acre. É original da Amazônia brasileira e pode ser encontrado em florestas do Peru e Colômbia. Não apresenta pelos na cabeça, com pelagem variando do laranja ao vermelho e o rosto avermelhado.

A coloração de seu rosto é bastante marcante nos machos, funcionando como atrativo na seleção sexual.

Uacari ou uacari-da-cara-vermelha. Foto: Ricardo Plácido

Buxaceae

O botânico descreve a espécie como uma novidade para a flora do Brasil. Essa espécie foi coletada no Acre em 2007, e em 2015 foi registrada em um gênero e em uma família inéditas para o país. Encontrada no Acre no Parque Nacional Serra do Divisor (PNSD).

Era conhecida apenas nas terras baixas e no piemonte andino da Colômbia, Equador e Peru.

Buxaceae. Foto: Mayk Oliveira

Orquídea

Epidendrum macrocarpum Rich, uma orquídea epífita com flores alaranjadas com até 5 cm de comprimento. Muito vistosa nos domínios da Mata Atlântica, da Amazônia e da região andina. Ela é conhecida pela ciência há 230 anos, mas somente recentemente entrou para a lista de espécies de plantas do Acre.

Epidendrum macrocarpum Rich. Foto: Marcos Silveira

Aristolochia putumayensis O.C.Schmidt

Aristolochia putumayensis O.C.Schmidt é uma espécie coletada em 1935 pelo botânico amador, Guillermo Klug, nas terras baixas do Rio Putumayo, na foz do rio Zubineta, em Loreto, Peru.

Considerada até recentemente uma espécie endêmica peruana, essa planta foi coletada em janeiro de 2022 no município de Assis Brasil, na fronteira Brasil-Peru.

Aristolochia putumayensis O.C.Schmidt. Foto: Marcos Silveira

Drymonia pulchra Wiehler (Gesneriaceae)

Drymonia pulchra Wiehler, uma espécie identificada pela especialista colombiana, Laura Clavijo, e era conhecida apenas nas terras baixas e no piemonte andino da Colômbia, Equador e Peru, foi registrada de forma inédita no Brasil, mais precisamente no Acre, em 2019.

Em atividades de campo que Marcos Silveira faz anualmente no Parque Nacional Serra do Divisor, os formandos do curso de Ciências Biológicas flagraram a Drymonia (Gesneriaceae).

Drymonia pulchra Wiehler (Gesneriaceae). Foto: Marcos Silveira

Aristolochia guentheri O. Schmidt

Essa planta foi coletada pela primeira vez por Otto Buchtien, em 1927, na região de Mapiri, Departamento de La Paz, nas franjas andinas, a aproximadamente 100 km do Lago Titicaca e 500 km do Acre.

E era uma espécie amazônica conhecida em território brasileiro apenas nos estados do Amazonas, Pará e Amapá. No Acre ela foi coletada em 2017, no Rio Iquiri.

Aristolochia guentheri O. Schmidt. Foto: Marcos Silveira

Aenigmanu alvareziae (Picramniaceae)

Uma árvore pequena, que mal passa os 6 m de altura, foi coletada pelo botânico Robin Foster no Parque Nacional de Manu, Peru, em 1973. Posteriormente foi coletada em 2019, no Parque Estadual Chandless, a 450 km de Manoel Urbano, durante um curso de monitoramento de plantas e até então, representa o único registro da espécie no Brasil.

Aenigmanu alvareziae (Picramniaceae). Foto: Marcos Silveira

*Com informações da matéria escrita por Hellen Monteiro, da Rede Amazônica AC