Guias descobrem cachoeira de 35 metros de altura em Presidente Figueiredo. Foto: Marinilzo Brito/Acervo pessoal
Uma equipe de guias turísticos de Presidente Figueiredo, no Amazonas, anunciou a descoberta de uma nova cachoeira na floresta amazônica. Batizada de ‘Gigante do Apuaú’, a queda d’água tem cerca de 35 metros de altura e cinco de largura, o que a coloca entre as maiores da região em queda livre.
A expedição, realizada no início de agosto pelos guias Marinilzo Brito, Frederico Roldão e Daniel dos Anjos, percorreu mais de 60 quilômetros em seis dias de caminhada em mata fechada até chegar ao local. O ponto fica no rio Apuaú, na divisa entre os municípios de Novo Airão, Presidente Figueiredo e Manaus.
Segundo os exploradores, a descoberta foi resultado de quatro anos de planejamento.
“Fizemos levantamento topográfico da região, que nos trouxe a ideia de que poderíamos encontrar atrativos como cachoeiras, e organizamos as expedições com esse objetivo”, relataram.
Foto: Marinilzo Brito/Acervo pessoal
Além do tamanho, a Gigante do Apuaú se destaca pela piscina natural profunda formada ao pé da queda, considerada ideal para banho.
“Ela é diferente das cachoeiras já conhecidas de Presidente Figueiredo justamente pela imponência e pela força da queda d’água”, afirmaram.
O acesso ao local não é fácil: exige caminhada por mata fechada, terrenos alagados e longas distâncias. Durante o trajeto, a equipe até avistou pegadas de animais silvestres, como onças.
“É um caminho de muita resistência, mas a recompensa foi encontrar uma das maiores belezas naturais já registradas nessa área”, disseram os guias.
Nome da cachoeira e próximos passos
A cachoeira recebeu o nome ‘Gigante do Apuaú’ em homenagem ao rio que corta a região e também a uma lenda local que fala de uma entidade guardiã.
De acordo com os guias, a área onde a queda foi encontrada ainda é pouco explorada. A ideia é incluir o novo atrativo em um roteiro exclusivo, que deve contemplar outras duas cachoeiras próximas. A abertura da trilha depende de autorizações e está prevista para começar em novembro.
Ao Grupo Rede Amazônica, a Secretaria Municipal de Turismo Presidente Figueiredo informou que a nova cachoeira ainda não tem autorização para visitação pública.
Foto: Marinilzo Brito/Acervo pessoal
De acordo com a pasta, o local foi identificado recentemente por guias turísticos que precisaram atravessar parte de um terreno pertencente a uma empresa privada. No entanto, ainda não está definido se a área da cachoeira pertence a propriedade privada, o que impede, por enquanto, qualquer processo de regulamentação.
A pasta de Turismo explica ainda que, para que um atrativo seja legalizado para fins de visitação e cobrança de ingresso, é necessário que exista alguma atividade econômica no local, como restaurante ou hospedagem. Em Presidente Figueiredo, a maioria das cachoeiras está em terrenos particulares, mas poucas possuem regularização ambiental e estrutura adequada para o turismo.
Por isso, a expectativa é de que a nova cachoeira só possa receber visitantes após a definição da situação fundiária e ambiental da área. Além disso, como se trata de um atrativo distante, será necessário que agências de turismo elaborem roteiros estruturados, possivelmente com duração de mais de um dia.
A Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais anunciou no dia 8 de setembro a lista com os seis filmes pré-selecionados que disputam a indicação oficial do Brasil ao Oscar 2026, na categoria Melhor Filme Internacional.
Entre os longas escolhidos, dois têm a Amazônia como cenário central: ‘Manas’, de Marianna Brennand, e ‘O Último Azul’, de Gabriel Mascaro.
A cerimônia da premiação está marcada para o dia 15 de março de 2026, em Los Angeles, nos Estados Unidos.
Conheça as histórias dos filmes:
Manas
Drama lançado em maio de 2025, ‘Manas’ marca a estreia de Marianna Brennand na direção. O roteiro, assinado em parceria por Felipe Sholl, Marcelo Grabowsky, Antonia Pellegrino, Camila Agustini e Carolina Benevides, traz uma narrativa ambientada na Ilha do Marajó, no Pará.
Protagonizado por Jamilli Correa, ao lado de nomes como Dira Paes, Fátima Macedo e Rômulo Braga, o filme acompanha Marcielle, uma adolescente de 13 anos que decide romper com o ciclo de violência que marca sua família e as mulheres de sua comunidade.
Dirigido por Gabriel Mascaro, O Último Azul mistura drama e ficção científica em uma trama distópica. O longa estreou mundialmente na Competição Oficial do Festival de Berlim de 2025, onde concorreu ao Urso de Ouro e conquistou o Grande Prêmio do Júri. No Brasil, foi lançado em agosto de 2025 pela Vitrine Filmes.
O filme tem Denise Weinberg no papel principal, além de Rodrigo Santoro, Miriam Socarrás e Adanilo no elenco. Na história, o governo brasileiro decreta que todos os idosos sejam enviados para colônias habitacionais remotas, sob a justificativa de garantir uma velhice ‘digna’. Tereza, uma mulher de 77 anos, resiste ao exílio compulsório e embarca em uma derradeira viagem pelos rios amazônicos em busca de um antigo sonho: voar.
A trama ganha contornos fantásticos quando Tereza conhece Cadu (Rodrigo Santoro), um marinheiro que lhe apresenta o caracol Baba Azul, uma criatura mágica capaz de revelar o futuro. Em sua jornada, a protagonista descobre novas formas de liberdade e possibilidades de transformação.
Próximos passos
Os seis filmes pré-selecionados saíram de uma lista inicial de 16 produções habilitadas, divulgada em agosto. Um comitê formado por profissionais do setor audiovisual avaliará os finalistas e anunciará, no próximo 15 de setembro, o título que representará oficialmente o Brasil no Oscar.
O escolhido será submetido à Academy of Motion Picture Arts and Sciences (AMPAS), que organiza a premiação, e disputará com produções de outros países uma vaga entre os indicados da categoria. A lista oficial dos concorrentes ao Oscar de Melhor Filme Internacional será revelada em janeiro de 2026.
Estatuetas da premiação. Foto: Reprodução/Oscars.org
O Brasil venceu pela primeira vez o Oscar da categoria neste ano, com Ainda Estou Aqui. Antes disso, o país já havia sido indicado em quatro ocasiões: O Pagador de Promessas (1963), O Quatrilho (1996), O Que É Isso, Companheiro? (1998) e Central do Brasil (1999).
A Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) realizou, no dia 08/09, Audiência Pública para discutir a implantação e a construção do novo porto da Manaus Moderna. A iniciativa foi proposta pelo deputado estadual Sinésio Campos (PT), autor do requerimento que convocou a sessão.
O projeto, com investimento de R$ 974,6 milhões no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), prevê a construção da nova Instalação Portuária Pública de Pequeno Porte (IP4), sob coordenação do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).
A obra é considerada estratégica para modernizar a logística portuária da capital, garantir mais segurança operacional e consolidar Manaus como um polo comercial e turístico da Região Norte.
Durante a audiência, representantes do Governo Federal, estadual, entidades de classe, órgãos de controle, trabalhadores, universidades e associações debateram os impactos sociais, econômicos e ambientais da obra, além de apresentar sugestões para que o empreendimento atenda de forma efetiva aos interesses da população que vive e trabalha na área da Manaus Moderna.
O superintendente do DNIT no Amazonas, Orlando Machado, realizou uma explanação sobre o projeto, destacando como a nova estrutura deve melhorar a infraestrutura portuária na região. O novo porto estará preparado para o transporte de cargas entre municípios e entre estados, e vai poder receber navios de maior porte, como cruzeiros, por exemplo. A expectativa é que o novo porto movimente 35 milhões de passageiros por ano, uma movimentação quase três vezes maior que a do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes.
Segundo o deputado Sinésio Campos, a escuta pública é fundamental: “Não se trata apenas de uma obra de infraestrutura. Estamos falando de revitalização do Centro da cidade, de mobilidade urbana, de geração de emprego e renda. Por isso, é essencial que todos os setores participem dessa construção coletiva. Como é um projeto que ainda não foi concluído, ainda cabe a nossa contribuição para que possa ser aprimorado”, destacou.
As entidades e cidadãos que participaram da audiência têm até o dia 8 de outubro para encaminhar à Comissão de Geodiversidade e Recursos Hídricos da Aleam as sugestões ao projeto de implantação do novo porto da Manaus Moderna. Essas sugestões serão compiladas e encaminhadas diretamente ao Ministério de Portos e Aeroportos para que o projeto seja aprimorado.
Um estudo inédito, fruto de uma autoetnografia colaborativa interétnica, revela como a pandemia da Covid-19 afetou profundamente a saúde mental dos Inỹ Karajá da aldeia Maranduba.
A pesquisa foi conduzida por Werlen Pereira Karaja, então estudante de Psicologia na Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), e Caio Maximino, pesquisador da Unifesspa, e propõe uma análise sensível e complexa sobre o sofrimento psíquico vivido pela comunidade durante esse período. A pesquisa foi publicada no periódico “Espaço Ameríndio”.
A investigação parte da experiência pessoal de Werlen Pereira Karajá, que vivenciou a pandemia dentro da aldeia, e entrelaça essa vivência com reflexões teóricas de Caio.
O estudo mostra que a pandemia intensificou sentimentos de ansiedade e estresse entre os indígenas, revelando como esses estados emocionais são atravessados por modos socioculturais próprios de adoecer e perceber a doença. Na cultura karajá, as fronteiras entre doenças por contágio e doenças por feitiçaria são fluidas, o que complexifica ainda mais a compreensão do sofrimento psicológico.
Estudo mostra processos culturais
A publicação também resgata a figura histórica de Benta Thuary Deru, cuja trajetória está profundamente ligada à história da aldeia e à concepção karajá de doença. A partir dessa perspectiva, os autores exploram como a noção de “doença” na cultura karajá possui dimensões cosmogônicas e está relacionada ao caráter físsil da aldeação, ou seja, à dinâmica de formação e dissolução das comunidades.
Um dos principais méritos do estudo é a abordagem metodológica, que permite ao primeiro autor falar de si mesmo como sujeito e objeto da pesquisa. Essa autoetnografia revela sentimentos, expectativas e frustrações vivenciadas durante a pandemia, e oferece uma compreensão profunda da subjetividade no contexto social indígena.
Além disso, o trabalho evidencia como o histórico de contato com os tori (não indígenas), marcado por práticas de necropolítica, se cruza com as narrativas do òwòru — figura central nas narrativas cosmogônicas karajá sobre a doença — para formar uma cosmopolítica da doença. Essa intersecção revela não apenas formas de adoecer, mas também estratégias de resistência cultural e psicológica.
Longe de oferecer uma explicação única para o sofrimento psíquico causado pela pandemia, o estudo apresenta esse fenômeno como amplamente complexo, atravessado por história, política e cultura.
Ao unir saberes indígenas e acadêmicos, os autores contribuem para o fortalecimento da psicologia indígena e para a construção de políticas públicas mais sensíveis às realidades dos povos originários.
O governo do Amapá divulgou o primeiro teaser do documentário ’Amazônia Negra: Expedição Amapá’, que estreia em novembro nas plataformas de streaming. A produção é uma iniciativa da Secretaria de Cultura (Secult) do estado e tem como objetivo mostrar a riqueza cultural da região, com foco na influência afroindígena na formação da identidade amapaense.
Produzido desde maio de 2024, o filme apresenta tradições, histórias e manifestações culturais que seguem vivas no Amapá. A proposta é ampliar a visão sobre a Amazônia, indo além da imagem da floresta e revelando expressões artísticas e sociais pouco conhecidas em outras partes do país.
O documentário busca valorizar agentes culturais locais e conta com participação especial do multiartista Carlinhos Brown, que recebeu o título de Embaixador do Marabaixo em 2025.
A produção é assinada pela Tha House Company e pela Join Entretenimento, com idealização da secretária de Cultura, Clícia Di Miceli, e do produtor executivo Fábio Almeida.
“Amazônia Negra: Expedição Amapá é um mergulho além da imagem comum da floresta. É o encontro com a riqueza humana que pulsa, vive e resiste neste chão de águas e memórias. […] Ela é o Amapá falando com a humanidade”, afirmou Clícia Di Miceli.
“Estamos muito felizes em compartilhar este projeto, que já caminha para sua reta final. Nosso objetivo é valorizar artistas locais e destacar a diversidade que faz do estado um território único dentro da Amazônia”, destacou Fábio Almeida.
Na última terça-feira (9/9), data em que se comemora o Dia do Médico Veterinário, a deputada estadual Joana Darc (UB) destacou, na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), que está em tratativas com o Governo do Amazonas e com a Agência de Fomento do Estado do Amazonas (Afeam) para a criação de uma linha de crédito especial destinada aos profissionais da Medicina Veterinária.
A iniciativa, que recebeu da parlamentar o nome de “Vet Empreendedor”, tem como foco apoiar os recém-formados, fomentar o empreendedorismo e ampliar a geração de emprego e renda no setor. A parlamentar, que é a primeira médica veterinária a exercer mandato de deputada estadual no Amazonas, afirmou que seu mandato está à disposição da categoria.
“Precisamos criar políticas públicas para os médicos veterinários que recém-formaram. Fiz esse requerimento para a Afeam e já estamos em tratativa com o Governador Wilson Lima e com o presidente da Afeam, Marcos Vinicius, para ajudar nossa classe. Nosso mandato sempre estará em defesa dos animais e dos médicos veterinários, pois cuidar da fauna é cuidar da saúde pública do nosso estado”, disse.
Presidente da Comissão De Proteção aos Animais (CPAMA-Aleam), principal comissão que dialoga com a classe profissional, Darc ainda disse a importância da proposta para profissionais que enfrentam dificuldades logo após a graduação, quando precisam investir em equipamentos, vacinas e insumos para começar a atender.
“Esse crédito será fundamental para dar condições reais de trabalho e crescimento aos veterinários do nosso estado. Ao apoiar a categoria, fortalecemos também a economia e garantimos mais qualidade no cuidado com os animais”, completou.
Equipe reuniu cientistas da Alemanha, da Suíça e do Brasil: efeitos mais graves podem ocorrer no norte da Amazônia, com redução drástica do regime de chuvas. Imagem: CEN/Universität Hamburg
A Célula de Revolvimento Meridional do Atlântico – conhecida pela sigla em inglês Amoc (Atlantic Meridional Overturning Circulation) – é um dos principais “motores” do clima terrestre. Ela funciona como uma esteira oceânica que transporta calor e nutrientes, conectando águas superficiais da porção tropical com águas profundas da região norte. Alterações nesse sistema sempre estiveram associadas a mudanças abruptas do clima global, como as que marcaram a última era glacial.
Um novo estudo mostra que, nos últimos 6.500 anos, a Amoc se manteve estável, após um período de oscilações durante o início do Holoceno. Mas que essa estabilidade se encontra agora ameaçada. Combinando dados de pesquisa de campo com projeções dos melhores modelos climáticos, o trabalho indica que as mudanças causadas pela ação humana podem levar a um enfraquecimento da circulação sem precedentes no período recente da história da Terra.
O norte da Amazônia, justamente a parte mais preservada da floresta, pode ser fortemente afetado, com uma drástica redução do regime de chuvas. Os resultados foram publicados no periódico Nature Communications.
A equipe internacional que realizou o estudo reuniu cientistas da Alemanha, da Suíça e do Brasil. Utilizando testemunhos de sedimentos marinhos coletados em diferentes pontos do Atlântico Norte e análises de elementos radioativos – tório-230 e protactínio-231 –, os pesquisadores reconstruíram quantitativamente a intensidade da Amoc ao longo de todo o Holoceno – os últimos 12 mil anos.
“Esses elementos radioativos são produzidos de forma constante na coluna d’água a partir do urânio. Como o tório se fixa rapidamente em partículas, enquanto o protactínio permanece mais tempo em circulação, a razão protactínio-tório registrada nos sedimentos fornece um ‘proxy’ da intensidade da circulação oceânica. Valores mais altos indicam enfraquecimento, e valores mais baixos, intensificação”, explica Cristiano Mazur Chiessi, professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH-USP) e coautor do estudo.
Representação esquemática da Célula de Revolvimento Meridional do Atlântico (seta em azul claro e vermelho), que transporta, perto da superfície, águas quentes do sul para o norte; e, em profundidades intermediárias, águas frias do norte para o sul. O desenho também mostra uma outra célula (seta em azul escuro), que transporta águas em grande profundidade (imagem: croqui de Cristiano Mazur Chiessi a partir de informações de Voigt et al., 2017)
Para transformar os dados de campo da razão protactínio-tório em valores de fluxo de água, a equipe utilizou o Bern3D, um modelo do sistema terrestre desenvolvido na Universidade de Berna, na Suíça, que simula oceanos, atmosfera e ciclos biogeoquímicos, permitindo converter registros de sedimentos em estimativas quantitativas da circulação oceânica. Isso permitiu estimar a intensidade da circulação em Sverdrups (Sv) – 1 Sv equivalente a 1 bilhão de litros por segundo.
Os resultados mostraram que, após o fim da última glaciação, a Amoc levou cerca de 2 mil anos para se recuperar do estado enfraquecido. Entre 9,2 mil e 8 mil anos atrás, sofreu novo declínio, associado ao aporte de água doce no Atlântico Norte decorrente do derretimento de geleiras e lagos glaciais, como o Lago Agassiz, no Canadá e nos EUA. Esse período incluiu o chamado “evento 8,2 ka”, registrado em testemunhos de gelo da Groenlândia como um dos episódios de resfriamento mais intensos do Holoceno. A partir de 6,5 mil anos atrás, no entanto, a circulação se estabilizou em torno de 18 Sv. E manteve essa intensidade até o presente.
“Reconstituímos o avanço das águas profundas do Atlântico Norte rumo ao Atlântico Sul ao longo de 11.500 anos. E, nos últimos 6.500 anos, não detectamos nenhuma oscilação maior, minimamente próxima daquilo que está projetado para 2100”, afirma Chiessi. “O cenário futuro é muito preocupante. E deve ser levado a sério tanto pelos governos quanto pela sociedade civil, incluída a comunidade científica”.
Segundo o pesquisador, o enfraquecimento projetado vai causar mudanças nas chuvas de todo o cinturão tropical do planeta, especialmente na América do Sul e na África, mas também afetando o sistema de monções da Índia e do Sudeste Asiático.
Impacto sobre a Amazônia
Um dos impactos mais importantes deverá ocorrer na Amazônia. “Projetamos uma marcante diminuição das chuvas no norte da Amazônia, justamente a região mais preservada da floresta. Esse efeito poderá ocorrer porque as chuvas equatoriais tenderão a se deslocar para o sul com o enfraquecimento da circulação do Atlântico. Com isso, o norte da Amazônia, abrangendo áreas do Brasil, da Colômbia, da Venezuela e das Guianas, poderá enfrentar reduções significativas na pluviosidade”, projeta Chiessi.
O pesquisador enfatiza que a gravidade desse cenário é ainda maior porque se trata da porção mais preservada da Amazônia. Diferentemente do sul e do leste amazônicos, onde o desmatamento e a degradação já avançaram fortemente, o norte tem funcionado como um “porto seguro” de biodiversidade.
“É justamente nessa região, até agora menos impactada, que a mudança climática poderá impor uma vulnerabilidade nova e dramática”, observa.
Coleta de coluna sedimentar do fundo do Mar de Labrador, no Atlântico Norte, entre o Canadá e a Groenlândia. A coluna sedimentar coletada nesse local serviu como base para o artigo científico. Foto: Stefan Mulitza
Estudo anterior, publicado em 2024 por Thomas Kenji Akabane e colaboradores, entre eles o próprio Chiessi, já havia alertado para essa possibilidade. Por meio de registros de pólen e carvão microscópico em sedimentos marinhos, os cientistas mostraram nesse trabalho que enfraquecimentos passados da Amoc levaram à expansão de vegetação sazonal em detrimento das florestas úmidas do norte amazônico. E os modelos indicam que um enfraquecimento semelhante no futuro produziria impactos ainda maiores, uma vez que seriam agravados pelo desmatamento e pelas queimadas em outras partes da bacia.
Ponto de não retorno?
O arrefecimento da Amoc poderá configurar um ponto de não retorno no sistema climático global. Se confirmadas as projeções, ocorrerá uma ruptura sem precedentes na circulação oceânica que sustenta o equilíbrio do clima do planeta. Há consenso entre os pesquisadores especializados de que o enfraquecimento constitui uma clara tendência.
Mas os dados ainda não permitem saber se já está ocorrendo ou não. “Os monitoramentos diretos começaram apenas em 2004 e o oceano responde mais lentamente do que a atmosfera. Por isso, os registros são ainda insuficientes para uma resposta conclusiva. Porém, apesar dessa incerteza, a urgência de agir é inegociável. Ainda existe tempo, mas nossas ações precisam ser robustas, rápidas e conectadas, envolvendo governos e sociedade civil”, alerta Chiessi.
Como já foi dito em evento realizado na FAPESP, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que ocorrerá em novembro deste ano em Belém, no Pará, constitui uma janela de oportunidade que não pode ser desperdiçada.
O deputado estadual Cabo Maciel (PL) protocolou na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) requerimentos destinados ao fortalecimento da economia e ao apoio às mulheres empreendedoras do Distrito de Santo Antônio do Matupi, no município de Manicoré, por meio da ampliação do Programa Crédito Rosa e da interiorização das ações da Agência de Fomento do Estado do Amazonas (Afeam).
O parlamentar destacou que a região é marcada pela força do comércio, da agricultura familiar, da pecuária e do artesanato, mas ainda enfrenta barreiras significativas no acesso ao crédito e em políticas públicas que incentivem o empreendedorismo.
“É preciso garantir mais oportunidades para que mulheres e pequenos empreendedores do interior tenham acesso às mesmas condições que existem nos grandes centros. O Crédito Rosa e os programas da AFEAM representam dignidade, geração de renda e justiça social. Santo Antônio do Matupi tem um potencial enorme e merece esse olhar especial do Estado”, afirmou Cabo Maciel.
Crédito Rosa
No primeiro requerimento, o deputado solicita a ampliação do Programa Crédito Rosa, com a instalação de um ponto fixo no distrito. O objetivo é facilitar o acesso de mulheres empreendedoras ao crédito, eliminando deslocamentos até a sede municipal e ampliando a inclusão econômica. O programa garante autonomia financeira, autoestima e fortalecimento do protagonismo feminino no desenvolvimento comunitário.
Outro requerimento apresentado por Cabo Maciel é voltado para a implementação de programas da Afeam em Santo Antônio do Matupi, assegurando linhas de crédito diferenciadas, apoio técnico e estímulo à formalização de atividades produtivas. A medida visa incluir pequenos produtores, comerciantes, prestadores de serviços e artesãos que hoje encontram dificuldades em acessar políticas de fomento devido à distância geográfica e à falta de presença direta da instituição no distrito.
De acordo com o parlamentar, a chegada dos programas da AFEAM terá impacto direto na geração de emprego e renda, fortalecendo a economia local e ampliando oportunidades de negócios, além de contribuir para o desenvolvimento sustentável de Manicoré como um todo.
“Quando investimos no interior, garantimos que o desenvolvimento chegue a quem mais precisa. Esses programas vão impulsionar a economia, reduzir desigualdades e transformar a realidade de centenas de famílias em Santo Antônio do Matupi”, completou Cabo Maciel.
Um sítio arqueológico localizado no município de São Luiz, no Sul de Roraima, foi identificado como o primeiro do Brasil com evidências de granito lascado manuseado por povos indígenas pré-coloniais. Conhecido como Arara Vermelha, o local tem sinais de que a rocha era usada na produção de artefatos. A descoberta inédita faz parte de um estudo da Universidade de São Paulo (USP).
Doutora pelo Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo (USP), a arqueóloga Marta Sara Cavallini estuda a região desde 2018 e foi quem chegou à conclusão sobre o uso do granito como algo rudimentar feito para ser utilizado como ferramenta.
A pesquisa focou na documentação das abundantes gravuras rupestres presentes em dezenas de blocos de granito distribuídos numa área de quase 30 hectares, no sítio arqueológico.
Marta Sara Cavallini chegou ao Brasil em 2008 e estuda arqueologia na Amazônia desde então. Ela destaca que em outros sítios arqueológicos pelo Brasil há indícios de que os povos manuseavam outros tipos de minérios. O Arara Vermelha foi apontado como primeiro com lascas de granito, algo inédito no país.
Granito é uma pedra natural que se forma dentro da terra ao longo de milhões de anos. Ele nasce quando rochas derretidas esfriam devagar, formando cristais reluzentes. Hoje em dia, o granito é uma rocha usada para revestimentos, pisos, bancadas, fachadas e até monumentos. Mas, no período estudado pela pesquisadora, tinha a função de ferramenta.
“Encontramos no Arara Vermelha uma verdadeira indústria de lascamento de granito. Isso não é comum em outros sítios arqueológicos do Brasil, onde normalmente se encontram vestígios em outros tipos de rocha. Essa é uma característica única que torna o local especial”, explica a pesquisadora.
O Arara Vermelha — também conhecido como Sítio Pedra do Sol — fica localizado na vicinal 22, em uma região de agricultura no município de São Luiz, distante 62 km da sede da cidade, dentro de uma propriedade rural. A região ocupa uma área de 27,3 hectares, equivalente a 37 campos de futebol.
Os estudos da pesquisadora indicam que o sítio foi ocupado há pelo menos 1.500 anos. Há sinais que podem datar de mais de 9 mil anos, mas essa hipótese ainda precisa ser estudada e confirmada por futuras pesquisas.
“As ocupações mais claras são a partir de 1.500 anos, mas não podemos descartar a possibilidade de que o sítio tenha sido usado por grupos humanos muito antes disso. O que sabemos é que ele foi intensamente frequentado ao longo do tempo e que diferentes povos deixaram suas marcas ali”, afirma.
Gravuras rupestres por todo lugar
O Arara Vermelha é formado por um morro de granito de cerca de 38 metros de altura. Trata-se de um abrigo rochoso que ocorreu de forma natural e foi usado pela população que ali vivia. Também há uma área plana ao redor, onde estão espalhados blocos de pedra com gravuras.
O sítio com gravuras rupestres Arara Vermelha é formado por um morro de granito de cerca de 38 metros de altura e por uma área plana no entorno. No alto do morro há uma área coberta por rochas com 132 m², mas a paisagem rupestre vai muito além dele: a área plana reúne cerca de 17 hectares de rochas gravadas.
Segundo a arqueóloga, a maioria dos sítios de arte rupestre reconhecidos na Amazônia encontram-se às margens dos rios e são poucos os sítios até hoje cadastrados em áreas de terra firme, como é o caso do Arara Vermelha.
Foto: Marta Sara Cavallini
“Estamos diante de um amplo território inteiramente gravado, com matacões [rochas] de até quatro metros de comprimento, apresentando uma significativa variabilidade quanto às formas escolhidas, desde figuras isoladas até superfícies totalmente cobertas”, descreve Cavallini.
Entre os registros, há representações de seres humanos, figuras geométricas, círculos que lembram o sol, animais como calangos – espécie de lagarto presente na Amazônia e formas abstratas. Uma análise preliminar da arte rupestre e os dados levantados durante as escavações arqueológicas sugerem a possibilidade que diferentes povos ao longo do tempo tenham ocupado o local e produzido as gravuras.
“Esse sítio mostra que Roraima tem um patrimônio arqueológico riquíssimo, ainda pouco conhecido. O Arara Vermelha é um exemplo de como diferentes povos ocuparam e transformaram o território ao longo de milênios”.
Segundo ela, o abrigo revela também estruturas de granito organizadas manualmente, que podem ter servido de base para fogueiras, pisos ou armazenamento.
Foto: Marta Sara Cavallini
A descoberta do sítio Arara Vermelha
O primeiro registro de pesquisa no sítio ocorreu em 1995. À época, o professor do ensino médio da escola estadual João Rodrigues, de São Luiz, Waldir Cassiano desenvolveu um trabalho de pesquisa “embrionário” com os alunos.
Essa pesquisa resultou em um relatório que ganhou um prêmio na feira de ciências da região Sul de Roraima, sendo classificado como um trabalho preliminar de arqueologia.
Anos depois, a pesquisadora Marta Cavallini dedicou-se a estudar a região de maneira científica para o doutorado no Museu de Arqueologia e Etnologia na USP. Ela atua na arqueologia pré-colonial amazônica desde 2009 e considera a descoberta como um avanço significativo para Roraima, destacando que o estado carece de pesquisas acadêmicas aprofundadas em arqueologia.
Foto: Marta Sara Cavallini
A área que compreende o sítio foi adquirido pela agricultora Minelvina Silva de Mesquita, de 44 anos e o marido dela em 2003. Ela e a família compraram o terreno em 2003, sem imaginar que, em meio às rochas e ao mato, havia registros arqueológicos milenares.
“Quando a gente comprou não era do nosso conhecimento. Descobrimos no finalzinho de 2004. A gente tenta preservar, mas o fogo vindo de outros lotes atinge a área e fica difícil manter”.
“Fazemos o que dá, mas não temos estrutura para cuidar do sítio do jeito que ele merece sozinhos”, disse a proprietária do Arara Vermelha.
Segundo ela, o contato com a pesquisadora Marta ajudou a dar dimensão ao valor da área. No entanto, a falta de apoio institucional pesa no dia a dia. Mesmo diante das dificuldades, Minelvina afirma sentir orgulho por guardar em sua propriedade um pedaço da história dos povos originários da Amazônia.
“É uma riqueza que está ali, no nosso território. A gente só queria ter mais condições de preservar para que outras pessoas também conheçam e valorizem”, completa.
Preservação ameaçada
Apesar da importância histórica, o Arara Vermelha enfrenta ameaças constantes. A região é usada para criação de gado e a prática da queima de áreas de mata para formação de pasto danificou blocos de granito com gravuras rupestres e comprometeu parte do entorno do sítio.
O proprietário do terreno tem buscado apoio junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para preservar a região sem perder a principal fonte de sustento.
O Iphan informou que o Arara Vermelha recebeu recentemente sinalizações indicativas da legislação de proteção e com informações gerais sobre o local. O instituto disse ainda que realiza visitas periódicas para verificar as condições de conservação e ações de georreferenciamento e sinalização dos sítios arqueológicos em todo o estado.
Segundo o instituto, como o sítio está em área privada, cabe ao proprietário realizar medidas preventivas caso tenha interesse em explorar economicamente a região.
“O dono do terreno sempre nos procurou para tentar conciliar a atividade econômica e a preservação do patrimônio. Mas até hoje não há uma política pública que dê esse suporte. Sem isso, os sítios arqueológicos de Roraima continuam em risco”, disse a pesquisadora.
Foto: Marta Sara Cavallini
De acordo com o Iphan, Roraima possui um “enorme potencial arqueológico, com sítios cadastrados em 14 dos 15 municípios, totalizando mais de 300 locais de diferentes tipos (rupestres, líticos, cerâmicos, funerários, etc.)”.
O Arara Vermelha é o que tem a datação mais antiga até o momento. O instituto acrescentou que já existem publicações sobre sítios identificados nas décadas de 1970 e 1980 e estudos feitos no âmbito do licenciamento ambiental. Do ponto de vista acadêmico, quatro pesquisas foram submetidas ao Iphan, sendo duas no Arara Vermelha, uma na Terra Indígena Trombetas-Mapuera e uma na Terra Indígena São Marcos
É provável que motoristas amazonenses que precisem abastecer seus veículos já tenham se confundido com os preços de combustíveis expostos em painéis e banners de postos locais, que costumam dar mais destaque para valores reduzidos, vinculados a programas de desconto.
Para coibir essa prática, iniciou tramitação na Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), nesta quarta-feira (10/9), o Projeto de Lei (PL) nº 750/2025, que proíbe os postos de combustíveis de exibirem valores promocionais em escala maior que os preços reais ofertados.
De autoria do presidente da Casa, deputado Roberto Cidade (UB), a proposta busca evitar práticas abusivas que geram confusão, induzem ao erro e ferem o direito à informação clara e precisa assegurado pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC).
“Em um Estado de dimensões continentais, marcado por custos logísticos elevados e forte impacto do preço dos combustíveis no orçamento familiar, a clareza na divulgação de preços se torna ainda mais essencial”, afirmou Cidade.
O parlamentar lembrou que fiscalizações recentes em postos de Manaus já resultaram em autuações e interdições motivadas por falhas em equipamentos e pela falta de transparência no atendimento ao consumidor.
O PL prevê, ainda, que a informação seja sempre clara e visível, inclusive durante a manutenção ou limpeza dos painéis, além de estabelecer penalidades proporcionais para quem descumprir a norma.
Sanções
Também iniciou tramitação na Casa Legislativa o PL nº 747/2025, de autoria do deputado Cabo Maciel (PL), que institui sanções administrativas a cidadãos e servidores que, por dolo ou culpa, violarem os direitos de crianças e adolescentes no Amazonas.
“Nosso objetivo é cumprir a nossa obrigação de formar cidadãos e proteger o futuro de nossos jovens”, destacou Cabo Maciel.