Pesquisa também resultará na produção de um documentário. Foto: Rosana Cavalcante
Uma pesquisa realizada na Rodovia Transacreana tem envolvido mais de 300 mulheres do Movimento de Mulheres Camponesas da Transacreana com o foco de compreender de que forma essas mulheres mantêm práticas agrícolas, o saber sobre plantas medicinais e fortalecem a segurança alimentar de suas comunidades.
O trabalho de pesquisa de pós-doutorado ‘O papel das mulheres na conservação da agrobiodiversidade ao longo da Rodovia Transacreana em Rio Branco’ é da professora e ex-reitora do Instituto Federal do Acre (Ifac), Rosana Cavalcante, sob a supervisão da pesquisadora Dra. Viviane Kruel (Jardim Botânico do RJ), por intermédio da Escola Nacional de Botânica Tropical do Rio de Janeiro.
A pesquisa também resultará na produção de um documentário intitulado ‘Sementes de Resistência’, previsto para ser lançado em março de 2026.
“Elas são verdadeiras guardiãs da agrobiodiversidade. É conhecer as mulheres lá da Transacreana, mas saber o que elas plantam, de onde elas vêm, se o que elas plantam nos seus quintais veio transmitido da mãe, da avó, ou seja, qual o papel da mulher, a importância da mulher na preservação da agrobiodiversidade. E também a gente vai gravar um documentário com as mulheres da Transacreana, que se chama Sementes de Resistência. Vim convidar a vice-governadora, para que ela conheça esse trabalho com essas mulheres e visitar esse projeto,” disse Rosana.
A pesquisadora apresentou o trabalho para a vice-governadora do Acre, Mailza Assis, no dia 16 de setembro.
Foto: Rosana Cavalcante
Visibilidade paras as mulheres
Segundo Rosana, a proposta é dar visibilidade às mulheres que, apesar de serem responsáveis por grande parte da produção de alimentos, enfrentam desafios como falta de acesso à terra em seus nomes, crédito rural limitado e ausência de assistência técnica adequada.
“O que eu percebo? Invisibilidade. O que eu tenho que fazer? Estudar e mostrar para o mundo quem são essas pessoas pra gente tomar alguma providência. Não tem como, o documento da terra, ou seja, a mulher está na terra, mas o documento está no nome do marido dela, existe uma política do governo federal que vê isso. Mas o que mais a gente pode fazer para ajudar essas mulheres? Só 5% delas têm acesso ao crédito. Como a gente vai botar essas mulheres para ter mais acesso e assistência técnica rural?”, destacou.
Para Rosana, é fundamental que o poder público reconheça esse universo de mais de 10 mil famílias que vivem na Transacreana e inclua suas demandas em programas de governo. “É uma pesquisa científica, mas ao mesmo tempo é uma forma da gente conhecer aquela região, que não tem nada publicado”, pontuou.
A vice-governadora Mailza Assis parabenizou a iniciativa, ressaltando a importância de pesquisas que valorizem a participação feminina no desenvolvimento do estado. “É um trabalho inspirador, que mostra a força e a resistência das mulheres camponesas do Acre. Quero conhecer de perto esse projeto e contribuir para que ele se transforme em políticas públicas que ajudem essas mulheres a terem mais dignidade e oportunidades”, afirmou.
Pirarucu da Floresta, do Casa Blanca. Foto: Ian Nóbrega/Amana Mídia
Que tal experimentar novos sabores preparados com o pirarucu, o gigante das águas amazônicas? Pela primeira vez em Belém (PA), o Festival Gosto da Amazônia começa nesta sexta-feira (19) e segue até 5 de outubro, reunindo 24 restaurantes da capital com pratos exclusivos feitos a partir do pirarucu de manejo sustentável.
A iniciativa já passou por cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte e Recife, e agora aporta na Amazônia para valorizar a culinária local e reforçar a conexão entre floresta e mesa.
Receitas inovadoras com o pirarucu
Com até três metros de comprimento e 200 quilos, o pirarucu impressiona pelo porte e também pela carne clara, sem espinhas e de sabor suave. Além das qualidades gastronômicas, o festival destaca o modelo de manejo sustentável, desenvolvido no Amazonas desde 1999, que hoje ajuda a conservar mais de 11 milhões de hectares de floresta e garante renda a centenas de comunidades indígenas e ribeirinhas da região.
Segundo a Associação dos Produtores Rurais de Carauari (Asproc), organização que representa manejadores no Médio Juruá (AM), a proposta do circuito é estimular o consumo do pirarucu de origem sustentável e aproximar os consumidores dos benefícios socioambientais dessa cadeia produtiva.
Carpaccio de Pirarucu, do ÔChalé. Foto: Ian Nóbrega/Amana Mídia
Para os organizadores, ver o peixe manejado chegar às mesas de restaurantes renomados de Belém é um símbolo de transformação: a floresta em pé alimentando a cidade.
De ceviche a milk-shake
No circuito, o peixe aparece em versões que vão do tradicional ao inusitado. Tem ceviche refrescante, sushi e onigiri em releituras nipo-amazônicas, hambúrguer criativo, milk-shake surpreendente e receitas clássicas, como a moqueca e o pirarucu frito com creme de camarão.
A variedade de preparos mostra a versatilidade do peixe gigante da Amazônia e a criatividade dos chefs paraenses em valorizar o manejo sustentável por meio da gastronomia.
Segundo Ana Alice Britto, coordenadora comercial da Asproc, o festival cumpre um papel importante de aproximar a floresta das cidades:
“É uma vitória sair das margens dos rios amazônicos e chegar aos cardápios de restaurantes renomados, como os de Belém, cidade histórica e de culinária espetacular. Essa parceria entre floresta e cidade mostra que é possível construir uma nova Amazônia, onde a sociobiodiversidade nos alimenta e aponta para um futuro melhor”.
O Festival Gosto da Amazônia é uma iniciativa da marca coletiva homônima, que reúne organizações comunitárias da região para promover conservação ambiental, comércio justo e desenvolvimento socioeconômico sustentável.
Milk Shake de Pirarucu com Sorvete Paraense (açaí com tapioca), do Di Mare Pizzeria & Trattoria. Foto: Ian Nóbrega/Amana Mídia
O manejo sustentável do pirarucu é uma prática de uso racional e gestão participativa dos recursos pesqueiros, que alia conservação ambiental, geração de renda e valorização dos modos de vida tradicionais da Amazônia.
Iniciado em 1999 na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (AM), o modelo hoje se expandiu por diversos territórios da região, sendo conduzido por populações indígenas e ribeirinhas em Unidades de Conservação, Terras Indígenas e áreas com Acordos de Pesca legalmente reconhecidos pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
O Instituto Social para Motivar, Apoiar e Reconhecer Talentos (Ismart) está ampliando seu impacto educacional com a Academia Digital, para todo o Brasil. O programa 100% online é voltado a estudantes do 7º, 8º e 9º ano do ensino fundamental com alto desempenho escolar e pertencentes a famílias com renda familiar per capita de até dois salários mínimos.
A iniciativa está com inscrições abertas até 21 de setembro e as vagas são destinadas a estudantes que possuem 13, 14 ou 15 anos completos até o final de 2025 – com possibilidade de apoio até o fim do Ensino Médio.
Com uma proposta inovadora, a iniciativa, que complementa a grade curricular com foco em pensamento computacional, lógica e resolução de problemas, conecta talentos com oportunidades de formação em tecnologia.
Além disso, oferece conteúdos complementares de português, matemática e redação, ampliando a base de conhecimento dos participantes e fortalecendo habilidades essenciais para o desenvolvimento pessoal e profissional.
Seu formato digital consegue levar o ensino a cidades e comunidades mais remotas, que possuem infraestrutura educacional limitada, derrubando barreiras geográficas e sociais, por meio de cursos de tecnologia com trilhas formativas específicas para o desenvolvimento de competências digitais.
“Acreditamos que o talento está em todos os lugares. Com acesso à internet e apoio pedagógico, nossos alunos de outras regiões podem sonhar alto e conquistar seu espaço no setor de tecnologia”, afirma Mariana Monteiro, diretora executiva do Ismart.
Além da Academia Digital, o Ismart também mantém o programa Ismart Online, que atende hoje 1.560 alunos e, apoia 1.282 universitários presenciais e online (entre veteranos e calouros), muitos deles em instituições de prestígio no Brasil e no exterior. Os resultados comprovam a eficácia da proposta: em 2024, os alunos do Ismart atingiram média de 704 pontos no ENEM, quase 30% acima da média nacional (546).
O Ismart – Instituto Social para Motivar, Apoiar e Reconhecer Talentos – é uma organização sem fins lucrativos que, desde 1999, amplia o acesso de jovens de baixa renda e alto desempenho acadêmico a oportunidades educacionais de excelência. Por meio de programas presenciais e digitais, o instituto oferece bolsas de estudo, orientação profissional, formação em competências socioemocionais e preparação para universidades de ponta no Brasil e no exterior. Mais de 8 mil alunos já passaram pelo Ismart, que acredita no poder da educação como motor de transformação social e aposta no talento como ferramenta de mudança para o futuro do país.”
Um estudo faz um alerta para a extensa e preocupante contaminação por plásticos na Amazônia, enfatizando seus riscos não somente em ambientes aquáticos e terrestres como seus potenciais danos à saúde humana, especialmente de populações vulneráveis. O estudo foi coordenado pelo Laboratório de Modelagem em Estatística, Geoprocessamento e Epidemiologia (LEGEPI), do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.
O objetivo foi explorar e sintetizar a literatura científica que avaliou a presença de poluição plástica (macro, meso, micro e nanoplástico) em diversos cenários ambientais na Amazônia, como fauna, flora, sedimentos e água.
Com um impacto ainda pouco dimensionado, a poluição por resíduos plásticos na Amazônia, desafia a ciência e levanta uma série de interrogações sobre seus riscos para diferentes formas de vida, incluindo comunidades ribeirinhas e indígenas, diariamente expostas a toneladas de lixo flutuante, descartadas não apenas por moradores de diferentes áreas urbanas e embarcações, mas, também, pelas próprias comunidades, contribuindo para que esse lixo atravesse cidades e países, até os oceanos.
O estudo foi publicado na Revista AMBIO, um periódico voltado para uma audiência global e que prioriza avaliações das interrelações entre ambiente e sociedade.
O epidemiologista da Fiocruz Amazôni, Jesem Orellana, explica que o estudo foi desenhado devido à inadiável necessidade de se encarar o problema, sobretudo em tempos de COP 30 na Amazônia, palco propício para a discussão de soluções e respostas contundentes à mitigação dos seus efeitos.
“O dia 14 de agosto de 2025 foi o prazo limite proposto pelas Nações Unidas para que cerca de 180 países concluíssem a elaboração do primeiro tratado global contra a poluição plástica. Por isso, o momento parece oportuno para discutir os intrigantes resultados desta revisão de escopo da literatura científica, a primeira a aplicar um protocolo sistemático (PRISMA-ScR) para avaliar a contaminação por plástico em ecossistemas amazônicos”, afirma.
Segundo Orellana, o impacto pode ser maior que o observado. “Revisamos 52 estudos, avaliados por pares, com uma gama de relatos sobre lixo e fragmentos de plástico em ambientes terrestres e aquáticos do bioma amazônico, o que indica um impacto muito maior do que a maioria das pessoas imagina”, afirmou o pesquisador, citando o resumo da pesquisa.
Crise global causada pela contaminação por plásticos
O artigo‘Plastic Pollution in the Amazon: the first comprehensive and structured scoping review‘, é fruto de uma parceria entre pesquisadores do Instituto Mamirauá e do ILMD/Fiocruz Amazônia, com coordenação do epidemiologista Jesem Orellana.
A bióloga e colaboradora do LEGEPI Jéssica Melo é a primeira autora da revisão que evidencia a presença de plástico do leste a oeste na Amazônia, tanto em ambiente aquático como terrestre, além da necessidade de mais pesquisas na área.
“A poluição por plástico é uma crise global de Saúde Única, mas estudos têm se concentrado em ambientes marinhos. A Amazônia – maior bacia hidrográfica do mundo e que tem o segundo rio mais poluído por plástico – tem recebido atenção científica limitada”, avalia a autora.
Distribuição geográfica de registros de lixo e fragmentos plásticos no bioma Amazônia. Imagem: Reprodução/’Plastic pollution in the Amazon: The first comprehensive and structured scoping review’
Ela enfatiza que nenhum estudo relatou presença de nanoplásticos na Amazônia, por exemplo, algo que vem ganhando mais atenção em outras regiões do planeta.
“A contaminação de fontes importantes de alimentos e de água representa um grande risco para a Saúde Única de populações tradicionais. Identificamos lacunas urgentes em pesquisas – especialmente em fauna não piscícola, tributários, áreas remotas e outros países amazônicos – e destacamos a necessidade de mitigação direcionada por meio da gestão de resíduos e educação”, observa.
Os autores do Instituto Mamirauá vivem em Tefé, no interior do Amazonas, e trabalham diretamente com comunidades ribeirinhas.
“As comunidades não têm infraestrutura para coleta de lixo. Antigamente, os resíduos eram majoritariamente orgânicos ou biodegradáveis — cascas de frutas, espinhas de peixe — mas, hoje, vemos garrafas PET e pacotes de macarrão instantâneo boiando nos rios, com frequência”, reforça.
“Enquanto cidades como Rio de Janeiro e Salvador avançam com proibições de alguns derivados de petróleo, como canudos de plástico e embalagens de isopor, não conheço nenhum município no interior do Amazonas que ofereça reciclagem de plásticos ou medidas para reduzir seu impacto. Precisamos de políticas públicas que ofereçam soluções concretas para o crescente acúmulo de lixo plástico na Amazônia, mas que levem em conta desafios cruciais, como o isolamento de muitas comunidades”, admitiu.
Carta assinada por indígenas Yanomamo foi entregue ao ministro Luis Roberto Barroso em Palimiú. Foto: Divulgação/Hutukara
Lideranças do povo Yanomami entregaram no dia 14 de setembro uma carta ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, em que alertam para a falta de um plano definitivo contra o garimpo e de assistência contínua e integral de saúde no território.
Barroso é relator da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 709, uma ação que tramita no STF e pede pela proteção dos indígenas e medidas para a retirada de garimpeiros da Terra Yanomami. O ministro cumpre agenda em Roraima para avaliar ações contra garimpo na região.
Na carta, assinada por ao menos 40 lideranças, os indígenas relatam as consequências da atividade ilegal no território, como doenças, contaminação por mercúrio, violência e impacto sobre mulheres e crianças. Além disso, alertam que sem medidas ininterruptas “tudo pode se perder”. O receio é o de que o ministro considere a ADPF 709 cumprida e a encerre.
Maior território indígena do Brasil, a Terra Yanomami está em situação de emergência desde o início do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As ações ocorrem em duas frentes: a retirada de garimpeiros e na oferta de atendimento de saúde ao indígenas que vivem na região que há décadas enfrenta ameaças dos invasores.
“Ainda há muito a ser feito. Nós ainda estamos sofrendo. O governo brasileiro não conseguiu estabelecer um plano definitivo de proteção da Terra Indígena Yanomami. Isso é extremamente perigoso, pois sabemos que, caso as ações governamentais se encerrem com o fim da ação judicial que as motivou, os invasores retornarão com ainda mais força, destruindo todo o trabalho construído pelo senhor e nós no grande esforço de segurar o céu”, cita trecho da carta.
O vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami, Dário Kopenawa, foi um dos que assinou o documento. Em reunião com o ministro e outras lideranças indígenas na comunidade Palimiú, ele reforçou que a proteção dos povos não é um favor, mas “é o que está garantido na Constituição”. “Estamos preocupados de você parar a ADPF 709”, disse.
A carta destacou os seguintes problemas:
Falta de um plano definitivo de proteção territorial: Indígenas afiram que o governo fderal ainda não conseguiu estabelecer um plano definitivo de proteção da Terra Indígena Yanomami, com ações de médio e longo prazo, e não há treinamento de profissionais de saúde para atender comunidades;
Presença de garimpeiros: Citam que apesar das operações pontuais, há um retorno gradual de garimpeiros em regiões como Parafuri, Xitei e Apiaú, com invasores próximos às comunidades e persistência de voos clandestinos na região de Auaris, na fronteira com a Venezuela.
Malária e problemas na assistência à saúde: Mencionam que não existe um plano consistente de combate à malária, e as medidas adotadas não foram eficazes para enfrentar os altos índices da doença.
Na manhã da segunda (15), o ministro disse que ainda não leu a carta, mas disse deve olhar com calma. “Ainda não consegui saber o teor da carta. Sei que as preocupações são com malária, por exemplo. Nós determinamos, na ação que sou o relator, a reativação da política de saúde indígena, e acho que isso tem sido bem-sucedido”, disse Barroso.
Em nota, a Casa Civil da presidência informou o “Governo do Brasil conduz uma resposta inédita, ampla e estruturante à crise humanitária e ambiental na Terra lndígena Yanomami.”
“Coordenada pela Casa de Governo em Boa Vista, a força-tarefa integra mais de 20 órgãos, garante presença permanente do Estado e, desde 2024, realizou mais de 7 mil operacões, reduzindo em 98% a presença de garimpeiros e impondo quase R$ 500 milhões em prejuízos à atividade criminosa”, citou a nota, acrescentando que as “ações de controle e fiscalização são continuas.”
Barroso na Terra Yanomami
O ministro Barroso chegou a Boa Vista na tarde desse domingo (14). Ele foi recebido pelo xamã Davi Kopenawa e pela presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas, Joenia Wapichana, na Base Aérea de Boa Vista. Depois, seguiu para a comunidade Palimiú, onde se reuniu com os indígenas.
Na reunião, ele disse que retirada de invasores e garimpeiros da região foi uma medida “em respeito aos povos indígenas” e também de “interesse da humanidade”.
Foto: Reprodução
“Hoje é um dia para nós comemorarmos o fato de que conseguimos retirar quase a totalidade dos invasores de toda a extensão da Terra Yanomami. Foi isso que nós pudemos fazer em respeito aos direitos de vocês e em nome do Estado brasileiro”, declarou Barroso em discurso feito aos indígenas.
O ministro destacou ainda a importância da floresta amazônica para o mundo e o papel das comunidades indígenas na preservação ambiental. Na manhã desta segunda, ele se reuniu com representantes do governo federal na Casa de Governo.
Em um ano do Projeto de Caracterização e Monitoramento de Cetáceos (PCMC/PAMA-FZA), os monitoramentos de praia realizados pelos parceiros ambientais da TGS, empresa de pesquisa que vem fazendo levantamentos geológicos na Margem Equatorial, percorreram 8.537,3 km. Essa distância abrange o litoral do Amapá, na região Norte, até a divisa do Piauí com o Ceará, no Nordeste, sendo maior que a distância de ida e volta do Oiapoque (AP) ao Chuí (RS), que é de 4.180 km em linha reta.
Além disso, foram percorridos 1.911,99 km em rios, reentrâncias e igarapés através de monitoramentos embarcados, que alcançam áreas de difícil acesso por terra.
Nesse período, o projeto atendeu mais de 600 animais aquáticos como aves, tartarugas, peixes-boi, baleias e golfinhos, em suas atividades de monitoramento, uma média de aproximadamente dois animais por dia.
No Pará, o projeto tem monitorado e fortalecido a proteção da fauna marinha, possibilitando o registro de ocorrências de animais, a identificação de padrões de encalhes, a resposta ágil a situações de risco e o encaminhamento de animais debilitados para reabilitação e posterior soltura na natureza.
Renata Emin, bióloga e presidente do Instituto Bicho D’água, que monitora as praias do Pará, do leste da Ilha do Marajó até Salinópolis, explica que o monitoramento constante permite identificar e resgatar animais mais rapidamente e, ao mesmo tempo, aumentar o conhecimento sobre a biodiversidade da região.
“O monitoramento das praias é uma etapa de extrema importância para a ampliação do conhecimento sobre a biodiversidade local e o meio ambiente, contribuindo para ações de conservação e levantamentos futuros. Cada encalhe, ainda que de um animal morto, é importante para aumentarmos o conhecimento sobre a biodiversidade da região”, afirma a bióloga.
O Instituto BioMA, que também atua no Pará, realiza o monitoramento embarcado de Salinópolis até a divisa com o Maranhão. Angélica Rodrigues, bióloga e pesquisadora do Instituto BioMa, destaca a importância do monitoramento embarcado: “A região Norte possui extensas áreas costeiras com acesso limitado, muitas vezes apenas por via fluvial ou marítima. O monitoramento embarcado permite alcançar essas regiões remotas”. Segundo ela, isso aumenta a vigilância costeira, inclusive com o uso de monitores locais.
Legado do projeto para as regiões Norte e Nordeste
A realização do Projeto de Caracterização e Monitoramento de Cetáceos é uma exigência do IBAMA estabelecida em um processo de licenciamento ambiental de uma atividade de pesquisa sísmica marítima desenvolvida pela TGS na região oceânica das Bacias Sedimentares Marítimas da Foz do Amazonas e Pará-Maranhão.
Para André Favaretto Barbosa, analista ambiental do IBAMA, o projeto viabilizou recursos importantes para apoiar as instituições locais na estruturação de instalações perenes, necessárias para o atendimento à fauna-alvo do projeto.
“Dentre eles, a construção de um centro de reabilitação de animais marinhos no Pará, e de um semi-cativeiro de aclimatação pré-soltura de peixes-boi em Soure, na Ilha do Marajó, acelerarão o ritmo de devolução de animais aptos à natureza, reduzindo a superlotação das instalações disponíveis até então”, destaca.
Foto: Divulgação/Instituto Bicho D’água
João Correa, country manager da TGS no Brasil, destaca que as ações ambientais da companhia na Margem Equatorial, para além do monitoramento de praias, resgate e reabilitação de espécies, vem viabilizando o desenvolvimento de estudos, a geração de conhecimento técnico-científico, atividades de sensibilização e educação ambiental e a capacitação de profissionais não só nas equipes dos parceiros ambientais, mas nas comunidades locais.
“É motivo de orgulho para a TGS o trabalho desenvolvido junto a parceiros ambientais, sociedade e comunidades tradicionais ao longo dos mais de 3 mil quilômetros que se estendem do Amapá ao Ceará. Este é um trabalho muito importante, realizado em parceria com a sociedade local, e que vai deixar um legado de preservação, conscientização e conhecimento que será utilizado durante muitos e muitos anos”, conclui.
O Tocantins registrou redução de 27,7% nos focos de queimadas e de 28,7% na área queimada entre janeiro e julho de 2025, em comparação ao mesmo período de 2024. Os dados são da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), por meio do Centro de Inteligência Geográfica em Gestão do Meio Ambiente (Cigma), divulgados no Boletim Mensal do Fogo nº 9/2025.
De acordo com o Governo do Tocantins, a diminuição é resultado de ações estratégicas implementadas, como o Plano Integrado de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais 2025, que recebeu investimento de R$ 17.195.620,45.
Além disso, o governador Wanderlei Barbosa assinou, em 20 de agosto, contrato com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no valor de R$ 44.994.287,00, por meio do Fundo Amazônia. Os recursos serão destinados ao fortalecimento do Corpo de Bombeiros Militar do Tocantins (CBMTO), ampliando a capacidade operacional de prevenção e combate às queimadas e aos incêndios florestais em todo o estado.
O governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa, destaca que a redução dos focos de queimadas reflete o compromisso da gestão estadual com a preservação ambiental.
“A redução das queimadas no Tocantins é uma conquista de todos nós. Esse resultado é fruto de planejamento, de investimentos importantes e, principalmente, da união de esforços entre os órgãos do Governo e a sociedade. Esse trabalho vai continuar e será cada vez mais firme, porque cuidar do nosso estado é a nossa prioridade”, afirma o chefe do Executivo.
O secretário de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), Marcello Lelis, comemorou os resultados positivos no combate às queimadas no Tocantins.
“É um avanço comemorarmos essa redução dos índices de incêndios em relação a 2024 e é muito importante ressaltarmos que isso se deve à determinação do governador Wanderlei Barbosa de construir o maior Plano de Combate ao Fogo da história do Tocantins, envolvendo a Semarh, o Corpo de Bombeiros e o Naturatins. Além disso, outros órgãos, como a Seplan [Secretaria de Estado do Planejamento e Orçamento], também participaram, contribuindo com o envio de veículos. É importante destacar também a força da educação ambiental, especialmente com o projeto Foco no Fogo”, reforça o secretário da Semarh.
O monitoramento das queimadas no estado é realizado pelo Centro de Inteligência Geográfica em Gestão do Meio Ambiente (Cigma), da Semarh, que reúne cálculos comparativos da área queimada com dados do Monitor do Fogo do MapBiomas, além de registros de focos de incêndio do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Redução de focos de queimadas
Entre janeiro e julho de 2025, o Tocantins registrou 3.998 focos de queimadas, contra 5.533 no mesmo período de 2024, representando uma queda de 27,7%. A redução manteve-se consistente ao longo dos sete meses analisados, com quedas percentuais mensais variando entre 4,6% e 62,3%. No último mês, apesar de ter concentrado o maior número de focos do período, observou-se uma diminuição de 28,5% em relação a julho de 2024.
Do total de ocorrências registradas, a maior parte correspondeu a queimadas não autorizadas, com 54,3% (2.172 focos), seguida pelos incêndios florestais, que representaram 8,7% (349 focos). As ações autorizadas incluíram as queimas prescritas, com 22,4% (896 focos); e as queimas controladas, que somaram 14,5% (581 focos).
Redução na área queimada
A área queimada reduziu de 656,6 mil hectares entre janeiro a julho de 2024 para 468 mil hectares no mesmo período de 2025, uma redução de 28,7%. Dessa área, 5,1% (24 mil hectares) correspondem a queima controlada; 49,8% (233 mil hectares) a queima prescrita; e 45,1% (211 mil hectares) a queima não autorizada.
A redução, constatada a partir do Programa Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Monitor do Fogo do MapBiomas, foi registrada tanto no número de ocorrências quanto na extensão territorial.
Foto: Luiz Henrique Machado/Governo do Tocantins
Atuação do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil
A redução nos focos de queimadas em 2025 é resultado de medidas coordenadas pelo Governo do Tocantins. Entre as iniciativas, destacam-se o projeto Foco no Fogo, a formação de brigadas e a intensificação das orientações para a comunidade, por meio de ações em escolas e campanhas em mídias institucionais.
“O Corpo de Bombeiros e a Defesa Civil Estadual também assinaram Termos de Cooperação Técnica com 131 dos 139 municípios tocantinenses, garantindo a contratação e a capacitação de brigadistas municipais. Investimos de R$ 7 a 8 milhões para contratação de brigadistas, compra de EPIs [Equipamentos de Proteção Individual] e de combate”, explica o comandante-geral do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Tocantins, coronel Peterson Queiroz de Ornelas.
A partir da Portaria nº 23 de 2025, o Corpo de Bombeiros Militar instituiu a Sala de Crise, um centro de comando que integra os líderes das operações e centraliza as decisões estratégicas. Esse espaço garante que cada ação, desde a prevenção até a resposta em campo, seja planejada de forma integrada, tornando a união das forças mais ágil e eficiente.
A Defesa Civil desempenha papel importante na prevenção e no gerenciamento desses incêndios, atuando na formação de brigadas municipais e estaduais e realizando a gestão de riscos e desastres de forma integrada com o Comitê do Fogo e demais parceiros em âmbitos municipal, estadual e federal.
Plano Integrado de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais
Com investimento superior a R$ 17 milhões, o Governo do Tocantins lançou, em maio deste ano, o Plano Integrado de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais, desenvolvido em parceria entre a Semarh, o Corpo de Bombeiros Militar (CBMTO) e o Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins). O Plano é estruturado em três eixos: prevenção, monitoramento e combate; e tem como objetivos fortalecer as ações de preparação e ampliar a estrutura e a capacidade operacional dos órgãos responsáveis, bem como intensificar a responsabilização por crimes ambientais.
Dados são da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), por meio do Centro de Inteligência Geográfica em Gestão do Meio Ambiente (Cigma). Foto: Marcel de Paula/Governo do Tocantins
Foco no Fogo
Criado em 2020, o Foco no Fogo realiza trabalhos em territórios propensos às queimadas, alertando a população sobre os riscos e os prejuízos causados pelas queimadas irregulares, bem como pelos incêndios florestais.
A iniciativa tem como objetivos principais promover a educação ambiental e conscientizar os proprietários rurais sobre os riscos e os prejuízos das queimadas e ganha ainda mais força ao unir, de forma simultânea, palestras em escolas e visitas técnicas às propriedades rurais com histórico de focos de incêndio. A proposta é envolver diretamente tanto quem produz no campo quanto os estudantes, que representam o futuro das decisões ambientais no Tocantins.
Em 2025, o Foco no Fogo realizou 2.541 visitas e promoveu 48 eventos/palestras, totalizando 2.589 ações educativas, atingindo diretamente 15.739 pessoas em 59 municípios tocantinenses. Caseara, Angico e Esperantina foram os municípios com maior número de ações realizadas.
Orientação à população
O Governo reforça que a participação da população é essencial para reduzir os focos de calor. Os canais para denúncia incluem o Linha Verde do Ibama (0800 61 8080), o telefone 193 do Corpo de Bombeiros, 199 da Defesa Civil e a Ouvidoria-Geral do Estado (162).
A Amazônia é o maior bioma do país. Com 421 milhões de hectares, ocupa quase metade (49,5%) do território brasileiro. Entre 1985 e 2024 foram perdidos 52 milhões de hectares (-13%) de área de vegetação nativa. É o que mostram os mais recentes dados sobre a Amazônia da Coleção 10 do MapBiomas de mapas anuais de cobertura e uso da terra do Brasil.
O levantamento, feito a partir da análise de imagens de satélite, mostra que essa supressão incidiu principalmente sobre formações florestais, que perderam quase 50 milhões de hectares (49,1 milhões) de área nos últimos 40 anos. Em 2024, último ano da série histórica do MapBiomas, a vegetação nativa cobria 81,9% do bioma; 15,3% são ocupados por uso antrópico.
“A Amazônia brasileira está se aproximando da faixa de 20% a 25% prevista pela ciência como o possível ponto de não retorno do bioma, a partir do qual a floresta não consegue mais se sustentar”, diz Bruno Ferreira, do MapBiomas.
“Já podemos perceber alguns dos impactos dessa perda de cobertura florestal, como nas áreas úmidas do bioma. Os mapas de cobertura e uso da terra na Amazônia mostram que ela está mais seca”, completa.
Somando a superfície coberta com água, floresta alagável, campo alagável, apicum e mangues, houve uma retração de 2,6 milhões de hectares entre 1985 e 2024. Esses dados mostram que 8 dos 10 anos mais secos, incluindo a classe de superfície de água, foram registrados na última década. No ano passado, as áreas úmidas ocupavam 59,6 milhões de hectares.
As imagens de satélite também mostram como a antropização da Amazônia é recente: 83% da área antropizada no bioma ocorreu entre 1985 e 2024. Somando todos os usos antrópicos da terra, eles aumentaram 471% (+57 milhões de hectares) nas últimas quatro décadas.
Nesse período, houve um avanço de 43,8 milhões de hectares de pastagem – o uso antrópico que mais se expandiu. As pastagens passaram de 12,3 milhões de hectares em 1985 para 56,1 milhões de hectares em 2024 – um crescimento de 355%.
Em termos percentuais, porém, a expansão mais expressiva foi da silvicultura, que passou de 3,2 mil hectares em 1985 para 352 mil hectares em 2024 – um aumento de mais de 110 vezes em 40 anos. A área de agricultura, por sua vez, cresceu 44 vezes (4.321%), passando de 180 mil hectares (1985) para 7,9 milhões de hectares (2024). Nos últimos anos, a mineração vem ganhando relevância, passando de 26 mil hectares em 1985 para 444 mil hectares em 2024.
Floresta Amazônica – Região Sudoeste Paraense – Fotos Bruno Cecim – Ag.Pará
Três em cada quatro hectares convertidos para agricultura (74,4%) são ocupados por lavouras de soja, que tiveram expansão significativa na Amazônia. Elas ocupavam 5,9 milhões de hectares em 2024. A maior parte dessa área (4,3 milhões de hectares) foi convertida após 2008, data de assinatura da moratória da soja. Porém, de lá para cá, a conversão direta de formação florestal para soja reduziu em 68% (769 mil hectares). Após 2008, a soja cresceu principalmente em áreas já abertas de pastagem (+2,8 milhões de hectares, ou +1047%) e de agricultura (+1 milhão de hectares / +2708%).
Rondônia destaca-se como o estado de maior conversão de vegetação nativa em pastagens, que passaram de 7% de seu território, em 1985, para 37% em 2024. Rondônia é também o estado com menor proporção de vegetação nativa na Amazônia (60%), à frente de Mato Grosso (62%), Tocantins (65%) e Maranhão (67%). Rondônia também integra a região conhecida como AMACRO, que inclui também o Acre e o Amazonas. Em 40 anos, 14% da perda líquida de vegetação nativa da Amazônia ocorreu nessa região. Nesse período, a área de pastagem aumentou 11 vezes na região: um ganho de 6,9 milhões de hectares. A maior perda se deu na última década, entre 2015 e 2024: 2,7 milhões de hectares.
Em 2024, 2% da vegetação nativa da Amazônia era secundária, ou seja, áreas que foram desmatadas anteriormente e que estão em processo de regeneração da vegetação nativa. No ano passado elas totalizaram 6,9 milhões de hectares no bioma. Esse tipo de vegetação não é a mais desmatada: em 2024, 88% do desmatamento na Amazônia aconteceu em áreas de vegetação primária; apenas 12% foram em vegetação secundária.
As línguas indígenas têm ganhado maior visibilidade nacional e internacional, por meio da música e de artistas que unem ancestralidade e inovação sonora. Na região da Amazônia Internacional, que abrange os países Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e a Guiana Francesa, algumas cantoras indígenas têm se destacado por compor e se apresentar em seus idiomas nativos.
A comunicadora e antropóloga Mari Sanefuji (Marisanefuji) fez uma curadoria com indicações de artistas indígenas que inserem línguas nativas de seus locais de origem nas suas músicas. O Portal Amazônia separou as indicações de Mari que fazem parte da Amazônia Internacional. Confira:
1. Renata Flores (Peru)
Natural de Ayacucho, no Peru, a cantora e compositora Renata Flores é uma das principais representantes da música indígena na América do Sul. Renata ficou conhecida em 2015 após viralizar com uma versão em língua quechua da música ‘The Way You Make Me Feel’, de Michael Jackson, e desde então sua trajetória tem sido marcada pela fusão de ritmos indígenas com gêneros urbanos como o trap e o hip-hop.
A língua quechua é falada por mais de 12 milhões de pessoas em países como Peru, Bolívia, Equador, Colômbia, Chile e Argentina, e é considerada o idioma indígena mais falado da América do Sul.
A língua quechua é predominantemente uma língua de tradição oral, ou seja, o idioma não tem forma escrita e é ensinado apenas em linguagem oral, exatamente como Renata aprendeu de sua avó, Adalberta.
Seu álbum de estreia, “Isqun” (2021), aborda temas como a resistência indígena, o empoderamento feminino e a conexão com os territórios ancestrais. Com forte presença visual, Renata mistura elementos tradicionais e contemporâneos em seus videoclipes, figurinos e apresentações.
2. Djuena Tikuna (Brasil)
Djuena Tikuna nasceu em Tabatinga, no Amazonas, e pertence ao povo Tikuna, uma das etnias mais numerosas da Amazônia. A artista iniciou sua trajetória no grupo musical Magüta, fundado com seus irmãos em Manaus, e desde então tem construído uma carreira dedicada à valorização da cultura tikuna.
Em 2017, Djuena lançou seu primeiro álbum solo, ‘Tchautchiüãne’, que significa o sentimento de pertencer a uma aldeia maior em que todos somos parentes. O trabalho foi indicado ao Indigenous Music Awards, principal premiação de música indígena do mundo, sediada no Canadá.
Foto: Diego Jatanã
Ela canta exclusivamente na língua tikuna, falada por cerca de 40 mil pessoas na região do Alto Solimões.
Djuena foi a responsável por apresentar o hino nacional em língua Tikuna na abertura das Olimpíadas de 2016, reforçando o reconhecimento da diversidade cultural brasileira em um dos maiores eventos esportivos do mundo.
Alwa é uma artista boliviana, nascida em El Alto, cidade vizinha a La Paz e reconhecida como a primeira rapper aymara. A cantora ganhou repercussão por suas composições bilíngues em espanhol e aymara, língua falada por cerca de 2 milhões de pessoas na Bolívia, Peru, Chile e Argentina.
Foto: Reprodução/Instagram-Alwa
A cantora adota uma estética que valoriza a cultura aymara, com trajes tradicionais como saias rodadas e tranças longas, típicas das cholitas bolivianas. Além disso, suas letras tratam de temas como a desigualdade social, o racismo e o papel de mulheres indígenas na sociedade.
Seu videoclipe ‘Principio sin fin’ representa uma combinação entre a música urbana e os instrumentos andinos tradicionais, como a zampoña (flauta de pan) e o charango (instrumento de cordas).
A cantora, compositora, atriz, escritora e ativista Kaê Guajajara, nasceu no Maranhão e foi criada na favela da Maré, no Rio de Janeiro. A cantora que pertence ao povo Guajajara, é uma das principais representantes da Música Popular Originária no Brasil.
Embora suas músicas sejam em sua maioria cantadas em português, Kaê frequentemente incorpora palavras e expressões da língua Guajajara em suas composições.
Foto: Daniela Dacorso
Suas letras abordam o apagamento cultural, a violência contra os povos indígenas e a luta por direitos. Entre suas músicas de maior destaque estão ‘Território Ancestral’, ‘Mãos Vermelhas’ e ‘Liberdade’.
Além disso, seus trabalhos também envolvem ativismo político e cultural, tornando-a uma referência para uma nova geração de artistas indígenas que atuam dentro e fora dos territórios originários.
O pesquisador Dzoodzo Baniwa receberá o Prêmio Fundação Bunge em 23 de setembro, em São Paulo (SP). Foto: Divulgação/Fundação Bunge
Educador, pesquisador e liderança indígena do povo Baniwa, Dzoodzo Baniwa (Juvêncio da Silva Cardoso) é um dos cientistas laureados com o Prêmio Fundação Bunge 2025, na categoria ‘Vida e Obra’, pelo tema “Saberes e práticas dos povos tradicionais e sua importância para a conservação dos recursos naturais”.
Inspirada no Nobel, a premiação que completa 70 anos em 2025 condecora personalidades que contribuem de forma significativa para o desenvolvimento social, cultural e científico do Brasil. No caso de Dzoodzo, o reconhecimento se dá pela sua atuação como defensor da educação escolar indígena para os povos Baniwa e Koripako e da troca de saberes entre a ciência tradicional e os conhecimentos ancestrais de seu povo.
Dzoodzo reside na aldeia Santa Isabel do rio Aiari, que integra a Terra Indígena Alto Rio Negro, no Amazonas. Nascido na década de 1980, Dzoozo acompanhou de perto o início da educação escolar no território, a partir da chegada, naquele período, da missionária Sophia Müller.
“Esse momento marcou o início de uma nova era para o povo Baniwa. Com a Sophia, chegou também à educação escolar escrita, porque a educação indígena, oral, já existia. Entrar em contato com o mundo letrado foi muito significativo para a nossa cultura, não só na questão de ler materiais produzidos fora do território, mas também de internalizar essa escrita para sistematizar e registrar os conhecimentos do território, para que fosse possível dialogar com os conhecimentos de outros povos”, explica.
Foi naquela mesma época que os indígenas da região se organizaram pela defesa de sua terra e seus direitos. “O meu povo era conhecido de recente contato, escolarização também e, por essa dificuldade, o território sofreu com invasão garimpeira. Aí, em 1987, se organizou na Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), para lutar pelos direitos, pela saúde, pela educação indígena no território”, lembra o pesquisador.
Formação do pesquisador
Licenciado em física intercultural pelo Instituto Federal do Amazonas (IFAM) e mestre em Ensino de Ciências Ambientais do Programa Mestrado Profissional em Rede Nacional para Ensino das Ciências Ambientais, associado à Universidade Federal do Amazonas (PROFCIAMB/UFAM), o educador e pesquisador iniciou sua carreira como estudante do Ensino Fundamental II na Escola Indígena Baniwa e Coripaco (EIBC) da Pamáali, a primeira de seu território.
A experiência na EIBC despertou nele a paixão pela educação e a vontade de conectar os saberes ancestrais de seu povo com os conhecimentos científicos.
“Desde a vida escolar, participei de projetos sociais, visitando e escutando as comunidades sobre seus desafios. Então sempre cresci pensando nessas possibilidades. Quando me formei no Ensino Fundamental, minha escola já permitia esse diálogo entre saberes locais e conhecimentos científicos”, relembra o pesquisador.
Ao longo de sua trajetória, Dzoodzo visitou centros de pesquisa e se tornou técnico indígena em psicultura no Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Peixes Continentais (CEPTA), do ICMBio, em São Paulo. E foi nessa caminhada que pôde ver e vivenciar a riqueza do diálogo entre o conhecimento científico e os conhecimentos locais de seu povo.
“Me tornei o primeiro técnico indígena, sem titulação, mas com prática no laboratório de psicultura, realizando produção artificial de peixes. Nesse processo, pude utilizar o conhecimento científico, com medição de dosagem, hormônio, temperatura, matemática, química, com as espécies de peixes locais e as narrativas sobre os peixes do meu território”, conta o pesquisador.
Sobre esse uso dos saberes e narrativas ancestrais na ciência, ele explica como se dá o trabalho dentro de uma escola indígena.
“No meu território não tem energia elétrica. Então, como trato a eletricidade? Nas nossas narrativas mitológicas, existe, por exemplo, a narrativa do fogo. E o que que significa trabalhar com fogo, eletricidade, no contexto de hoje? É nessa perspectiva que a gente trabalha, com um processo de ensino-aprendizagem muito mais abrangente. Precisamos compreender e agir em cima do contexto local, não só no aspecto escolar, mas também da aldeia, do território, da evolução cultural do povo”.
Foto: Divulgação/Fundação Bunge
Agir, segundo o pesquisador, é buscar soluções criativas e promover a educação com base em diálogos intersetoriais para lidar com os desafios existentes no território.
Como bem lembra Dzoodzo, na cultura indígena, não há desmatamento nem emissão de gases do efeito estufa, mas os territórios também sofrem com os impactos da emergência climática. Por isso, uma atuação conjunta é fundamental.
“Tanto a cultura indígena quanto a ciência em si têm uma relação de interdependência atualmente. Saberes indígenas dependem da metodologia científica para que sejam reconhecidos e validados. Assim como os não-indígenas dependem de conhecimentos milenares, indígenas, para corroborar ou negar suas percepções. Unir esses conhecimentos nos ajuda a compreender essa relação de multiversalidade, sob diversas perspectivas, sem compartimentar tanto as coisas. Por isso a importância da inclusão da presença dos indígenas nesses espaços”, afirma.
Hoje, Dzoodzo Baniwa, além de educador e pesquisador, afirma carregar a responsabilidade de ser um tradutor intercultural, que conecta os saberes ancestrais com o conhecimento científico.
“Isso é importante não só para nós, indígenas, mas também para o benefício da humanidade. É importante que outros povos criem essa perspectiva, de abrir possibilidade de diálogo com as universidades e com a política pública. É nessa estrutura que se consegue construir uma sociedade mais inclusiva e diversa”, finaliza.
O Prêmio Fundação Bunge chega a sua 70ª edição neste ano com a responsabilidade de homenagear cientistas que se dedicam a estudos na área de emergências climáticas. Thieres George Freire da Silva, cientista da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), será agraciado na categoria Vida e Obra no tema “Gestão do risco climático na produção de alimentos”, por seus trabalhos relacionados aos impactos das mudanças climáticas e uso da terra. A pesquisadora Elizângela Aparecida dos Santos, da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), será agraciada na categoria Juventude, com pesquisadores de até 35 anos.
No tema “Saberes e práticas dos povos tradicionais e sua importância para a conservação dos recursos naturais”, Juvêncio da Silva Cardoso (Dzoodzo Baniwa), educador, pesquisador e liderança indígena do povo Baniwa, será agraciado na categoria Vida e Obra. Ygor Jessé Ramos dos Santos, baiano, negro e quilombola do distrito Acupe de Santo Amaro e professor do Departamento do Medicamento na Faculdade de Farmácia da Universidade Federal da Bahia (UFBA), receberá o prêmio na categoria Juventude.
A premiação tem como premissa que as indicações dos nomes dos cientistas sejam feitas por representantes das principais universidades e entidades científicas do país. Os currículos recebidos são avaliados por comissões técnicas independentes formadas por especialistas.
Mais de 200 personalidades brasileiras já receberam o Prêmio Fundação Bunge. Entre eles estão Mariangela Hungria, Adalberto Luis Val, Erico Veríssimo, Hilda Hilst, Jorge Amado, Lygia Fagundes Telles, Manuel Bandeira, Rachel de Queiroz, Marcelo Rubens Paiva, Oscar Niemeyer, Carlos Chagas Filho, Gilberto Freyre, Paulo Freire, Celso Lafer, Fernando Abrucio, além de Elisabete Aparecida de Nadai Fernandes e Durval Dourado Neto.