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Colheita de milho fortalece agricultura familiar indígena em Boa Vista

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Prefeitura de Boa Vista apoia todas as etapas do cultivo nas comunidades indígenas, do plantio à colheita. Foto: Diane Sampaio/PMBV

Marcada pelo trabalho coletivo, a colheita de milho seco nas comunidades indígenas representa um momento de importância cultural e alimentar. Diante dos benefícios da produção agrícola para as famílias, o apoio da Prefeitura de Boa Vista ocorre em todas as etapas do processo de cultivo, como plantio, preparação do solo, aquisição de sementes e insumos.

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Na comunidade indígena Lago Grande, localizada na região do Baixo São Marcos, as famílias agricultoras colheram cerca de 160 sacas de milho, com o apoio de técnicos agrícolas e colheitadeiras da prefeitura. De acordo com o prefeito Arthur Henrique, o município destina políticas públicas para a agricultura familiar e investe na sustentabilidade ambiental, social e econômica do município.

“Esse trabalho reforça o compromisso da nossa gestão em apoiar a agricultura familiar e valorizar as comunidades indígenas, que têm papel fundamental no desenvolvimento sustentável do nosso município. Com o incentivo da Prefeitura de Boa Vista garantimos não apenas o fortalecimento da produção local, mas também a geração de renda e segurança alimentar das famílias”, disse.

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Colheita de milho fortalece agricultura familiar indígena em Boa Vista
Neste ano, a produção nas áreas indígenas deve ultrapassar 600 toneladas de grãos. Foto: Diane Sampaio/PMBV

Superação de plantio e colheita

A prefeitura plantou 865 hectares de milho no município, sendo 105 hectares nas comunidades indígenas. A colheita já está em andamento e deve ser concluída na segunda quinzena de outubro. Neste ano, a produção nas áreas indígenas deve ultrapassar 600 toneladas de grãos, além de a área cultivada ter superado as expectativas dos produtores e técnicos de Boa Vista.

Com relação a produtividade observada nas áreas já colhidas, a marca alcançou índices iguais ou superiores a 6 toneladas por hectare, o que equivale a uma média de 120 sacas de 50 kg por hectare. Sidney Tavares, 2º tuxaua da comunidade Lago Grande afirma que o investimento da prefeitura tem proporcionado um aumento significativo na lavoura indígena.

“Há 30 anos, o nosso povo produzia tudo de forma manual, no machado e com enxada em mãos. Claro que o tamanho da área de produção era bem menor, mas hoje, a Prefeitura de Boa Vista olha com carinho para a comunidade e o nosso trabalho recebe apoio técnico e de alta tecnologia aqui dentro. Neste ano, a gente aumentou o plantio e a expectativa é ampliar cada vez mais”, destacou.

Mulheres protagonizam o campo e impulsionam o crescimento da produção agrícola. Foto: Diane Sampaio/PMBV

Mulheres no campo

Unindo força, cuidado e inovação no trabalho diário, as mulheres são protagonistas no campo, impulsionando a produção agrícola. Meirejane Lima, coordenadora das Mulheres Agricultoras da Comunidade Lago Grande, relata que o apoio da prefeitura tem proporcionado independência financeira para os produtores, além de incentivar as lavouras comandadas pelas mulheres.

“Os técnicos sempre veem nos acompanhando desde o início do plantio, com a adubação até agora, na colheita. A comunidade sempre esteve preocupada com a qualidade da produção e garantiu que o resultado fosse positivo. No início de tudo, a gente não sabia como trabalhar em grande proporção porque nós indígenas nunca tínhamos cultivado hectares. Era apenas um pedaço de linha, mas hoje, a realidade é outra”, apontou.

Idosos também participam. Nelcia Paixão, 73, marcou presença na colheita. Foto: Diane Sampaio/PMBV

Colheita envolve todas as idades

Essa prática fortalece a autonomia produtiva da comunidade e valoriza a agricultura sustentável, transmitida de geração em geração como parte essencial do modo de vida indígena. Durante a colheita, adultos, idosos, jovens e crianças participam ativamente do processo de colheita. Considerado dia de festa, as aulas das crianças são diferenciadas, pois todos são encaminhados para a lavoura, método para garantir a sucessão familiar.

Quem trabalhou por anos no campo também não ficou de fora, claro, agora em um ritmo mais lento, mas com muito a ensinar aos jovens. É o caso dos idosos que também são inseridos no processo. Nelcia Paixão, 73 anos, esteve a vida toda na roça e marcou presença na colheita. No rastro da colheitadeira, a idosa resgatou as espigas de milho que ficavam para trás e garantiu 100% de aproveitamento.

“Estou catando o milho para dar para as galinhas e para os porcos. Assim, a gente aproveita tudo e não estraga nada. Eu cresci trabalhando na roça. Desde que eu nasci, com a enxada nas mãos, fazendo farinha e tapioca. Agora eu estou velha e cansada e não tenho mais forças para trabalhar o dia todinho. Hoje, eu sou aposentada, mas meu dinheirinho não dá para comprar bastante comida para os animais”, contou.

Nova lei estimula geração de renda e inclusão digital de jovens amazonenses

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Foto: Herick Pereira

O Amazonas conta, a partir de agora, com uma nova lei voltada à transformação social por meio da tecnologia. De autoria do presidente da Assembleia Legislativa do Estado (Aleam), deputado Roberto Cidade (UB), a Lei Ordinária nº 7.715, de 17 de julho de 2025, institui diretrizes de incentivo ao empreendedorismo jovem no mercado digital, com prioridade aos jovens amazonenses em situação de vulnerabilidade.

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A legislação estimula a criação de oportunidades econômicas e profissionais para jovens entre 18 e 29 anos, com foco em capacitação tecnológica, inovação e acesso a novas formas de geração de renda no ambiente digital.

“Com esta lei, queremos preparar nossos jovens para os desafios e oportunidades do futuro, promovendo a inclusão digital, o protagonismo e a autonomia financeira. O empreendedorismo digital é um caminho concreto para reduzir desigualdades e fortalecer a economia do Amazonas”, destacou o deputado Roberto Cidade.

A norma define diretrizes para o desenvolvimento de incubadoras e aceleradoras digitais, a oferta gratuita de cursos de formação em tecnologia, gestão e inovação, além da criação de linhas de crédito com condições especiais para jovens empreendedores.

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Outro ponto de destaque é a criação de uma plataforma digital estadual, que servirá como vitrine para a divulgação e comercialização de produtos e serviços desenvolvidos pelos participantes do programa, estimulando o crescimento de negócios locais e o fortalecimento do ecossistema digital amazonense.

Roberto Cidade ressaltou que a iniciativa abre espaço para parcerias estratégicas entre o poder público, o setor privado, universidades e organizações da sociedade civil.

“O empreendedorismo digital é uma ferramenta de transformação social. Nosso papel, como representantes do povo, é garantir que os jovens do Amazonas tenham acesso a conhecimento, infraestrutura e oportunidades para prosperar nesse novo cenário econômico”, afirmou o presidente da Aleam.

O Projeto de Lei nº 91/2025 foi sancionado e transformado na Lei nº 7.715/2025 no dia 17 de julho de 2025.

Palmeiras são ‘caixas d’água’ da Amazônia, indica estudo

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Palmeira patauá (Oenocarpus bataua) em um baixio na Amazônia Central: espécie é a próxima em que pesquisadores vão instalar sensores para estimar armazenamento de água. Foto: Thaise Emilio/IB-Unesp

Uma das famílias de plantas mais abundantes na Amazônia, as palmeiras (Arecaceae) têm capacidade de armazenar duas vezes mais água do que as árvores dicotiledôneas – grupo de plantas como o ipê, o mogno e o eucalipto, com flores cujas sementes contêm dois cotilédones, que são as primeiras “folhas” do embrião e servem como fonte de alimento. A existência delas e de outras espécies de plantas associadas a climas úmidos, contudo, está ameaçada devido às mudanças que têm ocorrido no ciclo hidrológico da floresta amazônica.

As constatações têm sido feitas por meio de estudos conduzidos por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Rio Claro, no âmbito do Centro de Pesquisa em Biodiversidade e Mudanças Climáticas (CBioClima) – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDfinanciado pela FAPESP.

Alguns resultados preliminares dos trabalhos em andamento foram apresentados em palestra durante o Fórum Brasil-França “Florestas, Biodiversidade e Sociedades Humanas”, que aconteceu entre os dias 1º e 2 de outubro, no auditório da Fundação.

Organizado pelo Museu Nacional de História Natural (MNHN) da França, em Paris, pela Universidade de São Paulo (USP) e pela FAPESP, o objetivo do evento foi discutir a biodiversidade florestal, os ecossistemas e suas relações com as sociedades humanas, do passado e do presente.

“As palmeiras são grandes reservatórios ou caixas d’água da floresta”, disse Thaise Emilio, professora da Unesp, coordenadora do projeto e pesquisadora associada ao CBioClima.

A despeito de ser apenas uma entre 171 famílias de plantas arborescentes na Amazônia, diz a cientista, as palmeiras são extremamente dominantes na floresta, tanto no dossel como no sub-bosque.

Uma das hipóteses para explicar por que as palmeiras dominam a paisagem da floresta é que podem ter sido domesticadas pelas primeiras populações humanas que ocuparam e manejaram a Amazônia há milhões de anos.

“Há dúvidas, porém, se foram os humanos que enriqueceram a Amazônia com palmeiras ou se eles decidiram viver na floresta justamente por possuírem essas plantas tão abundantes e úteis, que têm grande importância econômica”, ponderou.

Aproximadamente 75% da produção brasileira de produtos florestais não madeireiros hoje é proveniente de palmeiras, sendo 50% só do açaí (Euterpe oleracea), sublinhou a pesquisadora.

Thaise Emílio, professora da Unesp, coordenadora do projeto e pesquisadora associada ao CBioClima: apesar de ser apenas uma entre 171 famílias de plantas arborescentes na Amazônia, as palmeiras são extremamente dominantes na floresta, tanto no dossel como no sub-bosque. Foto: Daniel Antônio/Agência FAPESP
Thaise Emílio, professora da Unesp, coordenadora do projeto e pesquisadora associada ao CBioClima: apesar de ser apenas uma entre 171 famílias de plantas arborescentes na Amazônia, as palmeiras são extremamente dominantes na floresta, tanto no dossel como no sub-bosque. Foto: Daniel Antônio/Agência FAPESP

Leia também: Da raiz aos frutos: conheça as palmeiras das populações amazônicas

Resistência à seca

Por muito tempo se pensou que as palmeiras fossem extremamente vulneráveis à seca em razão de sua arquitetura hidráulica. A fim de avançar no conhecimento sobre essa questão, a pesquisadora iniciou em 2017 uma colaboração com colegas do Soleil Síncrotron, de Paris, e da Universidade de Bordeaux, em que analisaram a resistência do xilema (tecido vascular responsável por transportar água e sais minerais das raízes para o resto da planta, especialmente para as folhas) de palmeiras à embolia induzida pela seca.

Esse quadro é caracterizado pela formação de bolhas de ar dentro dos vasos do xilema, interrompendo a coluna de água e o transporte do recurso hídrico e de nutrientes do solo para as folhas. Isso acontece quando o estresse hídrico (a falta de água) cria uma pressão negativa tão grande que a água líquida vira gás, prejudicando a função dos vasos e podendo levar à morte da planta.

Por meio de diferentes técnicas, os pesquisadores quantificaram a resistência à seca de seis espécies de palmeiras pertencentes às duas subfamílias mais amplamente cultivadas: a Arecoideae e a Coryphoideae.

As observações foram conduzidas em uma das linhas de feixe do Soleil Síncrotron – acelerador circular de partículas carregadas (elétrons) que gera uma radiação, chamada de luz síncrotron, que permite investigar a composição e a estrutura da matéria na escala dos átomos e das moléculas.

“Por meio das observações, constatamos que as palmeiras são vulneráveis à seca como qualquer outra angiosperma [plantas complexas que apresentam raiz, caule, folhas, flores, frutos e sementes] ou gimnosperma [plantas terrestres que possuem sementes, mas não produzem frutos]. Mas, diferentemente de outras plantas de regiões temperadas, elas têm mais água dentro dos troncos. Dessa forma, conseguem mobilizar mais água e isso acaba se tornando a estratégia mais importante para minimizar os riscos de embolia”, explicou Emilio.

Mais recentemente, ao monitorar, em parceria com colegas da Universidade de Edimburgo, na Escócia, a quantidade de água armazenada pelas palmeiras, os pesquisadores constataram que, enquanto as árvores dicotiledôneas armazenam, no máximo, 50% de seu volume de água, as palmeiras chegam a reter 70%, e durante as épocas secas reservam ainda mais do que nas estações chuvosas.

“Isso tem enormes impactos na biodiversidade da floresta amazônica, que ainda não são estimados”, disse a pesquisadora.

Ao realizar trabalhos de pesquisa de campo na floresta durante os períodos de seca é comum observar só palmeiras com frutos, contou.

“A gente vê que só elas dão frutos nessas épocas de seca. Isso é muito importante para manter a alimentação dos animais na floresta e dos humanos, que dependem desses recursos. E uma das hipóteses pelas quais elas são capazes de manter esse serviço durante períodos de seca é justamente porque têm esse funcionamento diferente de outras plantas, conseguindo armazenar mais água.”

Esse serviço ecossistêmico prestado pelas palmeiras, contudo, está ameaçado em razão do declínio da abundância de espécies de plantas associadas a climas úmidos, devido à intensificação do ciclo hidrológico, caracterizada por secas e estações chuvosas mais intensas. “Isso terá um impacto muito importante para a dinâmica da floresta”, estimou Emilio.

Em um estudo em andamento, os pesquisadores têm avaliado por meio de modelagem o risco de morte de palmeiras em diferentes ambientes – em regiões com lençóis freáticos mais rasos ou mais profundos – e em anos mais secos ou mais úmidos. Resultados preliminares indicaram que elas morreriam duas vezes mais do que outras árvores.

“A combinação de anos chuvosos e secos está causando uma mudança na dinâmica e nas características de regiões da floresta”, afirmou Emilio.

Parceria Brasil-França

O evento integrou a Temporada França-Brasil 2025, uma programação conjunta de atividades culturais, científicas e acadêmicas promovidas para marcar os 200 anos de relações diplomáticas entre os dois países.

O encontro reuniu cientistas, artistas, gestores públicos, profissionais de museus, estudantes e representantes da sociedade civil em conferências, mesas-redondas e debates, além de visitas institucionais.

“Esse evento é a segunda parte de um encontro realizado em junho deste ano em Paris, que integrou a programação da FAPESP Week na França. Nossa experiência naquela ocasião foi muito intensa e produtiva em diferentes áreas, incluindo aeronáutica e espacial, medicina, inovação, sustentabilidade, biodiversidade e museologia”, avaliou Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP, na abertura do evento (leia mais em: agencia.fapesp.br/54994).

Zago sublinhou que a Amazônia Legal ocupa aproximadamente 4 milhões de quilômetros quadrados (km²) do Brasil, uma área que corresponde a mais ou menos 40% do tamanho da Europa, mas que essa imensa floresta estende-se também ao território francês, da Guiana Francesa.

“Temos, pois, nós, brasileiros e franceses, uma responsabilidade compartilhada sobre essa floresta que é uma das maiores reservas da biodiversidade do planeta. Portanto, seu destino pode determinar, em grande parte, o destino da humanidade”, avaliou.

Da esquerda para a direita, Jônatas Trindade, subsecretário da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística de São Paulo, Maria Arminda do Nascimento Arruda, vice-reitora da USP, Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP, Alexandra Mias, consulesa-geral da França em São Paulo, Gilles Bloch, presidente do MNHN, e Flávia Teixeira, gerente de Meio Ambiente, Responsabilidade Social Corporativa e Transição Energética da Fundação Engie. Foto: Daniel Antônio/Agência FAPESP

O presidente do MNHN, Gilles Bloch, afirmou que “os desafios ambientais compartilhados pela França e pelo Brasil são muito sérios e a instituição está fortemente comprometida em trabalhar as questões de forma contundente”.

“Este fórum é bastante ambicioso e reforça a tradição de colaboração que existe entre nós e a USP. Todos os acordos que estamos celebrando nessa visita são uma grande honra para nós e vão facilitar a prática de ações e cooperação em um trabalho que precisa ser realizado em rede”, avaliou.

A vice-reitora da USP, Maria Arminda do Nascimento Arruda, anunciou em sua fala um projeto, atualmente em execução, de construção da Praça dos Museus da USP, que reunirá acervos dos museus de Zoologia (MZ-USP) e de Arqueologia e Etnologia (MAE-USP).

“No Brasil, os museus de história natural estão intimamente ligados ao surgimento da pesquisa científica no país. A Universidade de São Paulo tem acervos museológicos ímpares e coleções científicas e culturais entre as maiores do mundo. Temos um compromisso com nossos museus e esses acervos e, por isso, estamos construindo um novo espaço, com um projeto notável do grande arquiteto Paulo Mendes da Rocha [1928-2021]. Esse novo museu será uma referência para toda a cidade, para o país e para o mundo”, avaliou.

Também participaram da abertura do evento Alexandra Mias, consulesa-geral da França em São Paulo; Jônatas Souza da Trindade, subsecretário da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística de São Paulo; Flávia Teixeira, gerente de Meio Ambiente, Responsabilidade Social Corporativa e Transição Energética da Fundação Engie; o diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo (CTA) da FAPESP, Carlos Graeff; e o diretor administrativo da instituição, Fernando Menezes.

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência FAPESP, escrito por Elton Alisson  

Vestígio do maior dinossauro já encontrado no Maranhão conta com mais de 250 peças

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Imagem colorida mostra reprodução de possível dinossauro sauropodes. Imagem: Divulgação/Museu de Queensland

Em 2020, trabalhadores que atuavam em uma obra de terraplanagem no município de Davinópolis, no Maranhão, encontraram vestígios do maior dinossauro já encontrado, que mudariam o cenário da paleontologia no estado. Durante a preparação do terreno para a instalação de uma estrutura ferroviária, ossos fossilizados foram localizados e, diante da dimensão e peculiaridade do achado, equipes ambientais entraram em contato com especialistas.

A primeira coleta ficou sob responsabilidade do professor Elver Luiz Mayer, da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), que coordenava o Grupo de Estudos em Paleontologia do Instituto de Estudos do Xingu.

Leia também: Paleontólogos se unem no Pará para colaboração em estudo de fósseis de dinossauro gigante encontrado no Maranhão

O material foi recolhido com urgência e transferido ao Pará para evitar danos e permitir sua preservação. Estudantes de Ciências Biológicas iniciaram um minucioso trabalho de preparação, que envolveu a remoção de rochas incrustadas, catalogação e restauração de fragmentos. Mais de 250 peças foram recuperadas, muitas em estado fragmentado, o que transformou o processo em uma espécie de quebra-cabeça científico.

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Análises e relevância científica

As análises mostraram que os fósseis pertenciam a um dinossauro gigante do grupo dos saurópodes, conhecidos por seu porte avantajado, pescoço e cauda alongados e cabeça proporcionalmente pequena. Estimativas preliminares indicam que o animal poderia alcançar até 23 metros de comprimento, tornando-se o maior dinossauro já identificado no Maranhão.

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Vista aérea do momento em que equipe identificou ossada do dinossauro no interior do Maranhão. Foto: Giovani T. Viecili/Amai Fotografia

Outro aspecto relevante é a idade do material. As rochas onde os fósseis foram encontrados datam do Cretáceo Inferior, com idade estimada entre 100 e 125 milhões de anos. A maior parte dos fósseis de dinossauro encontrados no Brasil provém do Cretáceo Superior, o que torna a descoberta ainda mais significativa para os estudos sobre a fauna pré-histórica do território nacional.

O processo de análise incluiu medições detalhadas, registros fotográficos, criação de modelos virtuais e comparações com outros espécimes já descritos. A pesquisa contou com a colaboração de especialistas de diferentes instituições, como o professor Manuel Alfredo Medeiros, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), e o paleontólogo Julian Cristian Gonçalves da Silva Junior, pós-doutorando da Universidade Estadual Paulista (Unesp).

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Pesquisas em andamento e perspectivas futuras

Os fósseis do dinossauro de Davinópolis têm se tornado objeto de estudos contínuos, envolvendo técnicas modernas de digitalização em 3D e comparações em bancos de dados internacionais. Esses métodos auxiliam na compreensão do parentesco evolutivo do animal em relação a outros saurópodes encontrados no Brasil e em outros continentes.

Foto: Reprodução/ Unifesspa

De acordo com os pesquisadores, o esforço conjunto entre Unifesspa, UFMA, Unesp e USP tem permitido não apenas aprofundar o conhecimento sobre a espécie, mas também incentivar a formação de novos pesquisadores.

Para eles, o achado é considerado um marco para a paleontologia maranhense e reforça o potencial do estado para novas descobertas. Até então, os principais registros fósseis no Maranhão estavam concentrados em áreas mais ao norte, mas a descoberta em Davinópolis aponta que outras regiões do interior também podem guardar importantes vestígios pré-históricos.

Exposição em São Luís

Imagem colorida mostra exposição dos ossos de dinossauro
Foto: Elver Luis Mayer

Com o avanço das pesquisas, parte do material retornou ao Maranhão e foi incorporado ao acervo do Centro de Pesquisa de História Natural e Arqueologia, localizado na Rua do Giz, no Centro Histórico de São Luís. Está aberta ao público a exposição que apresenta tanto fósseis originais quanto réplicas, além de painéis explicativos sobre o processo de escavação, análise e preservação.

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Segundo a paleontóloga Agostinha Araújo Pereira, responsável pelo setor de paleontologia do centro de pesquisa, a exposição busca aproximar a população maranhense de seu patrimônio científico e destacar a relevância da região nos estudos da pré-história. Para o professor Manuel Medeiros, da UFMA, que também trabalha com o acervo, a mostra tem importância pedagógica, contribuindo para a formação de estudantes e pesquisadores.

A exposição está disponível por tempo indeterminado e pode ser visitada por moradores e turistas. Além de promover o acesso à ciência, a mostra reforça a importância da preservação do patrimônio fossilífero brasileiro e consolida o Maranhão como referência no estudo de dinossauros.

Estudo mostra que café robusta de Rondônia captura mais carbono do que emite

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Foto: Janderson Dalazen

O café robusta produzido na região das “Matas de Rondônia” sequestra 2,3 vezes mais carbono da atmosfera do que emite durante o cultivo. A conclusão é de um estudo realizado pela Embrapa em 2024 e divulgado neste ano.

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As Matas de Rondônia são uma área de Indicação Geográfica que reúne 15 municípios produtores, como Cacoal, São Miguel do Guaporé e Seringueiras. A região concentra mais da metade da produção do estado.

A pesquisa analisou 250 propriedades que cultivam o café robusta em Rondônia. Foi descoberto que cada hectare emite, em média, 2,9 mil quilos de gás carbônico (CO₂) por ano. Por outro lado, essas mesmas lavouras conseguem “puxar” da atmosfera cerca de 6,8 mil quilos de CO₂ por hectare, guardando esse carbono dentro das plantas. Ou seja, elas retiram mais do que emitem.

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No fim das contas, segundo a pesquisa, cada hectare de café robusta deixa um saldo positivo de 3,8 mil quilos de carbono por ano.

Segundo o pesquisador da Embrapa, Enrique Anastácio Alves, práticas sustentáveis trazem benefícios não só para o meio ambiente, mas também para a qualidade da lavoura.

“Cobertura verde, manejo adequado e sistemas arborizados ajudam a criar um microclima positivo, reduzem o estresse das plantas, conservam água, aumentam a matéria orgânica e favorecem a ciclagem de nutrientes”, explica.

Além disso, o pesquisador ressalta que, embora o carbono capturado retorne à atmosfera quando a planta morre ou é cortada, as plantas envelhecidas podem ser utilizadas como lenha na torra do café. Isso substitui combustíveis fósseis e contribui para manter um balanço positivo de carbono.

O biólogo Marcelo Ferronato, presidente da ONG Ecoporé, destaca que, mesmo sequestrando menos carbono do que uma floresta nativa madura, o café robusta amazônico ainda representa um avanço importante para a sustentabilidade agrícola.

“Um hectare de café sequestra cerca de 6,8 toneladas de CO₂ por ano, enquanto uma floresta madura pode absorver mais de 10 toneladas. Mesmo assim, o café já compensa as emissões de três carros de passeio rodando durante um ano e aproxima a produção agrícola de um modelo mais sustentável”, afirma

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café robusta em rondônia
Foto: Armando Júnior

Mas como é realizado o cálculo do sequestro de Carbono?

Uma calculadora desenvolvida a partir de pesquisas realizadas nas lavouras da região das “Matas de Rondônia” permite medir o balanço de carbono na produção.

Enrique Anastasio, pesquisador da Embrapa, explica que o aplicativo foi criado com base em análises feitas em 150 plantas, cujas raízes, troncos e folhas foram avaliados quanto ao conteúdo de carbono. A partir desses dados, foi estabelecida a média de sequestro de carbono das lavouras da região.

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Além disso, os pesquisadores mapearam cada etapa da produção do café — como uso de adubos, mecanização, mão de obra e secagem — para determinar as emissões de carbono. Com esses parâmetros, a calculadora foi estruturada e aplicada a mais de 300 cafeicultores.

Na prática, o produtor responde, no aplicativo, a uma série de perguntas sobre seu sistema produtivo. A calculadora consulta um banco de dados com os padrões de emissão de cada atividade e estima, por hectare/ano, o quanto é emitido de carbono. Esse valor é então comparado ao potencial de sequestro já definido para o café da região, permitindo calcular o saldo final.

A ferramenta faz parte do Projeto CarbCafé e será apresentada na COP 30, compondo a vitrine de soluções verdes da conferência.

Rondônia lidera café sustentável

Rondônia é responsável por 87% da produção de café da Amazônia e ocupa o segundo lugar no ranking nacional de cultivo de robusta, atrás apenas do Espírito Santo. Em 2021, o café rondoniense recebeu o selo de Indicação Geográfica, valorizando a produção local, feita majoritariamente por agricultores familiares, que representam 95% dos produtores.

Com produtividade média de 68,5 sacas por hectare, o café robusta da Amazônia tem potencial para se tornar ainda mais sustentável. O uso de adubos orgânicos e sistemas agroflorestais pode aumentar a captura de carbono e reduzir a poluição.

O estudo também alerta para os desafios da cafeicultura diante das mudanças climáticas, como secas intensas e aumento de temperatura. Entre as soluções estão o uso de clones mais resistentes, economia de água e diversificação das plantações.

*Por Raíssa Fontes, da Rede Amazônica RO

“Pela primeira vez, uma só espécie ameaça a existência de milhões de outras”, afirma geógrafo sobre crise da biodiversidade

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Foto: Reprodução/IPAM

Para o especial ‘Um grau e meio’, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), o geógrafo e pesquisador Carlos Durigan, que atua com projetos socioambientais há mais de 30 anos, discute como a humanidade se transformou na principal causadora da crise da biodiversidade.

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O especialista indica possíveis caminhos para soluções e comenta como estão os esforços internacionais para reduzir os danos sobre as espécies, inclusive a humana. Confira a entrevista:

Quais são as principais causas da crise da biodiversidade?

Existem diversos aspectos relacionados à geração desta crise, mas a principal causa é a combinação entre a destruição de paisagens naturais e a pressão de uso massivo e descontrolado de recursos naturais , que são fatores mencionados pelo IPBES (Plataforma Intergovernamental Científica e Política sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos).

A destruição e degradação dessas paisagens e o uso de recursos naturais sem o manejo adequado são uma ameaça muito grande, já que elas são áreas de vida, não só dos seres humanos, mas também de diversas espécies. O que está levando a uma erosão do conjunto de espécies existentes, um desbalanço entre elas. Onde ocorre um aumento populacional de espécies mais resilientes e a redução e extinção de muitas outras espécies.

O próprio IPBES, estima que em torno de um milhão de espécies estariam sofrendo algum grau de ameaça atualmente.

Assim como ocorre com a crise climática, que é basicamente provocada pelo ser humano, é a primeira vez que uma espécie sozinha, a humana, é responsável por uma crise que envolve a ameaça à sobrevivência de milhares de outras espécies.

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Como a crise climática está relacionada com a crise de biodiversidade?

Há um processo de antropização do planeta. Com o aumento populacional e a forma de viver e produzir que temos exercido, desde a revolução industrial, geraram-se impactos em larga escala. Essa é a fonte de todas as crises de caráter ambiental que a gente vive atualmente.

Em um primeiro olhar, a crise climática e a crise sob a biodiversidade ocorrem em paralelo. O aumento das ações que degradam o planeta foi afetando populações de diversos organismos, seja pela superexploração de algumas espécies, por meio da caça, da pesca, da destruição de habitats, ou pela sua contaminação. Até o momento essas causas eram comuns a ambas as crises, seja climática, seja da biodiversidade.

Nas últimas décadas, começamos a sofrer consequências da crise climática, o aquecimento do planeta, a redução de chuvas em alguns lugares, o derretimento de calotas de gelo, tudo isso também começou a interferir na vida e na sobrevivência de algumas espécies.

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Pode citar alguns exemplos?

É o que está ocorrendo nos recifes de corais com o branqueamento em várias partes do planeta, que tem relação com uma mudança química e de temperatura das águas. Isso já é uma consequência do aquecimento global.

Há também questões relacionadas às deformações dos ciclos, de mais ou menos chuvas, de circulação atmosférica da água, de regiões que estão se transformando em áreas mais áridas. Isso também começa a afetar a sobrevivência de muitas espécies, uma vez que se cria um cenário de muito desafio para as espécies que vivem nessas áreas.

Ainda não se conhecem muito bem alguns dos processos causados pela crise climática. Mas há hipóteses de que essas mudanças, de aumento de temperatura, redução de chuvas, estresse hídrico, estão levando espécies de plantas, por exemplo, a florescerem em épocas distintas das que floresciam no passado, ou a não florescer, ou a faltar o agente polinizador.

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Foto: Reprodução/Greenpeace

É possível reverter a crise da biodiversidade?

Esse é um desafio bem grande que temos pela frente. Por meio da Convenção da Biodiversidade, tem se buscado caminhos para estabelecer alguns critérios que poderiam amenizar a perda de biodiversidade, que a meu ver tem se demonstrado irreversível.

Na COP15 da CDB, em Montreal (2022), foi adotado o Quadro Global de Biodiversidade de Kunming-Montreal (GBF), estabelecendo metas para conter a perda de biodiversidade. Assim como o Acordo de Paris foi um marco para as Convenções do Clima, o Acordo de Kunming-Montreal foi um marco para as Convenções da Biodiversidade na busca de estabelecer ações emergenciais para reverter o cenário devastador sobre a biodiversidade que vivemos atualmente.

Algumas metas foram estabelecidas para buscar reduzir os impactos que estão comprometendo a sobrevivência de muitas espécies. A partir disso, a ideia é que a gente consiga, se não reverter, ao menos amenizar a extinção em massa que está em curso.

Que pontos você destaca desse acordo?

Uma das metas determina que precisamos proteger pelo menos 30% dos ambientes naturais do planeta, esse é um número para ser atingido até 2030.

Além de reduzir a influência dos agentes que mais causam problemas para a biodiversidade, como a utilização de pesticidas ou agrotóxicos, reduzir a poluição e prevenir e controlar espécies exóticas invasoras. E, ao mesmo tempo, buscar constituir fundos financeiros que apoiem as ações de conservação.

É importante manter o maior percentual de áreas naturais íntegras no planeta, porque esse é um elemento que está dentro das relações de causa e efeito: quanto mais floresta viva e saudável, mais a crise climática é reduzida. Isso melhora a qualidade de vida, a qualidade dos serviços ecossistêmicos e, obviamente, as chances de sobrevivência de muitas espécies que vivem nessas paisagens naturais, reduzindo a crise da biodiversidade.

O Acordo de Kunming-Montreal está sendo cumprido?

Alguns países têm se comprometido muito para cumprir com a sua parte, são quase 200 países que assinam o acordo e assumiram compromissos para buscar estabelecer essa agenda. O Brasil mesmo tem buscado fortalecer várias das agendas relacionadas a essas metas. Por exemplo, o processo voltado à destinação de terras públicas para áreas de conservação e manejo.

Mas acredito que a gente ainda tem muito a fazer, porque apesar de algumas frentes avançarem, esse avanço sempre é emperrado. É como se o carro tivesse andando com o freio de mão puxado.

Há setores da sociedade que ainda não se convenceram da importância de desenvolver ações para reduzir a nossa pegada ecológica no planeta. Ainda há muita resistência e isso acaba impactando sobre potenciais políticas públicas que poderiam estar caminhando com mais fluidez.

Está prevista alguma discussão específica sobre biodiversidade na COP30?

Na COP de Cali surgiu a ideia de que as convenções devam se integrar mais, a ideia é que haja espaço de discussão para buscar convergências.

A questão da adaptação, precisa ser uma agenda que trabalhe com a agregação de conceitos e metas estabelecidos em outras agendas também, como a meta de conservar 30% das paisagens naturais. Provavelmente vão haver fóruns de conversas que envolvam trazer a agenda estabelecida lá em Montreal, para alguns elementos começarem a ser incorporados na agenda de clima.

Principalmente, a meu ver, essa questão relacionada à proteção de ambientes naturais. A própria agenda do TFF (Fundo Florestas Tropicais Para Sempre), tem uma relação direta com a questão da biodiversidade, envolvendo a proteção de territórios. Como também promover ações voltadas ao envolvimento de ações produtivas de baixo impacto, isto é, usar a biodiversidade sem fazer com que ela acabe.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo IPAM, escrito por Karina Custódio

Efeitos das mudanças climáticas são sentidos por um terço dos moradores da Amazônia Legal

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Nove estados compõem a Amazônia Legal. Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

As mudanças climáticas deixaram de ser uma previsão distante para se tornar parte do cotidiano na Amazônia Legal. Um levantamento realizado pela Umane e pela Vital Strategies, com apoio do Instituto Devive, mostra que cerca de um terço da população da região (32%) afirma já ter sido diretamente afetada. Entre povos e comunidades tradicionais, como indígenas, quilombolas, ribeirinhos e extrativistas, a proporção é ainda maior: 42,2%.

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O estudo ‘Mais Dados Mais Saúde – Clima e Saúde na Amazônia Legal’ é o primeiro a reunir informações de residentes dos nove estados da Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins), incluindo grupos historicamente sub-representados em pesquisas nacionais. Foram ouvidas 4.037 pessoas entre maio e julho de 2025.

A pesquisa também mostra que a percepção sobre a crise climática é quase unânime na região: 88,4% dos entrevistados acreditam que as mudanças climáticas estão ocorrendo no Brasil e no mundo, e 90,6% concordam que já vivemos um aquecimento global. Essa consciência, segundo os autores, reflete a convivência diária com fenômenos climáticos extremos que têm alterado a vida das pessoas e os ecossistemas amazônicos.

Mudança cada vez mais perceptível

Os resultados revelam que o aquecimento global já afeta a vida cotidiana: 83,4% dos entrevistados notaram aumento da conta de luz, 82,4% perceberam temperaturas mais altas e 75% apontaram piora na qualidade do ar. A ocorrência de desastres ambientais, como queimadas e secas prolongadas, foi mencionada por 74,4% dos respondentes, e 73% relataram alta nos preços dos alimentos.

“Enfrentar a crise climática na Amazônia é mais do que uma agenda ambiental — é uma agenda de saúde pública e de redução de desigualdades. Em um momento tão importante, com a chegada da COP30, esse módulo do Mais Dados Mais Saúde tem como intuito trazer dados inéditos, focados nas especificidades locais, para informar políticas públicas que protejam territórios e suas populações, sempre com um olhar para a redução das desigualdades”, afirma Thais Junqueira, superintendente da Umane.

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Mudanças climáticas afetam destinos naturais do ecoturismo no Brasil
Desmatamentos, queimadas e outros fatores contribuem para que mudança no clima seja cada vez mais perceptível. Foto: Divulgação

Os efeitos são ainda mais severos entre comunidades tradicionais: 24,1% relataram piora na qualidade da água e 21,4% citaram problemas na produção de alimentos, proporções mais altas que as da população em geral. “Esses grupos estão mais vulneráveis porque vivem em áreas de risco climático e dependem diretamente dos recursos naturais para subsistência”, explica Luciana Vasconcelos Sardinha, diretora-adjunta de Doenças Crônicas Não Transmissíveis da Vital Strategies.

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O inquérito também registrou mudanças de comportamento e percepção. Metade dos entrevistados (53,3%) afirmou ter reduzido práticas que considera prejudiciais ao clima, e 38,4% disseram sentir culpa por desperdiçar energia. A separação de lixo é mais comum entre comunidades tradicionais (70,1%) do que entre os demais (59,2%). 

Para a Vital Strategies, os resultados reforçam que a crise climática é também uma questão de saúde pública.

“Um terço dos moradores da Amazônia Legal já sofreu impactos diretos do clima, e a maioria depende exclusivamente do SUS. É urgente integrar políticas de saúde e clima para proteger os grupos mais vulnerabilizados”, conclui Pedro de Paula, diretor-executivo da organização no Brasil.

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência Bori

Captura científica de botos-vermelhos busca compreender ecologia e saúde da espécie na Amazônia Central

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Foto: Miguel Monteiro

Somando aos esforços de monitoramento da população de botos-vermelhos (Inia geoffrensis), o Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto Mamirauá realizou uma captura científica de indivíduos dessa espécie no Lago Amanã, Reserva Amanã, no Amazonas.

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Entre os dias 20 de setembro e 2 de outubro, colaboradores do Instituto Mamirauá, em parceria com pesquisadores da Associação R3 Animal, National Marine Mammal Foundation, Universidad de Las Palmas de Gran Canaria e Wildlife Conservation Trust realizaram a captura de 17 botos, sendo a maioria machos adultos e uma fêmea grávida.

Além das instituições, participaram da captura também moradores de comunidades locais e pescadores que, a partir de seu conhecimento tradicional, possibilitaram o manejo dos animais.

Leia também: Entenda a diferença de comportamento entre os botos da Amazônia e se eles são mesmo “implicantes”

equipe monitora boto vermelho
Assistentes de campo realizam contenção física do boto-vermelho para captura científica no Lago Amanã. Foto: Miguel Monteiro

A captura científica é essencial para estudar o panorama de saúde dessa espécie, possibilitando análises hematológicas completas a partir de amostras de sangue e detecção de agentes infecciosos, contaminantes ou biotoxinas nos indivíduos de vida livre a partir de amostras de secreções de mucosas.

Além disso, também foram instalados 12 transmissores satelitais que coletam informações sobre a localização do animal associadas a profundidade e temperatura. Esses dados são cruciais para acompanhar a movimentação dos botos em seu habitat natural e compreender melhor seus padrões de deslocamento.

Investigação da saúde dos botos após seca histórica

Após a mortandade de botos sem precedentes que ocorreu no Amazonas durante as secas de 2023 e 2024, onde mais de 200 animais foram encontrados mortos, investigar a saúde e o uso do habitat dessa espécie traz informações valiosas para entender melhor as principais ameaças à espécie, e como prevenir novas mortandades.

“Capturar esses animais é de extrema importância para compreendermos o panorama de saúde dessa população de botos de forma abrangente, definindo parâmetros de saúde como uma preparação para o que pode acontecer em anos futuros”, comenta Miriam Marmontel, líder do Grupo de Pesquisa em Mamíferos Aquáticos Amazônicos do Instituto Mamirauá.

“Neste ano, felizmente, a seca não tem sido tão intensa como nos dois últimos anos, portanto não esperamos que haja uma mortandade de botos. Contudo, devido aos impactos das mudanças climáticas, tudo indica que eventos extremos se tornarão mais comuns, e precisamos estar preparados”, complementa.

Boto-vermelho dentro de cerco com malhadeiras no Lago Amanã, logo antes de captura científica. Fotos: Miguel Monteiro

Em 2023, quando ocorreu a maior parte das mortes de botos-vermelhos e tucuxis (Sotalia fluviatilis), estima-se que houve uma diminuição de até 15% da população desses animais no Lago Tefé, epicentro da mortandade. Sendo mamíferos de grande porte, com um ciclo reprodutivo lento, e sofrendo outras ameaças como colisões com embarcações e conflitos com pescadores, a população local de botos se torna bastante vulnerável. Os dados coletados na captura científica permitirão avaliar a resiliência dos indivíduos a um novo impacto climático e reagir de forma mais rápida caso uma mortandade volte a ocorrer.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Instituto Mamirauá, escrito por Miguel Monteiro

Produção sustentável do camarão-da-Amazônia é foco de Rede de Inovação no Pará

Foto: Reprodução/Fapespa

Ao longo dos anos, o Macrobrachium amazonicum, conhecido popularmente como camarão-da-Amazônia tem se consolidado como uma alternativa promissora para a aquicultura sustentável na região Norte do Brasil. Seu rápido crescimento, alta taxa de reprodução e rusticidade o tornam a espécie ideal para cultivo em sistemas de pequena e média escala, gerando emprego e renda para comunidades ribeirinhas e produtores familiares.

Nesse contexto e com a proposta de estimular a exploração racional e sustentável da espécie, foi criada a “Rede de Inovação e transferência de tecnologia para produção sustentável do Camarão-da-Amazônia por comunidades tradicionais”.

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Envolvendo instituições de pesquisa do Pará, Amapá, Rio de Janeiro e Paraná, o projeto busca contribuir com avanços no desenvolvimento sustentável para a Amazônia, buscando soluções para pontos críticos para cadeia de produção do camarão-da-Amazônia e transferindo a tecnologia para as comunidades. No Pará, o grupo de pesquisa é fomentado pela Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas do Pará (Fapespa), através da Iniciativa Amazônia +10.

Segundo a professora da Universidade Federal do Pará (UFPA), Cristiana Maciel, coordenadora do projeto no Estado, “especificamente o grupo de pesquisa do Pará, investiu em desvendar pontos críticos em relação aos estoques do camarão-da-Amazônia e as características de crescimento, distribuição, além de gerar dados de nutrigenômica (área da nutrição que estuda como os nutrientes dos alimentos e outros compostos bioativos afetam a expressão dos genes humanos), para auxiliar e nortear ensaios de nutrição. Tudo isso com uso de ferramentas de nova geração, para transferir tecnologia de forma acessível a qualquer pessoa que tenha acesso à internet e um celular”.

Leia também: Portal Amazônia responde: existe camarão de água doce?

camarão amazônico
Foto: Pedro Guerreiro/Agência Pará

Dessa forma, a série de vídeos mostrando todas as etapas do cultivo, está disponível neste site, desenvolvido pelo Laboratório de Bioinformática, Desenvolvimento, Aplicação e Transferência de Tecnologia para a Aquicultura (BioDATTA) e pelo Laboratório de Aquicultura (Laqua) da UFPA, do campus de Bragança. O site também apresenta outros projetos dos laboratórios relacionados ao desenvolvimento sustentável do camarão-da-Amazônia.

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Transferência de tecnologia 

De acordo com Cristiana, o projeto vem contribuindo com informações sobre os distintos estoques genéticos do camarão-da-Amazônia, com populações bem estruturadas, que impactam no potencial zootécnico e plano de manejo da espécie. Os dados já resultaram em um artigo publicado em uma das revistas mais famosas internacionalmente: Nature (Scientific Reports). Outro artigo, aceito recentemente, determinou o ponto na Amazônia em que muda o padrão de crescimento dos animais, acompanhado de dados moleculares.

Segundo a professora, também foi desenvolvido um protocolo de sedação moderada, por longo período, para juvenis de camarões, em estratégia segura, com uso de óleos essenciais. “Baseados em pistas obtidas do sequenciamento do genoma funcional da espécie, desenvolvemos ensaios e verificamos a possibilidade de a espécie aproveitar produtos fibrosos de origem animal e vegetal”, explica.

Outro achado obtido da análise do genoma funcional do aparelho digestivo dos animais foi o indicativo que a espécie apresenta plasticidade digestiva. Esse conjunto de dados pode contribuir com o desenvolvimento de uma dieta direcionada à espécie, embasada em ferramentas de alta tecnologia. A coordenadora também explica que contribuir com informações sobre o camarão-da-Amazônia pode resultar em inovações para a tecnologia de cultivo, relacionadas à nutrição e escolha do plantel de reprodutores.

“Além disso, estamos formando pessoas altamente qualificado para atuar na Amazônia. Com o apoio do projeto, nós concluímos a supervisão de um pós-doutoramento, um doutorado, dois mestrados e vários estudantes de iniciação científica. Encontram-se em andamento três supervisões de pós-doutorado, três de doutorado e um mestrado, além da iniciação científica. Esse time está preparado para contribuir com o desenvolvimento do Estado, pois tem adquirido a tecnologia gerada pelo projeto e irá, em breve, se inserir no mercado de trabalho”, destaca Cristiana.

*Com informações da Fapespa

MPF recomenda que Ibama não conceda licença até que Petrobras refaça simulação de emergência

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Foto: Cezar Fernandes/Agência Brasil

O Ministério Público Federal (MPF) recomendou ao presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), nesta quarta-feira (8), que não conceda a licença de operação à Petrobras para o bloco FZA-M-59 até que a empresa demonstre, em um novo exercício simulado, a real capacidade de resposta em caso de um vazamento de óleo. Localizado na Bacia da Foz do Amazonas, o bloco destinado à exploração de petróleo está em uma região de grande biodiversidade, que pode ser afetada em larga escala no caso de um acidente.

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Em agosto deste ano, a Petrobras realizou a Avaliação Pré-Operacional (APO) que teve como objetivo avaliar o Plano de Emergência Individual (PEI) e o Plano de Proteção à Fauna Oleada (PPAF). A simulação envolveu mais de 400 profissionais, embarcações, aeronaves e uma sonda de perfuração. Após a APO, a equipe técnica do Ibama elaborou parecer que apontou diversos problemas na execução do exercício simulado. De acordo com o documento, o PPAF apresentado pela Petrobras prevê recursos e estratégias que não são executáveis na prática.

Porém, mesmo com as falhas apontadas em parecer técnico, despacho da Diretoria de Licenciamento Ambiental do Ibama aprovou a APO e recomendou a concessão da licença de operação. A concessão está condicionada à incorporação das observações feitas pelos técnicos da autarquia e à realização de um novo exercício simulado após a liberação da licença.

Para o MPF, essa medida é contraditória e viola as normas do licenciamento ambiental pois oferece riscos ao meio ambiente, divide de forma ilegal as etapas do licenciamento e contraria, inclusive, norma do próprio Ibama. Assim, o MPF também recomenda que o Ibama reconsidere e revogue a aprovação da APO do Bloco FZA-M-59, com base nas inconsistências detalhadas pela própria equipe técnica da autarquia.

“A empresa, ao não lograr êxito em ‘executar satisfatoriamente as estratégias indicadas no PEI’ e ter que revisar o plano imediatamente após o exercício, objetivamente não teve a APO aprovada segundo os critérios estabelecidos. Em outras palavras, a conclusão do Parecer Técnico pela aprovação da APO, sem prejuízo da continuidade do licenciamento, esvazia a necessidade do novo teste, posto que viola a fase necessária para sua verificação, o que resulta na validação de um plano que foi comprovadamente inadequado e executado sob condições de segurança precárias e com o uso de recursos não previstos”, diz trecho da recomendação do MPF.

MPF/petrobras
Foto: Divulgação/Petrobras

MPF aponta falhas 

No parecer técnico, a equipe do Ibama apontou que a Petrobras descumpriu diversos pontos do PPAF durante a simulação, com a intenção de cumprir o prazo de 24 horas previsto para o resgate de animais. A realização de operações noturnas e o uso de embarcações não previstas no PPAF estão entre os descumprimentos.

O MPF aponta que a operação durante a noite colocou em risco a segurança das atividades, inclusive com a ocorrência de dois incidentes e uma quase colisão durante o trajeto noturno de retorno. Um dos incidentes envolveu uma rede de pesca e o outro o encalhe de uma ambulancha em um banco de areia. Aliás, o trabalho durante a noite contrariou o que foi afirmado previamente pela própria empresa, que indicava a necessidade de navegação somente durante o período de luminosidade natural.

Além disso, mesmo com as operações noturnas que forçaram os limites de segurança, em condições favoráveis de navegação e com embarcações adicionais não previstas no plano, o prazo de 24 horas para o resgate dos animais foi atingido por margem mínima: 23 horas e 24 minutos. Na recomendação, o MPF ressalta que a liberação da licença de operação antes da comprovação da efetividade do Plano de Emergência Individual viola os princípios da precaução e prevenção, expondo uma área ecologicamente sensível como a Foz do Amazonas.

Nesse sentido, o órgão também recomenda a suspensão de qualquer prosseguimento ou liberação de fases do licenciamento ambiental da atividade de perfuração até que um novo exercício de APO de Fauna seja realizado com sucesso.

O prazo para o Ibama se manifestar sobre o acatamento da recomendação é de 72 horas após o recebimento. Caso a recomendação não seja acatada, o MPF poderá adotar as medidas judiciais cabíveis a fim de corrigir as ilegalidades constatadas no procedimento de licenciamento.

Recomendação nº 48/2025

*Com informações do MPF