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Pesquisas genéticas buscam melhorar criação de tambaquis no Amazonas

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Pesquisas genéticas buscam melhorar criação de tambaquis. Foto: Cimone Barros/Inpa

Uma série de palestras do Programa de Pós-Graduação em Aquicultura da Universidade Nilton Lins em parceria com o Centro de Aquicultura da Universidade Estadual Paulista (Caunesp) reforçou a cooperação acadêmica e científica entre as instituições nas áreas de aquicultura e genômica aplicada a peixes amazônicos, com destaque para o tambaqui.

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A nova colaboração amplia esse alcance, permitindo o intercâmbio de pesquisadores, projetos conjuntos e o uso de tecnologias avançadas de melhoramento genético. Segundo o professor Renato Barbosa Ferraz, pesquisador em aquicultura e genômica da Universidade Nilton Lins, “as palestras e intercâmbios com a Unesp reforçam o compromisso da instituição com a pesquisa científica aplicada e com o avanço da aquicultura sustentável na Amazônia”.

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Pesquisas genéticas buscam melhorar criação de tambaquis
Pesquisas genéticas buscam melhorar criação de tambaquis no Amazonas. John Agudelo e Diogo Hashimoto (Caunesp)

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As palestras abordaram as mais recentes descobertas científicas na área de genética e sanidade de peixes, com foco no tambaqui, uma das espécies mais importantes para a piscicultura nacional. O biólogo e pesquisador Diogo Teruo Hashimoto e o zootecnista e pós-doutorando John Fredy Gómez Agudelo, ambos do Centro de Aquicultura da Unesp, ministraram as apresentações das pesquisas.

Inteligência artificial

Hashimoto explicou como a combinação de fenômica e inteligência artificial (IA) está transformando o melhoramento genético de peixes. A tecnologia utiliza sensores e imagens para coletar milhões de dados dos animais, processados por sistemas de IA de forma semelhante ao reconhecimento facial, permitindo identificar peixes com melhor desempenho e resistência a doenças.

Tambaqui (Colossoma macropomum). Foto: Wild life animal

“Em colaboração com professores da Nilton Lins, formamos um núcleo genético em Manaus junto com o Inpa. Esses animais foram avaliados e fotografados, e usamos esse banco de dados para treinar a máquina de inteligência artificial a extrair as informações dos peixes”, disse o biólogo.

O projeto resulta de uma colaboração entre Unesp, Universidade Nilton Lins e Inpa, com apoio da Fapeam e da Fapesp, fortalecida em 2024 por um convênio entre os programas de pós-graduação das instituições.

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Combate à parasitas

Na sequência, o zootecnista John Agudelo mostrou os progressos no uso da seleção genômica para combater os acantocéfalos, parasitas que afetam a produção de tambaqui na Amazônia. O pesquisador explicou que o melhoramento genético é uma alternativa eficaz para desenvolver peixes mais resistentes.

Pesquisas genéticas buscam melhorar criação de tambaquis no Amazonas. Diogo Hashimoto (Pesquisador da Caunesp)

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“Nessa análise, foram identificados genes relacionados ao estresse, à integridade celular e ao sistema de defesa dos peixes. Selecionando esses genes, é possível obter indivíduos mais resistentes”, afirmou Agudelo.

O estudo demonstrou que a seleção genômica, baseada na leitura direta do DNA, aumenta a precisão e a velocidade da seleção de características desejáveis, sendo uma ferramenta promissora e de baixo custo para a evolução da aquicultura sustentável.

Para a professora Cleuciliz Santana, vice-reitora para projetos de Pós-graduação, Pesquisa e Inovação da Universidade Nilton Lins, o Programa de Mestrado e Doutorado em Aquicultura coordenado pela instituição é estratégico para o Amazonas e para a segurança alimentar na Região Norte. “Poder contar com a parceria de pesquisadores da Unesp, um importante centro de aquicultura no Brasil, amplifica a qualidade das pesquisas realizadas localmente”, completou Santana.

*Com informação da assessoria

Edna Frazão Ribeiro: a primeira Miss Amazonas e sua cidade de Manaus

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Edna Frazão Ribeiro em trajes de banho. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Por Abrahim Baze – literatura@amazonsat.com.br 

Segundo o autor Leandro Tocantins, Manaus era uma cidade de suaves colinas e que desdobrava-se em vistas múltiplas para quem a cruze nas avenidas e ruas de seu lúcido urbanismo.

“E não deixa de impressionar a obra urbanizadora da capital, creditada ao Governador Eduardo Ribeiro, O Pensador (assim os amazonenses costumavam chamá-lo). A topografia da cidade antes de Eduardo Ribeiro vislumbrava-se em cortes hidrográficos com os seguintes igarapés: Salgado, Castelhana, Bica, Espírito Santo, Manaus, Cachoeirinha, São Raimundo e Educandos. As fachadas residenciais, embora com predomínio neoclássico, apresentava muito sinais de art nouveau. Notável é o foyer de honra, em puro estilo veneziano, com mármores, espelhos e candelabros importados”. Pág. 230¹

Primeiro Concurso de Miss Brasil

Edna Frazão Ribeiro, diferente de outras misses eleitas neste período, teve sua escolha através dos diários associados na época do Jornal do Comércio e Rádio Baré que, enquanto a rádio divulgava o concurso em si o Jornal do Comércio fazia publicar um folheto para que a população recortasse e coloca-se seu voto, que era recebido através de urna na porta do Jornal. Desta forma ela foi a primeira e única a ser escolhida através do voto popular.

A sociedade manauara, através dos dois principais clubes sociais da época, Ideal Clube e principalmente o Atlético Rio Negro Clube, também estavam engajados no processo da escolha da candidata. A viagem ao Rio de Janeiro, cidade onde ocorreria o evento, foi longa. Edna se fez acompanhar pelo seu irmão.

Mulher morena de estatura moderada, rosto iluminado e se faz apresentar naquele momento usando um belo vestido azul-ferrete, partido de branco, com motivos bordados multicoloridos. Em plena elegância moderna para época trazia em seu pescoço um colar gracioso de contas triangulares.

Ela era filha de Adrião Ribeiro Nepomuceno e de Rosa Frazão Ribeiro. Uma de suas principais características era o sorriso que mostrava graça e encantamento.

Embora seu encantamento pela cidade maravilhosa, a nossa miss amazonas destacou-se aos jornais da época no Rio de Janeiro que trazia consigo as lembranças e impressões de nossa região sem nenhum momento perderam o encantamento da cidade que ora visitava. Normalista, dedicada aos estudos, tinha como maior passatempo o conhecimento através de leituras. Seus autores preferidos eram Gonçalves Dias e Castro Alves. Destacava também que papel da mulher na sociedade era o lar.

Declarava também à época que não era desportista, mas admirava a natação. Sua cor predileta era rosa, gostava de pintura e música, amava o sol e quando caminhava pela rua sequer procurava o lado da sombra, afinal vinha de uma cidade de exuberante natureza e rios caudalosos. Apreciava também os passeios de bonde.

Esses pormenores foram dados como entrevista para a revista Flores do Brasil – O livro das Misses, com texto de Raimundo Lopes e desenhos de Porciúncula Moraes, publicado no Rio de Janeiro em maio de 1929. No seu retorno a Manaus ela foi efusivamente recebida pelo povo e homenageada na então sede do Atlético Rio Negro Club, na rua Barroso nº 15.

Sede do Atlético Rio Negro Clube. Rua Barroso, 1929. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

A formação da família

Transcorria o ano de 1930, o jovem magistrado João Pereira Machado homem probo e fiel defensor dos ensinamentos da magistratura que transformara sua vida em sonhos e muito trabalho, apaixonou-se pela beleza e pelo caráter da então jovem Edna Frazão Ribeiro e, assim, casaram-se dando início suas histórias de vida, deixando a cidade de Manaus para trabalhar nos confins do Amazonas na cidade de Humaitá.

Enfrentaram o mundo desconhecido de rios, florestas e muita dificuldade para adaptar-se a nova realidade que com muita coragem desnudaram silenciosamente a tão almejada felicidade. Esse é um aspecto peculiar guardado na memória de um de seus filhos, o médico e humanista Gil Machado, que busca da memória para viajar no tempo como se houvesse falas de um período não muito distante a contar passo a passo esse tempo vivido.

O médico Gil Machado voltou no tempo e com voz pausada sem esmorecer dá lugar ao olhar vazio que vem de dentro de si mesmo para rememorar este tempo sustentado por esteios de forte lembrança. O tempo passa e a família cresce com o nascimento de sua primeira filha, Cláudia Rosa. Era o ano de 1932. Em 1933, celebra-se a chegada do segundo filho João Lúcio e, em 1936, o terceiro filho Gil Machado.

Edna Frazão Ribeiro. Miss Amazonas, 1929. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Estava a porta o ano de 1940 e, por força de sua profissão, a família transfere-se para a cidade de Parintins, os tempos eram difíceis e havia na família uma preocupação relacionada aos estudos dos filhos e dessa forma Cláudia Rosa passou a ser aluna interna do Colégio Nossa Senhora Auxiliadora e, em seguida, João e Gil também seguem o mesmo caminho: passaram a ser alunos internos do Colégio Dom Bosco.

Em 1943 João Pereira Machado perde sua companheira, naquele período a situação das cidades do interior era muito difícil sem água tratada. Edna contrai o Tifo, doença implacável e sem grandes recursos, e ela vem a falecer, somente em 1950 foi descoberto o antibiótico que combateria este mal, chamado (Cloromicetina). O jovem magistrado tinha que continuar a criação dos filhos e a proposta de uma educação condizente. E assim, o jovem magistrado em 1945 contrai núpcias com Maria Arminda Botelho Mourão de família tradicional e filha do Desembargador Hamilton Mourão. Deste casamento nasceu sua filha Edna Maria Mourão Pereira Machado.

Os filhos Gil e João Lúcio foram estudar no Colégio Pedro II, (hoje Colégio Estadual do Amazonas) e, mais tarde João Lúcio e Gil concluíram o curso de Medicina na Faculdade Federal Fluminense do Rio de Janeiro. O magistrado João Pereira Machado transfere-se para Manaus ainda como Juiz e tempo depois assume o cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas.

Seu filho e médico João Lúcio Machado deu uma importante contribuição na área da medicina para o Estado do Amazonas e empresta seu nome ao grande hospital na zona leste de Manaus.

Quando foi prefeito de Parintins Gláucio Gonçalves juntamente com a Câmara Municipal de Parintins presta em memória de Edna Frazão Ribeiro uma significativa homenagem, além de eloquentes discursos permitiram o translado dos restos mortais de Edna para Manaus e aqui foi enterrada na sepultura perpétua no Cemitério de São João Batista onde já encontrava-se seu esposo João Pereira Machado.

Associação Comercial do Amazonas na época. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal

Fontes

Revista Café e Cultura – Jornalista Giuliana Vallone

¹TOCANTINS, Leandro. O Rio Comanda a Vida – Uma interpretação da Amazônia. 9ª edição. Manaus: Editora
Valer/Edições do Governo do Estado, 2000. Página 230

*Informações dadas pelo seu filho o médico e humanista Gil Machado

Sobre o autor

Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Acordo viabilizará tradução de Convenção da OIT para 10 línguas indígenas

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Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Foto: Assessoria de Comunicação/Funai

Um acordo de cooperação técnica foi assinado entre a Advocacia-Geral da União (AGU), a Secretaria-Geral da Presidência da República (SG PR), o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e outras instituições para a tradução da Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para as 10 línguas indígenas mais faladas no país. A convenção é um tratado internacional que protege os direitos de povos indígenas e tribais no mundo, como respeito à sua cultura e autodeterminação.

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“Esse é um ato histórico de justiça que abre caminhos para a cidadania plena”, afirmou o advogado-geral da União substituto, Flávio Roman. O propósito, acrescentou, é seguir com a diretriz determinada pelo presidente Lula de colocar o povo em primeiro lugar. “Nesse caso, são os povos indígenas que se tornarão protagonistas, conhecendo seus direitos”, declarou o advogado-geral da União substituto e secretário-geral de consultoria, Flavio Roman.

Leia também: Convenção nº 169 de 1989 da Organização Internacional do Trabalho é lançada na língua Kayapó (Mebêngôkre)

Acordo viabilizará tradução de Convenção da OIT para 10 línguas indígenas
A convenção é um tratado internacional que protege os direitos de povos indígenas e tribais no mundo. Foto: Renato Menezes/AscomAGU

A celebração do acordo representa o compromisso do Governo Federal com a pauta indígena, assegurou a secretária nacional de Diálogos Sociais e Articulação de Políticas Públicas da Secretaria-Geral da Presidência da República, Kenarik Boujikian. Ela lembrou de outra parceria em curso entre a AGU, MPI e o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) que visa a tradução da Constituição, ODS e da própria OIT 169 para as línguas Tikuna, Kaiowá e Kaingang – o programa Língua Indígena Viva no Direito, indicando que o acordo que celebram atenderá outras dez línguas indígenas mais faladas no Brasil, segundo levantamento do IBGE.

O advogado-geral da União substituto observou que o programa Língua Indígena Viva no Direito preserva a riqueza e o patrimônio cultural e resulta no enriquecimento de toda a população.

Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Foto: Assessoria de Comunicação/Funai

O diretor do Escritório da OIT para o Brasil, Vinicius Carvalho Pinheiro, ressaltou a importância da tradução da Convenção 169 para garantir direitos e proteção aos territórios e ainda o direito ao trabalho decente.

A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, disse que o ato para a tradução de um instrumento legal e internacional garante o direito dos povos indígenas e significa transformar o sistema como protagonista. “As traduções facilitam o entendimento da Constituição e é fundamental para a compreensão dos direitos pelos indígenas”. Sônia Guajajara acrescentou que a parceria com a AGU para traduzir a Constituição foi abraçada rapidamente pelo ministro Jorge Messias.

*Com informação da Assessoria Especial da Comunicação da AGU

Magistral, 80 anos: símbolo do guaraná do Amazonas

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Foto: Reprodução/LinkedIn-Magistral

Por Osíris M. Araújo da Silva – osirisasilva@gmail.com

A geração dos anos 1940, em particular, nasceu e cresceu bebendo refrigerante de guaraná. A indústria se expandiu, enquanto algumas marcas ficaram, à margem do caminho, outras lideram o setor no século XXI. Quem não recorda dos tempos de colégio, anos 50 e 60 do século passado, quando garotos do Colégio Estadual do Amazonas, Brasileiro ou IEA tomavam bonde até a Caixa D’Água, e daí, à pé, corria até o Clube Parque Dez de Novembro para jogar futebol. A passagem em frente a Magistral era incontornável, parada obrigatória para uma “visita” ao Sr. Cruz, que, de coração aberto, usualmente contribuia com iniciativas estudantis. De passo em passo a empresa logo se tornaria uma das mais importantes expressões empresariais do mercado de refrigerante de guaraná no Amazonas.

Fundado em 1945 pelo comendador José Cruz, industrial do ano em 1971, a marca, como diz seu presidente Luiz Cruz, “se entrelaça com a história da nossa família”. Nascido em Nagosa, Distrito de Viseu, Portugal, a 28 de junho de 1911, o Comendador José Cruz fez o percurso de tantos portugueses que deixaram a terra natal em busca de oportunidade: motivado pelo desejo de conquista e esperança de encontrar no Brasil acolhimentos, estabeleceu-se em Manaus, onde fincou suas raízes e iniciou sua trajetória empresarial. Por força de liderança e carisma, tornou-se um dos empreendedores mais respeitados do Amazonas, gozando de reconhecimento e admiração, fato que o credenciou junto aos seus pares, sendo eleito vice-presidente da Associação Comercial do Amazonas, presidente do Conselho da Comunidade Portuguesa e Luso-Brasileira e do Hospital Beneficente Portuguesa, ao qual dedicou grande parte de sua vida.

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O empresário Luiz Carvalho Cruz, diretor-superintendente da J. Cruz Indústria de Bebidas (Magistral) compartilha a direção da empresa com o irmão Vítor Cruz e José Cruz Neto, foi homenageado pelo Sistema FIEAM como “Industrial do Ano 2025”, em cerimônia realizada em maio passado. Na oportunidade foram também agraciados Glauco Luzeiro (Microindustrial do Ano) e a Recofarma (Exportadora do Ano 2024). O prêmio Fieam reconhece a liderança na empresa, que celebra 80 anos, uma das mais longevas do Amazonas, ao lado do Grupo Bemol. A Magistral, ao que demonstra sua história, adotou política de crescimento gradual, progressivamente com base na qual foi diversificando seu portfólio com a fabricação de refrigerantes de vários outros sabores assim como a industrialização de água mineral, sempre alicerçada no forte compromisso com a qualidade, a comunidade e o desenvolvimento sustentável no Amazonas.

A história do refrigerante de guaraná no Amazonas tem como referência a segunda metade do século XX em Manaus. O decano do setor, o Magistral, com os selos Magistral, Gold, Regente e Tauá, mantém-se, aos 80 anos, altaneiro representante da iniciativa empresarial do Estado. Ao lado de importantes marcas como o Baré (Ambev); Tuxaua, grupo Simões e Real, da família Pio de Souza, líderes absolutos do mercado. A Magistral cresceu com esforço e soube se reinventar diante dos desafios encontrados ao longo dessas oito décadas. Hoje, ao que afirma Luiz Cruz, “observar que continuamos sendo reconhecidos mais de 50 anos depois é motivo de orgulho, mas, também, de responsabilidade com esse legado que herdamos de nosso pai, o qual devemos fortalecer”. Outras marcas, que remontam aos anos 50, 60 e 70, como o Luzéia, Líder, Andrade e Guti Guti, por razões diversas, tiveram suas atividades encerradas.

No interior do Estado, destaca-se a cidade de Itacoatiara, conhecida por ter uma história de produção local e pela presença de marcas antigas como Guaraná Xexuá (que funcionou até a década de 1970), Guaraná Guanabara (saiu do mercado em 1980) e Guaraná Rio Negro. Maués, a capital nacional do guaraná, concentra-se basicamente na produção do “Guaraná Orgânico de Maués ®”, produto in-natura, o guaraná em pó, totalmente diferente do refrigerante. Cultivado por pequenos produtores em regime de agricultura familiar.

Não tendo acesso a máquinas pesadas e implementos, o fruto é colhido um por um escolhendo somente os maduros, despolpado a mão e lavado em águas limpas antes de ser torrado por mais de 6 horas nos tradicionais tachos de barro para retirar toda a umidade e liberar os aromas característicos. Essa torrefação especial permite que seja retirada aquela película da semente (casquilho) e assim transformado em bastão ou moído com peneiras ultrafinas. Por isso o pó é altamente solúvel e com um sabor inconfundível.

Sobre o autor

Osíris M. Araújo da Silva é economista, escritor, membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA) e da Associação Comercial do Amazonas (ACA).

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Universidades e instituições de pesquisa amazônicas apresentam a “Carta de Belém”; veja o que diz

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A “Carta de Belém” foi assinada pelas principais redes de pesquisa. Foto: Divulgação

O encontro “Conexões Amazônicas: Ciência e Rede para a COP 30”, ocorrido na Universidade Federal do Pará (UFPA) no final do mês de setembro, foi o palco da criação da “Carta de Belém”, documento assinado pelas principais redes de pesquisa em sociobiodiversidade e clima da Amazônia, que reúne proposições, desafios e oportunidades para a Ciência Amazônica informar as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) do Brasil.

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Universidades e instituições de pesquisa amazônicas apresentam a “Carta de Belém”
A Universidade Federal do Pará (UFPA) foi palco para criação da Carta de Belém. Foto: Divulgação

O que diz a Carta? Na capital paraense, sede da COP 30, os cientistas apresentaram propostas, por eixos temáticos da NDC. A seguir, você confere um resumo dos principais pontos.

Leia também: Universidade Federal de Mato Grosso assina Carta de Belém pela Amazônia; leia na íntegra

Eixo II – Como as florestas, o oceano, as águas continentais e a biodiversidade devem ser geridos, segundo os cientistas Pan-Amazônicos?

Eles sugerem, por exemplo, que os ecossistemas aquáticos, marinhos e límnicos (de água doce), bem como os florestais e de áreas úmidas, devem receber monitoramento de longo prazo, a partir de programas como os PELDs e PPBios. Além disso, o trabalho deve ocorrer com abordagens participativas, incluindo os povos e comunidades tradicionais.

A partir de suas experiências em campo, eles apresentaram também recomendações de quais tecnologias devem ser utilizadas nesse monitoramento, e apontam como fundamentais o desenvolvimento e a aplicação de processos e produtos químicos sustentáveis que reduzem a geração de resíduos, o consumo de energia e a emissão de gases de efeito estufa.

Eixo III – É preciso urgência em novos Planos de Agricultura e sistemas alimentares!

Os cientistas enfatizam na carta de Belém que os impactos das atividades do agronegócio e de toda a infraestrutura envolvida, como as ferrovias, rodovias e hidrelétricas, devem ser avaliados. Do mesmo modo, as práticas produtivas de baixo impacto e com o envolvimento participativo dos povos e comunidades tradicionais devem ser incentivadas.

Tecnologias sociais e Agroecologia são essenciais. Além disso, todos devem estar integrados a essas necessidades: as comunidades internacionais precisam optar por produtos alimentícios oriundos de sistemas sustentáveis, clama o documento.

Eixo IV – Como proteger as cidades e suas populações ante os efeitos das mudanças climáticas?

Diagnósticos participativos sobre os impactos de grandes empreendimentos; fomento e apoio aos municípios para elaboração dos seus Planos Municipais sobre Mudança do Clima, como preconiza o Plano Nacional; além de estratégias de controle e profilaxia de agentes causadores de doenças em animais e humanos a partir das condições de uso e ocupação da terra, estão dentre as recomendações.

Eixo V – Desenvolvimento humano e social

Para os pesquisadores, quando o mundo fala em Amazônia e a ênfase recai sobre o meio ambiente e o clima, há uma grande falha em desconsiderar seus habitantes. Neste contexto, eles argumentam ser de extrema relevância tomadas de decisão como a “criação e execução de programas de formação intercultural voltados para jovens e adultos amazônidas, unindo saberes acadêmicos e ancestrais, desde o nível básico até o ensino superior; a construção de programas de formação e fixação de jovens pesquisadores na Amazônia, em conjunto e com ênfase em pesquisadores indígenas e de comunidades tradicionais; e a implementação de escolas de campo da sociobiodiversidade, como espaços de ensino, pesquisa e extensão para comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas e periféricas”.

Eixo VI – Objetivos transversais

Além de reconhecer que a produção do conhecimento científico é fortalecida a partir das contribuições de povos e comunidades tradicionais da Amazônia, os pesquisadores acentuam que todo esse trabalho necessita de integração entre redes e instituições brasileiras e internacionais que reconhecem e promovem o protagonismo da Amazônia como polo de soluções globais, e também para a troca de metodologias e escalonamento de soluções na Pan-Amazônia e em outras regiões tropicais. Também recomendam na Carta de Belém a democratização do conhecimento científico, comunicando os resultados das pesquisas em linguagem simples para tomadores de decisão, comunidades e sociedade civil, ampliando o impacto das evidências.

Reivindicações

A Universidade Federal do Pará (UFPA) foi palco para criação da Carta de Belém. Foto: Divulgação

Os pesquisadores identificaram demandas estruturais para garantir a efetividade da participação da ciência na região, com destaque para: Investimento massivo na formação de base do cidadão amazônico; Editais contínuos e de longo prazo, para fortalecimento dos programas de pesquisa na Amazônia; – Cumprimento dos compromissos assumidos pelas Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs) – que também devem complementar bolsas e editais; Fortalecimento das Universidades e Instituições de Pesquisa amazônicas; Criação de um programa de comunicação pública da ciência da Amazônia; e a Inclusão da justiça climática como princípio transversal para orientar todas as ações da NDC.

*Com informação da Universidade Federal de Roraima

Leia a carta de Belém na íntegra

Desenvolvimento social infantil: 4 organizações que investem na educação de crianças na Amazônia

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A região amazônica, com sua vasta biodiversidade e rica diversidade cultural, enfrenta desafios significativos no que diz respeito ao desenvolvimento de suas crianças. Diversas Organizações Não Governamentais (ONGs) têm se dedicado a promover a educação, a cultura e o bem-estar infantil, buscando transformar realidades e oferecer oportunidades para um futuro melhor.

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Essas organizações desempenham um papel fundamental no desenvolvimento social das crianças na Amazônia: sua inserção consciente na sociedade. Por meio de suas ações, as organizações contribuem para a construção de um futuro mais justo e igualitário para as novas gerações da região.

Confira algumas delas que tem atuação na Amazônia:

Instituto Vaga Lume: empoderando crianças por meio da leitura

O Instituto Vaga Lume é uma organização sem fins lucrativos que atua em comunidades rurais da Amazônia Legal desde 2001. Seu principal objetivo é empoderar crianças e jovens por meio da promoção da leitura e da gestão de bibliotecas comunitárias.

Até o momento, a organização já impactou mais de 111 mil crianças e jovens, com a formação de 6.000 mediadores de leitura e a doação de mais de 195 mil livros.

Além disso, promove intercâmbios culturais que conectam jovens da Amazônia a escolas e organizações do Sudeste brasileiro, fortalecendo a troca de saberes e experiências.

O Instituto possui três escritório: em São Paulo (SP); em Manaus (AM); e em Belém (PA).

Leia também: Crianças indígenas entregam manifesto pelo meio ambiente a ministras

Mulher lendo para crianças em Oriximiná, no Oeste do Pará. Foto: Divulgação/Instituto Vaga Lume

Associação Mapinguari: cultura e educação para crianças da Amazônia

A Associação Mapinguari, com sede em Porto Velho (RO), desenvolve projetos culturais e educacionais em diversas comunidades da Amazônia. Suas ações incluem oficinas, espetáculos, exibições de cinema, cursos para professores e atividades voltadas para crianças e adolescentes da rede pública estadual e municipal de ensino.

A associação trabalha de forma gratuita, vivendo apenas de doações, e respeita as culturas locais, atuando em comunidades ribeirinhas, quilombolas, indígenas e extrativistas.

Uma dessas ações é o Projeto Amazônia das Palavras que leva literatura itinerante, conhecimento, cultura e, sobretudo, troca de saberes entre os seus participantes, navegando 1.300 Km pelos Rios Negro, Amazonas e Madeira com Oficinas Literárias e Atividades Lúdicas.

Foto: Divulgação/Associação Mapinguari

Projeto “Somos Ribeirinhos”: educação, saúde e bem-estar infantil

O Projeto Somos Ribeirinhos é uma iniciativa sediada em Vila do Cuia, no município de Anamã, no Amazonas, com atuação focada em comunidades ribeirinhas. Fundado por Max Dacampo, que também é missionário vinculado à Jethro International, o projeto busca oferecer apoio material, educativo, social e espiritual às famílias ribeirinhas.

Entre as ações desenvolvidas estão a distribuição de cestas básicas, doações de roupas, materiais escolares e auxílio na construção de moradias. Outros serviços incluem atividades para crianças, como reforço escolar, oficinas culturais, eventos recreativos e assistência em áreas de saúde e bem-estar.

A estrutura do projeto compreende espaços para armazenamento e distribuição de mantimentos, locais para oficinas, momentos de lazer e áreas de encontro para oração e reflexão. O Somos Ribeirinhos funciona por meio de voluntariado local — cerca de 21 voluntários moradores da própria comunidade — o que facilita a confiança e o relacionamento com as famílias atendidas.

Do ponto de vista legal, o projeto está registrado como associação privada e com natureza jurídica voltada às atividades de defesa de direitos sociais. A missão declarada do projeto está centrada em promover saúde, bem-estar, educação, assistência social e valores de fé junto às populações ribeirinhas.

Foto: Divulgação/Somos Ribeirinhos

ACNUR: proteção e educação para crianças refugiadas

Não tem como não citar as ações da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) voltadas para Amazônia. A agência tem implementado projetos voltados para a proteção e o desenvolvimento de crianças refugiadas na região.

Um exemplo é o ‘Jardim Sésamo‘, uma plataforma que oferece mais de 450 materiais educativos para crianças refugiadas e migrantes abrigadas em Roraima, por meio de um Wi-Fi local gratuito.

Além disso, o projeto “Proteção Integral e Promoção dos Direitos de Crianças, Adolescentes e Jovens Indígenas na Amazônia Legal”, liderado pelo UNICEF em parceria com outras agências da ONU, busca integrar saúde, educação, proteção e bioeconomia em seis estados da Amazônia Legal, com foco na população indígena.

Casa da Criança: obra social de Manaus celebra a infância há mais de 70 anos

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Casa da Criança foi criada em 1948. Foto: Adneison Severiano/Acervo Rede Amazônica AM

Comemorado nacionalmente no dia 12 de outubro, o Dia das Crianças é uma data que celebra a importância da infância, o seu desenvolvimento integral e, principalmente, a garantia dos direitos à saúde, bem-estar e educação infantil.

As creches, por exemplo, são cruciais para o processo de aprendizagem e formação cognitiva, emocional, física e social das crianças.

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Dito isso, você sabia que existe uma instituição em Manaus (AM) que cumpre essa função social há 77 anos de forma voluntária?

Localizada no Centro Histórico da capital amazonense, a Casa da Criança é uma creche-escola que oferece assistência social e ensino para crianças de 2 a 5 anos de idade oriundas de famílias carentes.

Casa da criança em manaus
A entidade, desde 1948, garante acolhimento, cuidado e segurança para pais e filhos em situação de vulnerabilidade social até os dias atuais. Foto: Reprodução

Origem da Casa da Criança

Nos anos 1940, Manaus possuía aproximadamente 54 mil crianças de zero a nove anos de idade que não sabiam ler ou escrever, segundo os dados do IBGE. A maioria era proveniente de famílias onde os pais se ausentavam para trabalhar e deixavam os filhos desacompanhados em casa.

Essa realidade motivou o então bispo da cidade, Dom João da Matta Andrade e Amaral, a idealizar um lugar onde trabalhos de assistência social e educação pudessem ser desenvolvidos para elas.

Fachada da Casa em sua inauguração, em 1948. No recorte, bispo Dom João da Matta. Foto: Reprodução

Diante da preocupação, a Diocese de Manaus realizou a compra de dois terrenos localizados na Avenida Ramos Ferreira, no Centro da cidade, para a construção da Casa. A obra foi inaugurada em 1º de fevereiro de 1948, numa grande procissão que iniciou do Colégio Santa Doroteia, situado na Avenida Joaquim Nabuco, até o novo local, que já contava com um prédio construído denominado de Pavilhão Central.

Terreno comprado para a construção. Foto: Arquivo Casa da Criança

No evento, D. João da Matta anunciou a entrega da Casa da Criança, sob a direção das Três Filhas da Caridade: as Irmãs Hermínia Gomes de Matos, Maria Colares Carvalho e Madalena Silva.

Ciente de que elas não seriam remuneradas, o bispo disse para todos os presentes naquela ocasião: “Ajudem as Irmãs nesta Obra Benemérita. Elas não têm remuneração, mas confio em vocês, que elas não passarão por grandes necessidades”.

Procissão de inauguração, em 1º de fevereiro de 1948. Foto: Arquivo Casa da Criança

A fala do bispo enraizou a solidariedade, união e sentimento de amor ao próximo da sociedade manauara como pilares essenciais para o funcionamento da instituição, algo que perdura até hoje.

Primeiros passos

Sob o comando das Três Filhas da Caridade, a Casa iniciou as atividades com 60 crianças de ambos os sexos, em regime de internato e semi-internato. A maioria assistida eram aquelas encaminhadas pelo juiz, abandonadas na porta da instituição e as que vinham somente para passar o dia. A Casa também recepcionou, naquele período, jovens oriundas do interior do Estado, que viriam trabalhar em Manaus e não tinham onde morar.

Acima, Irmã Laura com as primeiras crianças matriculadas. Abaixo, Dom João com as jovens oriundas do interior e abrigadas na Casa. Fotos: Arquivo Casa da Criança

As primeiras professoras desenvolveram atividades pedagógicas e um trabalho apostólico para as crianças, com base na educação vicentina, sistema de ensino baseado nos princípios católicos e na formação religiosa dos pequenos, destacando os valores da igualdade, fraternidade, amor e justiça. Tal método educacional permanece até os dias atuais.

Fotos: Arquivo Casa da Criança

No ano seguinte, a instituição ganhou novas instalações, como:

  • o pavilhão Dom João da Matta, em 1949, destinado às meninas;
  • a lavanderia, em janeiro de 1950;
  • em 1951, o pavilhão Irmã Rosalie Rendu funcionou como berçário, atendendo a 100 crianças;
  • em 1952, o pavilhão Martagão Gesteira, destinado aos meninos e à cozinha;
  • o pavilhão Margarida Nassau, destinado às meninas de quatro e cinco anos;
  • e a capela da Medalha Milagrosa, em 1956.

Isso sem falar do prédio principal, destinado para a parte administrativa da Casa da Criança.

Como é hoje?

Atualmente, a creche-escola conta a dedicação de cinco irmãs, incluindo a diretora-presidente Ir. Maria da Cruz da Conceição Silva. Cerca de 300 crianças, com idades entre 2 e 5 anos, são atendidas hoje pela entidade, com foco prioritário na área da assistência social, sendo a educação infantil um complemento das ações sociais. O horário de funcionamento é das 7h às 15h30.

De acordo com a direção, os pequenos que são atendidos no local residem em diversos bairros da cidade de Manaus, especialmente nas adjacências do Centro, incluindo zonas com maior vulnerabilidade social como as zonas Sul e Leste.

“Nossa atuação está direcionada principalmente para garantir a proteção social de crianças em situação de risco ou vulnerabilidade, promovendo acolhimento, cuidado, nutrição e segurança. Os pais ou responsáveis são, em sua maioria, trabalhadores informais, como ambulantes, domésticas e outras categorias de baixa renda, sem condições de arcar com uma creche particular. Por isso, confiam em nossa instituição como espaço de proteção e cuidado para seus filhos”, frisa a diretora.

Leia também: Descubra como crianças indígenas se divertem

De mãe para filha

Ívina, aos 3 anos de idade, na Casa da Criança. Foto: Ívina Garcia/Arquivo Pessoal

Foi exatamente esse cenário que colocou a Casa da Criança na rotina da amazonense Ívina Garcia. A jornalista de 28 anos conta que estudou na instituição devido à falta de tempo da mãe, que trabalhava o dia todo e não tinha condições de arcar com uma creche.

“Como minha mãe trabalhava o dia todo, minha família decidiu me colocar lá porque o ensino era integral e também era próximo de casa. Estudei entre 2000 e 2002 lá e foi um período muito importante para mim”, conta a ex-aluna da Casa da Criança.

A mesma dificuldade da mãe também motivou Ívina a matricular a sua filha, Ágata, na Casa da Criança. Porém, com um fator a mais determinante: a pandemia da Covid-19.

Filha da Ívina, Ágata Garcia, também aos três anos de idade, foi aluna da Casa. Foto: Ívina Garcia/Arquivo Pessoal

“Minha filha estudou entre 2020 e 2021. Ela teve pouco tempo no local e sem muitas atividades presenciais por conta da pandemia na época, mesmo assim, ela gostou muito de lá. Foi uma ajuda muito grande ter ela lá, pois eu tinha acabado de mudar de trabalho e meu horário coincidia com os horários dela. Então, foi incrível”, relatou a mãe.

Morando atualmente em São Paulo, Ívina destacou a importância da Casa da Criança tanto na sua formação pessoal quanto na da filha.

“Fico feliz pela atuação da Casa da Criança na minha vida e da Ágata, por ela ter criado boas memórias como eu criei. Acredito que seja uma creche muito boa, tanto na estrutura quanto no ensino também, não é só um lugar onde as crianças ficam brincando o dia todo”, finaliza.

Doações

Apesar da forte atuação social em prol da população carente, a Casa da Criança depende exclusivamente de doações para sua manutenção. Segundo a direção, ajudas proveniente de órgãos públicos, empresas privadas e também de ex-alunos continuam sendo a principal fonte de recursos para o custeio das atividades.

“A instituição continua a se manter por meio das doações provenientes de benfeitores e da sociedade manauara em geral. Com a providência divina, podemos afirmar que não passamos por necessidades graves. O trabalho diário é árduo, mas, sob a intercessão de Nossa Senhora e as graças de Deus, conseguimos seguir adiante e levar esta obra benemérita com fé e perseverança”, afirma a diretora.

Irmã Maria da Cruz, diretora-presidente da Casa da Criança desde 2018. Foto: Reprodução

A Irmã detalha que colaboradores como professores, técnicos administrativos e funcionários terceirizados são cedidos por entidades públicas, porém, o custo mensal ainda é bastante significativo.

“Apesar da forte rede de apoio, a Casa da Criança tem alta demanda por recursos financeiros e materiais para manter suas atividades e atender com qualidade. O custo mensal é significativo, mas varia conforme as doações e convênios ativos. A principal necessidade é garantir a manutenção da estrutura, alimentação, folha de pagamento dos funcionários”, frisa Maria da Cruz, que está à frente do local desde 2018.

As estimativas apontam que, em 77 anos de história, a Casa da Criança já beneficiou aproximadamente 25 mil crianças com ações sociais.

Ajuda

Para ajudar a Casa da Criança com equipamentos e outras formas, basta entrar em contato pelo telefone (92) 3232-5282. Quem quiser doar, as contas para o recebimento de ajudas financeiras são:

Banco do Brasil: Agência 1862; Conta 39841-1
Bradesco: Agência 0320-4; Conta 037032-0

“Nossa missão é cuidar, educar e transformar vidas. É desta forma que vamos contribuir para um futuro mais justo e humano para as nossas crianças, que possamos garantir um lugar seguro, digno e acolhedor, onde suas necessidades básicas sejam atendidas e seus direitos assegurados”, finalizou a Irmã.

Fontes

GUIMARÃES, Erilane de Souza. ‘A Casa da Criança de Manaus: história de uma instituição educativa’. Sorocaba, SP, 2012.

*Por Dayson Valente, para o Portal Amazônia

Projetos sociais oferecem apoio a crianças em situação de vulnerabilidade na Amazônia Legal

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Foto: Reprodução/Facebook-Abrigo Janell Doyle

A realidade de crianças em situação de vulnerabilidade social é um desafio constante em diversos estados da Amazônia Legal. A região, marcada por desigualdades, apresenta altos índices de pobreza, evasão escolar e trabalho infantil, o que exige a atuação de instituições públicas e privadas para garantir direitos básicos.

Diante desse cenário, organizações não governamentais (ONGs) e outras entidades têm desenvolvido projetos que buscam promover cidadania, educação e dignidade para crianças e adolescentes. Essas iniciativas alcançam áreas urbanas e até comunidades ribeirinhas, muitas vezes distantes dos serviços essenciais.

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Cada capital dos estados que compõem a Amazônia Legal conta com programas voltados ao atendimento de crianças, oferecendo reforço escolar, atividades culturais, esportivas e apoio psicológico. Essas ações visam não apenas suprir carências imediatas, mas também fortalecer a inclusão social.

O Portal Amazônia reuniu informações sobre o trabalho de algumas dessas organizações em capitais da Amazônia Legal:

Lar Batista Janell Doyle (AM)

O Lar Batista Janell Doyle, localizado em Manaus, é uma instituição voltada para o acolhimento de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, vítimas de abandono, violência ou que tiveram seus direitos violados.

Fundado por missionários, o espaço funciona em parceria com o poder público e tem como objetivo garantir proteção, moradia temporária, alimentação, educação e acompanhamento psicológico.

A casa acolhe crianças de diferentes idades, oferecendo um ambiente seguro e estruturado enquanto aguardam decisões judiciais sobre reintegração familiar ou adoção.

Além do acolhimento básico, o abrigo desenvolve atividades educativas, esportivas e culturais, que ajudam no fortalecimento da autoestima e no estímulo ao desenvolvimento das crianças.

O Janell Doyle também promove a participação de voluntários em oficinas e projetos, ampliando as oportunidades de socialização e aprendizado. Dessa forma, o abrigo cumpre um papel essencial na defesa dos direitos da infância em Manaus, garantindo apoio e proteção para crianças que se encontram em situação de risco social.

Projeto Anjos da Guarda (PA)

O Projeto Anjos da Guarda é uma iniciativa da Prefeitura de Belém, por meio da Guarda Municipal, que atende crianças e adolescentes de 7 a 16 anos em situação de vulnerabilidade social no bairro do Tapanã.

O serviço é gratuito e funciona nos períodos matutino e vespertino, sempre no contra turno escolar, para não coincidir com o horário das aulas regulares. Um dos requisitos para participação é que a criança ou adolescente esteja matriculado em escola pública.

As atividades oferecidas pelo projeto incluem acompanhamento pedagógico, educação ambiental, ética e cidadania, além de práticas esportivas como vôlei, futebol e artes marciais. O programa também promove aulas de dança, musicalização e oficinas de redação.

Além de estimular o desenvolvimento educacional e cultural, o Anjos da Guarda busca fortalecer vínculos familiares e comunitários, ocupando o tempo livre dos participantes com ações que promovem inclusão social e oferecem alternativas à ociosidade.

Foto: Divulgação/ Projeto Anjos da Guarda

Programa Girassol do Bem (MA)

Na capital maranhense, São Luís, o Programa Girassol do Bem atende crianças e adolescentes de famílias de baixa renda.

O projeto organiza oficinas de leitura, aulas de informática e atividades culturais como dança e teatro. A proposta busca integrar educação e cultura, oferecendo caminhos para que crianças ampliem suas perspectivas de futuro.

Projeto Laços (MT)

O ‘Projeto Laços – Fortalecimento Comunitário e Seguridade Social para moradores da comunidade Reserva do Coxipó’ é uma iniciativa do Instituto INCA em parceria com a Secretaria de Assistência Social e Cidadania de Mato Grosso.

O projeto foi lançado este ano e realiza um mapeamento da vulnerabilidade socioeconômica das famílias residentes na Reserva do Coxipó, comunidade marcada por moradias precárias, acesso limitado a serviços públicos, presença de imigrantes haitianos e mães solos, entre outras condições de risco.

Para crianças, adolescentes e adultos, o Projeto Laços oferece oficinas gratuitas de educação ambiental, música — incluindo a chamada música reciclável —, além de ações culturais e educativas voltadas ao fortalecimento de vínculos comunitários, proteção, saúde, convivência familiar e segurança alimentar.

O objetivo é proporcionar inclusão social, envolver a comunidade no processo participativo de melhoria de vida e gerar impacto contínuo, mesmo após o término das atividades principais.

Imagem: Reprodução/Instituto INCA

Projeto Compartilhe Amor (TO)

O Projeto Compartilhe Amor é uma iniciativa da Prefeitura de Palmas em parceria com o Instituto Nação Rap que oferece aulas gratuitas voltadas para crianças e jovens entre 8 e 17 anos. O projeto inclui modalidades esportivas, como futsal e jiu-jitsu, além de atividades culturais como violão e musicalização.

Também há inclusão de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) nas atividades, o que evidencia um esforço de atender diversidade de necessidades.

As aulas ocorrem de segunda a sexta-feira no contraturno escolar, a partir das 17h, na ETI Cora Coralina, localizada na região Norte da capital.

O projeto atende mais de 300 crianças e busca fortalecer os vínculos entre estudantes e escola, promovendo, além de desenvolvimento físico e cultural, socialização e oportunidades para crianças em situação de vulnerabilidade.

Foto: Elenilson Garcia/ Instituto Nação Rap

Mão na Massa (AP)

O projeto Mão na Massa é uma iniciativa do Ministério Público do Amapá (MPAP) voltada para jovens de Santana, com impacto positivo também em Macapá. O projeto promove a profissionalização e atividades lucrativas, buscando empoderar os participantes e oferecer um futuro com mais perspectivas. A iniciativa busca demonstrar como a educação e a conscientização podem ser ferramentas para transformar vidas.

Foto: Divulgação/ MPAP

Casa Família Rosetta (RO)

A Casa Família Rosetta, localizada em Porto Velho, é um projeto que atua há mais de 20 anos no acolhimento de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. A instituição é administrada pelas Irmãs da Caridade e oferece não apenas um abrigo seguro, mas também atividades educativas, assistência médica e psicológica.

O objetivo principal é proporcionar um ambiente familiar e acolhedor, onde os jovens possam se desenvolver de forma saudável, longe dos riscos das ruas.

Além do acolhimento, a Casa Família Rosetta desenvolve ações para resgatar a dignidade e a esperança de crianças e adolescentes. O trabalho é focado em preparar os jovens para a vida adulta, buscando sua reintegração familiar ou social.

A Casa é mantida por doações, parcerias e o trabalho voluntário, demonstrando a força da solidariedade da comunidade de Porto Velho na construção de um futuro melhor para os mais vulneráveis.

Especial Dia das Crianças: você conhece as versões “crianças” de animais amazônicos? 

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Os filhotes da Amazônia são pequenos animais que enfrentam desafios para crescer e sobreviver em um dos ecossistemas mais complexos do planetas. Assim como toda criança humana, muitos deles precisam de suporte e apoio dos pais e seus ambientes para aprender a sobreviver e crescer.

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O Dia das Crianças, celebrado em 12 de outubro, faz lembrar o quanto as crianças são fofas, engraçadas e autênticas. E isso tudo também vale para os filhotes de animais da Amazônia.

Pensando nisso, a equipe do Portal Amazônia buscou fotos que revelem como são dez animais amazônicos em sua fase como filhotes. Confira:

As “crianças” da floresta

Sauim de coleira

Sauim de coleira criança
O sauim-de-coleira faz parte da lista dos 25 primatas mais ameaçados do mundo. A espécie é encontrada em Manaus (AM). Foto: Diogo Lagroteria
Sauim de coleira
O primata é chamado de ‘saium-de-coleira’ devido uma faixa branca semelhante a uma coleira, que vai do peito até o pescoço. Foto: Diogo Lagroteria 
Sauim de coleira
A espécie normalmente anda em grupos de 2 à 12 animais, em que apenas uma fêmea reproduz, dando à luz apenas à um ou dois filhotes de cada vez. Foto: Diogo Lagroteria

Onça-pintada

A onça-pintada é um animal de grande porte e, por isso, é considerado o maior felino das Américas e o maior carnívoro da América do Sul. Foto: Chris Brunskill
A pelagem o felino varia de amarelo-claro a castanho e destaca-se pela presença de várias manchas. Foto: Lucas Ninnogcom
A onça fêmea alcança a maturidade sexual aos dois anos e pode ter de um a quatro filhotes, sendo que o bebê pesa em média 1kg. Foto: Reprodução/Instagram-@parqueecologicosaocarlos

Tatu Canastra

O tatu-canastra é a maior de todas as espécies de tatus existentes. Seu tamanho pode chegar a um metro e meio de comprimento (do focinho à cauda) e mais de 50 quilos. Foto: Reprodução/Mundo ecologia
O animal está na lista de espécies ameaçadas de extinção no Brasil. Foto: Reprodução/Projeto Tatu-Canastra Pantanal

Jacaré Açu

Só na região amazônica habitam quatro espécies, sendo a área com maior variedades de jacarés do mundo. Foto: Reprodução/Facebook-@neoselva
O macho pode chegar até seis metros de comprimento e a fêmea até cerca de dois metros e 80 centímetros, podendo chegar até 100 anos de idade.  Foto: Reprodução/Policia Militar do DF
Os jacarés jovens devem ter muito cuidado, pois correm o risco de serem devorados assim que nascem por jiboias ou até mesmo outros jacarés adultos. Foto: Marcos Coutinho/RAN ICMBio

Peixe-boi-da-Amazônia

O Peixe-boi-da-Amazônia é a menor espécie de peixe-boi do mundo, chegando a até 3 metros de comprimento e 450 kg. Foto: Reprodução/Associação Amigos do Peixe-boi
Alimenta-se de grande variedade de plantas aquáticas e semiaquáticas, e consome cerca de 8% de seu peso vivo em alimento por dia. Foto: Reprodução/Agência Pará
A gestação dura 12 meses e normalmente, apenas um pequeno peixe-boi nasce. Foto: Débora Vale/Ascom Inpa

Leia também: Que tal conhecer alguns animais que são a cara da Amazônia?

Ariranha

Filhotes de Ariranha
Filhotes de ariranha são semiaquáticos: vivem tanto em ambientes terrestres quanto com água. Foto: Reprodução/Mundo Ecologia
Filhotes de Ariranha
A espécie têm um papel fundamental no equilíbrio dos ambientes aquáticos pelo controle de populações de outras espécies animais, principalmente peixes, inclusive espécies invasoras e pragas. Foto: Reprodução/Mundo Ecologia

Bicho-Preguiça

A espécie possui papel relevante na manutenção do equilíbrio ecológico. Foto: Laerzio Chierosin Neto
O principal risco enfrentado por essas espécies é o deflorestamento, que elimina árvores essenciais tanto para abrigo quanto para alimentação. Foto: Natália Lima
Sua dieta é composta principalmente por folhas, como da embaúba, e várias outras espécies de árvores. Foto: Reprodução/Instagram-@biologoamaral

Jabuti-piranga

Filhotes de Jabuti. O nome vem por conta da coloração das escamas da cabeça e das patas avermelhadas. Foto: Reprodução/Instagram-@biologoamaral
São animais dóceis e tranquilos, que vivem durante muitos anos, podendo chegar aos 100 anos. Foto: Reprodução/Instagram-@biologoamaral

Macaco-de-cheiro

A gestação dura de 140 a 150 dias, nascendo apenas um filhote que é cuidado somente pela mãe. Foto: Reprodução/Instagram-@biologoamaral
Os macacos de cheiro onívoros, e aproveitam a grande variedade de matéria vegetal como frutos e moluscos terrestres. Foto: Reprodução/Instagram-@biologoamaral
O tamanho médio de grupos é de 50 indivíduos, e pode variar de 5 a mais de 60 indivíduos. Foto: Reprodução/Mundo Ecologia

Gavião-real

Embora a espécie não seja a maior das aves predadoras do planeta, é tida como a mais forte. Foto: Antonio Luiz
O filhote precisa de 4 a 5 anos para alcançar a plumagem adulta. Foto: Reprodução/Instagram-@ZooSaopaulo
A espécie é rápida e forte em suas investidas, sendo capaz de arrancar preguiças agarradas a galhos de árvores. Foto: Alexandre Marchetti/Itaipu Binacional

De filhotes a adultos: veja como crescem (e mudam!) quatro animais da Amazônia

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Foto: Zoológico FollyFarm

Por Luciana Frazão

Na natureza, crescer não é só uma questão de tempo. Para muitos animais, a transição da infância para a vida adulta envolve transformações visuais e comportamentais marcantes, muitas vezes tão drásticas que o filhote mal se parece com a forma final.

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Na Amazônia, onde a diversidade é imensa e os desafios de sobrevivência começam cedo, essas mudanças são fundamentais para que cada espécie encontre seu lugar na floresta.

Anta (Tapirus terrestris): do camuflado ao discreto

Os filhotes de anta nascem com o corpo coberto por listras e pintinhas brancas sobre um fundo marrom-escuro, como um “pijama” cheio de estilo. Essa pelagem tem uma função importante: servir de camuflagem entre sombras e folhas, ajudando os pequenos a se esconderem de predadores. Por volta dos seis meses de idade, o padrão juvenil começa a desaparecer e dá lugar à coloração acinzentada e uniforme dos adultos.

Além de mudanças visuais, o comportamento desses animais também evolui — a anta jovem começa a explorar o ambiente sozinha e a se alimentar com mais autonomia. O filhote acompanha a mãe durante 18 meses a dois anos, quando finalmente está pronta para deixar definitivamente a infância para trás e seguir sua vida como adulta discreta e solitária da floresta.

Aos seis meses, esses animais assumem a coloração uniforme dos adultos.
Com pelagem cheia de listras e pintinhas, o filhote de anta usa seu “pijama camuflado” para se proteger. Aos seis meses, assume a coloração uniforme dos adultos. Foto: Zoológico FollyFarm

Rã-paradoxo (Pseudis paradoxa): o filhote gigante que vira um adulto “baixotinho”

Na maioria dos vertebrados, esperamos que os filhotes cresçam até se tornarem adultos maiores. Mas a rã-paradoxo faz exatamente o contrário! Encontrada em áreas alagadas e margens de lagos amazônicos, essa espécie chama a atenção pelo tamanho impressionante de seus girinos, que podem ultrapassar os 25 centímetros de comprimento.

Já os adultos, depois da metamorfose, medem cerca de 6 a 7 centímetros. Essa redução está associada a uma mudança de estilo de vida: os girinos vivem na água e precisam de velocidade e alcance, enquanto os adultos são mais discretos e vivem entre vegetação aquática. Apesar do tamanho reduzido, os animais adultos estão prontos para garantir a próxima geração de “gigantes temporários”.

O girino da rã-paradoxo pode ser três vezes maior que o adulto! Um crescimento invertido que só a natureza amazônica (e a Ciência) explica. Foto: Elson Meneses-Pelayo

Boto-cor-de-rosa (Inia geoffrensis): da infância cinzenta ao rosa encantado

Ícone da Amazônia e estrela de muitas lendas, o boto-cor-de-rosa também passa por mudanças visuais curiosas ao longo da vida. Os filhotes nascem com coloração cinza-escura, uniforme e opaca, que serve como uma forma de camuflagem natural nos rios turvos da floresta. Essa tonalidade discreta ajuda os jovens a se protegerem de predadores, enquanto ainda estão sob os cuidados da mãe. À medida que crescem, principalmente os machos, a coloração do corpo começa a se modificar, e o rosa vai se tornando mais evidente.

A tonalidade rosada desses animais pode ter origem em múltiplos fatores: dilatação dos vasos sanguíneos próximos à pele (especialmente durante comportamentos sociais ou esforço físico), espessura da pele, atrito com o fundo dos rios e, claro, predisposição genética. Os botos atingem a maturidade sexual por volta 9 anos de idade e tamanho entre 1,80 e 2m (no caso da fêmeas). As fêmeas geralmente permanecem mais acinzentadas, enquanto os machos mais velhos e dominantes podem exibir um rosa intenso, quase fluorescente.

Os filhotes nascem cinzentos e discretos, mas ao longo da vida, especialmente os machos, vão ganhando tons rosados cada vez mais intensos. Na foto, um filhote de boto-cor-de-rosa resgatado no Rio Paila, Bolívia, por biólogos. Foto: Dado Galdieri_AP

Gavião-real (Harpia harpyja): penas brancas de bebê, garras de adulto

Nascida com penas brancas, expressão dócil e corpo desajeitado, o gavião-real, maior ave de rapina das Américas, esconde sob sua aparência angelical o futuro de um poderoso predador. Durante os primeiros 10 meses de vida, os filhotes são alimentados e protegidos pelos pais, mesmo depois de começarem a voar. Com o passar dos meses, as penas brancas são substituídas por plumagem acinzentada e preta, e o olhar se torna mais penetrante e predador.

As garras, que já nascem afiadas, ganham força e tamanho proporcional à caça. Apesar de começarem a voar cedo, as harpias só se tornam sexualmente maduras entre 4 e 5 anos de idade. Até lá, têm muito a aprender com os pais, e tempo de sobra para desenvolver as habilidades que as colocarão no topo da cadeia alimentar da floresta.

Com penas brancas e bico ainda suave, o filhote de gavião-real parece inofensivo. Mas as garras afiadas denunciam o que está por vir. Foto: Projeto Harpia

Na Amazônia, cada fase da vida revela uma nova versão dos animais que a habitam. Das pintinhas camufladas da anta ao rosa vibrante do boto, passando por metamorfoses surpreendentes e mudanças de comportamento, crescer na floresta é um processo cheio de estratégia, adaptação e beleza.

Observar essas transformações nos lembra que a natureza é dinâmica e criativa em cada detalhe do desenvolvimento animal. E assim, de filhotes a adultos, a biodiversidade amazônica segue nos encantando, sempre cheia de surpresas. Espero que tenham gostado do texto dessa semana!

Abraços de sucuri pra vocês, e até o próximo encontro com mais animais incríveis da nossa Amazônia!

Sobre a autora

Luciana Frazão é pesquisadora na Universidade de Coimbra (Portugal), onde atua em estudos relacionados as Reservas da Biosfera da UNESCO, doutora em Biodiversidade e Conservação (Universidade Federal do Amazonas) e mestre em zoologia (Universidade Federal do Pará).

*O conteúdo é de responsabilidade da colunista