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Deputado celebra a conquista da equipe amazonense de karatê

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Foto: Márcio James

O deputado estadual Delegado Péricles (PL) concedeu, na terça-feira (14/10), Cessão de Tempo à Associação Esportiva Hien Kan para celebrar o desempenho de destaque da equipe amazonense na seletiva do Campeonato Brasileiro de Karatê 2025, realizado em Boa Vista (RR), que garantiu classificação para a grande final da competição, que será realizada em novembro.

A equipe amazonense conquistou 40 medalhas na competição nacional, resultado que, segundo o parlamentar, evidencia o talento, a disciplina e a dedicação dos atletas e treinadores do Amazonas.

“É com grande satisfação que hoje homenageamos esses atletas que conquistaram mais um grande feito para o karatê amazonense. Parabenizo o sensei Waghynton por mais essa conquista e aos atletas pela dedicação. Essa é a prova de que o esporte transforma vidas, inspira jovens e fortalece nossa identidade”, destacou o deputado Péricles.

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Delegado Péricles ressaltou, ainda, que o mandato tem atuado de forma efetiva no incentivo ao esporte, contribuindo para que atletas possam participar de competições em outros estados.

“Sempre disponibilizamos passagens, hospedagens e apoio logístico para os atletas dessa instituição, que é bastante respeitada no Amazonas e tem nos dado muito orgulho com resultados impressionantes. Parabéns a todos que colocam o karatê amazonense nesse patamar”, comemorou.

O presidente da associação Hien Kan, sensei Waghynton Melo, agradeceu ao deputado pelo apoio e ressaltou que o sucesso alcançado é fruto de parceria e compromisso com o esporte local.

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“Viemos aqui para mostrar o resultado de um trabalho que só é possível graças ao apoio do deputado Péricles, que há quatro anos acredita em nós. O esporte é a ferramenta que mantém nossos jovens longe das mazelas que assolam nossa sociedade. Vivemos em comunidades com muitas dificuldades, especialmente pela falta de espaços para a prática esportiva, e o projeto tem sido uma válvula de escape para muitas famílias. Mais uma vez, agradeço ao deputado em nome de todos os atletas e seus familiares”, concluiu o sensei.

Amazonas e o clima: impactos das mudanças globais

Seca em Tefé, no Amazonas. Foto: Ayan Fleischman

Por Yunier Sarmiento Ramírez e Jose Barbosa Filho

A dinâmica climática da região é marcada por duas estações bem definidas: a seca e a chuvosa, separadas por curtos períodos de transição. Tradicionalmente, a estação seca ocorre entre maio e setembro/outubro, caracterizando-se pela redução significativa das chuvas e pela consequente queda nos níveis dos rios. Já a estação chuvosa, que se estende de novembro a março, é marcada pelo aumento expressivo das precipitações, ocasionando a elevação dos níveis dos rios e as cheias que atingem florestas e áreas ribeirinhas. Os meses de abril e outubro configuram-se como períodos de transição entre essas duas fases.

Amazonas e o clima: impactos das mudanças globais
Fonte: CNN Brasil. Antes e depois: veja impacto da seca no Rio Negro. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/antes-e-depois-veja-impacto-da-seca-no-rio-negro/. Acesso em: 17 out. 2025.

Durante a cheia (novembro a março), o Amazonas vivencia um período de elevada pluviosidade que provoca o transbordamento dos rios, formando os igapós — florestas alagadas — e os igarapés, que integram o complexo sistema hídrico amazônico. Esse fenômeno, embora essencial à dinâmica ecológica da região, pode causar sérios transtornos às populações ribeirinhas, como o alagamento de moradias, prejuízos à agricultura de várzea e interrupção de rotas de transporte.

Na transição de abril, observa-se a redução gradual das chuvas e o início do processo de vazante, quando o nível dos rios começa a baixar. A estação seca (maio a setembro) é marcada por baixas precipitações, aumento da temperatura e queda da umidade relativa do ar. Esse período favorece o surgimento de focos de queimadas, o comprometimento da navegabilidade dos rios — com embarcações encalhadas em trechos críticos — e a escassez de recursos hídricos em comunidades isoladas. O mês de outubro, por sua vez, sinaliza o retorno das chuvas e o início da recuperação dos níveis de água.

Entre as principais causas desses eventos extremos estão fenômenos climáticos de escala global, como o El Niño, caracterizado pelo aquecimento anômalo das águas do Oceano Pacífico, e o aquecimento do Atlântico Tropical, que altera os padrões de circulação atmosférica e influencia a formação de nuvens na Amazônia. Esses fenômenos reduzem a umidade disponível e inibem a ocorrência de chuvas, intensificando os períodos de seca.

As consequências das secas severas são amplas e atingem diretamente a vida cotidiana das populações amazônicas: a escassez de água e alimentos, o isolamento de comunidades ribeirinhas devido à interrupção da navegação, o fechamento de comércios fluviais e o aumento das queimadas — que, por sua vez, agravam os problemas de saúde pública e a perda de biodiversidade. Em contrapartida, as cheias extremas também produzem efeitos negativos, inundando habitações, destruindo plantações, afetando a infraestrutura urbana e rural e forçando deslocamentos populacionais temporários.

De acordo com estudos recentes divulgados pela InfoAmazonia (2024), as mudanças climáticas globais estão intensificando tanto as secas quanto as cheias na Amazônia, tornando esses eventos mais extremos e frequentes. Essa tendência evidencia o crescente desequilíbrio do regime hidrológico amazônico, cujas consequências repercutem em toda a bacia hidrográfica e colocam em risco a estabilidade ecológica e socioeconômica da região.

A análise das receitas públicas do Estado do Amazonas revela uma trajetória de crescimento consistente ao longo do período de 2019 a 2024, ainda que em um cenário de intensificação das anomalias climáticas e de desafios socioeconômicos decorrentes da variabilidade ambiental. Conforme apresentado no Gráfico 1, observa-se que as Receitas – Exceto Intra-Orçamentárias – passaram de R$ 21,2 bilhões em 2019 para R$ 38,1 bilhões em 2024, o que representa um crescimento acumulado de aproximadamente 80% em cinco anos.

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Esse aumento reflete, em parte, a recuperação econômica pós-pandemia e o fortalecimento das bases fiscais estaduais, impulsionado pela arrecadação de impostos sobre o consumo e a produção industrial, especialmente no Polo Industrial de Manaus (PIM). No entanto, o comportamento das receitas também está sujeito aos impactos das variações climáticas, que afetam direta e indiretamente a economia regional. Em períodos de seca severa, o transporte fluvial — principal meio logístico do estado — sofre restrições, o que compromete o escoamento de mercadorias, eleva custos e reduz a arrecadação em determinados setores. Já nas cheias extremas, as inundações afetam atividades produtivas urbanas e rurais, ampliando os gastos públicos com ações de emergência e recuperação.

Gráfico 1 – Evolução do Valor das Receitas – Exceto Intra-Orçamentárias por Ano no Amazonas (R$)

A intensificação das mudanças climáticas — expressa por secas prolongadas, cheias extremas, queimadas, deslizamentos e elevação anormal dos níveis dos rios — tem produzido efeitos significativos sobre a estrutura fiscal do Estado do Amazonas. Esses fenômenos impactam tanto a arrecadação tributária quanto a dependência de transferências federais e a geração de receitas ambientais, revelando a necessidade de incorporar a variável climática ao planejamento orçamentário e às políticas públicas estaduais.

De modo geral, as mudanças climáticas podem:

  1. Reduzir a arrecadação tributária, por afetar a atividade econômica, o consumo, a produção e o transporte fluvial;
  2. Aumentar a dependência de transferências da União, especialmente em períodos de crise ambiental, quando crescem as demandas por recursos destinados à saúde, defesa civil e assistência social;
  3. Gerar novas receitas associadas à mitigação e à resposta a desastres, como compensações financeiras, operações de crédito e multas ambientais.

Essa lógica orienta a construção de três eixos analíticos complementares, que permitem compreender como os eventos climáticos extremos afetam o equilíbrio fiscal e a resiliência econômica do Estado.

Eixo 1 — Arrecadação Própria e Atividade Econômica

O primeiro eixo examina o impacto das variações climáticas na capacidade arrecadatória do Estado, com foco nos tributos que refletem diretamente o desempenho econômico regional: ICMS (1.1.1.4.50.1.0), IPVA (1.1.1.2.51.0.0), IRRF (1.1.1.3.03.0.0) e taxas (1.1.2).

Durante os períodos de seca severa, a redução dos níveis dos rios compromete o transporte fluvial — eixo central da logística amazônica —, afetando o escoamento da produção e o abastecimento de insumos. Como consequência, há queda na arrecadação tributária e desaceleração da economia local. Em contrapartida, nas cheias extremas, a paralisação de atividades comerciais e produtivas em áreas urbanas e ribeirinhas também reduz temporariamente o volume de tributos arrecadados. Assim, a variação negativa na arrecadação durante eventos de seca, cheia ou interrupção logística constitui um indicador-chave da vulnerabilidade econômica e fiscal do Amazonas frente às mudanças climáticas.

Eixo 2 — Transferências Federais e Compensações Ambientais

O segundo eixo analisa a dependência dos repasses da União e de compensações financeiras em períodos de crise ambiental. Entre os principais componentes estão o FPE (1.7.1.1.50.0.0), as compensações pela exploração de recursos naturais (CFURH e CFEM – 1.7.1.2), os recursos do SUS (1.7.1.3), FUNDEB e FNDE (1.7.1.4 e 1.7.1.5), o FNAS (1.7.1.6) e os convênios de emergência (2.4.1.4).

Observa-se que, em situações de seca severa, enchentes ou queimadas de grande escala, tende a ocorrer expansão dos repasses federais destinados à recomposição de perdas e ao financiamento de políticas emergenciais. Esse comportamento evidencia a função contracíclica das transferências intergovernamentais, que atuam como mecanismo de compensação financeira e de apoio à capacidade fiscal estadual. Portanto, o crescimento desses repasses durante períodos de crise ambiental serve como indicador da dependência estrutural do Amazonas em relação à União em contextos de instabilidade climática.

Eixo 3 — Receitas Ambientais e Patrimoniais

O terceiro eixo foca nos mecanismos de política ambiental e de gestão patrimonial que produzem receitas diretamente associadas à mitigação e à resposta a desastres naturais. Entre as principais fontes estão a Taxa de Controle Ambiental (1.1.2.1.04.0.0), as multas ambientais (1.9.1.1.06.0.0), as compensações financeiras (1.7.1.2), a alienação de bens públicos danificados (2.2.0.0.00.0.0) e as operações de crédito para reconstrução (2.1.0.0.00.0.0).

O aumento dessas receitas indica, por um lado, o custo econômico crescente dos eventos climáticos e, por outro, o fortalecimento da atuação estatal em políticas ambientais e de reconstrução. Assim, a expansão das receitas ambientais e de crédito voltadas à recuperação de áreas afetadas pode ser interpretada como um indicador de resposta institucional e aprimoramento da governança ambiental no contexto amazônico.

Com base na lógica de análise e nos eixos fiscais apresentados anteriormente, foram definidos os grupos prioritários de receitas públicas a serem observados na investigação. Cada grupo representa uma dimensão específica de impacto das mudanças climáticas sobre as finanças estaduais, abrangendo desde a arrecadação própria até as receitas ambientais e operações de crédito voltadas à reconstrução. A tabela 1 a seguir sintetiza essas categorias, os principais códigos orçamentários e o tipo de impacto climático associado.

Tabela 1- Síntese: grupos prioritários para estudo

Categoria macroCódigos principaisTipo de impacto climático
Atividade econômica e arrecadação própria1.1.1.4, 1.1.2, 1.3.1Queda da arrecadação por desastres
Compensações e transferências federais1.7.1.2, 1.7.1.3, 1.7.1.6, 2.4.1Aumento da dependência de repasses
Receitas ambientais e multas1.1.2.1.04, 1.9.1.1.06Política ambiental e controle de desmatamento
Operações de crédito e capital2.1.0, 2.2.0Endividamento para reconstrução e adaptação

Essas transferências são realizadas por meio de convênios entre ministérios e governos estaduais ou municipais, geralmente com o objetivo de reconstruir pontes, estradas, escolas e unidades de saúde após desastres naturais, além de promover obras de drenagem, saneamento básico e contenção de encostas. Em contextos de seca severa, enchentes ou queimadas, observa-se historicamente um aumento expressivo desses repasses, especialmente aqueles firmados com o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, a Defesa Civil Nacional e o Ministério do Meio Ambiente.

O comportamento dessas receitas no período de 2019 a 2024 ilustra com clareza essa relação. Como mostra o Gráfico 2, as Transferências de Convênios da União cresceram de R$ 49 milhões em 2019 para R$ 137 milhões em 2021, refletindo o aumento dos repasses federais para a reconstrução de municípios atingidos pela cheia histórica de 2021 — uma das mais severas já registradas no estado.

Gráfico 2 – Evolução do Valor das Transferências de Convênios da União (R$)

Em 2022, nota-se uma redução significativa, com o valor caindo para R$ 101 milhões, o que coincide com o fim dos convênios emergenciais estabelecidos no ano anterior. Contudo, o ciclo volta a se inverter em 2023 e 2024, quando os valores sobem para R$ 147 milhões e R$ 200 milhões, respectivamente. Esse novo aumento está associado à seca extrema que afetou o Amazonas nesses dois anos, comprometendo o transporte fluvial, a geração de energia e o abastecimento de comunidades ribeirinhas, o que levou à ampliação de convênios de apoio e mitigação.

Portanto, a trajetória dessa rubrica evidencia que as mudanças climáticas têm influência direta sobre a execução das transferências intergovernamentais, funcionando como gatilhos fiscais que ampliam a necessidade de repasses extraordinários em períodos de crise. As cheias e secas severas intensificam tanto os danos materiais quanto as demandas por recursos, reforçando a importância de incorporar a variabilidade climática ao planejamento fiscal estadual, de modo a reduzir a dependência de transferências emergenciais e fortalecer políticas preventivas e de adaptação.

Com a colaboração de:

Prof. Dr, Yunier Sarmiento Ramírez possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade do Estado do Amazonas, mestrado em Gestão de Empresas pela Universidad de Holguín – Cuba e doutorado em Economia pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul. Atualmente é professor da Universidade Federal do Amazonas no Departamento de Economia e Análise – DEA e no Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia – PPGSS. Desenvolve pesquisas na área de Economia aplicada, teoria econômica e métodos quantitativos

Sobre o autor

Prof. Dr, José Barbosa Filho possui graduação em Engenharia de Pesca pela Universidade Federal do Ceará (1989), mestrado em Economia Rural pela Universidade Federal do Ceará (1992) e doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2005). Atualmente é professor Titular da Universidade Federal do Amazonas. Desenvolve pesquisas na área de Contabilidade Ambiental, Matemática Financeira e Econometria, com ênfase em Gestão Ambiental, atuando principalmente nas seguintes áreas: valoração ambiental, desenvolvimento sustentável, avaliação de impactos ambientais e gerenciamento de processos.

Contato: jbarbosa@ufam.edu.br

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Estudo da Nature Sustainability aponta riscos na exploração de petróleo na foz do rio Amazonas 

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A foz do rio Amazonas em questão é o fim da linha do rio mais extenso do mundo. É quando o Amazonas desemboca no Oceano Atlântico depois de percorrer 7 mil quilômetros. Imagem: Divulgação

A exploração de petróleo planejada para a costa do Amapá, na chamada Margem Equatorial, pode gerar impactos ambientais e sociais de grandes proporções, segundo estudo publicado pela revista Nature Sustainability. Um eventual acidente poderia ser mais grave, por exemplo, do que o desastre ocorrido no Golfo do México, em 2010.

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A pesquisa, conduzida por cientistas da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), Universidade Estadual do Amapá (UEAP), Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e parceiros internacionais, alerta para riscos à biodiversidade marinha, às áreas protegidas e às populações tradicionais que dependem dos recursos naturais da região.

Exploração de petróleo na foz do rio Amazonas . Imagem: Petrobrás

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Os pesquisadores utilizaram modelos de simulação que consideram fatores como a vazão do rio Amazonas, marés, correntes, ventos e características da costa. As projeções indicam que uma mancha de óleo poderia se espalhar por até 132 quilômetros em apenas três dias, comprometendo ecossistemas frágeis, incluindo manguezais e zonas úmidas costeiras. O abastecimento de água em cidades litorâneas também poderia ser afetado.

A equipe ressalta que o licenciamento ambiental atual foca na capacidade de resgate da fauna em caso de acidentes, mas não enfrenta a questão central: como conter um vazamento em um poço de 2,88 quilômetros de profundidade, sujeito a correntes oceânicas complexas. Para efeito de comparação, o desastre no Golfo do México, em 2010, ocorreu em 1,5 quilômetro de profundidade e levou mais de cinco meses para ser controlado.

Foz do Rio Amazonas. Imagem: Divulgação

Enquanto o licenciamento ambiental se concentra na capacidade da empresa petrolífera estatal de resgatar a vida selvagem marinha em caso de derramamento, a questão muito mais fundamental é a capacidade de tapar um vazamento, caso ocorra”, explica o pesquisador Philip Fearnside, do INPA, um dos autores do estudo. “A experiência com royalties do pré-sal e outros casos recentes mostra isso”, disse Fearnside.

Além dos impactos ambientais, o estudo evidencia riscos socioeconômicos. O Amapá, com mais de 700 mil habitantes, abriga comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas que dependem da pesca artesanal e da coleta de produtos florestais.

A cadeia do açaí, concentrada na região da Foz do rio Amazonas, movimentou mais de R$ 6 bilhões em 2023, valor que poderia ser diretamente comprometido em caso de contaminação. O episódio do derramamento de óleo que atingiu a costa do Nordeste brasileiro em 2019 é lembrado como referência para dimensionar as possíveis consequências.

Benefícios discutíveis

Outro alerta dos cientistas diz respeito à promessa de que a arrecadação com petróleo resultaria em benefícios sociais e no financiamento da transição energética. O artigo lembra que, em experiências anteriores, os royalties contribuíram para o aumento da desigualdade e não trouxeram melhorias sustentáveis. Além disso, o cenário global de combate às mudanças climáticas deve reduzir a demanda por combustíveis fósseis nos próximos anos, limitando a viabilidade econômica do projeto.

“A exploração de petróleo é algo temporário. O mundo inteiro, incluindo o Brasil, precisa parar logo de usar petróleo como combustível para evitar um catástrofe climático que dizimaria o Brasil, inclusive o Amapá”, alerta Philip Fearnside.

Como alternativa, os pesquisadores destacam o potencial solar do Amapá, que poderia gerar cinquenta vezes mais energia do que a população consome hoje utilizando apenas 1% do território estadual. Outras possibilidades incluem o fortalecimento da bioeconomia, com a agregação de valor a produtos como o açaí e a andiroba, e o incentivo ao turismo comunitário.

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Testes acontecendo

Atualmente, o plano de exploração de petróleo na foz do rio Amazonas está sendo submetido a testes exigidos pelo Ibama que têm como foco avaliar a capacidade da Petrobras de responder a situações de emergência. Entre os pontos mais críticos está o resgate de animais oleados, um protocolo que busca garantir a sobrevivência de espécies marinhas e costeiras em caso de derramamento de óleo.

Comunidade no Arquipélago do Bailique na foz do Rio Amazonas
Comunidade no Arquipélago do Bailique na foz do Rio Amazonas. Foto: MIDR/Divulgacão

Em simulações recentes, fiscais identificaram falhas como embarcações presas em redes, uso inadequado de equipamentos e improvisos que não atenderiam a cenários reais de desastre. Esses problemas reforçaram a avaliação de que, apesar dos planos apresentados em papel, a resposta prática ainda não é suficiente para lidar com a complexidade da região.

O resgate da fauna é especialmente sensível no Amapá porque envolve ecossistemas diversos — como manguezais, áreas de desova de tartarugas e rotas de aves migratórias — além de espécies emblemáticas como peixes-boi e botos. Nessas áreas, um acidente poderia comprometer não apenas a biodiversidade, mas também atividades de subsistência de comunidades ribeirinhas, indígenas e quilombolas que dependem diretamente da pesca artesanal.

Projeto apresenta perspectivas sustentáveis para a arquitetura amazônica

Foto: Divulgação/Projeto Casa Palafita

Com o intuito de unir saberes tradicionais amazônicos e inovação em arquitetura sustentável, a Universidade Federal do Pará (UFPA), por meio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU), inaugurou a Casa Palafita, um projeto colaborativo desenvolvido em parceria com a Ecole Nationale Supérieure d’Architecture de Paris-Belleville (Ensa-PB), com a Ordem dos Arquitetos da França e com o Laboratório da Cidade, sediado em Belém.

A iniciativa compõe as ações de internacionalização da Universidade e fortalece o intercâmbio de conhecimentos e práticas construtivas entre instituições de ensino brasileiras e francesas.

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O modelo de construção em palafita foi escolhido por ser adequado às condições ambientais da Amazônia, especialmente em um contexto de mudanças climáticas e elevação do nível das águas que afeta comunidades ribeirinhas.

O protótipo, com 35 m² de área construída, foi desenvolvido como uma habitação social em madeira e utilizou materiais bioclimáticos — selecionados por suas propriedades térmicas e de baixo impacto ambiental —, com elementos reaproveitados da construção civil e da indústria, em uma proposta que une sustentabilidade e inovação tecnológica.

Foto: Divulgação/Projeto Casa Palafita

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Projeto Casa Palafita

De acordo com José Júlio Lima, vice-diretor da FAU/UFPA e coordenador do projeto, a Casa Palafita foi concebida como um espaço de aprendizado e experimentação, que alia a pesquisa acadêmica à prática construtiva local.

“Essa vivência proporcionou o desenvolvimento de repertório sobre técnicas e materiais construtivos regionais, enriquecendo os debates e as oficinas realizadas na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo. Foram momentos de intensa troca, em que o conhecimento acadêmico dialogou com a prática comunitária, refletindo o espírito de cooperação que norteou este projeto”, destacou o docente.

A iniciativa contou com a participação dos arquitetos franceses Jorge Covarrubias e Eglantine Schonbuch e da engenheira civil Sara Lasagni, vinculados à Ensa-PB; dos professores José Júlio Lima, Monique Bentes, Louise Barbalho e Isabel Nascimento, da FAU/UFPA; do arquiteto Matheus Vieira e de artesãos com experiência em construção em madeira. Participaram, ainda, discentes da graduação, orientados pelo Centro Acadêmico de Arquitetura e Urbanismo da UFPA, e mestrandos em Engenharia Mecânica, responsáveis pela produção de módulos de fechamento confeccionados com fibras obtidas do caroço de açaí.

“Trata-se de uma experiência inovadora para a formação acadêmica em Arquitetura e Urbanismo, concebida por meio de painéis modulares criados por pesquisadores e estudantes capazes de se adaptar e crescer conforme as necessidades das famílias”, ressalta o professor José Júlio Lima.

Foto: Divulgação/Projeto Casa Palafita

Etapas

O processo de desenvolvimento da Casa Palafita envolveu desde visitas de campo de estudantes da instituição francesa a comunidades ribeirinhas até a realização de oficinas conjuntas com discentes da FAU/UFPA, o que resultou na elaboração do projeto executivo e na construção colaborativa do projeto. As atividades práticas foram realizadas em um canteiro experimental instalado nas proximidades da faculdade, em que as estruturas de madeira certificada e os módulos da edificação foram confeccionados pelos próprios estudantes.

“Estive presente em todas as etapas da construção, desde a recepção dos estudantes franceses na FAU até a inauguração da obra. Foi uma troca de conhecimentos e experiências muito interessante, pois os alunos da UFPA também se sentiram muito acolhidos em participar do projeto”, comenta Wesley Martins, estudante do curso de Graduação em Arquitetura e Urbanismo.

“Um dos principais desafios dos arquitetos, hoje em dia, é compreender como eles podem atuar em áreas ‘fora do comum’, trabalhando com materiais e técnicas construtivas diferentes das usuais do mercado. Então, com certeza, foi uma experiência enriquecedora”, destaca o estudante.

A Casa Palafita permanecerá montada nas proximidades da FAU e servirá como referência pedagógica para o ensino, a pesquisa e a extensão universitária, além de apoiar futuras formações e experimentações voltadas à construção sustentável e à valorização dos saberes e materiais amazônicos.

*Com informações da UFPA

Expedição científica reúne pesquisadores brasileiros e russos no Bico do Papagaio para estudar biodiversidade e mudanças climáticas

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Foto: Reprodução/UFNT

A região do Bico do Papagaio, no município de Esperantina (TO), recebeu a primeira ‘Expedição Científica ao Bico do Papagaio: biodiversidade, ecótono e mudanças climáticas no norte do Tocantins’ entre os dias 8 e 9 de outubro.

A iniciativa foi liderada pelo Instituto de Inovação e Internacionalização (Inova-In/UFNT) e contou com a participação de uma equipe multidisciplinar de pesquisadores da Universidade Federal do Norte do Tocantins (UFNT) e da Universidade Estatal de Tyumen, da Rússia.

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O grupo teve o apoio fundamental de órgãos públicos federais, como o Serviço de Patrimônio da União (SPU), o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e o Instituto Natureza do Tocantins (Naturatins).

O vice-reitor da UFNT, professor Nataniel Araújo, celebrou os resultados alcançados. “A Expedição foi um sucesso pleno, sendo a primeira de muitas. Iniciamos um projeto que vai gerar conhecimento científico relevante e fortalecer nossa presença na região”, afirmou.

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Para o superintendente da SPU, Edy César, a ação representa um marco para a ciência brasileira. “A SPU e o Governo Federal se orgulham em apoiar iniciativas como essa, que colocam o Tocantins no centro das discussões sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável”, destacou.

O professor Freud Romão, um dos coordenadores da atividade, ressaltou a importância dos resultados. “Catalogamos dezenas de espécies da fauna e flora local e fortalecemos uma rede de colaboração entre instituições nacionais e internacionais em prol da ciência e da vida”.

expedição bico do papagaio 2025 foto ufnt
Foto: Reprodução/UFNT

A expedição

Localizada na confluência dos rios Tocantins e Araguaia, a área é considerada um ecótono — zona de transição entre o Cerrado e a Amazônia —, o que a torna estratégica para pesquisas sobre biodiversidade, mudanças climáticas e impactos socioambientais.

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bico do papagaio
Imagem: Reprodução/Google Maps

Entre os principais objetivos da expedição estavam o levantamento do local destinado à futura Estação de Monitoramento de Mudanças Climáticas do Bico do Papagaio, a obtenção de dados para georreferenciamento e imagens aéreas, além do mapeamento preliminar da fauna, flora e comunidades locais.

A expedição também abre caminho para novas parcerias e convida pesquisadores, estudantes e instituições interessadas a integrar futuras etapas do projeto, consolidando o norte do Tocantins como um território de pesquisa e inovação ambiental.

*Com informações da UFNT

Quem foi Salomão Hatem? Imigrante investiu no comércio e desenvolvimento de Boa Vista

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Foto: Reprodução/Acervo Prefeitura de Boa Vista

Salomão Hatem é um nome popular em Boa Vista (RR) não à toa: o comerciante foi um dos empreendedores de destaque na capital roraimense por sua contribuição ao desenvolvimento comercial. Sua trajetória já motivou homenagens oficiais na cidade, como a mudança do nome da Praça das Águas, na Avenida Ene Garcez, que recebeu seu nome.

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A mudança de nome da praça foi formalizada por lei municipal publicada em Diário Oficial em agosto de 2024. Mas quem foi, de fato, Salomão Hatem?

Origem e trajetória de Salomão Hatem

Slaiman Ben Hammoud Hatem. Este é o nome completo de Salomão, que nasceu no dia 5 de abril de 1932, em Soueida (Síria). Filho de Zahie e Hammoud Hatem, era o primogênito de nove irmãos. Chegou ao Brasil em meados dos anos 1950, iniciando sua trajetória em São Paulo.

Hatem também passou por Goiás, onde teve uma loja e casou-se com Alzira Pereira de Castro. Com a esposa teve quatro filhos: Samir, Maruem, Walid e Soraya.

Radicou-se em Boa Vista somente em 1984 e, ao longo dos anos, ele e sua família passaram a contribuir com o desenvolvimento local, especialmente no que diz respeito ao comércio e serviços. Salomão Hatem morreu no dia 16 de outubro de 2007, em Brasília.

Imagem em preto e branco mostra Salomão Hatem
Foto: Divulgação

Tramitação da homenagem

O projeto que denominou a praça foi apresentado por um vereador e passou pelos trâmites regimentais na Câmara Municipal de Boa Vista. Relatos sobre a tramitação apontam que houve análise legislativa e publicação do ato que confere a denominação oficial.

A lei municipal que oficializa o nome da praça entrou em vigor na data de sua publicação, conforme os autos publicados pela Prefeitura e pela Câmara Municipal.

Parte da justificativa legislativa destaca as contribuições sociais e econômicas atribuídas à família Hatem na cidade, além de referir o reconhecimento público por serviços prestados à comunidade. O texto do projeto de lei menciona o objetivo de eternizar o nome de Salomão Hatem em um espaço público central da capital de Roraima.

Repercussão e registros oficiais

A mudança de nome teve cobertura pela imprensa local, que registrou a sanção — ainda que em alguns momentos tenha ocorrido debate legislativo sobre a constitucionalidade e o procedimento do projeto em comissões. A divulgação citou a sanção tácita do prefeito e a promulgação do ato, além de contextualizar a trajetória do homenageado como imigrante e empreendedor.

Os registros no Diário Oficial do Município e as atas legislativas estão disponíveis nos portais oficiais, onde constam a ementa da lei e sua publicação. Nos arquivos públicos é possível verificar a redação legal que altera a denominação da praça, bem como as datas relacionadas à apresentação do projeto e à promulgação.

Leia também: Conheça a história por trás dos nomes de dez principais avenidas da capital amazonense

A Praça das Águas Salomão Hatem hoje é um ponto de referência no Centro de Boa Vista. Ao receber o nome de Salomão Hatem, o local passou a integrar o conjunto de logradouros públicos cujo topônimo remete a personalidades que tiveram atuação relevante no município.

Sambaquis revelam transformações na biodiversidade e na alimentação dos povos da Amazônia

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Peneirando o passado: ao se degradar com a ação do tempo, as conchas que constituem os sambaquis liberam carbonato de cálcio (calcita), que permite a conservação de restos orgânicos de animais e plantas presentes no sítio arqueológico. Foto: Bárbara Valle

Nos últimos anos têm sido identificados na Amazônia monumentos de conchas e terra, construídos há milhares de anos por populações indígenas coletoras e pescadoras. Ao escavar e estudar esses sítios arqueológicos, conhecidos como sambaquis, pesquisadores brasileiros e franceses têm encontrado vestígios das transformações na biodiversidade e nas práticas alimentares dos povos que ocuparam a floresta.

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Alguns achados iniciais da missão arqueológica franco-brasileira, liderada por pesquisadores vinculados ao Museu Nacional de História Natural (MNHN) da França, em Paris, foram apresentados durante o Fórum Brasil-França “Florestas, Biodiversidade e Sociedades Humanas”, que ocorreu entre os dias 1º e 2 de outubro, no auditório da FAPESP.

Sambaquis revelam transformações na biodiversidade
Escavação nos sambaquis. Foto: Cedida/ Barbara Pereira Vale

Organizado pelo MNHN, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) e a FAPESP, o evento teve como objetivo discutir a biodiversidade florestal, os ecossistemas e suas relações com as sociedades humanas, do passado e do presente.

“Normalmente, os sambaquis são locais de memória, que foram visitados, reconstruídos e reocupados ao longo de milhares de anos, desde cerca de 3 mil anos atrás. Essa longa duração de ocupação nos permite estudar as transformações ao longo do tempo na biodiversidade e nas práticas alimentares dos povos originários que viviam no entorno deles”, disse Gabriela Prestes Carneiro, pesquisadora do MNHN e coordenadora do projeto.

A arqueóloga é uma das pesquisadoras associadas a um projeto financiado pela FAPESP sobre povos indígenas e o meio ambiente na Amazônia antiga que revelou que o bioma foi densamente povoado no passado e que a ação humana moldou a floresta existente hoje.

De acordo com Carneiro, os sambaquis mais conhecidos no Brasil estão localizados predominantemente em áreas litorâneas, especialmente no Sul e no Sudeste, mas também são encontrados em outras regiões do país, como no Vale do Ribeira (situado no sul do Estado de São Paulo e no leste do Estado do Paraná), além de em outras partes do mundo.

Mais recentemente, sambaquis também começaram a ser identificados na Amazônia, em locais como o litoral do Salgado, na foz do rio Amazonas, além do sudoeste e do Baixo Amazonas – esta última, na porção mais baixa do rio, na região de integração do Estado do Pará.

Gabriela Prestes Carneiro, pesquisadora do Museu Nacional de História Natural da França, durante o Fórum Brasil-França, na FAPESP: sambaquis são locais de memória que foram visitados, reconstruídos e reocupados desde cerca de 3 mil anos atrás. Foto: Daniel Antônio/Agência FAPESP

Por meio de um projeto apoiado inicialmente pelo Instituto Serrapilheira e, atualmente, pelo Ministério da Europa e dos Negócios Estrangeiros (órgão responsável pelas relações exteriores da França), Carneiro e um grupo de pesquisadores brasileiros iniciaram um estudo de sambaquis no sítio arqueológico do Munguba, localizado em uma área de várzea entre os rios Tapajós e Xingu.

“Esse sítio arqueológico foi descoberto por um pescador e, desde 2022, começamos a estabelecer contato com as famílias que vivem no entorno dele. As primeiras datações daqueles sambaquis remontam a cerca de 3.500 anos, e ainda não está claro quais eram suas funções. Alguns são cemitérios e outros, locais de morada”, disse Carneiro.

As dimensões dos sambaquis no Baixo Amazonas também são bastante distintas: alguns estão a poucos centímetros e outros a um ou dois metros acima do nível da água, descreveu a pesquisadora.

“Não conhecemos muito bem esses sítios, mas o que sabemos por meio das primeiras datações é que eles tiveram ocupação contínua ao longo do tempo e que foram construídos principalmente com conchas. Provavelmente, as conchas eram fonte de alimento, mas também foram utilizadas como recurso para a construção desses monumentos”, afirmou Carneiro.

Leia também: Dois sambaquis são descobertos na região do Salgado, no Pará

Reconstituição da microfauna

Ao se degradar com a ação do tempo, as conchas que constituem os sambaquis liberam carbonato de cálcio. O composto químico, conhecido popularmente como calcita, permite a conservação de restos orgânicos de animais e plantas também presentes no sítio arqueológico, explicou a pesquisadora.

“Isso permite que a gente possa estudar sementes, grãos, escamas de peixes e restos de anfíbios, serpentes, mamíferos, morcegos e roedores presentes nos sedimentos. A análise dessa microfauna no sítio arqueológico possibilita termos uma ideia sobre a transformação daquele ambiente ao longo do tempo”, disse Carneiro.

Escavação nos sambaquis. Foto: Cedida/ Barbara Pereira Vale

Alguns vestígios de alimentos consumidos no passado identificados pelos pesquisadores nos sambaquis do Baixo Amazonas foram de diversas espécies de moluscos, atualmente não consumidas. Um deles é o uruá (Sultana sultana), que era consumido após ser picado e cozido e utilizado no preparo de farinha pelas populações tradicionais.

“Identificamos várias espécies de moluscos, muitos deles não consumidos atualmente. Mas, ao conversar com as populações tradicionais da região do Baixo Amazonas, muitas delas ainda se recordam dessas espécies”, disse Carneiro.

Os pesquisadores também encontraram, pela primeira vez em um sítio arqueológico, mandíbula e vértebras de peixe-boi (Trichechus), cujos relatos de consumo da carne na região são bastante recentes.

Outros restos de animais encontrados pelos pesquisadores foram de espécies de peixes conhecidas como bacus-pedra (Oxydoras niger e Doradidae) e tamoatá (Hoplosternum littorale). Em comum, essas espécies de peixes têm muitas espinhas.

“Hoje, raramente encontramos essas espécies nos mercados de peixes da região, mas nos sítios arqueológicos elas estão muito presentes”, afirmou Carneiro.

Leia também: Sambaquis: antigas moradias indígenas eram formadas por restos de animais e objetos cerâmicos

Reintrodução de práticas alimentares

Segundo a arqueóloga, que é responsável pela coleção de peixes do MNHN, em razão de transformações sociais e ambientais, muitas das práticas alimentares dos povos tradicionais da Amazônia têm passado por mudanças, como a substituição da carne de peixe pela de frango congelado e por alimentos industrializados.

Professora Gabriela Carneiro em escavação nos sambaquis
da Ponta do Jauari. Novembro/2022.

Por meio de dados obtidos de estudos arqueológicos como o que estão conduzindo no Baixo Amazonas, pesquisadores de outras áreas, como da etnobiologia (o estudo da dinâmica das relações entre as pessoas e a biota) e da nutrição, têm desenvolvido projetos com o intuito de promover a reintrodução de plantas consumidas no passado na merenda escolar de escolas públicas no município de Tefé, no Amazonas, por exemplo.

“Podemos utilizar esses dados para tentar reintroduzir não só alimentos, mas também práticas alimentares do passado no presente”, avaliou.

Os pesquisadores, contudo, têm corrido contra o tempo, uma vez que os sítios arqueológicos onde realizam escavações têm sido ameaçados pela passagem de navios cargueiros, transportando principalmente soja, muito próximos às margens do rio onde estão localizados os sambaquis.

“A passagem desses navios também acaba destruindo os materiais dos pescadores ribeirinhos que colocam suas armadilhas próximas desses sítios arqueológicos”, contou a pesquisadora.

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência Fapesp, escrito por Elton Alisson

Pesca de pirarucu é proibida por três anos em área quilombola para preservar espécie no Amapá

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Pirarucu é um dos maiores peixes de água doce do mundo. Foto: Divulgação/Embrapa

A Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) do Amapá proibiu a pesca predatória do pirarucu nas comunidades quilombolas de Igarapé do Lago e São Sebastião do Igarapé do Lago, no município de Santana. A medida entrou em vigor no dia 2 de outubro e terá validade de três anos.

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A decisão foi tomada após denúncias de moradores sobre pesca ilegal, inclusive durante o período de defeso, com atividades noturnas voltadas à comercialização do peixe. Uma instrução normativa foi publicada pelo Ministério Público do Amapá (MP-AP).

Segundo o MP, o objetivo é recuperar a fauna da região, que vem sendo afetada pela captura indiscriminada da espécie.

Leia também: Acordo de Pesca Marumaruá-Atapi recebe 1ª autorização de manejo do pirarucu no Amazonas

O que diz a instrução normativa

O documento, expedido pela Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), proíbe:

  • Pesca, retenção, armazenamento, transporte, beneficiamento e comercialização do pirarucu — mesmo para subsistência
  • Pesca esportiva, industrial, subaquática e de mergulho de qualquer espécie na área

A norma permite a captura de peixes nativos definidos em legislação específica, desde que respeitado o período de defeso. Para o pirarucu, no entanto, toda e qualquer forma de pesca está proibida até 2028.

Participação da comunidade

A instrução foi elaborada com apoio da população local, por meio de reuniões, oitivas e estudos técnicos conduzidos pelo MP. A proposta é que os moradores atuem como vigilantes ambientais, ajudando a evitar crimes ecológicos.

No dia 11 de outubro, promotores de justiça e representantes da Defesa do Patrimônio Público estiveram nas comunidades para definir estratégias de atuação para os próximos três anos.

Uma das ações previstas é a criação de um plano de manejo do pirarucu, em debate entre o MP, a Sema e a Embrapa. A proposta busca garantir a preservação da espécie e o uso sustentável dos recursos naturais.

A fiscalização será feita pela Sema e pelo Batalhão Ambiental da Polícia Militar (PM). Instrumentos e embarcações usados na pesca ilegal poderão ser apreendidos.

pirarucu
Foto: Rodolfo Pongelupe

Pirarucu: símbolo da Amazônia

O pirarucu (Arapaima gigas) é um dos maiores peixes de água doce do mundo. A espécie é protegida por lei durante o período de reprodução — de 1º de dezembro a 31 de maio — nos estados do Amazonas, Pará, Acre e Amapá.

Leia também: Nocaute do pirarucu! Afinal, o peixe é capaz de machucar gravemente uma pessoa?

Com reprodução diferenciada, o pirarucu forma casais, constrói ninhos e cuida dos filhotes. Por deixar poucos descendentes, a captura de adultos durante o defeso coloca em risco a sobrevivência dos filhotes, que ficam órfãos.

*Por Mariana Ferreira, da Rede Amazônica AP

Saúde, consumo consciente e preservação ambiental são temas de propostas na ALEAM

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Foto: Danilo Mello/Aleam

Dez matérias legislativas deram entrada na pauta de tramitação da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) nesta terça-feira (14/10), onde cumprirão o rito processual de três dias antes de seguirem para análise das comissões técnicas.

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Encontra-se em primeiro dia de pauta, o Projeto de Lei nº 895/2025, do deputado Daniel Almeida (Avante), que propõe a obrigatoriedade da veiculação de mensagens educativas e preventivas sobre os riscos e efeitos nocivos do uso abusivo de álcool e outras drogas durante a realização de shows, eventos culturais e esportivos no Estado.

“A inserção de mensagens educativas claras, visíveis e audíveis durante shows, eventos culturais e esportivos visa conscientizar o público em geral sobre os impactos negativos dessas substâncias à saúde, fortalecendo o compromisso social com a prevenção, a informação e a promoção da vida. A proposta não busca impor obrigações ou penalidades, mas orientar políticas públicas e práticas sociais responsáveis, com base na educação, no diálogo e na cooperação intersetorial entre o poder público, as entidades privadas e a sociedade civil”, destacou o parlamentar.

Cobranças automáticas

A Assembleia Legislativa também analisa o PL nº 897/2025, de autoria da deputada Dra. Mayara Pinheiro Reis (Republicanos), que estabelece a obrigatoriedade do consentimento expresso do consumidor antes da efetivação de cobranças automáticas ou renovações de serviços, sejam digitais ou presenciais.

A proposta visa reforçar a proteção dos direitos do consumidor diante de práticas comerciais que, segundo a parlamentar, têm se tornado cada vez mais comuns e, muitas vezes, ocorrem sem o devido conhecimento ou autorização do usuário.

Segundo a deputada, as empresas prestadoras de serviços deverão informar de forma clara, destacada e acessível as condições referentes às cobranças automáticas.

Qualquer cobrança sem comprovação do consentimento expresso será considerada nula, garantindo ao consumidor o direito à devolução dos valores pagos indevidamente, conforme prevê o Código de Defesa do Consumidor (CDC).

“Ao instituir regras mais rígidas sobre consentimento em cobranças automáticas, a Assembleia estará contribuindo para o fortalecimento da confiança entre consumidores e fornecedores, além de evitar cobranças indevidas que prejudicam a população, especialmente os mais vulneráveis digitalmente”, afirmou a parlamentar.

Leia também: Parlamentar destaca novas regras de crédito que ampliam o acesso à casa própria

Certificado

Já o Projeto de Resolução Legislativa (PRL) nº 68/2025, de autoria do deputado João Luiz (Republicanos), propõe a criação do Certificado de Reconhecimento “Produto Sustentável do Amazonas”, uma homenagem simbólica destinada a valorizar iniciativas comprometidas com a sustentabilidade e a preservação ambiental no Estado.

O certificado tem como objetivo distinguir pessoas físicas, empresas, cooperativas, comunidades tradicionais e organizações que contribuam de forma significativa para o desenvolvimento sustentável, a valorização da biodiversidade amazônica e a promoção de práticas responsáveis de uso dos recursos naturais.

Entre os critérios para a concessão da honraria estão a adoção de práticas produtivas de baixo impacto ambiental, a inclusão social de comunidades ribeirinhas, indígenas e tradicionais, a inovação em bioeconomia, reciclagem ou economia circular, e o comprometimento com a preservação da floresta e dos recursos hídricos do Amazonas.

“A proposta contribuirá para fortalecer a imagem do Amazonas como polo de referência nacional e internacional em produção sustentável, além de dar visibilidade às boas práticas desenvolvidas por empreendedores, comunidades tradicionais e organizações comprometidas com a preservação ambiental e o uso responsável dos recursos naturais”, disse, completando que o Certificado ‘Produto Sustentável do Amazonas’ é um instrumento de estímulo e reconhecimento às iniciativas que conciliam desenvolvimento econômico, responsabilidade social e conservação ambiental.

Garimpo ameaça saúde de crianças Yanomami, aponta Unicef

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Lideranças denunciam garimpos ativos e falhas graves na saúde Yanomami. Foto: Valentina Ricardo/Greenpeace

Um estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) divulgado no dia 15 de outubro mostra que o garimpo ilegal crescente até 2023 dentro da Terra Indígena Yanomami está diretamente ligado ao agravamento da crise de saúde e de proteção entre crianças e jovens do povo.

Relembre: Os Yanomamis e a Guerra contra os garimpeiros: Saiba tudo o que está acontecendo na maior Terra Indígena do Brasil

A mineração clandestina destrói rios e florestas, contamina peixes com mercúrio, atrai doenças como malária e provoca escassez de alimentos — fatores que intensificam a desnutrição infantil, mortalidade evitável e violação de direitos. O relatório apresenta dados coletados até 2023.

A Terra Yanomami é o maior território indígena do Brasil com quase 10 milhões de hectares entre os estados do Amazonas e Roraima. Garimpeiros atuam na região desde, ao menos, a década de 1970.

Em 2023 o governo federal decretou emergência no território para combater uma crise sanitária sem precedente. Quase três anos após o decreto de emergência na Terra Yanomami, lideranças indígenas denunciam que o garimpo ilegal segue ativo, destruindo roças, contaminando rios com mercúrio e, consequentemente, provocando desnutrição e impactos na rotina dos indígenas.

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Segundo o estudo, mais da metade das crianças Yanomami (56%) com até 5 anos apresentavam baixo peso ou desnutrição crônica, conforme dados da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) de 2022. A situação é mais grave nas regiões com presença de garimpeiros, onde o desmatamento e a poluição dos rios dificultam o cultivo e a pesca, principais fontes de alimentação das famílias.

O relatório aponta que a contaminação por mercúrio usada na extração de ouro afeta igarapés e peixes consumidos pelas comunidades, podendo causar problemas neurológicos, má formação fetal e danos permanentes no desenvolvimento infantil.

Além disso, a presença de garimpeiros está associada a um aumento considerável de casos de malária: entre 2018 e 2021, foram mais de 40 mil infecções na TI Yanomami, muitas delas em crianças pequenas. Poças d’água e buracos de escavação se tornam criadouros do mosquito transmissor, explica o Unicef.

O estudo destaca ainda que o garimpo ilegal atua em conjunto com a desestruturação do sistema de saúde Yanomami, agravando a crise sanitária. Postos de saúde foram fechados, destruídos ou tomados por invasores, dificultando a chegada de vacinas, medicamentos e alimentos. Entre 2018 e 2022, centenas de crianças morreram de causas evitáveis, como pneumonia, diarreia e desnutrição.

“O garimpo desestrutura a vida das comunidades. Ele contamina os rios, espalha doenças e impede o acesso à saúde e à alimentação. O resultado é a violação sistemática dos direitos da infância Yanomami”, afirma o estudo.

Com apoio da Hutukara Associação Yanomami (HAY) e da Urihi Associação Yanomami, o estudo foi realizado pelos antropólogos Ana Maria Machado e Marcelo Moura. A publicação é uma iniciativa da área de Mudança Social e de Comportamento (SBC) e da Coordenadoria para Assuntos Indígenas do UNICEF Brasil, com financiamento da União Europeia, por meio do Departamento de Proteção Civil e Ajuda Humanitária (ECHO).

Em nota, a Casa Civil informou que o governo federal fortaleceu, desde 2023, a presença na Terra Indígena Yanomami destinando ações estratégicas de combate ao garimpo ilegal, vigilância e assistência em saúde, segurança alimentar, recuperação ambiental e de promoção de cidadania, direitos humanos e desenvolvimento social (leia a nota na íntegra abaixo).

Além disso, disse que políticas públicas específicas e diferenciadas para os povos Yanomami às que se refere o estudo “já foram executadas ou estão em fase de implantação, inclusive com a criação de estruturas permanentes”.

Por meio de nota, o Ministério da Saúde afirmou que desde o decreto de emergência mais de R$ 596 milhões foram investidos na recuperação e melhoria da infraestrutura dos estabelecimentos de saúde indígena no território, incluindo a reabertura de Polos Base (leia a nota completa abaixo).

“Em maio de 2025, a pasta lançou o primeiro Manual Técnico de Atendimento a Indígenas Expostos ao Mercúrio, que consolidou diretrizes clínicas e operacionais inéditas para orientar profissionais de saúde quanto à identificação de casos, atendimento, notificação e encaminhamento aos serviços de referência. O documento traz recomendações específicas para populações vulneráveis, como gestantes e crianças. Paralelamente, estão em andamento testagens periódicas em gestantes e crianças, além de campanhas educativas adaptadas às tradições culturais Yanomami”, disse.

O Grupo Rede Amazônica também procurou a Casa de Governo, órgão especializado no combate à crise Yanomami, e aguarda resposta.

Leia também: Sete rios e afluentes na Terra Yanomami estão contaminados por mercúrio usado em garimpos, mostra projeção

Abusos e violências contra jovens e crianças

Jovens da região do Xite, na Terra Yanomami, com armas de fogo. Foto: Reprodução/Condisi-YY

Além da saúde, o relatório aponta impactos sociais graves. O avanço da mineração ilegal provoca aumento do consumo de álcool, distribuição de armas e conflitos internos, deixando crianças e jovens em situação de vulnerabilidade extrema. Há registros de exploração sexual e aliciamento de adolescentes, especialmente meninas, nas áreas dominadas por garimpeiros.

Organizações como o Ministério Público Federal, o Conselho Distrital de Saúde Yanomami (Condisi), a Hutukara Associação Yanomami e a Wanasseduume Associação Ye’kwana reforçam que o avanço do garimpo é um dos principais fatores que agravam a desnutrição e a desestruturação social, econômica e sanitária das comunidades.

Segundo eles, o problema não é a completa falta de alimentos, mas sim a interrupção do acesso e da produção local causada pelo garimpo.

Recomendações do estudo

Além de apontar as problemáticas levadas pelo garimpo, o estudo também apresenta recomendações, incluindo:

  • Fortalecer políticas públicas específicas e diferenciadas para os povos Yanomami.
  • Combater o garimpo ilegal e garantir a proteção territorial como condição básica para a sobrevivência e preservação cultural.
  • Reconhecer e apoiar organizações indígenas, garantindo diálogo com associações que elaboraram o Plano de Gestão Territorial e Ambiental (PGTA).
  • Escutar crianças e jovens, oferecendo acesso a novos conhecimentos e tecnologias como ferramentas para defesa de seus direitos e dignidade.

Crises persiste no maior território indígena do Brasil

Apesar das operações do governo federal, que apontam redução de áreas de garimpo e aumento de profissionais de saúde, as comunidades continuam enfrentando precariedade no atendimento, falta de medicamentos, estrutura insuficiente e dificuldade de acesso a hospitais, com relatos de mortes evitáveis e crianças em situação crítica de desnutrição.

As lideranças reivindicam ações permanentes, fiscalização de financiadores e integração da medicina tradicional com o sistema público de saúde.

O dossiê entregue à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) aponta falhas graves na resposta à contaminação por mercúrio, com poucas triagens e tratamento limitado aos indígenas, além de alerta sobre a presença constante de pistas clandestinas e aviões que abastecem os invasores.

Especialistas destacam que o garimpo ilegal é sustentado por uma rede econômica complexa, que vai muito além dos trabalhadores na ponta, e que a dificuldade maior não é retirar os invasores, mas impedir seu retorno.

A situação da Terra Yanomami reflete problemas históricos e estruturais mais amplos: desde a década de 1970, o garimpo se consolidou como uma atividade econômica e cultural na região, gerando violência, destruição ambiental e dependência das comunidades em relação aos invasores.

Menina Yanomami com desnutrição grave recebe tratamento no Hospital da Criança, em Boa Vista. Foto: Caíque Rodrigues/Rede Amazônica RR

Nota do governo

Desde 2023, o Governo Federal fortaleceu a presença na Terra Indígena Yanomami, em todo o território, destinando ações estratégicas de: combate ao garimpo ilegal; vigilância e assistência em saúde; segurança alimentar; recuperação ambiental; e de promoção de cidadania, direitos humanos e desenvolvimento social.

Políticas públicas específicas e diferenciadas para os povos Yanomami às que se refere o estudo já foram executadas ou estão em fase de implantação, inclusive com a criação de estruturas permanentes.

As ações de desintrusão, repressão de atividades ilegais e proteção territorial apresentam resultados efetivos no enfrentamento às organizações criminosas, notadamente a mineração ilegal: 7.559 operações de fiscalização, comando e controle realizadas; 680 acampamentos inutilizados, 33 aeronaves e 215 embarcações destruídas, 125 armas apreendidas, além da inutilização de mais de 130 mil litros de combustíveis, dentre vários outros dados.

Até o último dia 11 de outubro, as operações resultaram em prejuízo de R$ 508 milhões às atividades criminosas, demonstrando o sucesso das estratégias de desarticulação e descapitalização de organizações criminosas por via terrestre, aérea e fluvial. A presença do Estado, portanto, é constante e conta com a participação de mais de 20 órgãos federais, sob coordenação da Casa de Governo.

Além do Centro de Referência em Saúde Indígena Yanomami, na região de Surucucu – que já está em funcionamento, beneficiando cerca de 10 mil indígenas de 60 comunidades -, outras estruturas permanentes do Governo Federal em Roraima estão em fase de conclusão — como o Centro de Atendimento Integrado da Criança Yanomami e Ye’kwana, a Base de Proteção de Pakilapi-Palimiú e o Centro de Referência em Direitos Humanos de Boa Vista.

Nota do Ministério da Saúde

Em 2023, o Ministério da Saúde decretou Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional (ESPIN) na Terra indígena Yanomami após encontrar o Distrito Sanitário Especial indígena Yanomami em estado de abandono e precarização das suas estruturas e diversas falhas no atendimento de saúde.

De 2022 a 2025, o número de profissionais de saúde no território cresceu de aproximadamente 600 para 1.855 em 2025. Como resultado, houve redução de 33% nos óbitos no primeiro semestre de 2025 em comparação ao mesmo período de 2024, com queda de 45% de óbitos por doenças respiratórias, de 65% por malária e de 74% por desnutrição.

Entre 2023 e 2025, também houve ampliação dos testes diagnósticos para malária em 65,9%. Um aumento de 76,9% do número de exames realizados por detecção ativa, quando as equipes de saúde passaram a realizar busca ativa diretamente nas aldeias, com o indígena apresentando sintomas ou não. A coleta do exame é realizada diretamente na comunidade e em massa.

Em 2023, 21,6% das crianças Yanomami estavam com muito baixo peso. Em 2025, esse percentual caiu para 18%. Dentre as estratégias para combates da desnutrição no território, o Ministério da Saúde administra em crianças até 6 anos o NutriSUS, um suplemento de micronutrientes em pó, como ferro, vitaminas e minerais.

Desde 2023, mais de R$ 596 milhões foram investidos na recuperação e melhoria da infraestrutura dos estabelecimentos de saúde indígena no território. Os sete Polos Base que estavam fechados ou destruídos por conta da insegurança foram reabertos, beneficiando diretamente 5.224 indígenas. Hoje, os 37 polos do TI, juntamente com as 40 Unidades Básicas de Saúde Indígena (UBSI) estão em pleno funcionamento, agora equipadas com pontos de internet para viabilizar telessaúde e solicitação de serviços de urgência e emergência.

No começo de setembro de 2025, começou a funcionar o primeiro Centro de Referência em Saúde Indígena do Brasil, localizado em Surucucu (RR). Casos agudos e graves já podem ser atendidos com urgência no próprio território, beneficiando cerca de 10 mil indígenas de 60 comunidades.

Em maio de 2025, a pasta lançou o primeiro Manual Técnico de Atendimento a Indígenas Expostos ao Mercúrio, que consolidou diretrizes clínicas e operacionais inéditas para orientar profissionais de saúde quanto à identificação de casos, atendimento, notificação e encaminhamento aos serviços de referência. O documento traz recomendações específicas para populações vulneráveis, como gestantes e crianças. Paralelamente, estão em andamento testagens periódicas em gestantes e crianças, além de campanhas educativas adaptadas às tradições culturais Yanomami.

*Por Yara Ramalho e Caíque Rodrigues, da Rede Amazônica RR