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Exportação de milho impulsiona movimentação nos portos do Norte

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Porto de Santana (AP) registrou o maior crescimento percentual de exportação entre os portos organizados da região Norte – Foto: Divulgação/MPor

Os portos organizados da Região Norte registraram movimentação total de 30,2 milhões de toneladas de carga entre janeiro e agosto de 2025. O destaque foi para os granéis sólidos, que somaram 24,8 milhões de toneladas no mesmo período.

Somente no mês de agosto, foram movimentadas 3,9 milhões de toneladas deste tipo de carga, o que representa aumento de 2,16% em relação ao mesmo mês de 2024. Os dados são do Estatístico Aquaviário, divulgado pela Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq).

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O crescimento na exportação

Exportação de milho impulsiona movimentação nos portos do Norte. Foto: Divulgação

O crescimento foi impulsionado principalmente pela movimentação de milho, que totalizou 2 milhões de toneladas em agosto, registrando alta de 10,4% em comparação com agosto de 2024. A movimentação na exportação de adubos (fertilizantes) também apresentou uma alta de 18% em relação ao mesmo mês do ano anterior alcançando 542 mil toneladas em agosto de 2025. Em seguida, destacam-se os produtos químicos inorgânicos, com alta de 13,10% somando 488 mil toneladas movimentadas.

Para o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, os resultados reforçam a importância estratégica da Região Norte no sistema logístico nacional.

“O crescimento registrado reflete o avanço em eficiência e competitividade dos portos brasileiros, consolidando a região como um dos principais vetores de desenvolvimento e integração logística do país”, destacou o ministro.

Leia também: Milho chegou ao Brasil pela Amazônia ocidental e foi domesticado ao longo de ondas migratórias

Movimentação nos portos

O Porto de Santana (AP) registrou o maior crescimento percentual entre os portos organizados da região. A movimentação cresceu 25,2%, de 316 mil toneladas em agosto de 2024 para 395 mil toneladas em agosto de 2025, impulsionada principalmente pelo transporte de milho, que apresentou aumento de 85% em elação ao mesmo período do ano anterior.

O Porto de Santarém (PA) também apresentou avanço, com 1,9 milhão de toneladas movimentadas em agosto de 2025, o que representa crescimento de 11,25% em relação a agosto de 2024. Houve ainda aumento de 45,33% nas exportações em comparação com o mesmo mês do ano passado.

Exportação de milho impulsiona movimentação nos portos do Norte
Exportação de milho impulsiona movimentação nos portos do Norte. Foto: Divulgação

O terminal de Porto Velho (RO) registrou alta de 0,92% na movimentação total em relação a agosto de 2024, puxada principalmente pelo transporte de soja, que somou 123 milhões de toneladas.

Ainda de acordo com dados da Antaq, outros portos organizados da Região Norte se destacaram, como o Porto de Vila do Conde (PA)), que registrou 1,8 milhão de toneladas e o Porto de Belém (PA), com 264 mil toneladas em agosto de 2025.

*Com informação do Ministério de Portos e Aeroportos

Pegadas de dinossauros de mais de 100 milhões de anos são descobertas em Roraima

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Pegadas de dinossauros em Roraima é achado inédito. Foto: Reprodução/JPavani

Pesquisadores da Universidade Federal de Roraima (UFRR) descobriram pegadas fossilizadas de dinossauros com mais de 100 milhões de anos no município de Bonfim, ao Norte de Roraima. Esse é o primeiro registro de pegadas dos animais pré-históricos encontrado na Amazônia.

As primeiras pegadas na região foram identificadas em 2011 pelo geólogo e doutor em bioestratigrafia, Vladimir de Souza, durante um mapeamento geológico na bacia do rio Tacutu, com alunos do curso de geologia da UFRR.

“É como se a gente voltasse numa máquina do tempo pra um local totalmente diferente, com animais totalmente diferentes. Hoje a gente está aqui e nem imagina o que havia no passado, coisas que a gente vê em filmes sobre dinossauros existiram aqui, talvez até com maior diversidade”, afirmou Vladimir.

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As pegadas estavam preservadas em lajedos, grandes extensões de rochas expostas. Os pesquisadores estimam que tenham elas tenham sido deixadas há pelos menos 110 milhões de anos.

O estudo inédito levou 14 anos para confirmar que as pegadas eram dos dinossauros. Conduzido por Vladimir e os pesquisadores Carlos Eduardo Vieira, doutor em geociências, e Lucas Barros, mestre em ciências biológicas aponta que as pegadas pertencem a dinossauros carnívoros e herbívoros — entre eles, os velociraptores e os saurópodes, conhecidos pelos pescoços e caudas longas.

“Eu posso te confirmar que nós temos desde aqueles dinossauros pescoçudos até os velociraptors. Temos carnívoros, os herbívoros, como se pode dizer. Está tudo registrado aqui em forma de pegadas, na nossa região denominada bacia do Tacutu”, afirmou o pesquisador Vladimir.

Ainda não foi possível identificar as espécies dos dinossauros encontrados na região. Algumas pegadas indicam animais com mais de 10 metros de altura. Outras pertencem a dinossauros com três dedos.

Leia também: Amazônia pré-histórica: conheça os dinossauros que viviam na região

Pegadas de dinossauros de mais de 100 milhões de anos são descobertas em Roraima
Foto: Reprodução/JPavani

Dinossauros viveram ‘em Roraima’

A região onde foram encontradas as pegadas é formada por rochas sedimentares do grupo dos arenitos, resultado da deposição de camadas de areia. O estudo indica que, no passado, o local era uma planície de inundação ou uma área semiárida, com pouca água e muita areia.

Cerca de 150 milhões de anos atrás, os continentes tinham uma configuração diferente: formavam o supercontinente Pangeia.

Segundo o pesquisador Carlos Vieira, a medida que a Pangeia se fragmentou, “braços” de mar invadiram áreas que antes eram secas, criando novos ambientes com outras espécies de plantas e animais, incluindo os dinossauros.

“Com essas mudanças todas que ocorreram com a geografia da época, nós tivemos, junto, toda uma série de transformações da biota. Então, por exemplo, as plantas se diversificaram muito. A gente passa a encontrar coníferas, tipo pinheiros, plantas com flor, samambaias, então é uma diversidade bastante grande de vegetais, mas também de animais”, explicou o pesquisador.

“É nítida a evolução do ambiente no sentido de ele se tornar mais rico e diverso em espécies. Os fósseis que a gente encontra hoje em dia denotam isso, que a fauna e a flora se tornaram muito mais ricas e diversas do que havia até então”, ressaltou.

Foto: Reprodução/JPavani

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As pegadas indicam, segundo os pesquisadores, que os dinossauros não apenas cruzaram a região, mas viveram onde hoje fica Roraima.

Algumas delas foram criadas enquanto os dinossauros herbívoros migravam em manadas, seguidos por carnívoros. Há também marcas de nado e escavações, que reforçam a hipótese de que eles habitavam o local.

“Isso é possível ver no campo. Você vê pegadas dos herbívoros mais ao centro e, na periferia, dá pra identificar as pegadas dos velociraptors, os raptores, seguindo essas manadas. É uma coisa muito interessante. Claro, era outro ambiente, e os dinossauros não passaram, eles viviam aqui”, disse Vladimir.

Em alguns locais estudados, além das pegadas isoladas, há trilhas que ultrapassam 30 metros de comprimento, segundo o pesquisador.

Descoberta inédita

Vladimir classificou a descoberta como inédita no Norte do Brasil. Segundo ele, praticamente não há registros de dinossauros na Amazônia, e as pegadas representam um grande avanço para colocar Roraima em destaque nas pesquisas sobre dinossauros no país.

“É uma coisa fantástica que tem aqui […] são trilhas que chegam a mais de 30 metros de comprimento e às vezes não é só uma trilha, uma é cortada por outra. Então, há muitas coisas interessantes a respeito da existência de dinossauros aqui no estado”, explicou o pesquisador.

O Brasil já tem registros de pegadas de dinossauros em outras regiões, como o Nordeste, Sudeste e Sul. Em Roraima, além das pegadas, há troncos e folhas petrificadas, o que reforça o potencial para estudos de fósseis de plantas, que também já são estudados pelos pesquisadores da UFRR.

Foto: Reprodução/JPavani

Pesquisa rigorosa

O estudo levou 14 anos até a confirmação dos registros. Todo o processo seguiu critérios científicos rigorosos, com participação de alunos e especialistas em icnologia, área que estuda pegadas fósseis.

“Tudo seguindo uma metodologia científica bem severa. A gente trabalha com questão científica mesmo: você encontra, mas tem que provar que aquilo realmente é uma pegada”, afirmou Vladimir.

Com os resultados, os pesquisadores pretendem expandir os estudos para outras áreas do estado. Segundo Carlos Vieira, a partir dos estudos, rotas paleontológicas e projetos turísticos e educativos podem ser desenvolvidos para valorizar o patrimônio fóssil de Roraima.

“Isso permite levar a mais descobertas e saber como tratar quando se descobre um fóssil novo desses. Então, nós temos toda uma cadeia produtiva turística, capaz de trazer benefícios materiais e imateriais, porque se trata também de conhecimento, que está sendo agregado para essa população”, disse.

*Por Yara Ramalho, Marcelo Marques e Ailton Alves, da Rede Amazônica RR

Banco da Amazônia inaugura duas sedes em Manaus e amplia acesso ao microcrédito

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Foto: Dayson Valente/Portal Amazônia

Visando ampliar o acesso ao microcrédito na região Amazônica, o Banco da Amazônia (Basa) inaugurou, nesta segunda-feira (27), duas novas unidades em Manaus (AM), para oferta deste tipo de financiamento. A instituição agora conta com um ponto na Avenida Senador Álvaro Maia, n°621, bairro Centro, Zona Sul da capital, e outro na Avenida Brasil, n°2956, sala 04, no bairro Compensa I.

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A cerimônia de inauguração das unidades contou com a presença de autoridades locais, entre elas, o senador Eduardo Braga (MDB). O parlamentar destacou a atuação do Basa em expandir o serviço de microcrédito tanto na capital quanto no interior do Amazonas:

“O Basa chega com uma linha permanente de microcrédito com quatro agências na capital e também nos principais municípios do interior. Só que com detalhe, é o banco que vai até o micro e pequeno empresário. É um programa diferente dos demais, pois ele vai até onde o microcrédito precisa ser fomentado. É uma ação ativa em busca de fomento à nossa região, está de parabéns o Basa”, pontuou Braga.

Senador Eduardo Braga prestigiou o lançamento das duas novas agências do Basa em Manaus. Foto: Dayson Valente/Portal Amazônia

Expansão do microcrédito

Com as duas novas unidades, o Basa agora conta com quatro polos urbanos de atendimento em Manaus e um na área rural, tornando a capital um dos principais centros de fomento ao microcrédito da região Norte.

Além disso, os investimentos somam mais de R$ 54 milhões e aproximadamente 16 mil clientes contemplados.

Foto: Dayson Valente/Portal Amazônia

Para o presidente do Basa, Luiz Lessa, as novas instalações reforçam a estratégia de ampliação do programa Basa Acredita, ação voltada para empreendedores formais e informais iniciantes para permitir investimentos em pequenos negócios, geração de renda e fortalecimento da economia de base comunitária.

Luiz Lessa, presidente do Basa. Foto: Dayson Valente/Portal Amazônia

“Quando assumi o Banco da Amazônia, nós tínhamos apenas 13 unidades, com essas duas chegamos em 96 unidades aqui na região Norte e vamos atingir, de acordo com o nosso planejamento, a marca de duzentos polos. Para 2026, a ideia é ter 159 pontos de atendimento em toda região e, com isso, cumprir a nossa missão que é de fomentar o desenvolvimento da região Norte”, pontuou.

O microcrédito é um recurso subsidiado do Governo Federal com uma taxa que começa em 0,5%, mas o mais importante é o bônus de adimplência. Se a pessoa paga em dia, ela tem um desconto de 40% na parcela, ou seja, se fez um investimento de R$ 10 mil e pagar em dia, no final terá pago R$ 6 mil. “Um incentivo para que a pessoa tome um crédito, aplique o crédito de forma consciente para que ela possa crescer e se desenvolver”, frisou Lessa.

Além disso, o presidente conta que o microempreendedor também receberá todo um suporte durante o processo de adesão do microcrédito.

“Não é só vir aqui tomar o crédito. O microempreendedor terá todo um treinamento, orientações de como melhorar o negócio, como fazer uma boa gestão comercial, fluxo de caixa. Na verdade, o crédito ele vem junto com todo suporte, muita coisa importante para pessoa entender e o que fazer com o crédito”, explicou.

Com essa expansão, o Banco da Amazônia planeja ampliar o alcance de sua política de crédito, com a previsão, para região Norte, de mais de R$ 1 bilhão em financiamento voltado a pequenos negócios. A iniciativa, segundo o banco, fortalece a inclusão financeira, impulsiona o desenvolvimento sustentável da Amazônia e amplia as oportunidades de crescimento para quem empreende e movimenta a economia local.

Leia também: Solução econômica também é uma das demandas da Amazônia

Oportunidade

Durante a cerimônia, alguns grupos solidários de microempreendedores assinaram novos contratos de crédito, representando diferentes segmentos produtivos, como comércio de alimentos e vestuário, artesanato, transporte, buffet e vendas diretas. Como foi o caso da vendedora Luzenira Gonçalves, 53, que agora terá oportunidade de melhorar o seu negócio e aumentar suas vendas.

Luzenira Gonçalves, de lilás, foi uma das contempladas pelo microcrédito do Basa. Foto: Dayson Valente/Portal Amazônia

“Esse crédito veio numa boa hora, vai ajudar e muito para continuar o meu trabalho, comprar mais mercadorias, melhorar ainda mais a qualidade do meu negócio. Vou poder agora comprar mesas, cadeiras, ajeitar minha churrasqueira, comprar uma tenda”, comenta Luzenira, que trabalha com a venda de churrasquinhos no Centro de Manaus.

*Por Dayson Valente para o Portal Amazônia

Belém vira galeria a céu aberto com estátuas de onças coloridas

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Projeto visa conscientizar sobre preservação da Amazônia. Foto: Jaguar Parade

A partir do dia 25 de outubro, Belém se transforma em uma grande galeria a céu aberto com a chegada da Jaguar Parade 2025, exposição internacional que une arte, cultura e consciência ambiental. A mostra, que coincide com o período em que a cidade sedia a 30ª Conferência das Nações Unidas Sobre Mudanças Climáticas (COP30), apresenta cerca de 50 esculturas de onças-pintadas espalhadas por pontos turísticos e espaços de grande circulação.

Saiba mais: Portal Amazônia responde: o que é a COP 30?

As esculturas coloridas e estilizadas, criadas por artistas brasileiros e internacionais, destacam a importância da preservação da onça-pintada e de seu habitat, especialmente na Amazônia, onde vive a maior população do felino.

Belém vira galeria a céu aberto com estátuas de onças coloridas
Esculturas de onças-pintadas ficam expostas em Belém até 30 de novembro – Foto: Jaguar Parade/Divulgação

Das 50 obras expostas, 38 foram customizadas por artistas paraenses, duas vieram do Maranhão e dez são reapresentações de edições anteriores em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Florianópolis, Nova York, Cali e Paris – onde o projeto integrou a programação dos Jogos Olímpicos de 2024.

A edição de Belém também valoriza o protagonismo feminino amazônico. As artistas e madrinhas Gaby Amarantos, Fafá de Belém e Isabelle Nogueira se unem à iniciativa para reforçar a mensagem de defesa da floresta e da biodiversidade.

Criada em 2019, a Jaguar Parade chega pela primeira vez à Região Norte, com o propósito de aliar arte e impacto socioambiental. As onças poderão ser vistas em locais emblemáticos como o Portal da Amazônia, Estação das Docas, Ver-o-Rio, Praça da República, Praça Santuário de Nazaré e Parque da Residência, entre outros.

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Serviço

As esculturas ficarão expostas até 30 de novembro. Foto: Jaguar Parade

As esculturas ficarão expostas até 30 de novembro. No dia 29, quando se celebra o Dia Nacional da Onça-Pintada, será realizado o leilão beneficente das obras. Toda a arrecadação será destinada para instituições que atuam na conservação da espécie, como Onçafari, Panthera, Ampara Silvestre, SOS Pantanal, Instituto Libio, Instituto Peabiru e BRC.

Jaguar Parade Belém 2025


Exposição em Belém: 25 de outubro a 30 de novembro
Informações: www.jaguarparade.com/belem2025
Redes sociais: @jaguar.parade

*Com informação da Agência Brasil, escrito por Rafael Cardoso

Saiba onde fica a reserva natural que recebe apenas 30 visitantes por dia na Amazônia

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Foto: Reprodução/Agência Andina

Entre as muitas áreas naturais protegidas adequadas para o turismo no Peru, uma reserva se destaca por receber apenas 30 visitantes por dia, minimizando o impacto em seu frágil ecossistema e biodiversidade. O que é essa área e onde está localizada? Qual a diversidade de flora e fauna que pode ser observada e quais serviços ela oferece aos turistas? Que tipos de turismo podem ser praticados ali?

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A área natural é a Reserva Ecológica de Tingana, localizada a 812 metros acima do nível do mar, na província de Moyobamba, departamento de San Martín. É considerada a zona úmida mais alta da floresta tropical peruana e abriga uma grande diversidade de espécies selvagens de fauna e flora, muitas delas vulneráveis ​​ou em perigo de extinção.

A Reserva Ecológica de Tingana abrange 1.737,73 hectares de floresta natural temporariamente inundada, que faz parte da Zona de Proteção e Conservação Ecológica do Pantanal de Alto Mayo, registrada no Registro Público de Moyobamba. Caracteriza-se por sua população abundante e predominante de palmeiras-d’água e palmeiras-renaco.

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Origem do nome Tingana

O nome Tingana vem das árvores abundantes nesta área, que os moradores chamam de Choloques, cujo fruto é pequeno, preto, redondo e não comestível devido à sua consistência dura. Por esse motivo, este fruto é usado pelas crianças para brincar de bolinha de gude, e este jogo, em que as bolinhas são batidas uma na outra, é chamado de tingar

As avós das comunidades costumam dizer aos netos quando os veem brincando com essas bolinhas: “tinga com ganas” (tinga de desejo) e com o tempo essa expressão foi reduzida à palavra Tingana, com a qual a reserva ecológica foi batizada.

Características

A Reserva Ecológica Tingana é uma floresta primária ou sem intervenção humana, temporariamente inundada, formada pelas chuvas constantes e pelo ecossistema de aguajales e renacales que geram afloramentos hídricos ao longo do Rio Avisado, até sua foz no Rio Mayo. 

A área é administrada e protegida pela Associação de Conservação de Alto Mayo Aguajales e Renacales (Adecaram). De acordo com o Relatório Técnico sobre Estudos de Flora e Fauna na Concessão de Conservação de Tingana, parte do Projeto Especial Alto Mayo, este ecossistema de palmeiras é único na bacia amazônica peruana.

Biodiversidade fascinante

Foto: Reprodução/Agência Andina

A vida selvagem da Reserva Ecológica Tingana conta com mamíferos como o macaco-de-bico-fino, o macaco-tocón, o macaco-pichico, o macaco-preto e o macaco-omeco, além da ariranha, do quati, do tamanduá, do macaco-majaz e do macaco-añuje.

Aves como tucanos, martim-pescadores, garças, tarahuis, águias-bico-de-flauta, manacaracos e corujas também habitam a área, assim como peixes como tilápia, mojarra, carachama, shirui e atinga, entre outros.

A flora é igualmente diversa, com samambaias, trepadeiras, orquídeas, bromélias, helicônias e aráceas, entre outras, que conferem um charme único de selva às suas paisagens.

Serviços turísticos

A aventura na Reserva Ecológica de Tingana começa no Porto de Boca de Huascayacu. O passeio começa em um barco motorizado de madeira ou metal, conhecido como peque-peque, navegando pelo Rio Mayo por 30 minutos até chegar ao Rio Avisado. Um cruzeiro de 10 minutos leva você ao Porto de Punga, ponto de acesso ao Centro de Apoio de Tingana, que conta com:

  • Recepção e restaurante (cozinha e sala de jantar).
  • Dois bangalôs de acomodação.
  • Banheiros e chuveiros ecológicos.
  • Área de canoas para passeios guiados.

A principal atividade é o passeio de canoa pelo Rio Avisado, onde guias interpretativos ajudarão você a descobrir a biodiversidade do pantanal. O passeio inclui uma parada especial na casa na árvore, um mirante de 17 metros de altura de onde se avistam os topos dos renacales (um tipo de palmeira) e, ao longe, os aguajales (um tipo de pântano).

Saiba onde fica a reserva natural tingana, que recebe apenas 30 visitantes por dia na Amazônia
Foto: Reprodução/Agência Andina

Ecoturismo

A Reserva Ecológica de Tingana também é um lugar para vivenciar a agrofloresta, com visitas a três fazendas dedicadas ao cultivo de baunilha, orquídeas, café, cacau e mel. Dependendo da estação, os viajantes podem participar da colheita de banana-da-terra, mandioca, amendoim, feijão ou milho, acompanhados por agricultores locais.

Além disso, você pode fazer passeios de pesca de canoa, aprendendo técnicas tradicionais com varas de madeira e náilon.

Reconhecimento internacional

A Reserva Ecológica de Tingana foi reconhecida como um caso de sucesso em turismo rural sustentável pela Organização Mundial do Turismo (OMT) e pela Organização dos Estados Americanos (OEA). O reconhecimento foi publicado em “Turismo e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – Boas Práticas nas Américas“, apresentado no 24º Congresso Interamericano de Ministros do Turismo, em Georgetown.

É também uma das cinco experiências de destaque da Estratégia de Turismo Comunitário do Ministério do Comércio Exterior e Turismo (Mincetur) na região de San Martín. 

Época de visitação

A Reserva Ecológica de Tingana é acessível o ano todo. No entanto, a melhor época para visitá-la é durante a estação seca, entre maio e outubro, pois proporciona uma experiência mais agradável. 

É recomendável usar capa de chuva, protetor solar, chapéu ou boné e repelente de mosquitos.

Foto: Reprodução/Agência Andina

Como chegar à Reserva Ecológica Tingana?

Os turistas podem pegar um voo direto de Lima para Tarapoto, que leva aproximadamente uma hora e 20 minutos. Depois, você deve viajar por terra de Tarapoto até Moyobamba, o que leva até duas horas. Por fim, de Moyobamba, você também viaja por terra até Puerto Boca de Huascayacu, o que leva cerca de 20 minutos.

De lá, você deve navegar por 40 minutos pelos rios Mayo e Avisado para finalmente chegar à Reserva Ecológica Tigana e desfrutar deste pedaço do paraíso na Amazônia peruana.

*Com informações da Agência Andina

Vinho de açaí criado no Pará une biotecnologia e saberes amazônicos

Foto: Lenne Santos/Ufopa

Estudantes de Biotecnologia na Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), buscaram inovar com uma criação que alia tecnologia e valorização de produtos regionais: o vinho de açaí.

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A inovação foi apresentada durante o Festival do Sairé, realizado entre os dias 18 e 22 de setembro, na vila de Alter do Chão, em Santarém (PA). O evento, um dos mais tradicionais da região, serviu como vitrine para o encontro entre ciência acadêmica e saberes tradicionais amazônicos.

Vinho de açaí: ciência e tradição no mesmo copo

Entre os projetos apresentados, o vinho de açaí tinto seco chamou a atenção pela inovação e pela possibilidade de agregar valor a um dos frutos mais emblemáticos da região amazônica.

Desenvolvido pela estudante Sâmia Lirne Carvalho, do 9º semestre do curso de Biotecnologia, o produto tem características semelhantes às do vinho tinto de mesa tradicional, porém com base no açaí.

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De acordo com Sâmia, o vinho possui 12% de teor alcoólico, além de potenciais antioxidantes e um perfil nutricional que inclui vitaminas K e C, além de minerais como cálcio e ferro.

A principal inovação está no aproveitamento integral do fruto. “Utilizamos 100% da polpa e 20% do caroço na fermentação, para aproveitar o potencial total que o açaí tem”, explicou a pesquisadora.

O projeto é desenvolvido em parceria com a In Tap e a Embrapii, e tem como objetivo transformar o açaí — tradicionalmente consumido na forma de polpa — em um produto diferenciado, com potencial comercial e cultural. Além de valorizar a cadeia produtiva regional, a pesquisa reforça o papel da biotecnologia na criação de soluções sustentáveis baseadas em recursos naturais da Amazônia.

Biotecnologia e sustentabilidade na mesa amazônica

O Laboratório de Micologia e Bioensaios da Ufopa também levou ao evento outras pesquisas relacionadas ao uso de fungos e frutas regionais. Estudantes e professores apresentaram exemplos de como a biotecnologia pode ser aplicada em diversas áreas, desde a biorremediação ambiental até a produção de alimentos funcionais. Jogos educativos foram usados para atrair o público infantil, aproximando as novas gerações do universo científico.

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Outra atração que despertou a curiosidade dos visitantes, além do vinho de açaí, foi a farofa de saúva, produzida a partir de uma espécie de formiga amazônica. O alimento faz parte do projeto “Formigas Amazônicas como Recurso Alimentar Sustentável”, coordenado pela professora Iracenir Santos.

A estudante indígena Glena Batista, da etnia Tupinambá, explicou que o prato é tradicional em sua comunidade e possui, além do valor nutricional, um significado cultural de união e partilha. Estudos mostraram que a espécie Atta laevigata tem alto potencial nutricional e pode ser uma alternativa alimentar sustentável, em sintonia com dados da FAO que apontam que cerca de dois bilhões de pessoas no mundo consomem insetos.

Estudante indígena Glena Batista exige a farofa de saúva. Foto: Lenne Santos/Ufopa

Educação e integração com a comunidade

Durante o evento, também foi apresentado o trabalho de diagnóstico socioambiental do Lago Verde, coordenado por estudantes de Engenharia Sanitária e Ambiental. A pesquisa busca identificar pressões humanas, impactos ambientais e avaliar a qualidade da água em um dos principais cartões-postais de Alter do Chão.

Para o diretor de Cultura e Comunidade da Ufopa, Jefferson Dantas, a presença da instituição no Sairé simboliza o diálogo entre universidade e cultura local. “O estande foi mais do que um espaço de exposição; foi um espaço de encontro e de troca. Essa presença fortalece a relação entre a universidade e a comunidade, aproximando a produção acadêmica da vida cultural do território”, afirmou.

A participação da Ufopa no festival integrou o projeto “Ufopa, saberes que nascem com o povo: Cultura, Ciência e Comunidade em Festa”, da Pró-Reitoria de Cultura, Comunidade e Extensão (Procce). A iniciativa reforça o compromisso da instituição com o desenvolvimento sustentável e a valorização dos saberes amazônicos, mostrando que a ciência produzida na região pode unir inovação, tradição e valorização da cultura local — e, no caso do vinho de açaí, transformar um símbolo da floresta em um produto de identidade amazônica.

*Com informações da Ufopa

Marabaixo ganha Plano de Salvaguarda, divulga Iphan

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Marabaixo é uma das principais manifestações culturais do Amapá. Foto: Pedro Gontijo

Em meio ao balançar ritmado das saias floridas, seguindo o arrastar dos pés em sentido anti-horário e ao som do toque firme das palmas das mãos nas caixas e nos tambores misturado aos vocais potentes dos Mestres e Mestras aquecidos pela tradicional gengibirra (bebida fermentada, alcoólica ou não, feita com gengibre, açúcar e água) desenvolveram-se as ações do Plano de Salvaguarda do Marabaixo, manifestação registrada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Bem Cultural Imaterial desde 2018. 

O Plano de Salvaguarda é um instrumento fundamental para a gestão dos bens registrados como Patrimônio Cultural Imaterial. 

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Elaborado sob a liderança do Comitê Gestor da Salvaguarda do Marabaixo (CGMAP) – grupo de trabalho composto por representantes das comunidades, barracões, grupos e associações que mantêm viva a tradição no Amapá -, o Plano reúne as principais ações de salvaguarda a serem executadas, considerando a realidade das comunidades detentoras. Seu objetivo é organizar e priorizar as ações de salvaguarda relevantes aos detentores que atuaram diretamente na pesquisa, identificação, preservação, fortalecimento e transmissão da manifestação. 

As ações buscam direcionar os esforços para a sustentabilidade cultural, criando condições sociais, econômicas, políticas e ambientais adequadas para que o bem possa existir e ser praticado, propondo ações preventivas e corretivas diante de possíveis ameaças. O documento, além de ser de grande importância para o povo detentor do Marabaixo, também imprime a necessidade de proteção desse bem, considerando a discriminação e o preconceito preconceito existentes contra as manifestações de matriz africana.  

Leia também: Conheça história do Marabaixo, manifestação cultural ancestral do Amapá

Para o superintendente do Iphan no Amapá, Michel Flores, o lançamento do Plano de Salvaguarda do Marabaixo representa mais que uma conquista: é um compromisso coletivo com a valorização de uma tradição que atravessa gerações. 

“O documento é resultado de um trabalho conjunto entre Iphan, detentores e sociedade civil. Mais do que um instrumento técnico, representa o reconhecimento do Marabaixo como expressão viva da fé, da resistência e da ancestralidade afro-amapaense. A participação das comunidades é fundamental para que o som dos tambores continue ecoando nas gerações futuras, mantendo viva a identidade do povo amapaense”, afirmou.  

Marabaixo
A estética do Marabaixo também carrega simbolismos profundos. Foto: Pedro Gontijo

Conheça o patrimônio: Marabaixo

Reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo Iphan em 2018, o Marabaixo é uma das manifestações mais autênticas do povo amapaense. De origem afrodescendente, celebra o Divino Espírito Santo e a Santíssima Trindade por meio de uma combinação de ritos religiosos e festivos. O ciclo do Marabaixo começa na Páscoa e termina no Domingo do Senhor (primeiro domingo após Corpus Christi).  

Durante as celebrações, misturam-se tradições africanas, (como o corte do mastro, a quebra da murta e as danças) e rituais católicos (como missas, novenas e procissões). As músicas, chamadas “ladrões”, são entoadas ao som das caixas de marabaixo, grandes tambores tocados com baquetas, enquanto os participantes dançam em círculo, arrastando os pés, no sentido anti-horário.   

A estética também carrega simbolismos profundos: as mulheres vestem saias floridas, anáguas, colares e flores nos cabelos, em uma estilização das antigas vestimentas das escravizadas; os homens, por sua vez, usam roupas brancas e coloridas. A manifestação está presente principalmente nos bairros do Laguinho e Santa Rita, em Macapá, além das comunidades tradicionais como Mazagão Velho, Campina Grande, Curiaú, Lagoa dos Índios e Maruanum.  

*Com informações do IPHAN

Inpa promove 22ª Semana Nacional da Ciência e Tecnologia

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Coleções Zoológicas na SNCT. Foto: Igor Souza/Acervo PCE Inpa

Por Osíris M. Araújo da Silva – osirisasilva@gmail.com

Com o desafiante tema “Planeta Água: a cultura oceânica para enfrentar as mudanças climáticas no meu território”, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) realizou, de 21 a 23, a 22ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), do qual tomaram parte instituições de ensino e pesquisa, escolas e a comunidade científica de todo o Brasil. A programação do evento, gratuita, foi composta por cerca de 100 atividades, entre exposições, oficinas, jogos, brincadeiras, palestras e visitas a laboratórios de pesquisa. Visando a consolidação de uma reflexão sobre a relação entre sociedade e recursos hídricos, o Inpa exibiu vários projetos e grupos de pesquisa que estudam ecossistemas aquáticos, peixes e outros organismos de água doce, recursos hídricos e plantas das várzeas e igapós.

De acordo com a Assessoria de Comunicação do Inpa (Ascom), a temática levou em conta que a Amazônia, geomorfologicamente, compõe-se também de uma costa litorânea banhada pelo Oceano Atlântico à qual estão vinculados os estados do Pará, Amapá e Maranhão. “Então, falando em água, seja a água essencial à vida e a vida que está na água, científica ficamente significa o nosso foco central baseiam-se nos ecossistemas aquáticos, nesse caso, a floresta também é água. Sobretudo por ser a Amazônia a maior bacia hidrográfica do mundo, responsável por lançar no oceano quase 20% de toda a água doce do planeta”, argumenta o diretor do Inpa, professor Henrique Pereira.

Segundo o chefe do Bosque da Ciência, pesquisador Jorge Lobato, mais de 30 grupos, projetos e laboratórios do Inpa envolveram-se diretamente na SNCT deste ano, além de organizações parceiras. O evento reuniu cerca de 2,8 mil estudantes de 45 escolas agendadas, das zonas urbana e rural de Manaus, sem contar o público geral”. Quanto às exposições, contaram diariamente com mais de 20 tendas ao ar livre, além das salas no Centro de Convivência e na Biblioteca. Amostras, materiais lúdicos, gráficos (banners, folders), vídeos, feira de troca de livros e instrumentos de pesquisa, foram utilizados para interagir com os visitantes e apresentar estudos e tecnologias sobre frutos, plantas, madeiras, peixes, insetos, aracnídeos, primatas, gavião-real, fungos, quelônios, entre outros.

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Além das exposições, a SNCT exibiu as importantíssimas “Coleções Zoológicas do Inpa” para a comunidade do Inpa e durante todo o dia para a comunidade externa. Essas coleções zoológicas estão organizadas em diferentes acervos – Invertebrados, Peixes, Anfíbios e Répteis, Aves, Mamíferos e Recursos Genéticos Zoológicos – que representam a incrível diversidade da fauna amazônica, sendo fundamentais para pesquisas, conservação e educação. “Abrir o laboratório é abrir caminhos para o conhecimento, inspirar futuros cientistas e fortalecer o vínculo entre ciência e sociedade. Trata-se de um convite ao conhecimento da diversidade impressionante da região, os métodos de preservação dos exemplares e o processo de descobertas científicas – como o animal é coletado, catalogado e estudado com rigor”, disse a técnica das coleções zoológicas do Inpa, a pesquisadora Gisiane Lima.

Reconhecidos como espaços de debate científico e compartilhamento de conhecimentos, os Seminários ofereceram palestras curtas de 20 minutos em linguagem de fácil compreensão, tendo por propósito possível o conhecimento dos bastidores da pesquisa, da coleta de dados até a divulgação de resultados, destacando-se os temas: “Como conhecemos a diversidade de peixes amazônicos?”, “Descobrindo novos remédios na farmácia da natureza”, “Do Quintal à Ciência: Mobilizando Comunidades pela Conservação do Sauim-de-Coleira e Inteligência Artificial, ajudando a escolha de sementes certas para restaurar a Amazônia”. O evento enfim possibilitou conhecer de perto as pesquisas que o Inpa realiza sobre ecossistemas aquáticos, biodiversidade, clima, alimentação, saúde, tecnologias e educação ambiental.

O Inpa, de acordo com seu diretor, professor Henrique Pereira, reafirmou seu compromisso com a sociedade ao abrir os campi à população. “A SNCT, por conseguinte, tornou-se uma oportunidade para aproximar a ciência da sociedade, derrubar mitos e fortalecer a confiança pública na ciência. Esses três dias são muito especiais para conhecermos de perto as pesquisas que o Inpa realiza sobre ecossistemas aquáticos, biodiversidade, clima, alimentação, saúde, tecnologias e educação ambiental. Com sete décadas de trajetória científica, confirma sua vocação como instituição pública que se dedica a compreender, valorizar e proteger a maior floresta tropical do planeta, a Amazônia, atuando na capacitação de pessoas, produção de tecnologia e inovação e no compartilhamento de conhecimentos e experiências que revelam o valor da ciência feita na Amazônia e pelos amazônidas”, enfatizou.

Sobre o autor

Osíris M. Araújo da Silva é economista, escritor, membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA) e da Associação Comercial do Amazonas (ACA).

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Brasil e Indonésia assinam acordo para combater o desmatamento

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Ministra Luciana Santos assina memorando de entendimento com a Agência Nacional de Pesquisa e Inovação da República da Indonésia (Brin). Fotos: Ricardo Stuckert/PR

Em missão oficial na Ásia, a ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) no Brasil, Luciana Santos, firmou, nesta quinta-feira (23), um memorando de entendimento com a Agência Nacional de Pesquisa e Inovação da República da Indonésia (Brin). O documento visa promover o desenvolvimento conjunto de novas tecnologias; de projetos de pesquisa, inovação e capacitação; e de estudos para a colaboração bilateral. 

Os temas prioritários abordados na cooperação entre os dois países incluem biodiversidade, com ênfase em seu uso sustentável e responsável; mudanças climáticas, incluindo ciências oceânicas e florestas tropicais; pesquisa e tecnologia espacial; e energia limpa, como a nuclear e a bioenergia. 

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Monitoramento de florestas

Brasil e Indonésia abrigam duas das maiores florestas tropicais do mundo e estão entre os países com a maior biodiversidade do planeta. Para fortalecer os esforços de proteção das áreas verdes, o memorando assinado entre as duas nações prevê, entre outras ações, a cooperação no uso de satélites.

“Como nós temos em comum grandes florestas, vamos cooperar fornecendo os nossos modelos de satélites, inclusive o Amazônia 1, para reforçar o monitoramento. Com isso, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais [Inpe] e o governo da Indonésia vão trocar imagens e ajudar mutuamente a garantir o controle do desmatamento criminoso e das queimadas”, detalhou a ministra.  

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Outro ponto de destaque na cooperação entre as nações é a bioeconomia. Segundo Luciana Santos, o intercâmbio de informações e experiências fortalecerá o crescimento dos dois países. “Vamos aprender juntos e trocar conhecimento, traduzindo isso em produtos e serviços para benefício da população”, afirmou.  

Brasil e Indonésia assinam acordo para combater o desmatamento
Fotos: Ricardo Stuckert/PR

Missão na Ásia 

A ministra Luciana Santos integra a comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua missão oficial à Ásia, que segue até esta terça-feira (28). A viagem inclui compromissos na Indonésia e na Malásia. Entre as atividades programadas, está a assinatura de dois instrumentos de cooperação na área de ciência, tecnologia e inovação. A viagem busca consolidar a presença do Brasil no cenário global, ampliando as fronteiras comerciais e as relações exteriores.  

Na Malásia — local em que ocorrerá a 47ª Cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean) e a 30ª Cúpula do Leste Asiático —, Luciana Santos e o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação malaio, Chang Lih Kang, firmam memorando de entendimento para aprofundar a cooperação, por meio de desenvolvimento de pesquisa; de promoção de intercâmbio de cientistas, especialistas e pesquisadores; de realização de conferências, simpósios, cursos, seminários e exposições; de utilização comum de dispositivos, instalações e equipamentos de pesquisa científica; e de promoção de projetos conjuntos de P&D.  

A cooperação em ciência, tecnologia e inovação entre Brasil e Malásia tem focado, nos últimos dois anos, a área de semicondutores, e é hoje o eixo central da parceria bilateral. 

Além de Luciana Santos, integram a comitiva presidencial o ministro das das Relações Exteriores, Mauro Vieira; o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira; e o Ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro.  

*Com informações do MCTI

Físico incentiva ações de popularização da ciência na região amazônica

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Crispino no Museu Interativo da Física, que integra o Centro Interativo de Ciência e Tecnologia da Amazônia. Foto: Irene Almeida

O físico paraense Luís Carlos Bassalo Crispino, de 54 anos, foi o vencedor do 45º Prêmio José Reis de Divulgação Científica e Tecnológica, concedido neste ano na categoria pesquisador e escritor pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Duas décadas atrás, ele criou com colaboradores o Laboratório de Demonstrações do então Departamento de Física da Universidade Federal do Pará (UFPA), para receber alunos da graduação e de escolas da região, e um projeto que leva palestras sobre física para essas instituições.

As iniciativas foram o embrião do Centro Interativo de Ciência e Tecnologia da Amazônia, cuja nova sede foi aberta à visitação pública em 2022, no campus da universidade, e que recebe alunos de escolas públicas e privadas – os jovens participam de experimentos e observações astronômicas, entre outras ações de divulgação científica.

Crispino é coordenador do Programa de Pós-graduação em física da UFPA, pioneiro na região amazônica, e lidera o grupo de pesquisa Gravity at Amazonia (Gravazon), dedicado principalmente ao estudo de buracos negros.

Ele falou sobre suas atividades e a importância da divulgação científica voltada para o público escolar em uma conversa por videochamada com Pesquisa FAPESP.

Entre as atividades de divulgação científica que realiza, qual teve mais influência na conquista do prêmio, na sua avaliação?

Acredito que o reconhecimento veio pelo conjunto da obra. São mais de duas décadas com trabalhos voltados para a divulgação da ciência. Começamos em 2004, com o Laboratório de Demonstrações, inspirado em um modelo que conheci quando fiz a graduação na USP. A princípio, recebíamos o público da própria universidade, os alunos dos cursos de graduação, mas depois ampliamos para alunos de escolas públicas e particulares, tudo de maneira gratuita.

Tem também o projeto Física e Tecnologia para a Escola, que leva cientistas, professores e estudantes universitários para realizar palestras em escolas. Dentro dele, criamos as Palestras Vocacionais, com foco em orientação de estudantes, e mais adiante o projeto Meninas na Ciência. Este último, inclusive, surgiu da vivência pessoal com minha esposa, Ângela Burlamaqui Klautau, que também é física, área na qual as mulheres ainda não têm tanto espaço nem o devido reconhecimento. Esses projetos somados culminaram na criação do Centro Interativo de Ciência e Tecnologia da Amazônia.

Qual o tamanho do público que o centro atende?

Podemos receber grupos de até 200 pessoas por dia, às segundas, quartas, quintas e sextas. Às terças realizamos seminários internos para capacitação da equipe. E aos sábados oferecemos treinamento para alunos que querem participar das olimpíadas brasileiras de Astronomia e Astronáutica, e de Foguetes. Começamos tudo em uma salinha e desde 2022 funcionamos em um prédio de dois andares, com mais de 10 salas, incluindo biblioteca e sala de reparos.

Criamos também o Museu Interativo da Física, onde as pessoas entram e manipulam os equipamentos, sempre com supervisão, tanto para garantir a segurança quanto para preservar os materiais. Por ele tenho um xodó. As peças foram construídas sob encomenda, graças a uma verba que conseguimos em 2008. Os primeiros equipamentos foram adquiridos do Aníbal Fonseca, um construtor paraense de equipamentos didáticos que hoje tem uma empresa em São Paulo chamada Ciência Prima, antigamente chamada Ateliê de Brinquedos. Conheci o Aníbal quando eu fazia graduação na USP.

Encomendei vários experimentos, alguns prontos, outros personalizados, como uma réplica da primeira pilha e da lâmpada de Edison [Thomas Edison (1847-1931)], que acende quando se gira uma manivela ligada a um dínamo, além de dispositivos que simulam o funcionamento de um telégrafo e de um telefone. O museu foi pensado para ser um ambiente bem-acabado, com uma experiência sensorial e educativa mais rica.

Vocês já levaram atividades para comunidades ribeirinhas e indígenas. Como foram as experiências?

Sim. Um exemplo marcante foi o eclipse anular do Sol que ocorreu em outubro de 2023, um fenômeno raro, que dessa vez pôde ser observado na Amazônia. O próximo só vai ser visto por aqui em 100 anos. Na época, eu estava em Portugal, mas organizei tudo a distância com a Secretaria Municipal de São Félix do Xingu, onde o fenômeno poderia ser visto de maneira completa. A atividade principal aconteceu na cidade, com vários telescópios para observação do eclipse, mas pedi que também levássemos equipamentos para uma aldeia indígena.

O vídeo do evento ficou emocionante, com trilha sonora feita com música indígena. Essa ação faz parte de um projeto de mostras itinerantes de astronomia e ciências espaciais, com a meta inicial de 20 cidades, já atingida. Continuo prorrogando, enquanto há recursos. Também já colocamos equipamentos num barco e levamos até uma comunidade ribeirinha. Fizemos só uma vez, porque é muito caro. Mas levamos os experimentos, paramos com o barco, e os alunos da comunidade entraram e interagiram com tudo. A ideia é, um dia, termos um barco próprio que possa navegar entre as dezenas de ilhas de Belém, parar em cada uma delas e oferecer essa experiência. Esse é o sonho.

Falando de sua trajetória acadêmica, o senhor começou a graduação em física e engenharia na UFPA em 1987, mas transferiu o curso de física para a Universidade de São Paulo, na capital paulista. Por quê?

Na época, a UFPA vivia outro momento. Não havia massa crítica suficiente, nem em termos de docentes, nem de estrutura acadêmica. Sempre estudei muito por conta própria, mas sentia que, se tivesse acesso a uma formação mais bem estruturada, poderia me desenvolver melhor. Meu pai me ajudava, apesar de eu ter tido bolsa de estudos. Fui, inclusive, bolsista de iniciação científica da FAPESP.

Na USP, tive acesso não só às disciplinas experimentais mais elaboradas, como também conheci o Laboratório de Demonstrações do Instituto de Física, que foi rebatizado de Ernst Wolfgang Hamburger [1933-2018], idealizador do projeto nos anos 1970. O espaço tinha e ainda tem aparelhos para fazer experimentos de magnetismo, óptica, mecânica, eletricidade, acústica e termodinâmica, que podem ser levados por professores para a sala de aula ou usados pelos próprios estudantes. Eu comecei a frequentar esse espaço por curiosidade e me encantei. Esse laboratório da USP serviu de inspiração para o laboratório que criamos aqui em Belém.

O senhor também ajudou a implementar, na UFPA, o primeiro programa de doutorado em física da região amazônica. Que obstáculos teve de superar?

O mestrado em física da instituição, criado em 1986 como o primeiro da Amazônia, enfrentou dificuldades iniciais pela escassez de docentes com doutorado e só teve a primeira dissertação concluída 10 anos depois. Após cobranças da Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior] nos anos 1990, ajudei a reestruturar o programa em 2003.

Qualificamos o corpo docente, ampliamos a produção científica e reduzimos o tempo gasto na preparação de dissertações, o que permitiu a criação do doutorado sete anos depois. Um fator decisivo foi a internacionalização, já que a física compete em nível global. Hoje, o grupo Gravazon, que coordeno, tem reconhecimento internacional e forma alunos da graduação ao doutorado, a maioria da própria região, com excelência.

Vivemos um momento de descrédito da ciência e isso está relacionado ao fato de que durante muito tempo houve uma falta de esforço em demonstrar à população, de forma acessível, o conhecimento produzido nas universidades.

Foto: Divulgação/UFPA

Quando se interessou pela divulgação científica?

Trabalho oficialmente há mais de 20 anos com divulgação científica, mas o interesse começou bem antes. Eu ainda não tinha 18 anos e dava aulas particulares, o que também me ajudava financeiramente – criei um cursinho informal em casa. Nas aulas particulares, eu sempre procurava usar objetos do cotidiano para ilustrar os conceitos, como um pente para mostrar a eletricidade estática ou uma bolinha para falar de mecânica.

Queria que o aluno visse que a ciência, especialmente a física, se revela em experimentos simples. Apesar do foco de pesquisa em física teórica, especialmente gravitação, cosmologia e relatividade, nunca deixei de lado a divulgação científica.

Em uma entrevista, o senhor comentou que já enfrentou resistência ao trabalhar com divulgação científica. De que tipo?

Infelizmente, existe uma desvalorização histórica dessas atividades de popularização da ciência. Já ouvi críticas como: “Você é pago para dar aula na universidade, não em escolas”. Há quem veja a divulgação como perda de tempo, como se não fosse uma parte legítima da nossa atuação. A maior dificuldade nesse trabalho talvez seja convencer as pessoas de que ela é importante, necessária e transformadora.

Como vê o papel da divulgação científica hoje?

Vivemos um momento de ataque às universidades, de negacionismo e de descrédito da ciência em parcela significativa da população e acredito que isso está também relacionado ao comportamento de alguns cientistas e membros da comunidade acadêmica. Durante muito tempo, houve um certo afastamento da sociedade, uma falta de esforço suficiente em demonstrar à população, de forma acessível, o conhecimento produzido nas universidades. Faltaram mais palestras, eventos públicos, espaços em que fosse possível mostrar à sociedade o que se faz dentro da academia. Isso é fundamental. Hoje há sinais de retomada, mas é necessário muito mais empenho para reduzir essa distância e intensificar a relação de confiança entre a população e as instituições acadêmicas.

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Nos últimos anos surgiram diversas iniciativas que buscam divulgar a ciência nas plataformas digitais. Qual é a importância delas?

Não tenho perfis pessoais em redes sociais, mas todas as nossas iniciativas têm página na internet, Instagram, Facebook, canal no YouTube. Acredito na importância de focar no essencial: no conceito, no experimento, na ciência em si. Nos nossos vídeos no YouTube, geralmente ligados a experimentos, quem aparece é o experimento, não a pessoa.

Mas também acredito muito na experiência presencial. Quando você vê um vídeo, como saber se aquilo realmente aconteceu ou se é uma montagem? Se a pessoa está ali, presencialmente, ela aciona, gera a faísca, acende a lâmpada girando a manivela – e vivencia a ciência. Existe aquela máxima: “Se você me conta, eu esqueço. Se você me ensina, eu lembro. Se você me envolve, eu aprendo”. Eu acredito profundamente nisso. O aprendizado está ligado à vivência.

Físico luis crispino ufpa
O físico paraense Luís Carlos Bassalo Crispino. Foto: Divulgação/UFPA

Para isso, as escolas precisam ter laboratórios, e eles nem sempre estão disponíveis…

Não sei se a escola que eu frequentava tinha laboratório, mas certamente não fui a ele nas aulas. Isso acontece porque uma aula de laboratório exige muito. O professor precisa preparar o espaço antes, dar a prática e depois arrumar tudo de novo, já que cada turma pode realizar experimentos diferentes. Vejo a escola como peça-chave na divulgação científica. Mesmo em regiões sem internet, se o professor conseguir apresentar a ciência de forma adequada, podemos avançar significativamente. Se o professor leva experimentos para a sala de aula, o aluno participa mais ativamente do próprio aprendizado.

Como concilia os papéis de gestor e de pesquisador com o de divulgador científico?

A resposta simples é: dormindo pouco. Tenho uma filha de 27 anos e um filho de 10 anos. Minha filha tem uma síndrome raríssima e recebeu um prognóstico de vida vegetativa, mas ela completou toda a educação básica e superior com apoio, inclusão e muito esforço. Isso exigiu uma dedicação imensa de toda a nossa família. Ter uma rede de apoio sólida em Belém foi uma das razões pelas quais decidimos voltar e ficar aqui. O outro motivo é que eu realmente me sinto bem aqui e tenho muito orgulho da nossa região. Já fui questionado se deveríamos ter um bom curso de física na Amazônia, que teria mais vocação para a biologia, geologia, meio ambiente, antropologia.

E o que respondeu?

Há quem ache que o país deveria concentrar seus centros de excelência em alguns locais. Mas o Brasil é um país continental. Lutamos constantemente contra visões da ciência que excluem regiões periféricas e precisamos garantir que filhos desse lugar não tenham que sair daqui para ter acesso às mesmas oportunidades que outros jovens têm em centros mais desenvolvidos do país. Meu pai pôde me apoiar, mas e os pais que não têm condições?

E os filhos que não querem ou não podem sair? Se quisermos preservar a Amazônia, precisamos dar às pessoas que vivem aqui condições dignas de vida. Hoje podemos dizer que jovens que queiram produzir ciência de ponta, especialmente em física, não precisam mais necessariamente sair da Amazônia se não quiserem. Claro que é importante sair em algum momento.

Todos os meus orientandos de doutorado aqui na UFPA fizeram parte de suas pesquisas fora do país, principalmente na Europa, por meio do doutorado sanduíche. Isso ajuda na formação e na ampliação de horizontes. A vivência em centros maiores, como eu tive na USP, também é fundamental. Me permitiu voltar para a Amazônia com vontade e capacitação para construir algo a mais aqui.

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Revista Pesquisa Fapesp, escrito por Sarah Schmidt