O quinto e último dia da Expoferr Show 2025, neste sábado (9), em Boa Vista (RR), foi marcado pelo calor da região Norte, mas também pela alegria da feira que encerra sua programação do ano.
Corridas de cavalo e prova de tambores, por exemplo, foram atrações do dia que lotaram as arquibancadas com um público curioso sobre quem ganharia as provas.
Além disso, claro, todas as demais atrações da Expoferr receberam dezenas de visitantes que aproveitaram cada minuto! Veja alguns momentos:
O sábado na Expoferr contou com movimento intenso de visitantes. Foto: Willame SousaA corrida de cavalos levou uma multidão à arena. Foto: Willame SousaE os equinos encantaram o público com sua velocidade. Foto: Willame SousaA tradição se mantém para toda família. Foto: Willame SousaFoto: Willame SousaProva de tambores. Foto: Willame SousaA vaquejada também era um dos momentos mais aguardados. Foto: Willame SousaÁrea gastronômica. Foto: Willame SousaO projeto Expofeira na Rede, da Fundação Rede Amazônica (FRAM), proporcionou ações divertidas, como as fotos instantâneas para os visitantes. Foto: Willame SousaE também o quiz sustentável, para todas as idades. Foto: Willame SousaE é claro que os visitantes aproveitaram cada momento registrando tudo. Foto: Willame Sousa
Expofeira na Rede
O projeto Expofeira na Rede é uma realização da Fundação Rede Amazônica (FRAM), com apoio de Amatur, Dois90, Secretaria de Agricultura, Desenvolvimento e Inovação (Seadi) e Governo de Roraima.
Floresta do Rio Negro, Amazonia. Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agencia Brasil
Um relatório inédito divulgado pela Aliança Global das Comunidades Territoriais (GATC), pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), pela Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA), pela Earth Insight e por outras organizações lideradas por Povos Indígenas e comunidades locais, revela uma pressão industrial sem precedentes sobre os territórios indígenas e comunidades locais na Amazônia.
O estudo mostra que 31 milhões de hectares (12%) desses territórios estão sobrepostos por blocos de petróleo e gás, 9,8 milhões de hectares por concessões de mineração e 2,4 milhões de hectares por concessões de exploração madeireira industrial.
Comunidades ao longo do litoral do Amapá. Foto: Nataliel Rangel, Mickael Marques e Thales-Lima
O estudo também propõe caminhos e soluções para enfrentar esses desafios. O relatório faz parte de uma avaliação global que analisa as pressões sobre as florestas da Amazônia, da Região do Congo, da Indonésia e da Mesoamérica. Juntas, essas regiões reúnem 958 milhões de hectares de florestas tropicais, administrados por cerca de 35 milhões de pessoas. Os resultados referentes à Amazônia mostram como as atividades de petróleo e gás, mineração e exploração madeireira industrial podem afetar 250 milhões de hectares em áreas fundamentais para a proteção da biodiversidade e para a manutenção do equilíbrio climático do planeta.
Comunidades ribeirinha em Borba, Amazonas. Foto: Divulgação
Lançado às vésperas da COP30, o relatório busca chamar a atenção para a urgência de priorizar as pautas e soluções apresentadas pelos Povos Indígenas e pelas comunidades locais. O objetivo é influenciar a agenda climática global e mostrar que garantir os direitos territoriais é essencial para alcançar as metas internacionais de clima e biodiversidade.
As florestas amazônicas produzem cerca de 20 bilhões de toneladas de água por dia, formando um “rio voador” ainda maior que o próprio Rio Amazonas. No entanto, o desmatamento já reduziu a quantidade de chuvas em até 74%, comprometendo o ciclo da água que sustenta a vida em toda a América do Sul e em outras regiões do planeta.
Principais conclusões do relatório apontam para uma crise generalizada em toda a Amazônia:
• Territórios indígenas sob ameaça: 31 milhões de hectares (12%) dos territórios de Povos Indígenas e de comunidades locais estão sobrepostos por blocos de exploração de petróleo e gás, 9,8 milhões de hectares por concessões de mineração e 2,4 milhões de hectares por concessões de exploração madeireira industrial em toda a Bacia Amazônica.
• Corredor Yavarí-Tapiche em risco: A proposta de criação de um corredor de 16 milhões de hectares (uma área duas vezes maior que o Panamá) para Povos Indígenas em Isolamento Voluntário e de Contato Inicial (PIACI) ainda preserva 99% de sua floresta intacta. No entanto, enfrenta a sobreposição de projetos de petróleo, gás, mineração, extração de madeira e construção de estradas. Além disso, o Peru ainda não reconheceu oficialmente as reservas fundamentais nessa região.
• Crise no território Waorani (Equador): Cerca de 64% dos 800 mil hectares reconhecidos do território Waorani estão sobrepostos por blocos de exploração de petróleo, o que expõe as comunidades indígenas a graves problemas de saúde e à perda de biodiversidade. Resíduos tóxicos deixados pela indústria petrolífera continuam afetando as comunidades na Amazônia equatoriana. Das mais de 3.500 áreas identificadas que foram contaminadas pelo setor de petróleo e gás no país, apenas metade passou por algum processo de recuperação ambiental.
• Expansão agrícola no Brasil: Aproximadamente 30% dos territórios de Povos Indígenas e comunidades locais no Mato Grosso do Sul já foram ocupados por áreas agrícolas. Essa expansão tem sido acompanhada por um histórico de violência sistemática contra o povo Guarani-Kaiowá, resultando no assassinato de 608 lideranças e ativistas entre 2003 e 2021- um padrão que especialistas em genocídio chamam de “kaiowicídio”
Povos indígenas. Foto: Divulgação
“A Amazônia brasileira é o coração verde do nosso país e uma das maiores reservas de biodiversidade e água doce do planeta”, afirmou Kleber Karipuna, copresidente da GATC e coordenador executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).
“Nossos sistemas de governança, nossos conhecimentos ancestrais e nossos modos de vida mantêm esses ecossistemas em equilíbrio. Mas esse equilíbrio está sendo quebrado pelo avanço da mineração, do agronegócio, da exploração de petróleo, da extração ilegal de madeira, das invasões de terra e de políticas que enfraquecem nossos direitos. Pedimos que o mundo reconheça e apoie nossa liderança porque não somos uma barreira de resistência final, somos a raiz viva de um futuro possível”.
A avaliação é divulgada em um momento em que a Amazônia enfrenta uma pressão cada vez maior não apenas das indústrias extrativas tradicionais, mas também de projetos que se apresentam como parte de planos nacionais de desenvolvimento. Povos Indígenas e comunidades locais que vivem próximos a áreas de exploração de petróleo têm apresentado altos níveis de mercúrio, cádmio e chumbo no organismo. Além disso, mais de 70% das mulheres indígenas da Amazônia equatoriana relatam problemas de saúde causados pela contaminação da água com resíduos de petróleo.
Relatório também destaca soluções conduzidas por diferentes Povos Indígenas e comunidades locais da Amazônia, entre elas:
Na Colômbia, 25 Entidades Territoriais Indígenas (ETIs) aguardam reconhecimento oficial. Juntas, elas representam 36% da Amazônia colombiana e mantêm 99,5% de suas florestas preservadas.
No Brasil, o Fundo Podáali, criado pela Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), é o primeiro fundo totalmente idealizado e gerido por Povos Indígenas a abranger toda a Amazônia brasileira, canalizando recursos diretamente para iniciativas locais.
Também no Brasil, os Povos Indígenas lançaram a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) Indígena, que propõe uma estratégia climática de base comunitária, integrando direitos territoriais, proteção das florestas, ação climática e uma transição justa.
Ribeirinhos da Amazonia. Foto: Ricardo Botelho/MME
O relatório se baseia na Declaração de Brazzaville e nas Cinco Demandas da GATC: garantir os direitos territoriais dos Povos Indígenas e comunidades locais; assegurar o consentimento livre, prévio e informado; garantir que os recursos cheguem diretamente às comunidades; proteger a vida dos defensores e defensoras dos territórios e; integrar o conhecimento tradicional nas políticas globais.
Essas demandas traçam um caminho claro para que governos, financiadores e instituições passem de um modelo de exploração para um modelo de regeneração, centrado na justiça climática e na valorização dos saberes ancestrais.
“Dizem que a Mãe Floresta Amazônica dá chuva às nuvens e cria rios no céu. Se a floresta desaparecer, vai levar embora a chuva e os rios”, afirmou Fany Kuiru, coordenadora-geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA).
“Convocamos governos, aliados e todos os povos da Terra a se mobilizarem e assumirem sua responsabilidade. Isso não é um ato de solidariedade, é uma questão de sobrevivência, pois se a Amazônia desaparecer, leva com ela o nosso futuro comum.”
“Sem uma ação firme para garantir direitos e fortalecer a gestão feita pelos Povos Indígenas, a humanidade não vai conseguir alcançar suas metas climáticas e de biodiversidade”, disse Juan Carlos Jintiach, secretário-executivo da GATC. “Mas, se seguirmos a liderança de quem protege esses ecossistemas há gerações, o mundo tem nas mãos um caminho real rumo à regeneração”.
“As evidências são claras: sem o reconhecimento urgente dos direitos sobre os territórios, o respeito ao consentimento livre, prévio e informado, e a proteção dos ecossistemas que sustentam a vida, as metas globais de clima e biodiversidade não serão atingidas”,afirmou M. Florencia Librizzi, vice-diretora da Earth Insight.
“Precisamos reconhecer e fortalecer os modelos comunitários de gestão e governança que já mostram o caminho para um futuro mais justo e regenerativo”.
*Com informação da Aliança Global das Comunidades Territoriais (GATC), Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Coordenação das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica (COICA) e Earth Insight.
A Universidade de Brasília (UnB) depositou pedido de patente para uma receita de biscoito elaborada com farinha de cafés Robustas Amazônicos (Coffea canephora). O produto substitui em cerca de 30% da farinha tradicional, tornando-se uma opção mais saudável e viável para consumidores adeptos de dietas equilibradas por conter mais fibras, antioxidantes e cafeína.
A inovação também inaugura um novo e promissor mercado para a casca do café, até então utilizada principalmente como adubo no Brasil. O estudo, desenvolvido ao longo de dois anos, é resultado de parceria com a Embrapa Rondônia (RO).
Segundo o pesquisador da Embrapa Enrique Alves, as cascas de cafés denominados finos – produtos com mais de 80 pontos na avaliação da Specialty Ccoffee Association (SCA), que considera critérios, como aroma, sabor, acidez, corpo e finalização – são insumos nobres, com diversidade sensorial e nutricional muito rica, às vezes até maior do que a dos grãos. “Entretanto, no Brasil, são usados, principalmente, como adubo”, explica.
Além de se enquadrarem na pontuação estipulada pela SCA como produtos finos, as variedades de cafés Robustas Amazônicos, selecionadas pela Embrapa em conjunto com os cafeicultores nas Matas de Rondônia, resultaram na primeira Indicação Geográfica (IG) de Coffea canephora do mundo, a “IG Matas de Rondônia“, concedida pelo INPI em 2021. O projeto envolve o desenvolvimento de cultivares adaptadas à região e à Floresta Amazônica, plantadas, em sua maioria, por agricultores familiares, indígenas e comunidades tradicionais.
“Hoje em todo o estado de Rondônia, mais de 17 mil famílias cultivam essas variedades”, complementa o pesquisador.
Portanto, agregar valor a esse subproduto era uma prioridade para a Embrapa, como explica Alves:
“Além da qualidade, as cascas dos cafés Robustas Amazônicas elas ainda carregam características diferenciadas de sustentabilidade por serem cultivadas na Amazônia por povos indígenas e comunidades tradicionais”.
A inovação tecnológica será apresentada no dia 6 de novembro, durante a Semana Internacional do Café (SIC), que acontece de 5 a 7 de novembro, na Expominas, em Belo Horizonte (MG). Trata-se de uma das maiores feiras do mundo e o grande encontro de profissionais que tem o objetivo de conectar e gerar oportunidades para toda a cadeia do café brasileiro no acesso a mercados, conhecimento e negócios.
Durante a COP30, o biscoito será oferecido para degustação no Cooking Show, que é um espaço de apresentação e degustação de produtos resultantes da pesquisa agropecuária, além de troca de experiências entre culinárias tradicionais. A área funcionará dentro do pavilhão “Comida, Tradição e Cultura” na Agrizone – Casa da Agricultura Sustentável da Embrapa na Conferência – e a programação será compartilhada com o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA).
Foto: Enrique Alves
Valorização da casca do café une Embrapa e UnB
Diante disso, a Embrapa Rondônia e a UnB se uniram para desenvolver pesquisas voltadas à valorização das cascas de cafés Robustas Amazônicos sob diferentes óticas de processamentos pós-colheita. A linha de pesquisa, coordenada pela engenheira de alimentos e professora da UnB Lívia de Oliveira, tem como focos a caracterização química, funcional e sensorial dessas cascas e a sua aplicação em alimentos, bebidas e cosméticos, contribuindo para uma cafeicultura sustentável e integrada à economia circular.
O estudo teve início em 2023, com a avaliação do potencial químico e sensorial das cascas de Robustas Amazônicos da cultivar Apoatã, produzidas pela Embrapa Rondônia, sob três processamentos distintos: natural (secagem do fruto inteiro em terreiro suspenso por cerca de 20 dias), lavado (despolpamento mecânico e secagem da fração pergaminho) e fermentação anaeróbica autoinduzida (espontânea em ambiente anaeróbio, conduzida de 2 a 20 dias, seguida de secagem e descascamento).
Foto: UnB
Essas amostras foram analisadas quanto à composição proximal, de compostos bioativos, açúcares, ácidos orgânicos e voláteis, além de submetidas à avaliação sensorial por meio de infusões e produtos derivados.
De acordo com Lívia, os resultados demonstraram que:
Foto: UnB
As cascas naturais apresentaram maior teor de compostos fenólicos, flavonoides, antocianinas e fibras, além de perfil aromático doce e caramelado.
As cascas lavadas (originadas do processamento de via úmida) exibiram baixa complexidade química e volátil, predominando compostos estruturais e menor teor de açúcares.
As cascas de fermentação anaeróbica autoinduzida mostraram grande variabilidade conforme o tempo de fermentação. As amostras de 4 a 20 dias apresentaram aromas frutados e florais e bom equilíbrio sensorial, enquanto as de tempos intermediários (10 a 16 dias) geraram notas mais secas e amargas.
Essas diferenças foram atribuídas à atuação microbiana no metabolismo de açúcares e fenólicos, que modulou a formação de ácidos orgânicos, ésteres e furanonas (compostos formados durante o processamento de alimentos, que desempenham um papel crucial no seu sabor e aroma), resultando em perfis sensoriais distintos e potenciais de aplicação diferenciados para cada tipo de casca.
Novo biscoito tem ainda mais fibras e menos açúcares
A professora explica que, com base nesses resultados, foi desenvolvido um segundo eixo de pesquisa voltado à aplicação alimentar das cascas, por meio da elaboração de um biscoito, com 30% de farinha de casca de robusta amazônico. Trata-se de um resultado inédito, uma vez que, pela literatura científica, o máximo de substituição de farinha obtido até o momento tinha sido de 15%.
As formulações reformuladas com lecitina e polidextrose apresentaram um aumento de até 15 gramas de fibras por 100 g de produto. Além disso, reduziram em até 45% as gorduras saturadas e em 25% os açúcares adicionados, mantendo conformidade com a RDC nº 429/2020 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
A melhor aceitação sensorial para as amostras produzidas foi com as cascas naturais e fermentadas por 4 ou 20 dias, associadas a notas doces, frutadas e amanteigadas.
“Esses resultados evidenciam que o tipo de processamento da casca é determinante para notas sensoriais do produto final, sendo um parâmetro-chave de inovação tecnológica e posicionamento sensorial. Todavia, todos os cookies elaborados apresentaram aceitação sensorial satisfatória, confirmando que as cascas de qualquer dos processos podem ser usadas como ingrediente para esse produto”, enfatiza Lívia.
A receita final, submetida ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) e registrado no dia 4 de setembro, é resultado de um processo de fermentação de 8 dias. De acordo com a professora, com esse período, o produto mantém o açúcar da polpa, não tem excesso de fermentação e possui notas frutadas, que conferem um sabor especial ao biscoito.
A seleção do produto final contou com a avaliação sensorial de mais de 250 consumidores convidados pela UnB para degustar os biscoitos oriundos das diferentes etapas da pesquisa.
Foto: UnB
Novas frentes de pesquisa
A partir de 2026, as instituições vão investir também em estudos voltados ao desenvolvimento de bebidas fermentadas e instantâneas à base da casca de café, incluindo kombuchas e infusões aromatizadas.Além disso, serão fortalecidas pesquisas de formulações cosméticas com extratos de casca para o tratamento de alopecia e uso dermocosmético.
Cafés Robustas Amazônicos têm salto de produtividade
Os cafés Robustas Amazônicos são cultivados há décadas na Amazônia e, nos últimos dez anos, ganharam visibilidade no mercado e a preferência dos cafeicultores da região. A atividade foi iniciada com agricultores de Rondônia e se expandiu entre produtores de outros estados, que passaram a renovar antigos cafezais seminais e implantaram novos plantios com variedades clonais.
De acordo com Enrique Alves, a cafeicultura na Amazônia evoluiu de um modelo quase extrativista para uma produção tecnológica sustentável. A atual média de produção de estados como Acre (51 sacas por hectare) e Rondônia (55 sacas), de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em nada lembra a produtividade de um passado recente, que raramente superava 10 sacas por hectare.
“Alcançamos avanços significativos na cultura e dispomos de tecnologias que possibilitam aproveitar todo o potencial agronômico dos clones de cafés Robustas Amazônicos e elevar a produção. Por isso, é comum encontrar propriedades familiares com produtividade de 120 a 150 sacas de café por hectare e algumas lavouras superam 200 sacas”, conclui o pesquisador.
Investir em pesquisas que agreguem valor a esses cafés, incluindo outras partes do fruto, como a casca, a polpa, está entre as prioridades das equipes de pesquisa da Embrapa e parceiros.
Foto: Enrique Alves
*O conteúdo foi originalmente publicado pela Embrapa
Príncipe William ouviu as demandas das lideranças indígenas, à sombra da sumaúma. Foto: Carla Serqueira
Às vésperas da abertura da Conferência das Partes (COP30), o príncipe William, do Reino Unido, esteve no dia (07/11) no Parque Zoobotânico do Museu Emílio Goeldi. Instalado há 130 anos na região central de Belém (PA), o espaço, que é referência em pesquisa sobre a Amazônia, foi escolhido para sediar os diálogos entre o herdeiro da coroa britânica e líderes indígenas.
“O Museu Goeldi é um espaço plural, para comunidades indígenas terem diálogos, apresentarem suas culturas, falarem de temas pertinentes às suas lutas. Hoje, no âmbito da COP, a gente recebe o príncipe William para tratar, junto com a presidente da Funai, de questões que envolvem a bilateralidade entre o Brasil e a coroa britânica”, afirmou o diretor da instituição Nilson Gabas Júnior, relembrando que, em 2023, o Parque Zoobotânico do Museu Goeldi foi declarado, simbolicamente, como ‘terra indígena’ e que tem se consolidado como esse espaço dos povos tradicionais.
Às vésperas da abertura da Conferência das Partes, o príncipe William no Parque Zoobotânico do Museu Emílio Goeldi. Foto: Carla Serqueira
Conforme explicou Nilson Gabas, embora o Museu Goeldi tenha sido o articulador das agendas cumpridas pelo príncipe William no Parque Zoobotânico, seu papel estratégico de fomentar alianças em benefício da região amazônica se consolida, devido ao seu legado histórico e científico.
“Tivemos aqui diálogos entre o governo brasileiro e o Reino Unido no sentido de levantar fundos, de desenvolver ações conjuntas. Eu fico muito feliz pelo Museu Goeldi estar cumprindo esse papel, de poder ceder o espaço para estas articulações importantes serem realizadas. Isso nos deixa muito felizes porque é um reconhecimento que se agrega ao papel estratégico da instituição na região amazônica”.
“A samaúma fortalece a importância de estarmos juntos”
Príncipe William ainda plantou uma muda de cedro-branco, espécie ameaçada de extinção na Amazônia. Foto: Carla Serqueira
Aos pés da samaumeira de 129 anos, a presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, dialogou com o príncipe William, ao lado de Dinamam Tuxá, Angela Kaxuyana, Watakakalu Yawalapiti, Juma Xipaia e Toya Manchineri.
“Acho que a COP, para nós, já começa com esse diálogo internacional. Atualizamos as demandas dos povos indígenas de todos os biomas. É importante falar que não é só a Amazônia que pede pela demarcação das terras indígenas. Também pedimos apoio para as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs)”, pontuou a presidente, se referindo ao compromisso dos países para combater as mudanças climáticas e para reduzir a emissão de gases.
Sobre o encontro ter ocorrido no Museu Goeldi, Joenia Wapichana começa dizendo que “Belém é terra ancestral”. E, diante da samaúma centenária com quase 40 metros de altura, ela ressaltou a importância da luta coletiva.
“Estar dentro do Museu Goeldi, até mesmo na frente da samaúma, fortalece tanto a importância de estarmos juntos, caminhando juntos, mas também representa o que os povos indígenas têm falado, que é a conservação da biodiversidade, a união dos povos. E essa samaúma traz essa força para nós, tanto física, quanto espiritual e, agora, para construir esse diálogo que acabou de acontecer com o príncipe William”, explicou a presidente, que se comunicou sem intérprete com a realeza.
“O príncipe ficou impressionado com o Parque”
A embaixadora do Reino Unido, Stephanie Al-Qaq, também acompanhou a manhã do príncipe William no Parque Zoobotânico do Museu Goeldi. Segundo ela, “foi muito importante para o príncipe visitar, saber mais do trabalho do Museu e também das pesquisas que estão acontecendo aqui e nas outras unidades”, disse, ao se referir ao Campus de Pesquisa, no bairro de Terra Firme, e à Estação Científica Ferreira Penna, implementada na Floresta Nacional de Caxiuanã, na década de 1990, com recursos da coroa britânica.
Na época, o pai do príncipe William, hoje, Rei Charles III, fez a doação de seis veículos para auxiliar nas pesquisas desenvolvidas na Estação do Museu Goeldi.
Assim como a presença do príncipe sucedeu a visita do pai a Belém, a embaixadora indicou que o relacionamento da coroa britânica com o Museu poderá ultrapassar gerações. “Eu acho que ele está plantando a próxima geração das árvores, o que é muito interessante. Talvez, quem sabe, os filhos dele vão voltar e plantar a próxima geração”, disse Stephanie, acrescentando que o príncipe William ficou impressionado com a preservação do Parque no meio da cidade.
Para a embaixadora, os encontros no Museu foram muito importantes. “Ele conseguiu ouvir as vozes dos jovens e da comunidade indígena, exatamente para entender um pouco mais dos desafios que enfrentam no dia a dia e o que buscam na COP30”.
Visita do rei Carl XVI Gustaf e da rainha Silvia
Na dia (7/11), foi a vez de o diretor do Museu Goeldi, Nilson Gabas Júnior, receber a visita oficial do rei Carl XVI Gustaf e da rainha Silvia, da Suécia, também no Parque Zoobotânico. Integraram a comitiva representantes do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e da Embaixada da Suécia no Brasil. O diretor e a ecóloga Ima Vieira, pesquisadora do Museu Goeldi, expuseram às autoridades o trabalho científico e socioambiental desenvolvido pela instituição na Amazônia, no intuito de fortalecer laços de cooperação entre o Museu Goeldi e o Reino da Suécia.
Nilson Gabas Júnior, receber a visita oficial do rei Carl XVI Gustaf e da rainha Silvia. Foto: Carla Serqueira
Fez parte da agenda uma visita a pontos estratégicos do Parque Zoobotânico, como o lago da vitória-régia, o recinto das ariranhas e das tartarugas da Amazônia, a samaumeira anciã e o lago do tambaqui. Rei Carl XVI Gustaf plantou um exemplar de cumaru (Dipteryx odorata).
*Com informação do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG)
Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, no Amapá. Foto: Léo Ramos Chaves /Revista Pesquisa FAPESP
Há muito se ouve falar sobre a iminência de a Amazônia atingir o ponto de não retorno e tornar-se degradada. Nos últimos anos as notícias foram ficando cada vez piores, diminuindo a capacidade da floresta de captar carbono. Agora, chega uma boa notícia: as árvores estão se tornando maiores por toda a região, possivelmente em consequência do aumento do teor de gás carbônico (CO₂) na atmosfera, segundo artigo publicado no final de setembro na revista científica Nature Plants. O aumento foi mais evidente nas árvores maiores.
Os dados mostraram que o tamanho médio das árvores amazônicas cresceu 3,3%, por década, nos últimos 30 anos, enquanto o tamanho máximo aumentou 5,8%. Isso indica que as árvores maiores conseguiram se beneficiar mais do acréscimo de carbono ao ar, embora toda a floresta tenha aumentado, de modo geral. Por toda a bacia amazônica, a proporção de troncos com diâmetro maior de 40 centímetros (cm) aumentou.
“Usamos inventários florestais que integram uma rede chamada RAINFoR, nos quais os pesquisadores medem a floresta em cada um desses locais ao longo de muito tempo”, explica a ecóloga brasileira Adriane Esquivel-Muelbert, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, primeira autora do artigo.
Nos nove países amazônicos, integrantes da rede vão periodicamente a campo e medem as mesmas árvores, identificando quais sobreviveram.
A medida usada é o que os especialistas chamam de área basal, que quantifica quanto espaço o tronco ocupa se a árvore fosse cortada a uma distância de 1,3 metro (m) acima do chão. “Se há alguma deformidade no tronco, medimos mais acima”, relata Esquivel-Muelbert. “Para garantir que a medição seja feita sempre no mesmo lugar, pintamos uma marca no tronco”.
Assim é possível, ano após ano, avaliar mudanças. O que transparece disso é que as árvores com mais de 40 cm de diâmetro são cada vez mais numerosas e maiores, mas o aumento das árvores com tronco entre 10 cm e 20 cm não é tão perceptível. “O ideal seria termos a biomassa de cada árvore, mas não conseguimos ter precisão suficiente na estimativa da altura para acompanhar o crescimento”, afirma.
O artigo interpreta a observação como um sinal de resiliência da floresta, que assim se afirmaria como um estoque de carbono. O bônus é retirar o CO₂ da atmosfera, mas essa função de sumidouro não basta para amenizar os danos causados pela emissão desenfreada pelo mundo afora.
O resultado é surpreendente porque estudos recentes indicam que a Amazônia estaria se tornando mais fonte do que captadora de carbono (ver Pesquisa FAPESP nº 321). “Esses estudos são feitos em uma escala diferente e olham para vários tipos de floresta ao mesmo tempo, inclusive áreas desmatadas”, diz a ecóloga. “Nós olhamos só para a floresta madura, e isso faz muita diferença”.
Ou seja, não há contraposição, porque os objetivos de estudo são distintos. As áreas desmatadas de fato são fonte de carbono, e o problema é elas predominarem sobre as de floresta madura.
“A capacidade de sumidouro das florestas maduras está diminuindo, existe uma previsão de que esse efeito pare de existir em 2030”, diz Esquivel-Muelbert.
Para reverter isso, é preciso garantir a permanência dessas florestas, além de reduzir a emissão de combustíveis fósseis.
Árvore gigante na Amazônia. Foto: Rafael Aleixo/GEA
Mostrar que as árvores maiores, muito longevas, estão resistindo às mudanças climáticas pode ser um bom sinal, caso elas sejam mais resilientes do que se calculou até agora. Experimentos florestais que simulam uma seca extrema mostraram, anteriormente, que as árvores muito grandes podem morrer subitamente em situações de seca, por uma falha hidráulica no transporte de água das raízes às folhas (ver Pesquisa FAPESP nº 238). As secas estão, justamente, cada vez mais acentuadas e frequentes no contexto atual de mudança do clima.
A diferença das árvores gigantes
Mas isso não é o que se vê na realidade, de acordo com o biólogo brasileiro Paulo Bittencourt, pesquisador na Universidade de Cardiff, no Reino Unido. “Aparentemente as árvores grandes não são mais limitadas por seca do que as pequenas, nas áreas onde vivem”, afirma ele, que estuda árvores gigantes na Amazônia brasileira (ver Pesquisa FAPESP nº 336) e na Malásia.
“O monitoramento na Malásia tem mostrado que elas estão muito bem depois de uma forte seca e que se aclimataram mudando atributos da madeira”. Dados preliminares com o angelim-vermelho (Dinizia excelsa), no Amapá, mostram a mesma coisa.
Entender como árvores que podem passar dos 40 m de altura resolvem o desafio de engenharia hidráulica é uma questão ainda em aberto, mas Bittencourt tem avançado nessa investigação. Sobressair-se acima do dossel da floresta também é um risco no que diz respeito a atrair raios durante tempestades e a rachar por causa de rajadas de vento, riscos que parecem ter um papel mais preponderante.
“Continuamos a tentar entender as árvores gigantes”, diz a pesquisadora de Cambridge. “Como elas são raras na paisagem, é difícil entender o que causa a mortalidade”.
Bittencourt acrescenta que é preciso repensar os estudos: “Muitos inventários se baseiam em parcelas de 1 hectare (ha), nas quais não há mais do que 10 árvores grandes”, explica. “Se uma cai, o efeito na biomassa da parcela é muito grande”.
A fatia de 1% das árvores que representam as maiores da floresta acumula cerca de 50% da biomassa vegetal. Esquivel-Muelbert tem trabalhado com parcelas de 1.500 ha, justamente em busca de sanar essa limitação.
Para o biólogo Rafael Oliveira, que participou do experimento de seca “Esecaflor” e do estudo liderado por Bittencourt com árvores gigantes do Amapá, o estudo de Esquivel-Muelbert pode sugerir uma mudança no olhar sobre o papel da Amazônia no ciclo do carbono.
“Quem estuda vegetação sabe que ela tem mecanismos de resistência a diversos fatores estressantes”, afirma. O cenário de colapso que domina as projeções vem, segundo ele, de modelos climatológicos que não levam em conta a fisiologia das árvores e de uma amostragem ampla da paisagem.
“Precisamos de mais estudos na escala local, para monitorar o que a vegetação está fazendo”.
Esquivel-Muelbert ressalta a necessidade de investimento de longo prazo, por vários países, nesse tipo de estudo. “Só vamos entender a dinâmica da floresta se continuarmos a fazer inventários detalhados”, avisa a pesquisadora, que considera os dados de longo prazo uma infraestrutura científica importante.
Ela ressalta também que experimentos são muito importantes para entender os mecanismos. Um deles é o AmazonFACE, que despejará CO₂ em trechos da floresta amazônica para medir a reação da vegetação. “Será que elas investem mais em frutos ou em crescimento?”, exemplifica a ecóloga. O primeiro pulso de emissão do gás, conta Bittencourt, deve acontecer em breve, com intenção de começar de fato o experimento no início de 2026.
“Talvez as árvores aumentem sua biomassa, talvez fiquem mais resistentes à seca por transpirarem menos, talvez já tenham atingido seu limite de aclimatação e não mudem nada”, propõe. Segundo ele, o mais empolgante do artigo da colega de Cambridge é que a observação na escala da bacia amazônica se encaixa perfeitamente nas percepções mais atuais.
A reportagem acima foi publicada com o título “Devoradoras de carbono” na edição impressa nº 357, de novembro de 2025.
*O conteúdo foi originalmente publicado pela Revista Pesquisa Fapesp, escrito por Maria Guimarães
A Amazônia é alvo de interesse científico desde o início do século 19, quando o naturalista alemão Alexander von Humboldt descreveu as paisagens e espécies das “regiões equinociais da América”. Desde essa época, pesquisadores do país e do exterior fizeram avançar o conhecimento sobre os ecossistemas, a biodiversidade, as populações locais e as relações natureza-sociedade na região que será um dos pontos centrais da agenda de debates da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), entre 10 e 21 de novembro em Belém.
A FAPESP apoia pesquisas na Amazônia desde 1962, quando financiou uma das primeiras expedições de Paulo Vanzolini à região. Ao longo de seis décadas, mais de 3 mil pesquisadores embrenharam-se na floresta, desvendando sua biodiversidade, seu papel na provisão de produtos e serviços ambientais, no ciclo do carbono e na regulação do clima – uma região que ao mesmo tempo abriga mais de 30 milhões de brasileiros.
Boa parte desse trabalho de pesquisa está documentada na exposição virtual Ciência na Amazônia: história, desafios e descobertas, inaugurara pelo Centro de Memória FAPESP no dia 6 de novembro, quando tem início a Cúpula do Clima de Belém, que reúne chefes de Estado e de Governo, ministros e dirigentes de organizações internacionais para discutir os principais desafios e compromissos para o enfrentamento das mudanças climáticas.
Paulo Vanzolini e a zoologia na Amazônia
A exposição Ciência na Amazônia está dividida em três capítulos. O primeiro documenta os resultados do projeto Expedição Permanente à Amazônia (EPA), liderado por Vanzolini. Com apoio da FAPESP, além de descrever várias novas espécies, Vanzolini contribuiu para a formulação da Teoria dos Refúgios.
Frequentemente, Vanzolini convidava artistas para participar da viagem, entre eles, José Cláudio da Silva, que retratou a flora e fauna numa coleção de cem óleos sobre tela que hoje integra o acervo do Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo. A exposição dá acesso a documentos, fotos e imagens das expedições de Vanzolini, às obras de José Cláudio da Silva e traz entrevistas com o zoólogo Miguel Trefaut Rodrigues sobre a Teoria dos Refúgios.
Trefaut dirigiu o Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (1997-2001) e trabalha em pesquisas na Amazônia desde 1978. Realizou expedições à região por mais de 40 anos, também com o apoio da FAPESP, várias delas documentadas na exposição.
A primeira parte traz ainda entrevista com Naercio Menezes, especializado em ictiologia. Ele foi estagiário no Museu de Zoologia sob a orientação de Vanzolini e participou das primeiras pesquisas de campo, nos anos 1960.
O segundo capítulo tem foco nas pesquisas acima do dossel das árvores, que buscam entender o papel da floresta no equilíbrio climático e os riscos que o desmatamento e emissões de dióxido de carbono (CO2) trazem para a vida no planeta.
Carlos Nobre, catedrático do Instituto de Estudos Avançados da USP e copresidente do Painel Científico para a Amazônia, conta, em entrevista, a criação, em 1996, e os resultados do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), que envolveu pesquisadores brasileiros, norte-americanos e de cinco países europeus. O objetivo foi estudar em profundidade o funcionamento e a interação de todos os componentes do ecossistema amazônico – atmosfera, solos, rios, flora, fauna e seres humanos.
A geofísica Maria Assunção Faus da Silva Dias, pesquisadora da USP, que coordenou o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), descreve em entrevista – e mostra em fotos – o ambiente e os desafios de campanhas de medições intensivas do programa LBA no Pará e em Rondônia.
Imagem: Reprodução/Site oficial
No mesmo capítulo, Paulo Artaxo, professor titular do Instituto de Física da USP e membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), lembra da campanha GOAmazon (Green Ocean Amazon), em 2013, dos primeiros Projetos Temáticos da FAPESP de pesquisa na região, do desafio de reduzir emissões de gases de efeito estufa e da urgência de se adotar uma economia de baixo carbono para estabilizar a mudança climática.
David Lapola, pesquisador do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), detalha o experimento AmazonFACE, que investiga como o aumento de CO2 atmosférico afeta a floresta amazônica, a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos que ela fornece à humanidade. O experimento tem apoio do Reino Unido, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e da FAPESP.
Os impactos do desmatamento e da mudança do clima são analisados por Thelma Krug, líder do Conselho Científico da COP30, e as estratégias de fomento da FAPESP para a pesquisa na região são descritas por Marcio de Castro, diretor científico da Fundação.
O terceiro capítulo homenageia o trabalho de pesquisadores pioneiros, como Luiz Hildebrando (1928-2014), Erney Camargo (1935-2023), Bertha Becker (1930-2013) e Warwick Kerr (1922-2018), que abriram caminho para o avanço do conhecimento e para a implementação de políticas públicas na região, e se dedica às pesquisas mais recentes, realizadas abaixo do dossel da floresta.
Eduardo Neves, diretor do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP, explica como a ciência e as novas tecnologias – como o LiDAR (Light Detection and Ranging) – lançaram luz no protagonismo dos povos da floresta, que, ao longo de milênios, criaram a Amazônia que conhecemos atualmente.
O terceiro capítulo também trata do avanço das pesquisas na área de geologia na Amazônia que, há 20 anos, tinham foco na exploração econômica, com perfurações de solo em busca de jazidas de gás e petróleo, na busca de reservas minerais e no potencial hidrelétrico dos rios e que, mais recentemente, passaram a investigar a própria formação de solos, rochas e rios da Amazônia e sua interação com o meio aéreo e os seres vivos sob o ponto de vista ecológico.
Quem fala sobre essa mudança é André Sawakuchi, professor do Instituto de Geociências da USP, que trabalha no Projeto de Perfuração Transamazônica (TADP, sigla para Trans-Amazon Drilling Project), um Temático da FAPESP que tem como objetivo compreender como a formação geológica da Amazônia contribuiu para que ela se tornasse o local com a maior biodiversidade do mundo.
Carlos Américo Pacheco, que foi diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP, fala sobre a Amazônia +10 – uma iniciativa proposta pela FAPESP e encampada pelo Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) que apoia projetos de pesquisa em colaboração, voltados à conservação da biodiversidade e adaptação às mudanças climáticas, à proteção de populações e comunidades tradicionais, aos desafios urbanos e à bioeconomia como política de desenvolvimento econômico para a região.
Em 2021, durante a COP26 de Glasgow, a FAPESP anunciou a criação de um consórcio envolvendo o Estado de São Paulo e os nove estados da Amazônia Legal (por isso, Amazônia+10) para a realização de pesquisas científicas na região. Diante do sucesso, o programa foi assumido pelo Confap e hoje conta com a participação das Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs) de 25 unidades da Federação.
O terceiro capítulo trata, ainda, da inclusão econômica dos povos da floresta e da complementaridade entre saberes. A antropóloga Manoela Carneiro da Cunha, em entrevista, alerta que a visão da ciência sobre a realidade da Amazônia não pode prescindir do ponto de vista da população que nela vive, diálogo necessário que traz novos e importantes desafios para o campo da pesquisa.
A exposição se encerra com as expectativas de Krug e Nobre (leia entrevista nesta edição de Agência FAPESP) sobre a COP30, de que os debates avancem das negociações formais para ações efetivas, com protagonismo dos países em desenvolvimento.
*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência FAPESP, escrito por Claudia Izique
Parque de Exposições Dandãezinho. Foto: Reprodução/Secom RR
O Parque de Exposições Dandãezinho sedia grandes eventos em Roraima, como a 44ª edição da Expo-Feira Agropecuária de Roraima, a Expoferr Show. Localizado na região de Monte Cristo, no sentido Norte da BR-174, área rural de Boa Vista, o espaço sedia há mais de 30 anos a principal feira agropecuária do estado roraimense.
O nome do parque é uma homenagem à João Alves dos Reis, conhecido popularmente como Dandãezinho, um dos fazendeiros de maior destaque de Roraima que também está entre os pioneiros do desenvolvimento agropecuário do estado.
Mas quem foi Dandãezinho? Porque recebeu esse apelido? Baseado em registros históricos disponíveis na internet, o Portal Amazônia conta a história desse personagem que consolidou seu nome no maior evento do agronegócio roraimense.
Quem foi Dandãezinho?
Nascido no interior de Roraima, João Alves dos Reis (1907-1992) foi um dos maiores criadores de cavalo de Roraima. Apesar de ser filho de pais cearenses, João foi criado pelo tio, o fazendeiro João Evangelista de Pinho, o “Velho Dandãe”, que era uma das figuras mais respeitadas do estado.
Velho Dandãe ao lado do filho Ubirajara Pinho. Foto: Facebook-Boa Vista de Antigamente
Ao lado do tio, João percorria diversas fazendas do “Velho Dandãe” espalhadas no interior do estado. Sua companhia acabou gerando um apelido de família, Dandãezinho, batizado pelo próprio Evangelista. Agora batizado, o sobrinho não só herdou o apelido do tio como também seguiu os seus passos: tornou-se dono de várias propriedades e chegou a administrar, segundo relatos, cerca de 10 mil cabeças de gado e dezenas de cavalos.
A exemplo do tio, Dandãezinho se tornou uma referência do agronegócio em Roraima e também uma das pessoas mais influentes da região, onde apoiou campanhas políticas de personalidades e teve papel fundamental na defesa da população roraimense.
Dandãezinho faleceu em 30 de outubro de 1992 e, após a morte, o Governo de Roraima o homenageou batizando o Parque de Exposições Dandãezinho com seu apelido. Um gesto de reconhecimento em prol da sua atuação no cenário agropecuário do estado.
Com uma área de aproximadamente 240 mil m², o Parque de Exposições Dandãezinho é um complexo multiuso projetado para grandes eventos, principalmente a Expoferr Show. Suas instalações conta com palcos para shows, arenas para rodeio, parque de diversões, espaços para estandes e até auditório, onde suporta públicos que ultrapassam 70 mil pessoas.
O parque moderno sedia, há mais de 30 anos, a maior feira agropecuária de Roraima, que a cada ano vem crescendo em números e importância para o setor do agronegócio da região Norte.
O Parque de Exposições Dandãezinho sedia diversos eventos em Roraima e, entre eles, há 30 anos, recebe a Expoferr Show. Foto: Reprodução/Secom RR
Os taironas foram um conjunto de sociedades pré-colombianas que se desenvolveram nas encostas e planícies da Sierra Nevada de Santa Marta, no atual território da Colômbia, entre os departamentos de Magdalena, Cesar e La Guajira. A ocupação da região por populações sedentárias ou semissedentárias remonta a milênios, mas a formação cultural conhecida como “Tairona” apresenta evidências arqueológicas consistentes a partir do primeiro milênio e maior densidade populacional entre os séculos VIII e XVI depois de Cristo.
As primeiras referências escritas sobre os indígenas taironas surgiram nos relatos coloniais do início do século XVI d.C., mas as evidências arqueológicas mostram ocupações sistemáticas em áreas costeiras e, posteriormente, em povoados montanhosos.
As populações taironas se organizaram em dezenas, possivelmente centenas de assentamentos, que iam desde a zona costeira até altitudes superiores a 1.200 metros. A redescoberta arqueológica de sítios como Pueblito e Teyuna, no século XX, reforçou a importância histórica dessa civilização.
Os vestígios mais conhecidos atribuídos aos taironas incluem centros com arquitetura de pedra, terraços agrícolas e sistemas hidráulicos. Entre os sítios arqueológicos destacados está a chamada Ciudad Perdida (Teyuna, também conhecida como Buritaca-200), descoberta por moradores locais na década de 1970.
A cidade é datada aproximadamente entre os séculos VIII e XVI e é considerada mais antiga que Machu Picchu. Outras localidades costeiras e enseadas com ocupação prolongada, como Chengue, Neguanje e Buritaca, também concentram importantes achados cerâmicos e de metalurgia.
Cultura material: cerâmica, ouro e arquitetura
Foto: Rolf Müller/ Wikimedia Commons
A produção material tairona é marcada por cerâmica, complexos trabalhos em pedra e notável ourivesaria. Os artesãos trabalharam ligas de ouro e cobre (tumbaga) e produziram pendentes, máscaras e adornos corporais com a técnica da “cera perdida”.
O tratamento de superfície destacava o dourado do metal, conferindo grande valor simbólico e social aos objetos. As cronologias cerâmicas e metálicas mostram fases que vão de períodos anteriores a 200 a.C. até o final da presença pré-hispânica, com intensificação entre 900 e 1600 d.C.
Fontes arqueológicas e registros coloniais indicam que os taironas viviam em redes de povoados e chefias, com forte integração econômica regional. A ocupação incluía agricultura em terraços, cultivando milho, mandioca e outros produtos, além do manejo de recursos costeiros e rotas de trocas. O contato com os espanhóis no século XVI foi marcado por conflitos, levando parte da população a se refugiar em áreas mais altas da Sierra Nevada e ao abandono de muitos centros.
Descendentes e presença atual
Os povos que hoje habitam a Sierra Nevada de Santa Marta — Kogi, Arhuaco (Iku), Wiwa e Kankuamo — são considerados descendentes diretos das sociedades taironas. Essas comunidades vivem em territórios tradicionais, falam línguas do tronco chibcha e preservam práticas rituais, agrícolas e cosmologias próprias.
Foto de indígenas do povo Arhuaco (Iku) tirada em 2017. Foto: Kelly Tatiana Paloma/ Wikimedia Commons
Muitos sítios arqueológicos são vistos como sagrados, e há esforços conjuntos para preservar tanto o patrimônio cultural quanto o equilíbrio ambiental da região.
Costumes e aspectos rituais conhecidos
Estudos indicam que a vida tairona combinava práticas agrícolas, rituais ligados à natureza e produção de bens cerimoniais. A ourivesaria, os adornos corporais e representações simbólicas revelam papéis sociais diferenciados, com destaque para líderes rituais ou xamânicos.
As populações atuais herdeiras dessa tradição mantêm cosmologias que valorizam a proteção do território, os ritos de cuidado ambiental e a visão integradora entre humanos, montanha e mar.
Situação de preservação e arqueologia contemporânea
Desde a redescoberta de importantes sítios, foram criados parques nacionais e projetos de conservação. Ao mesmo tempo, problemas como o saque de peças, pressões econômicas e mudanças ambientais ameaçam a preservação do patrimônio. Pesquisas científicas e iniciativas de turismo controlado buscam conciliar proteção cultural e natural, além de respeitar os direitos dos povos descendentes.
A Expoferr Show 2025, realizada entre os dias 4 e 8 de novembro, chegou em sua 44ª edição com a promessa de ser a mais inovadora e tecnológica já realizada. A maior feira de agronegócios da Região Norte, promovida pelo Governo de Roraima, por meio da Seadi (Secretaria de Agricultura, Desenvolvimento e Inovação) e da Secult (Secretaria de Cultura e Turismo), reúne produtores, investidores, instituições financeiras, empreendedores e o também crianças, jovens estudantes e universitário em meio ao público em geral por proporcionar uma programação diversificada e interativa.
A feira acontece no Parque de Exposições Dandãezinho, localizado na BR 174, Zona Rural de Boa Vista, entre 4 e 8 de novembro.
Em 2025 o tema é ‘Colhendo o Progresso, Semeando o Futuro’, destacando o potencial e a diversidade do agronegócio roraimense. Confira algumas curiosidades sobre esta edição da Expoferr Show:
O projeto Expofeira na Rede é uma realização da Fundação Rede Amazônica (FRAM), com apoio de Amatur, Dois90, Secretaria de Agricultura, Desenvolvimento e Inovação (Seadi) e Governo de Roraima.
Governo do Amapá e CBM se mantém vigilantes para evitar e combater incêndios florestais. Foto: Divulgação/SEMA
As ações integradas de combate e prevenção às queimadas no Amapá resultaram em uma expressiva redução no número de focos de incêndios registrados em 2025. De acordo com levantamento realizado pelo Corpo de Bombeiros (CBM-AP), com base em dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), foram contabilizados 387 focos até o dia 29 de outubro de 2025. Em 2024 o ano fechou com 2.014 focos e, em 2023, foram 2.552 registros.
Para o Governo do Amapá, os resultados de 2025 refletem o comprometimento das forças de segurança e dos órgãos ambientais com a preservação do patrimônio natural do estado. resultando no fortalecimento das estratégias de monitoramento, fiscalização e sensibilização realizadas em todo o estado.
″Amapá Verde″ deve acontecer até dezembro, quando geralmente ameniza o período de estiagem. Foto: Divulgação/CBM-AP
“Esse avanço é fruto do trabalho conjunto entre nossas equipes de campo. Estamos mostrando que investir em prevenção, tecnologia e conscientização gera resultados concretos e protege vidas, comunidades e o meio ambiente”, afirmou Cézar Vieira, gestor da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp).
Ainda segundo os dados de 2025, foram registradas 265 ocorrências de combate direto a incêndios florestais e 1.214 ações preventivas, como palestras, instruções e atividades educativas. As iniciativas alcançaram um público estimado em 21.365 pessoas, ante 13.990 no ano passado.
Foram contabilizados 387 focos até o dia 29 de outubro de 2025. Número é considerado baixo comparado com os dados de 2023 e 2024. Foto: Divulgação/CBM-AP
De acordo com o comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Pelsondré Martins, a ampliação das atividades de educação ambiental, investimentos e a atuação da Operação Amapá Verde têm sido os principais fatores para a redução dos focos, especialmente em áreas de maior vulnerabilidade.
“O Governo do Amapá tem trabalhado de forma integrada e permanente para proteger o meio ambiente e garantir a segurança da população. Os resultados alcançados são fruto de investimentos contínuos, do fortalecimento das ações educativas e da presença constante das equipes da Operação Amapá Verde em todo o estado. Essa atuação conjunta tem sido essencial para reduzir os focos de queimadas, principalmente nas áreas mais vulneráveis”, destacou o comandante do CBM-AP.
Operação Amapá Verde
A “Amapá Verde”, que iniciou em 21 de agosto e segue até dezembro deste ano, ou até o fim do período de estiagem, objetiva fortalecer a presença dos militares em campo, reforçando tanto o combate quanto a conscientização das pessoas das localidades, de forma a proteger vidas, propriedades e o meio ambiente. Ao todo, a operação será composta por 12 ciclos, com trocas de equipes a cada 10 dias.
O período de estiagem e o calor do verão amazônico aumentam o risco de queimadas e incêndios florestais. Foto: Divulgação/SEMA
A operação conta com bases instaladas em Laranjal do Jari, Mazagão, Ferreira Gomes, Pedra Branca, Tartarugalzinho, Amapá e Itaubal, cobrindo áreas estratégicas onde há maior incidência de queimadas.
Cuidados no período da estiagem
O período de estiagem e o calor do verão amazônico aumentam o risco de queimadas e incêndios florestais, além de intensificar problemas respiratórios causados pela fumaça. Para proteger a saúde das pessoas, o meio ambiente e a segurança das comunidades, o Corpo de Bombeiros Militar do Amapá orienta:
Evite atear fogo em lixo, terrenos baldios ou áreas de vegetação;
Em propriedade urbana ou rual, não faça queimadas para limpeza de terrenos. A prática é proibida e pode gerar multas e responsabilização criminal;
Procure meios seguros e legais para descarte de resíduos. Evite jogar vidro e metal em vias públicas, pois com o calor intenso, esses materiais podem concentrar a luz solar e iniciar focos de fogo;
Não jogue bitucas de cigarro às margens de rodovias e terrenos;
Hidrate-se bastante e mantenha os ambientes arejados;
Proteja crianças, idosos e pessoas com problemas respiratórios, pois são os mais afetados pela fumaça;
Em caso de fogo ou fumaça suspeita, ligue imediatamente para o 193.