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Seca extrema e temperaturas recordes de até 41°C levaram ao superaquecimento dos lagos amazônicos

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Botos encalhados. Foto: Miguel Monteiro/Instituto Mamirauá

A baixa velocidade do vento, pouca profundidade da água, a alta turbidez, a forte radiação solar e a baixa cobertura de nuvens foram os principais fatores que levaram ao superaquecimento das águas dos lagos amazônicos durante a seca extrema de 2023, no Amazonas. O fenômeno resultou na morte de pelo menos 209 botos-vermelhos e tucuxis em menos de dois meses.

As conclusões fazem parte de um artigo publicado na revista Science dia 6 de npvembro, com a participação de pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI). 

O ano de 2023 registrou ondas de calor recordes no mundo, com temperaturas elevadas do ar e da superfície do mar. Na Amazônia, a seca severa reduziu o nível de água em lagos da várzea a menos de dois metros, o mais baixo já registrado, provocando a morte de botos e de milhares de peixes.

Nesse cenário, os lagos amazônicos deixaram de oferecer refúgio térmico para as espécies aquáticas, que ficaram expostas às altas temperaturas tanto na superfície quanto em profundidade.

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Assinado por mais de 40 autores de instituições do Brasil, França e Estados Unidos, o estudo foi liderado pelo pesquisador do Instituto Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, Ayan Fleischmann. O trabalho analisou o aquecimento em dez lagos da Amazônia Central: Tefé, Coari, Samaumerinha, Amanã, Bua-Buá, Cedrinho, Janauacá, Calado, Miriti e Castanho.

Entre setembro e outubro de 2023, no Lago Tefé (AM), a temperatura da água em toda a coluna d’água (volume de água da superfície até o fundo) ultrapassou 40 graus Celsius (°C) por vários dias, chegando a 41 °C, níveis nunca registrados em águas interiores tropicais.

“O artigo mostra que, em Tefé, toda a coluna d’água atingiu valores superiores a 40°C, sem qualquer camada mais fria para servir de refúgio. Nessas condições, os peixes — organismos ectotérmicos com tolerâncias térmicas estreitas — ficam submetidos a temperaturas letais contínuas. Além do estresse térmico direto, a água quente reduz drasticamente o oxigênio dissolvido, agravando a hipoxemia”, explica o pesquisador do Inpa e coautor do artigo, Adalberto Luis Val. 

Fatores do superaquecimento

Modelos hidrodinâmicos mostraram que o aquecimento extremo dos lagos foi favorecido pela combinação entre alta turbidez, baixos níveis de água, radiação solar intensa e ventos fracos.

De acordo com o estudo, a alta turbidez intensifica o aquecimento da água, sobretudo, quando o nível está baixo na estação seca. O vento, ao provocar turbulência, suspende os sedimentos do fundo, aumentando ainda mais a turbidez e a absorção de calor. 

Ribeirinho andando pelo lago seco em 2023. Foto: Miguel Monteiro/Instituto Mamirauá

Além disso, a baixa velocidade dos ventos reduziu a perda de calor da água durante a noite, enquanto o forte aquecimento no dia, elevava ainda mais a temperatura da água.

O gerente científico do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA/Inpa) e coautor no artigo, Bruce Forsberg, explica que quando o nível da água fica baixo, o vento que passa por cima dos lagos cria uma turbulência que levanta sedimentos do fundo.

“A água ficava muito turva, além de rasa. E essa turbidez faz com que a energia de sol seja toda absorvida no primeiro metro de profundidade, esquentando muito a superfície. O nível de energia do sol ficou maior do que normal nesse período, por causa da falta de nuvens. Tivemos cerca de quatro meses sem nuvens”, conta o pesquisador. 

Tendências de aquecimento

A análise de dados de satélite de 24 lagos amazônicos, entre 1990 e 2023, revelou uma tendência de aumento gradual da temperatura da água de, em média, 0,6°C a cada década, chegando a até 0,8°C por década em alguns lagos.

“Além disso, eventos de aquecimento acima da média têm sido mais frequentes na última década, alertando para a tendência futura de eventos cada vez mais extremos e comuns na região. Em 2024, uma outra seca extrema trouxe novamente ondas de calor para os lagos amazônicos”, observa Ayan Fleischmann. 

Outro dado preocupante foi a amplitude térmica diária observada, que chegou a 13,3°C. “Em condições normais, a água mais profunda geralmente é mais fria, servindo como uma espécie de refúgio para os animais escaparem de temperaturas muito altas. Na seca extrema de 2023, contudo, esse refúgio simplesmente não existia”, alerta Fleischmann. 

Impactos ecológicos e sociais 

O aquecimento extremo da água levou à mortalidade massiva de botos e peixes, além do deslocamento de populações de peixes para outros rios. No dia 28 de setembro de 2023, com temperatura de 39,5°C , foram encontradas 70 carcaças de botos no lago Tefé. 

De acordo com Adalberto Val, o deslocamento é um mecanismo natural de fuga, mas sua eficácia é limitada em eventos extremos como o de 2023.  Estudos anteriores já mostravam que muitas espécies de peixes amazônicos começam a perder desempenho fisiológico acima de 33°C, o que torna inevitáveis mortes em larga escala.

“Em 2023, muitos lagos ficaram isolados ou extremamente rasos, restringindo rotas de migração. Mesmo onde havia conexão — como no canal de Tefé — as temperaturas permaneceram muito altas por longos trechos, ultrapassando 37°C, o que impõe forte barreira fisiológica. Além disso, a adaptabilidade térmica dos peixes amazônicos é modesta: eles toleram apenas aumentos pequenos e graduais, não saltos abruptos de 6–10°C em poucos dias. Portanto, embora alguns indivíduos possam escapar, a maioria das populações enfrenta condições críticas antes que a migração seja possível”, ressalta Val. 

As altas temperaturas e o baixo nível dos rios não causaram apenas impactos ecológicos. As comunidades ribeirinhas que vivem em estreita dependência das águas dos rios, lagos e igarapés para sobreviver também foram afetadas, enfrentando escassez de água potável, alimentos, restrição à pesca,  dificuldade de navegação e isolamento.

Seca extrema e temperaturas recordes de até 41°C levaram ao superaquecimento dos lagos amazônicos
Seca 2023 na Amazônia. Foto: Miguel Monteiro/Instituto Mamirauá

Monitoramento contínuo

O estudo reforça que o monitoramento de longo prazo de lagos amazônicos é essencial para compreender o impacto das mudanças climáticas nos ambientes aquáticos amazônicos. E é nessa frente que atua o projeto Lagos Sentinelas da Amazônia,  coordenado por Ayan Fleischmann. A iniciativa busca entender as dinâmicas e os desafios socioambientais, a hidrologia e a qualidade das águas de cinco lagos da Amazônia. Os estudos envolvem quatro lagos situados no Amazonas – Tefé, Coari, Janauacá e Serpa- e um no Pará – Grande de Monte Alegre. 

O projeto reúne 15 instituições nacionais e internacionais, entre universidades, instituições de pesquisa, órgãos municipais e federais, além da participação de comunidades ribeirinhas. Bruce Forsberg coordena as pesquisas no lago Janauacá.

O Lagos Sentinelas é um projeto associado ao Programa LBA e financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 

Leia também: Lagos Sentinelas da Amazônia: projeto investe no monitoramento e diagnóstico socioambiental

Artigo completo: Ayan Santos Fleischmann et al., Extreme warming of Amazon waters in a changing climate. Science 390,606-611(2025). DOI:10.1126/science.adr4029

Áreas protegidas são quase metade da Amazônia Legal, mostra IBGE

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Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Quase metade da região conhecida como Amazônia Legal é formada por áreas protegidas. A região soma 2,3 milhões de quilômetros quadrados (km²) protegidos, o que representa 46,6% da área total da região político-administrativa, que se espalha por nove estados.

Leia também: Amazonas tem mais de 260 mil pessoas vivendo em áreas protegidas, segundo Censo

As informações sobre áreas de proteção na Amazônia Legal foram consolidadas e divulgadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira (12), durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), em Belém (PA).

As 1.053 áreas protegidas são formadas por 430 unidades de conservação ambiental, 378 terras indígenas e 245 territórios quilombolas. Esse conjunto representa praticamente um quarto (27,46%) de todo o território brasileiro.

Os dados excluem áreas sobrepostas, ou seja, se uma terra indígena fica em área de conservação ambiental, a extensão territorial não é contada duplamente.

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Amazônia Legal

A Amazônia Legal é a extensão territorial que corresponde à atuação da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam), vinculada ao Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional.

A configuração político-administrativa foi criada para promover o desenvolvimento socioeconômico da região, que abrange os estados de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará, Amapá, Tocantins, Mato Grosso e a maior parte do Maranhão.

Apesar do nome, a área delimitada reúne, além do bioma amazônico, porções do Cerrado e do Pantanal.

Leia também: Das 10 áreas protegidas mais ameaçadas da Amazônia, 6 estão no Amazonas, revela estudo

A comunidade quilombola de Santa Fé, no município de Costa Marques, em Rondônia. Foto: Reprodução/Arquivo/Incra RO

Terras indígenas

O IBGE constatou que as 378 terras indígenas na Amazônia Legal se estendem por uma área de 1,15 milhão km², equivalente quase a extensão territorial do Pará (1,24 milhão km²). 

Nas terras indígenas da Amazônia Legal vivem 428 mil pessoas, sendo 94,29% delas autodeclaradas indígenas. Os moradores dessas terras são 62,09% de todos os habitantes de terras indígenas do país.

Os pesquisadores identificaram também localidades indígenas, isto é, aglomerados de ao menos 15 pessoas indígenas, seja ou não em área delimitada oficialmente.

O estudo mostra que a Amazônia Legal concentra 6,8 mil dessas localidades, correspondendo a 78,82% das existentes em todo o país. Das existentes na Amazônia Legal, 78,40% estavam dentro de terras indígenas.

Áreas protegidas são quase metade da Amazônia Legal, mostra IBGE
Apresentação de dança típica do Povo Rikbaktsa na aldeia Beira Rio, Terra Indígena Erikpatsa, no Mato Grosso. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Quilombolas

O IBGE aponta que a Amazônia Legal inclui 245 territórios quilombolas oficialmente delimitados, que ocupam uma área de 27,2 km² (praticamente o tamanho de Alagoas).

Com base do Censo 2022, foi possível identificar 3,1 mil localidades quilombolas (15 pessoas morando próximas), o que corresponde a 36,82% das localidades quilombolas de todo o país.

Nos territórios quilombolas da Amazônia Legal vivem cerca de 92 mil pessoas, sendo 11,49% delas não quilombolas. Os moradores dessas delimitações são 45,09% do total de residentes em territórios quilombolas do país.

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Unidades de conservação

As unidades de conservação ambiental na Amazônia Legal somam quase 1,3 milhão km², pouco maior que a extensão do Pará.

Das 430, 171 são as chamadas unidades de proteção integral, que reúnem áreas como reservas biológica, parques e monumentos naturais.

Leia também: Saiba o que são as Unidades de Conservação (UCs) e a importância delas para a Amazônia

Existem ainda 259 unidades de uso sustentável, que congregam regiões como florestas, reservas extrativistas e áreas de proteção ambiental (APA).

As unidades de conservação mais presentes são parques naturais (26,05% do total), reservas extrativistas (18,37%), APAs e florestas, ambas com 13,49%.

População

Nas unidades de conservação ambiental vivem 2,27 milhões de pessoas, o que representa 8,51% de toda a população da Amazônia Legal.

O Maranhão se destaca com 1,28 milhão de residentes nessas áreas ─ 22,66% de toda a população do estado. Na sequência, figuram Pará e Amazonas, com 7,11% e 6,64%, respectivamente.

Vista da orla do Rio Amazonas em Parintins, com o Mercado Municipal Leopoldo Neves ao fundo. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil 

Já Roraima (0,50%) Rondônia (0,65%) e Mato Grosso (0,80%) estão na ponta inversa, com menos de 1% de suas populações em unidades de conservação.

Em julho, o IBGE já havia anunciado que, em todo o Brasil, cerca de 11,8 milhões de pessoas habitavam áreas de conservação ambiental.

De todos os habitantes de unidades de conservação na Amazônia Legal, 90,87% (2,062 milhões) vivem nas APAs.

O IBGE explica que as APAs são áreas “em geral extensas, com um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas”.

Essas delimitações têm como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais.

Dos moradores em unidades de conservação na Amazônia Legal, 69,04% são pardos; 16,60%, brancos; e 12,54%, pretos; e as pessoas indígenas, 2,21%.

Para efeito de comparação, o Censo mostra que no país como um todo, os pardos são 45,3%; os brancos 43,5%; e os pretos, 10,2%; e as pessoas indígenas, 0,83%.

*Com informações da Agência Brasil

Resgate da Feira Agropecuária e Festa do Leite promete aquecer economia de Autazes em mais de R$ 15 milhões

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Foto: Divulgação

Após anos de pausa, o município de Autazes retoma com força total um dos eventos mais tradicionais de sua história: a XXIV Feira Agropecuária e a XXV Festa do Leite. O retorno marca não apenas a celebração da cultura e da economia local, mas também um momento histórico, com a confirmação de três grandes atrações nacionais — algo inédito na cidade.

O Evento reforça o compromisso da gestão do prefeito Thomé Neto com o fortalecimento do setor primário, o incentivo ao produtor rural e o resgate das tradições que fazem de Autazes a ―Terra do Leite.

A Feira Agropecuária e a Festa do Leite sempre foram símbolos da identidade autazense, reunindo produtores, agricultores, pecuaristas, empreendedores e famílias em torno da força do campo. Com o resgate da programação em 2025, a Prefeitura de Autazes busca valorizar o setor primário, que é a base econômica do município e responsável por grande parte da geração de emprego e renda local.

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Além disso, todas as áreas estarão envolvidas e serão beneficiadas, como: moto taxistas, taxistas, rede hoteleira, restaurantes e comércios, além de vendedores ambulantes, entre outros. A estimativa é que a economia seja aquecida em torno de R$ 15 milhões nos quatro dias de programação.

O evento acontecerá no Parque de Exposições Jair de Menezes Tupinambá e contará com um espaço para exposição de animais, produtos agrícolas, derivados do leite, artesanato e gastronomia regional, além de rodadas de negócios e palestras técnicas voltadas à inovação e à sustentabilidade na produção rural.

Durante o dia será realizada a feira agropecuária e a noite a festa do leite e um dos grandes destaques deste ano é o inédito número de três atrações nacionais, que prometem movimentar o público e colocar Autazes novamente no mapa dos grandes eventos do interior amazonense.

As atrações nacionais são Banda Magníficos, Léo Foguete e Natanzinho Lima. E as atrações regionais confirmadas são Ângelo Márcio, Mikael, Jhon Veiga, Forró Ideal e George Japa.

A programação musical será uma oportunidade de lazer para a população e de fortalecimento do turismo e da economia local, aquecendo setores como hotelaria, comércio e alimentação. De acordo com a organização, a retomada da Feira e da Festa do Leite representa um reencontro com as origens e o orgulho de ser autazense, celebrando o trabalho de quem vive e faz o campo prosperar.

Leia também: INPI reconhece Indicação Geográfica para o queijo de Autazes, no Amazonas

Foto: Reprodução/ YouTube/ Amazon Sat

Linha de crédito para beneficiar o produtor rural

A XXIV Feira Agropecuária contará com a presença de Agentes Financeiros, como: AFEAM, BASA, BANCO BRADESCO e SICOOB, que atuam com linhas de crédito rural tanto para custeio quanto para investimento. A estimativa é que o valor total disponibilizado para os produtores de Autazes chegue à marca de R$ 1,6 milhão para a aquisição de máquinas, equipamentos, animais e apetrechos de pesca.

Além do crédito rural, também serão realizadas diversas atividades voltadas ao setor primário, possibilitando aos agricultores, pecuaristas e piscicultores o acesso a novas tecnologias, por meio de capacitações das entidades parceiras, como: EMBRAPA, SISTEMA SEPROR, IDAM, ADAF, SEBRAE, FAEA/SENAR, entre outros.

A Feira Agropecuária também contará com expositivos de máquinas, equipamentos, insumos agrícolas, através de várias empresas agropecuárias do Estado, que estarão presentes no evento. Isso possibilita o negócio em tempo real, por meio das linhas de crédito destinadas ao setor primário.

Exposições de animais

Nesta edição da Feira Agropecuária, haverá, também, a exposição de animais, como: bovino, bubalinos, caprinos, ovinos, equinos e pequenos animais. Essa iniciativa trará oportunidades de negócios através da aquisição de touros, matrizes de alta genética, tornando possível o melhoramento genético de animais dessa região. Uma vez que o caminho de desenvolvimento da pecuária de Autazes está no investimento em tecnologia e genética, pontos principais da Feira Agropecuária.

Programação

A programação da Feira Agropecuária será extensa e contará com:

  • corrida de cavalos,
  • concursos de melhor queijo, doce de leite, coalhada,
  • torneio leiteiro, tanto de bubalino quanto de bovino,
  • mostras de pequenos animais, como: caprinos e ovinos;
  • além do rodeio.

Outra atividades também aquecerão a economia de Autazes com oportunidades de negócios e geração de emprego e renda, o que faz o município ser reconhecido como ‘Terra do Leite, Queijo e do Potássio’.

Marapuama: o potencial medicinal e econômico de uma planta amazônica

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Foto: Maša Sinreih/ Wikimedia Commons

A marapuama (Ptychopetalum olacoides Bentham) é uma das espécies mais conhecidas da flora amazônica por suas propriedades medicinais e valor econômico. Popularmente chamada também de “muirapuama” ou “miranãa”, a planta é nativa da região Norte do Brasil e pertence à família Olacaceae. A árvore, de pequeno porte, tem sido amplamente utilizada por comunidades tradicionais e por indústrias farmacêuticas, alimentícias e cosméticas.

O nome marapuama tem origem nas palavras indígenas muira (lenho ou árvore) e puama (forte ou potente), o que reflete o significado de “árvore da força”.

A espécie ganhou notoriedade por suas propriedades e uso tradicional, que é registrado há séculos entre os povos indígenas amazônicos. Segundo os autores da obra ‘Plantas Medicinais da Amazônia – Bioeconomia e Desenvolvimento Sustentável de Cadeias Produtivas‘, “a espécie Ptychopetalum olacoides Bentham é amplamente utilizada por suas propriedades estimulantes e afrodisíacas, sendo exportada para diversos países”.

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Durante o início do século XX, o interesse comercial pela marapuama levou à exportação de grandes quantidades da planta, o que resultou em falsificações e substituições de espécies. A exploração intensa e sem manejo adequado colocou a planta em situação de risco.

Características botânicas e químicas da marapuama

A marapuama ocorre naturalmente na floresta de terra firme da Amazônia brasileira e é encontrada também na Guiana Francesa, Guiana e Suriname. No Brasil, sua presença é mais marcante nos estados do Amazonas, Pará e Amapá.

Leia também: Três florestas em uma? Conheça os tipos de vegetação da Amazônia

As pesquisas relatadas no livro apontam que, embora a planta apresente elevado potencial medicinal, é surpreendente a escassez de dados fitoquímicos disponíveis sobre a espécie.

Os estudos científicos publicados nessa obra identificaram nas raízes e cascas da planta substâncias como óleos essenciais, esteroides, taninos e alcaloides.

Dentre seus compostos mais estudados estão o β-sitosterol, lupeol, α-pineno, canfeno e cânfora. Tais componentes têm sido associados a propriedades antioxidantes e neuroprotetoras.

Além disso, foram observados efeitos antidepressivos e antiestresse. “O efeito neuroprotetor identificado na marapuama pode ser explicado pela sua capacidade em melhorar a eficácia da rede celular antioxidante no cérebro, diminuindo o estresse oxidativo”, aponta a publicação.

Outras pesquisas recentes, realizadas com camundongos, apontam ainda que a marapuama pode atuar na melhoria da memória e na recuperação pós-isquemia cerebral.

Leia também: Alimentação ‘industrializada’ ameaça saúde de ribeirinhos na Amazônia, aponta pesquisa

Cadeia produtiva e usos industriais

A exploração da marapuama ainda é predominantemente extrativista. Segundo dados da obra, ‘Plantas Medicinais da Amazônia – Bioeconomia e Desenvolvimento Sustentável de Cadeias Produtivas‘, a produtividade pode atingir de 3 a 4 toneladas por hectare ao ano, com retorno de até cinco anos.

No entanto, a falta de incentivos para o cultivo sustentável e o corte indiscriminado das raízes contribuíram para a redução das populações naturais.

O derivado vegetal da espécie é usado em indústrias farmacêuticas, de cosméticos e bebidas. A marapuama é utilizada como flavorizante natural (substâncias, naturais ou sintéticas, usadas para adicionar ou intensificar o aroma e o sabor de alimentos, medicamentos e outros produtos) em bebidas energéticas e alcoólicas.

Na indústria farmacêutica, é encontrada em extratos, tinturas e cápsulas manipuladas. Um dos exemplos citados é o fitoterápico Catuama, que combina a marapuama com outras plantas de uso medicinal, como guaraná e gengibre.

Além do uso industrial, o extrato da planta é encontrado em feiras e mercados regionais da Amazônia, onde é comercializado como pó ou em chás medicinais. Entre suas aplicações populares estão o combate ao reumatismo, à fraqueza sexual, às dores musculares e à fadiga.

marapuama

Aspectos socioculturais e regulatórios

O uso tradicional da marapuama está enraizado na cultura amazônica. Povos indígenas e comunidades ribeirinhas utilizam a planta em infusões e banhos medicinais para tratar males neuromusculares, gastrointestinais e reumáticos.

Um estudo etnobotânico citado na obra, realizado na Floresta Nacional do Amapá, registrou que “o uso de plantas medicinais no tratamento de problemas de saúde faz parte da cultura local”, e que a marapuama é considerada eficaz no tratamento de impotência sexual e dores musculares.

No mercado internacional, a espécie é comercializada em diferentes formas, incluindo cápsulas, extratos secos e suplementos multivitamínicos. Ela compõe dezenas de produtos fitoterápicos voltados à melhoria do desempenho físico e cognitivo.

Do ponto de vista legal, a marapuama é reconhecida em farmacopeias brasileiras e estrangeiras desde o início do século XX. Atualmente, o uso e o acesso ao patrimônio genético da planta são regulados pela Lei da Biodiversidade (Lei nº 13.123/2015), que busca garantir a repartição justa dos benefícios e coibir a biopirataria.

Os autores enfatizam que “a Lei da Biodiversidade representa um instrumento de proteção aos recursos genéticos a fim de evitar que conglomerados internacionais se apropriem de forma ilegal destes recursos”.

Importância econômica e ambiental

A marapuama representa, assim, uma cadeia produtiva promissora para a bioeconomia amazônica. Seu aproveitamento sustentável pode gerar renda para comunidades locais e contribuir para a conservação da floresta. No entanto, a ausência de manejo florestal e de regulamentação do cultivo coloca a espécie sob risco de extinção.

De acordo com os autores da obra, é necessário o desenvolvimento de técnicas de domesticação e cultivo sustentável para garantir a preservação da espécie e o fortalecimento de sua cadeia de valor.

Assim, a marapuama continua sendo um símbolo da relação entre biodiversidade, saber tradicional e desenvolvimento econômico na Amazônia, reunindo potencial científico, medicinal e sociocultural.

Presidente da Biblioteca Nacional visita Rondônia

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Lucchesi (à direita) está com o presidente da ARL, Diego Vasconcelos, em Rondônia. Foto: Divulgação

Por Júlio Olivar – julioolivar@hotmail.com

O escritor e historiador Marco Lucchesi, ex-presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL) e atual presidente da Fundação Biblioteca Nacional, esteve em Porto Velho nesta quarta-feira (12) para cumprir agenda institucional.

Pela manhã, Lucchesi participou de atividade no campus local do Instituto Federal de Rondônia (IFRO) e visitou a Biblioteca Municipal Francisco Meirelles. À tarde, foi recebido na sede da Academia Rondoniense de Letras (ARL).

Com simpatia, o visitante cumprimentou os presentes, conversou sobre literatura e destacou a boa impressão de sua primeira visita ao estado. Durante o encontro, recebeu obras produzidas por autores locais.

Carioca, Lucchesi ocupa desde 2011 a cadeira nº 15 da ABL e é professor titular da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em 2017, aos 54 anos, tornou-se o mais jovem presidente da Academia Brasileira de Letras.

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O presidente ri satisfeito durante a cantoria na ARL. Foto: Divulgação

Música para saudar Lucchesi

Quem imagina um “imortal” sisudo, de fardão engomado e semblante austero, logo se surpreende ao encontrar Marco Lucchesi. Um dos nomes mais respeitados da literatura brasileira, ele carrega consigo a simplicidade e o carisma que desarmam qualquer expectativa.

Na visita que fez à sede da Academia Rondoniense de Letras, em Porto Velho, foi recebido sem protocolos, no jeito descontraído dos porto-velhenses. O encontro virou sarau: Ernesto Melo e Carlinhos Maracanã puxaram canções populares e os demais imortais cantaram também; até o Hino de Rondônia ganhou ritmo de samba. E não demorou para que o próprio Lucchesi se juntasse à roda, entoando com voz firme “Nada além”, clássico de Nelson Gonçalves, e “Nervos de aço”, de Lupicínio Rodrigues. O riso fácil do homenageado foi a senha da aprovação ao ambiente.

Presidente da Biblioteca Nacional visita Rondônia
Primeiro reitor eleito da Universidade Federal de Rondônia e decano da ARL, José Dettoni, soltando a voz com o imortal-cantor. Foto: Divulgação

Entre música e conversa, ficou claro que o essencial não estava nas formalidades, mas na fraternidade de estar entre confrades. Houve também espaço para reflexões sérias: Lucchesi, que veio à Amazônia em missão da Biblioteca Nacional em parceria com a Marinha, falou sobre o desafio da leitura na era digital. Para ele, nenhuma mídia é inimiga da outra; o risco está em escolher apenas um caminho.

“Uma leitura lenta, devagar, faz o mundo desacelerar para um mergulho mais profundo, que requer tempo, preparação e espaço”, disse. E concluiu: “É preciso construir uma pedagogia da leitura”.

Assim, entre samba, poesia e pensamento, Marco Lucchesi deixou em Porto Velho não apenas sua voz, mas também a lembrança de que a literatura é encontro — e que, às vezes, se canta.

Leia também: Escritor de Rondônia lança livro na Academia Brasileira de Letras

Sobre o autor

Júlio Olivar é jornalista e escritor, mora em Rondônia, tem livros publicados nos campos da biografia, história e poesia. É membro da Academia Rondoniense de Letras. Apaixonado pela Amazônia e pela memória nacional.

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista

Polo Industrial de Manaus tem maior faturamento da história: setembro bate recorde com R$ 20,07 bilhões

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O Polo Industrial de Manaus (PIM) registrou em setembro o maior faturamento mensal de 2025 e da história dos Indicadores: R$ 20,07 bilhões. Foto: Reprodução/Rede Amazônica AM

O Polo Industrial de Manaus (PIM) registrou em setembro o maior faturamento mensal de 2025 e da história dos Indicadores, alcançando R$ 20,07 bilhões. O resultado, que superou a marca anterior de R$ 19,4 bilhões (registrada em maio), ajudou a impulsionar o faturamento acumulado do PIM, que totalizou R$ 167,94 bilhões nos nove primeiros meses de 2025 – o que indica crescimento de 10,45% em relação a igual período de 2024 (R$ 152,05 bilhões).

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A média mensal de empregos do polo em Manaus em 2025 (janeiro a setembro) é de 131.304, número 7,57% superior à média registrada em igual período de 2024 (122.063), entre trabalhadores empregados, efetivos, temporários e terceirizados.

Segmentos e produtos de destaque em Manaus

Os principais subsetores do PIM em participação no faturamento, até setembro, foram:

  • Bens de Informática (20,9% de participação);
  • Duas Rodas (20,08%);
  • Eletroeletrônico (16,85%);
  • Químico (10,11%);
  • Mecânico (9,02%);
  • Termoplástico (8,79%);
  • e Metalúrgico (7,96%).

Já em termos de crescimento do faturamento na comparação entre janeiro e setembro de 2025 com igual período do ano passado, pode-se destacar, principalmente, o desempenho do Polo de Duas Rodas, com crescimento de 23,16%; Madeireiro, com 38,77%; e Vestuário e Calçados, com 38,37%.

Leia também: Conheça as curiosidades do Polo Industrial de Manaus

Polo Industrial de Manaus
Desempenho do Polo de Duas Rodas em Manaus apresenta crescimento. Foto: Divulgação

Algumas linhas de produção que se destacaram no período de janeiro a setembro deste ano incluíram:

  • motocicletas, motonetas e ciclomotos, com 1.613.527 unidades produzidas e aumento de 16,58%;
  • aparelhos de barbear, com 1.499.015 unidades e aumento de 10,7%;
  • condicionadores de ar do tipo split system, com 4.698.309 unidades e aumento de 10,09%;
  • monitores com tela de LCD, para uso em informática, com 2.626.853 unidades e aumento de 9,63%;
  • tablets, com 1.303.703 unidades e aumento de 4,44%;
  • e bicicletas, inclusive, elétricas, com 306.378 unidades e aumento de 3,28%.

Avaliação

Para o superintendente da Suframa, Bosco Saraiva, os indicadores demonstram a maturidade do PIM, que consegue sustentar um crescimento robusto com elevados resultados de faturamento e geração de empregos.

“O mais importante é observar o quadro geral: crescemos o faturamento em mais de 10% no acumulado do ano e, fundamentalmente, sustentamos uma média de empregos 7,57% superior à do ano passado, firmemente acima dos 131 mil trabalhadores”, destacou.

Segundo o superintendente, o recorde de R$ 20 bilhões em setembro coroa esse desempenho. “Isso é resultado da confiança do setor produtivo no modelo e da segurança jurídica proporcionada pelo Governo Federal. Estamos no caminho certo para fechar 2025 de forma muito positiva”, reforçou.

*Com informações da Rede Amazônica AM

‘Feira Me Encanta Manaus’ celebrará o Natal com arte, empreendedorismo e magia no Parque Dez

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Foto: Júnior Pain/Sintonnia Artística

A magia do Natal vai tomar conta do CSU do Parque Dez, em Manaus (AM), de 5 a 8 de dezembro, a partir das 15h, com a realização da ‘Feira Me Encanta Manaus‘. O evento promete encantar o público com uma programação diversificada que une empreendedorismo, cultura e lazer familiar. A entrada será gratuita.

Entre os destaques, a chegada do Papai Noel, no dia 6, e as apresentações de corais natalinos prometem emocionar o público. A feira também conta com atrações musicais, área kids e uma seleção de produtos artesanais, doces, pães, papelaria criativa e presentes personalizados. Empreendedores interessados em expor podem entrar em contato pelo telefone (92) 98412-8157.

De acordo com o organizador e CEO da Sintonnia Artística, Arnaldo Neto, o evento é mais do que um espaço de comercialização e lazer, é um momento de celebração e fé.

“Estamos nos preparativos finais para a feira, que simboliza união e esperança. Além de gerar renda e promover o empreendedorismo, queremos celebrar o verdadeiro sentido do Natal: o nascimento de Jesus, que será representado em um presépio e exaltado nas canções dos Corais natalinos que participarão da Feira”, destaca, acrescentando que a programação geral ainda será divulgada.

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'Feira Me Encanta Manaus' celebrará o Natal com arte, empreendedorismo e magia no Parque Dez
Foto: Júnior Pain/Sintonnia Artística

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Feira itinerante

A ‘Feira Me Encanta Manaus‘ será itinerante, programada também em outras datas festivas, como Páscoa, Dia das Mães, Dia dos Pais e Dia das Crianças. A iniciativa busca fortalecer a economia criativa, valorizar pequenos empreendedores e reunir as famílias.

“Me Encanta Manaus é uma expressão de amor à cidade. Representa o talento e a força de quem transforma criatividade em oportunidade. Lembrando que a Feira foi idealizada pela empresária Liliane Morato durante muitos anos e agora está sob nossa direção”, reforça Arnaldo Neto.

Foto: Júnior Pain/Sintonnia Artística

Barqueata reúne movimentos sociais em Belém durante a COP30

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Barqueata teve a presença de indígenas, quilombolas e feministas que reivindicam direitos e justiça climática. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Povos Kayapo, Munduruku, Kayapó Panará, Borari, Tupinambá, Xipaya, Arapiun, quilombolas, sem terra, sem teto, sem direitos, periféricos, agricultores, pescadores, extrativistas, ribeirinhos. Os povos. Aqueles que não ocupam lugares de destaque e espaços de decisão na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) saíram unidos nesta quarta-feira (12), em uma barqueata pelas águas da Baía do Guajará, em Belém (PA).

A manifestação marca o início da Cúpula dos Povos, evento que acontece na sede da Universidade Federal do Pará (UFPA), entre os dias 12 e 16 de novembro, em paralelo à COP30. O ato também conclui a Caravana da Resposta, que saiu de Sinop, no Mato Grosso, em 8 de novembro, e chegou a Belém, no último dia 10.

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No trajeto pelas terras e rios do país, os diferentes povos percorreram o chamado “corredor da soja” e denunciaram os impactos do agronegócio e das grandes obras de infraestrutura, como a Ferrogrão e as hidrovias do Arco Norte, sobre territórios e vidas tradicionais.

Os povos se encontraram para reunir vozes, demandas e forças. Em comum, trazem o lema “a resposta somos nós”. Uma reivindicação por escuta, respeito e soberania popular.

“Os povos indígenas estão lutando desde o início. Temos que ser respeitados, valorizados, conforme a nossa cultura. Então, a resposta somos nós”, disse o líder indígena Bepmoroi Metuktire, de Mato Grosso, membro da articulação do Instituto Raoni.

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Barqueata reúne movimentos sociais em Belém durante a COP30
 Barqueata da Cúpula dos Povos é liderada pela “Caravana da Resposta”. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

“Durante a Caravana, tivemos essa conexão e união com outros parentes nossos que estão enfrentando vários tipos de ameaças dentro dos territórios deles. E são ameaças iguais às que nós enfrentamos também. Então, precisamos juntar forças para lutar e defender nossos territórios”, complementou.

A manifestação reuniu mais de 200 embarcações, com cerca de 5 mil pessoas, segundo os organizadores. Dentro da barca principal, que reuniu movimentos sociais e jornalistas, povos tradicionais se apresentaram com músicas, poesias e compartilharam as principais bandeiras de luta. Entre um balanço e outro do rio, as vozes foram ganhando mais volume.

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Quilombolas

Da comunidade kilombola (grafia com K, conforme uso local) Morada da Paz, território de Mãe Preta, no Rio Grande do Sul, veio Kahamy Ãdetta, que exerce a função religiosa Íyá Ekedi na Nação Muzunguê.

Ela lista uma quantidade grande de ameaças que os quilombolas enfrentam por conta de um pretenso desenvolvimento econômico liderado por empresários e políticos.

“Exigimos o direito à consulta prévia, livre, informada e de boa fé para todas as comunidades tradicionais, para todos os territórios indígenas ameaçados e já atingidos por empreendimentos de infraestrutura, pela mineração e empreendimentos imobiliários, assim como ampliação de estradas, que desrespeitam a soberania dos povos, a soberania da terra, soberania da água”, disse.

Barqueata foi realizada na Baía do Guajará, em Belém. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Kahamy destaca como os quilombolas e comunidades periféricas são especialmente atingidas pelas mudanças climáticas, provocadas pelas emissões de gases do efeito estufa.

“Só reconhecemos a possibilidade da vida, se a água, se a terra, se o ar são puros. E se temos o direito de ser e de viver como queremos. Lá na Figueira Negra, no Rio Grande do Sul, por exemplo, nós estamos em uma área que está sendo ameaçada pela ampliação de uma rodovia federal. E nós estamos cercados pelo plantio de monocultura de acácia e de eucalipto”, disse a líder quilombola.

“Como nós somos uma das únicas áreas de mata nativa e com água pura, todos os animais vêm para o nosso território. Então, em períodos de plantio extenso e de pulverização de agrotóxico, o ar que gente respira e que os animais respiram fica contaminado. Muitos morrem”.

Pescadores e ribeirinhos

Do município de Prainha, no Pará, veio Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais (MPP). Rosângela Santos Vieira, coordenadora do movimento e multiplicadora de mulheres, explica que o principal objetivo do grupo é discutir os impactos da crise climática que afetam a atividade com os peixes.

Rosângela conta que lida com um câncer de pele desde 2005 e não pode mais pescar por causa da exposição ao sol. Desde então, ela tem se engajado mais no movimento de pescadores. E destaca como a crise climática tem afetado a saúde de todos.

“Nós, pescadores, estamos vivendo uma crise com a escassez dos peixes por causa da seca e da invasão dos madeireiros em nossos territórios. Os madeireiros têm invadido nossas áreas, desmatando as nascentes e causando secas nos rios, o que mata os peixes e prejudica nossa sobrevivência. Essa situação afetou principalmente o acari, peixe que sempre foi a base da nossa pesca e do nosso sustento”, disse Rosângela.

“A maior parte do povo pescador pescava o acari. Hoje, para sobreviver, estamos pescando camarão, que não era a nossa atividade. Com o nosso movimento, estamos conseguindo envolver mais pessoas no MPP, para que possamos lutar por uma alimentação saudável e rios sem poluição”, complementou.

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Ato é pela Amazônia e pela justiça climática, realizado durante a COP 30. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Mulheres agricultoras

De Santarém, no Pará, vieram representantes do Coletivo Muvuca, a Associação de Mulheres da Agroecologia do Tapajós. Elas lutam por uma agricultura ancestral e sem veneno. Há, no movimento, gestoras ambientais, agrônomas e técnicas do meio ambiente.

Ana Karina Barbosa coordena o movimento e presta serviços relacionados à formação sobre ancestralidade, resgate dos saberes dos povos na agricultura e na produção de alimentação saudável. Ela denuncia o avanço da monocultura na região de Santarém, o que prejudica as populações tradicionais ao redor.

“Onde vivemos se tornou um polo especialmente da soja. Isso devastou várias comunidades e expulsou famílias inteiras de seus territórios, além de afetar a saúde dos comunitários e de todos que vivem na região”.

“Quem leva esse modelo de produção para lá não tem relação com o território, não participa da vida comunitária e, por isso, não sente os impactos diretos. Mas quem sofre são justamente os verdadeiros donos da terra”.

“A expansão da soja aconteceu de forma tão intensa que causou impactos sociais e culturais profundos. Muitas populações perderam suas referências culturais e modos de vida, sendo forçadas a migrar para as cidades ou para outros lugares que não são seus territórios de origem”.

Movimentos feministas

Da região dos Pampas, no Rio Grande do Sul, vieram representantes de três organizações que conectam lutas feministas e ambientais: Amigas da Terra Brasil, Marcha Mundial das Mulheres e Periferia Feministas.

Anne Moraes, socióloga, é uma das líderes dessa aliança, que surgiu durante a pandemia da covid-19. Ela vê a COP30 como uma oportunidade especial de compartilhar com outros movimentos sociais as dificuldades e soluções vindas dos territórios que ocupam.

“Os movimentos que represento lutam por justiça climática, soberania alimentar e uma transição justa. Nosso trabalho inclui hortas comunitárias e cozinhas solidárias nas periferias, conectando o cuidado com as pessoas e com o meio ambiente”, disse Anne.

“Sofremos muito com as enchentes no Rio Grande do Sul. A ação dos movimentos sociais foi fundamental para acolher a população, porque os governos não apresentaram planos de mitigação ou proteção naquele momento. Conectar o debate sobre emergência climática com uma perspectiva feminista e popular é essencial, pois as mulheres estão na linha de frente tanto das crises quanto das soluções”, complementou.

*Com informações da Agência Brasil

Por que Belém? Entenda como a capital paraense se tornou sede da COP30

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Foto: Ricardo Stuckert/PR

Belém (PA) recebe a 30ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (COP30) entre os dias 10 e 21 de novembro este ano. Muito tem se falado sobre a estrutura, quais são as discussões em foco, objetivos, etc, mas você lembra por que Belém foi escolhida como sede desta edição do maior evento que debate as questões climáticas?

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A “campanha” que tornaria a capital paraense sede da COP30 começou em 2022, ainda na COP27, realizada em em novembro daquele ano em Sharm El Sheikh, no Egito. 

À época, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um pedido à ONU: uma vez que a Amazônia era um dos focos de discussão sobre preservação para um futuro melhor, o presidente brasileiro alegou que os que defendem a pauta climática deveriam a conhecer de perto, instigando a reflexão das lideranças globais.

“Uma coisa é discutir a Amazônia no Egito; outra coisa é discutir a Amazônia em Berlim; outra coisa é discutir a Amazônia em Paris. Agora, não. Agora nós vamos discutir a importância da Amazônia dentro da Amazônia. Nós vamos discutir a questão indígenas, vendo os indígenas. Nós vamos discutir a questão dos povos ribeirinhos, vendo os povos ribeirinhos e vendo como eles vivem”, afirmou o presidente.

Belém, sede da COP30

Com o primeiro passo dado, em janeiro de 2023, o governo, por meio do Itamaraty, formalizou o pedido à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), tornando Belém oficialmente candidata a receber uma edição da COP.

Belém é candidata a sediar COP30, em 2025.
Foto: Ricardo Stuckert/PR

Mas para que Belém se tornasse, oficialmente, a primeira cidade na Amazônia a sediar a Conferência, os países latino-americanos precisavam apoiar unanimemente a candidatura da cidade brasileira, uma exigência da ONU para oficializar a indicação. Feito que foi alcançado.

E, ainda em 2023, no mês de maio, veio a primeira carta de aceitação, assinada pela ONU:

Foto: Reprodução/Agência Pará

A confirmação oficial foi feita durante a COP28, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, também em 2023, tornando Belém a cidade amazônica pioneira da região como anfitriã de uma edição da Conferência.

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COP30

A COP30 é a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (Conferência das Partes), um encontro global anual onde líderes mundiais, cientistas, organizações não governamentais e representantes da sociedade civil discutem ações para combater as mudanças do clima.

De acordo com o governo brasileiro, “a COP30 representa uma oportunidade histórica para o Brasil reafirmar seu papel de liderança nas negociações sobre mudanças climáticas e sustentabilidade global. O evento permitirá ao país demonstrar seus esforços em áreas como energias renováveis, biocombustíveis e agricultura de baixo carbono, além de reforçar sua atuação histórica em processos multilaterais, como na Eco-92 e na Rio+20”.

Os principais temas em discussão nesta edição incluem:

  • Redução de emissões de gases de efeito estufa;
  • Adaptação às mudanças climáticas;
  • Financiamento climático para países em desenvolvimento;
  • Tecnologias de energia renovável e soluções de baixo carbono;
  • Preservação de florestas e biodiversidade;
  • Justiça climática e os impactos sociais das mudanças climáticas.

Transformação

Após a aprovação e confirmação, Belém precisou ser transformada para receber, de fato, a Conferências. Além da ter apenas metade dos 50 mil leitos necessários para receber os visitantes, outros problemas precisaram de atenção. Assim, a cidade foi sendo adaptada para se tornar anfitriã.

Entre as dificuldades de hospedagem, o choque cultural e divergências, Belém cumpre seu papel de cidade sede até o dia 21 de novembro, quando se espera ter novas metas globais para a Amazônia construídas com a ajuda dos povos originários e comunidades locais.

O que é a COP?

COP é uma conferência global, realizada desde 1995, com representantes de centenas de países que ocorre todos os anos e que tem como principal objetivo conter as consequências da crise climática causada pela humanidade.

Na cúpula, entre outros temas, os países participantes revisam seus compromissos de manter o aquecimento global bem abaixo de 2°C acima dos níveis pré-industriais, buscam esforços globais para limitá-lo a 1,5°C e discutem como ajudar nações vulneráveis às mudanças climáticas.

Amapá tem o menor índice de desmatamento entre estados da Amazônia Legal, diz INPE

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Área desmatada no Amapá em 2020. Foto: Reprodução/Arquivo/Polícia Civil

Amapá registrou uma queda de 48,15% no desmatamento entre agosto de 2024 e julho de 2025, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O estado teve a segunda maior redução percentual da Amazônia Legal, atrás apenas do Tocantins, que liderou com 62,5%.

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As informações são do Projeto de Monitoramento do Desmatamento da Floresta Amazônica Brasileira por Satélite (Prodes). O levantamento aponta uma redução de 11,8% na taxa de desmatamento da Amazônia em 2025, em comparação com o ano anterior.

Segundo o Prodes, a área desmatada na Amazônia foi estimada em 5.796 km² — o menor índice registrado nos últimos 11 anos.

Entre agosto de 2024 e julho de 2025, os dados do INPE mostram que vários estados da Amazônia Legal registraram quedas expressivas no desmatamento. Tocantins liderou em redução percentual, seguido por Amapá, Roraima e Rondônia.

“Amapá mostra que é possível”

“O Amapá mostra que é possível conciliar desenvolvimento com conservação. É um exemplo para o país”, afirmou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

Ranking de estados com maior queda de desmatamento

PosiçãoEstadoRedução (%)
Tocantins62,5%
Amapá48,15%
Roraima37,39%
Rondônia33,61%
Acre27,62%
Maranhão26,06%
Amazonas16,93%
Pará12,4%

Fonte: INPE

O resultado é atribuído a ações conjuntas entre o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), forças de segurança e outros parceiros. As operações priorizaram a proteção de florestas intactas e terras indígenas.

Segundo o ICMbio, no Amapá, a área desmatada caiu de cerca de 2.500 para 1.300 campos de futebol entre 2024 e 2025. A maior parte dessa redução ocorreu dentro de áreas protegidas, como parques, reservas biológicas, estações ecológicas e reservas extrativistas.

Leia também: Mais de 90% do desmatamento da Amazônia é para abertura de pastagem, informa MapBiomas

Desmatamento zero

A analista ambiental do ICMBio, Érica Martins, destacou que o Brasil tem chances reais de atingir a meta de desmatamento zero até 2030 se mantiver o ritmo atual de fiscalização e políticas de incentivo

“O país teve uma tendência de queda entre 2014 e 2018, mas entre 2018 e 2022 os números explodiram. Agora, voltamos a uma redução drástica. Só nas áreas protegidas, a queda acumulada desde 2022 é de cerca de 72%”, afirmou.

Floresta Nacional do Amapá. Foto: Rafael Aleixo/Rede Amazônica AP
Floresta Nacional do Amapá. Foto: Rafael Aleixo/Rede Amazônica AP

Segundo Érica, a combinação de fiscalização rigorosa com apoio à agricultura familiar e à sociobiodiversidade pode garantir o cumprimento da meta.

Além disso, o Sistema de Detecção de Desmatamentos em Tempo Real (Deter), também do INPE, fornece alertas em tempo real.

*Por Isadora Pereira, da Rede Amazônica AP