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Negociações na COP30 seguem em Belém e países buscam acordo

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Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

A 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) continua sem um desfecho, na manhã deste sábado (22). A plenária de encerramento da conferência estava prevista para as 12h (horário de Brasília), quando deverão ser conhecidos os textos finais sobre as decisões.

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As negociações em torno do documento final da conferência se estenderam pela madrugada. O evento estava previsto para terminar nesta sexta-feira (21). No início da manhã da sexta, foram divulgados os rascunhos dos textos que estavam em discussão, o chamado Pacote de Belém.

Pessoas em frente a fachada do pavilhão, chegam para participar de plenárias na COP30. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
Pessoas em frente a fachada do pavilhão, chegam para participar de plenárias na COP30. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Representantes da sociedade civil criticaram a falta de ambição das nações para buscar as metas climáticas previstas no Acordo de Paris, que procura conter o aumento da temperatura do planeta em até 1,5ºC, como limite para que o planeta não entre em um ciclo grave de catástrofes ambientais.

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Um dos principais pontos de frustração foi a ausência do mapa do caminho para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis, como petróleo e carvão mineral, os principais responsáveis pelas emissões dos gases que causam o aquecimento global.

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O governo brasileiro, e especialmente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, insistiu na aprovação de um texto que abordasse alguma proposta de cronograma de implementação dessa transição energética.

*Com informações da Agência Brasil

Anfíbios são protagonistas de evento científico que orienta sobre seu papel na Amazônia

Fotos: Rickelmy Holanda e Igor Yuri Fernandes

Promover informações e sensibilizar a população sobre a importância dos anuros, grupo de anfíbios que inclui sapos, rãs e pererecas, por meio da distribuição de um guia ilustrado de espécies da região do Médio Solimões é o objetivo de um evento realizado em Tefé (AM), previsto para o dia 29 de novembro.

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O evento, “Save the Frogs” (salve os sapos), faz parte do projeto ‘Popularizando os sapos da região do médio Solimões, Amazônia Brasileira: um olhar pela Terra Firme, Várzea e Paleo-várzea’.

Durante o evento será lançado oficialmente um guia ilustrado de anuros do Médio Solimões. A programação inclui atividades interativas e expositivas voltadas à popularização da ciência e à valorização da fauna amazônica.

Ação é apoiada pelo Governo do Amazonas, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), via Programa de Apoio à Popularização da Ciência, Tecnologia e Inovação (POP CT&I), edital nº 003/2025.

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Realizado pela primeira vez no interior do Amazonas, o encontro “Save the Frogs” é inspirado no movimento internacional criado em 2008 pelo biólogo Kerry Kriger. A iniciativa é coordenada por Kelly Torralvo, doutora em Ecologia e pesquisadora do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM).

Segundo a coordenadora, a desinformação e as crenças populares representam desafios na proteção desses anfíbios, que desempenham papéis ecológicos essenciais no ecossistema amazônico.

“Existem vários fatores que afetam esse grupo, porque são sensíveis às mudanças do ambiente. Poluição, desmatamento e mudanças no clima são riscos atuais. A desinformação e a falta de simpatia das pessoas com as espécies são comuns em ambientes urbanos e ribeirinhos, já que não são animais desejados ao convívio”, destacou Kelly Torralvo.

Anfíbios são protagonistas de evento científico que orienta sobre seu papel na Amazônia
Guia que reúne dados de anfíbios também será apresentado no evento. Fotos: Rickelmy Holanda e Igor Yuri Fernandes

Guia Ilustrado de anfíbios

O material abrange três ambientes amazônicos:

  • Terra Firme na Floresta Nacional (Flona) de Tefé;
  • Várzea na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) de Mamirauá;
  • e Paleovárzea (RDS Amanã).

O guia ilustrado com informações sobre os anfíbios foi produzido em linguagem acessível e em versão bilíngue (português e inglês). A publicação inclui fotografias e informações morfológicas e ecológicas de mais de 80 espécies, e será distribuída durante os workshops comunitários nas três unidades de conservação participantes.

Os encontros são destinados a moradores locais, agentes de gestão, educadores e interessados em atividades de ecoturismo e conservação ambiental.

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Kelly Torralvo explica que a entrega do livro é uma das atividades mais importantes do evento, pois o material tem potencial para uso acadêmico.

“Além de sensibilizar, com informações e fotografias a quem convive com esses animais, o guia tem como objetivo o uso em atividades de ecoturismo que já acontecem e vêm se consolidando nas unidades de conservação em que amostramos as espécies. O guia tem uma linguagem leve, é ilustrativo e será publicado com traduções em inglês”, detalhou.

Fomento científico

Evento busca orientar sobre o papel dos anfíbios na natureza amazônica. Fotos: Rickelmy Holanda e Igor Yuri Fernandes

Para a pesquisadora, o apoio da Fapeam é fundamental para a popularização da ciência no interior do Estado. “A popularização da ciência se faz com muitas mãos e é necessário muito recurso financeiro também. São com eles que conseguimos apostar em materiais de qualidade, proporcionando uma experiência marcante aos participantes dos eventos e para que possamos chegar em locais mais distantes, como é o caso das comunidades ribeirinhas”, concluiu a coordenadora projeto.

*Com informações da Fapeam

Presidente da COP30 convoca países a buscar consenso em reta final: “instintivamente agimos juntos em momentos de crise”

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Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Enquanto as negociações chegam ao ponto decisivo na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), o presidente do evento, André Corrêa do Lago, convocou na manhã desta sexta-feira (21) os países a chegarem a um consenso pelo bem comum do planeta.

Corrêa do Lago disse que o momento é de cooperação internacional e que os países não devem pensar os resultados da COP em termos de vitória ou derrota.

“Sabemos o quanto há de obstáculos para colocar palavras em prática e como é muito difícil chegar a consensos. Mas nós nunca podemos esquecer que o mesmo consenso que às vezes nos exaspera — analistas, delegados, tantas pessoas — fortalece este regime. Temos que mostrar que esta é a COP em que consenso é força”, disse o embaixador.

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“Não podemos nos dividir no contexto do Acordo de Paris. Temos aqui a percepção de divisão que vem de vários negociadores da convenção. Essa noção de divisão nós tentamos reduzir durante esta negociação, com transparência e soluções verdadeiras que vêm das delegações”, complementou.

Para o embaixador, pelo menos três objetivos colocados como centrais para a presidência brasileira serão alcançados:

  • fortalecer o multilateralismo;
  • conectar os debates da COP à vida das pessoas;
  • e acelerar a implementação do Acordo de Paris (que busca reduzir emissões de gases do efeito estufa e limitar o aquecimento do planeta a 1,5ºC).

O presidente da COP30 também destacou que realizar o evento em Belém, na Amazônia, foi essencial para a mensagem de preservação do bioma.

“Ao organizar esta COP na Amazônia, o presidente Lula quis que o mundo visse não apenas a beleza forte desse bioma incrível, mas também os desafios que nós temos que desenvolver”, disse Corrêa do Lago.

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“Eu acredito que mudamos a percepção da relação entre natureza e clima. Obrigado pelos momentos que todos vocês passaram aqui e pela sensibilidade em relação às nossas florestas, que é algo que nem todos instintivamente entendem que é preciso proteger”, complementou.

Presidente da COP30 André Corrêa do Lago
Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

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Incêndio

Durante a abertura da plenária informal na Zona Sul, espaço oficial onde ocorre a COP30, o embaixador também lembrou o incêndio que destruiu parte dos pavilhões na Blue Zone nesta quinta-feira (20).

Ele disse que, apesar de todos os aspectos negativos do ocorrido, houve demonstração de apoio coletivo, que poderia ser levado para a mesa de negociação da carta final do evento.

“Estamos aqui juntos depois do fogo. Isso foi rapidamente controlado e contido. Isso nos lembrou da nossa vulnerabilidade compartilhada e de como instintivamente agimos juntos em momentos de crise. Eu gostaria de agradecer a todos pelo profissionalismo e solidariedade. Recebemos muitas mensagens de apoio. Muitas delas foram realmente muito fortes, amigáveis e sensíveis”, disse o Corrêa do Lago.

*Com informações da Agência Brasil

Em Manaus, templos de religiões de matriz africana estão localizados em zonas de risco geológico, revela mapeamento

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Em Manaus (AM), terreiros e templos de religiões afro‐brasileiras, espaços sagrados para comunidades negras e praticantes, se encontram em proximidade com áreas identificadas como de risco geológico, inundação, alagamento e erosão, segundo análise inédita realizada com base no mapeamento do Serviço Geológico do Brasil (CPRM). No contexto da Semana da Consciência Negra o achado lança luz sobre uma dimensão pouco debatida: a vulnerabilidade territorial e simbólica desses espaços de fé.

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O relatório “Mapeamento das áreas de risco geológico da zona urbana de Manaus (AM)”, elaborado pela CPRM, aponta centenas de setores da capital amazonense classificados como alto e muito alto risco para desastres como inundações, alagamentos, erosão, deslizamentos e enxurradas.

Templos de matriz africana em áreas de risco de Manaus
O relatório “Mapeamento das áreas de risco geológico da zona urbana de Manaus” foi elaborado pela CPRM. Foto: divulgação

Paralelamente, com a ajuda do levantamento realizado pelo Atlas ODS Amazônia e o Instituto Ganga Zumba, foi elaborado um mapa que sobrepõe os pontos dos terreiros/templos e as áreas de risco geológico identificadas. A análise identifica a proximidade entre os locais de culto de matriz africana e as zonas de risco: essa interseção aponta para uma situação de vulnerabilidade tanto física (estrutura, segurança) quanto simbólica (preservação da cultura, fé, pertencimento).

Principais achados

Há diversos templos localizados dentro ou muito próximos de zonas classificadas como R3 (“alto risco”) ou R4 (“muito alto risco”) pelo mapeamento da CPRM.

Há diversos templos localizados dentro ou muito próximos de zonas classificadas como R3 (“alto risco”) ou R4 (“muito alto risco”), em Manaus. Foto: Divulgação

Leia também: Como religiões de matriz africana são símbolo de resistência e identidade negra no Amapá

Segundo a atualização de 2025, o município de Manaus possui 362 setores classificados como risco alto (R3) e 76 como muito alto (R4), totalizando 438 setores e impactando aproximadamente 112 mil pessoas.

No contexto da fé afro‐brasileira, os terreiros não são apenas locais de culto, mas centros comunitários, educacionais e de resistência identitária — o que amplia o impacto de qualquer risco à infraestrutura ou interrupção da atividade.

Relevância para a Semana da Consciência Negra

Local com risco de erosão. Foto: Rafael Aleixo/Rede Amazônica

“O mapa apresenta claramente os territórios sagrados e a proximidade de áreas de risco, alguns deles estão no meio dessas áreas e o risco é iminente. A questão maior é que existe um contingente considerável de pessoas vivendo próximas a essas áreas e com os eventos climáticos cada vez mais graves, como fortes chuvas, é preciso agir”, afirma o pesquisador Danilo Egle, pesquisador do Atlas ODS Amazônia.

Ele acredita que o mapeamento chama atenção para que as políticas de proteção não se limitem a manifestações culturais visíveis, mas também abarquem a segurança e a permanência dos terreiros e templos como parte do patrimônio imaterial e territorial negro.

O mapeamento revela que a proteção das expressões religiosas de matriz africana em Manaus passa também por um olhar para o território. No mês em que se celebra a Consciência Negra, emerge o convite para que a fé, a cultura e o sagrado sejam parte integrante de políticas de prevenção de riscos, planejamento urbano e valorização patrimonial. A preservação desses espaços — tão significativos para a comunidade negra — exige visibilidade, engajamento institucional e ação coordenada entre poder público, sociedade civil e comunidades de terreiro.


Baguncinha, lambadão e “vôte”: coisas que só quem é cuiabano entende

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Foto: Rennan Oliveira/Prefeitura de Cuiabá

Os cuiabanos preservam um conjunto de tradições linguísticas, gastronômicas e culturais que se destacam dentro do Centro-Oeste brasileiro. A identidade regional se manifesta na forma de falar, nas comidas típicas e nas manifestações artísticas que atravessaram gerações.

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A variedade de costumes observada em diferentes bairros da capital mato-grossense demonstra o quanto elementos históricos e influências de distintos povos moldaram o cotidiano local. Entre expressões, pratos e ritmos, muitos hábitos são reconhecidos de imediato por quem nasceu ou cresceu no município.

O Mato Grosso é um dos estados que compõem a Amazônia Legal e o modo de vida dos cuiabanos reúne referências indígenas, africanas e europeias, que se misturaram ao longo do tempo e contribuíram para uma identidade própria. Essa combinação aparece na linguagem, nas receitas tradicionais e nas festas populares.

Essas características tornaram-se marcantes e grande parte delas só é plenamente compreendida pelos próprios cuiabanos, que vivenciam esses costumes na rotina familiar ou comunitária.

Gastronomia que marca gerações

A culinária típica é um dos pilares culturais mais conhecidos pelos cuiabanos. Entre os pratos mais lembrados está o baguncinha: lanche preparado na chapa que mistura carnes, temperos e complementos, geralmente acompanhado da tradicional maionese temperada. O preparo tornou-se uma referência entre vendedores de lanches e é encontrado em vários pontos da cidade. E mais: o baguncinha e a maionese temperada são reconhecidos como patrimônio cultural e imaterial do município desde março de 2022. 

Imagem colorida mostra baguncinha, um típico prato cuiabano
Foto: Geslaine Arruda Silva/ Wikimedia Commons

Outro ícone gastronômico é o prato Maria Izabel, feito com carne seca e arroz. O prato é facilmente identificado nas casas e restaurantes da região e costuma ser preparado em grandes porções. A receita, de origem histórica ligada a trabalhadores rurais e viajantes, tornou-se parte do repertório culinário dos cuiabanos.

Pixé. Foto: Reprodução/Márcia Mesquita

A farofa de banana, feita com banana-da-terra madura (pacovã), farinha de mandioca, manteiga, cebola, alho e temperos, é outro acompanhamento presente em almoços e eventos tradicionais. O sabor marcante e o uso de ingredientes regionais reforçam a ligação da comida com o território.

Também faz parte do repertório o pixé – ou piché, doce preparado com milho torrado, açúcar e canela, frequentemente vendido enrolado em cones de papel. Já o quebra-torto é um café da manhã reforçado, composto por carne com arroz, ovo frito e farofa, consumido principalmente por pessoas que trabalham nas primeiras horas do dia.

Expressões que identificam os cuiabanos

O vocabulário regional é uma das características mais reconhecidas pelos cuiabanos. A expressão “vôte” é usada para demonstrar espanto, surpresa ou repulsa, sendo mencionada em diversas situações cotidianas. A palavra é lembrada por moradores de diferentes faixas etárias.

Outro termo comum é “pau-rodado”, usado para se referir a pessoas que vieram de outras cidades. A palavra é associada à imagem de troncos de árvores que desciam rios e só paravam ao encostar em algum ponto, simbolizando alguém que chega e se fixa no local.

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Entre os hábitos linguísticos, aparece também o verbo “rebuçar”, utilizado para indicar a ação de cobrir o corpo com lençol ou cobertor. A expressão “chapa e cruz” é usada para identificar pessoas que nasceram e morreram em Cuiabá, reforçando vínculos familiares locais.

Esses termos circulam entre gerações e se mantêm presentes mesmo com a influência de novas formas de comunicação geradas pela internet e pelas redes sociais.

Ritmos e tradições culturais

A cultura cuiabana abriga manifestações próprias, reconhecidas pelos cuiabanos em diferentes espaços da cidade.

Entre elas, está o lambadão, ritmo e dança de forte presença regional. O estilo musical combina influências do rasqueado, do carimbó e da lambada paraense. Bailes e apresentações comunitárias contribuem para manter o ritmo vivo entre músicos e dançarinos.

Lambadão é uma das danças mais tradicionais entre os cuiabenses. Foto: Michel Alvim/ Prefeitura de Cuiabá – Arquivo/ 2014

As danças cururu e siriri também fazem parte da tradição local. O cururu é executado principalmente por homens e tem forte ligação com expressões religiosas e folclóricas da região. O siriri, por sua vez, é praticado por mulheres e crianças, que utilizam saias rodadas e executam movimentos circulares ao som de instrumentos regionais.

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Outro símbolo cultural é a viola de cocho, instrumento artesanal produzido a partir de uma tora de madeira escavada. A viola de cocho acompanha danças, cantorias e encontros tradicionais.

Esses elementos demonstram como os cuiabanos preservam manifestações transmitidas por famílias, grupos artísticos e comunidades que mantêm vivas práticas populares ao longo do tempo.

Origem e significados do nome Cuiabá

Diversos estudos apontam explicações para a origem do nome Cuiabá. Uma das mais mencionadas é a palavra bororo Ikuiapá, que significa “lugar da Ikuia”, em referência a flechas usadas para pesca em áreas próximas ao córrego da Prainha, ponto onde os bororo desenvolviam atividades de caça e coleta.

Outra versão associa o termo ao guarani Kyyaverá, traduzido como “rio de lontra brilhante”. Há também interpretações ligadas à existência de árvores produtoras de cuia às margens do rio, sugerindo que o nome significaria “rio criador de vasilha”.

As diferentes versões mostram como elementos naturais, povos originários e práticas tradicionais ajudaram a formar a identidade regional reconhecida até hoje pelos cuiabanos.

Indicações Geográficas impulsionam desenvolvimento sustentável no Pará

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Foto: Bruno Cruz/Agência Pará

Com o painel “Indicações Geográficas e marcas coletivas no Estado do Pará: a proteção jurídica, bioeconomia e desenvolvimento territorial”, a Universidade do Estado do Pará (Uepa) participou, nesta sexta-feira (21), da programação do Pavilhão Pará, na Green Zone, durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), cuja programação oficial se encerra hoje.

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O momento apresentou os resultados do grupo de pesquisa Laboratório de Análise e Pesquisas Territoriais Estratégicas da Amazônia (Lapet), com foco no estudo e na consolidação das Indicações Geográficas (IGs) e marcas coletivas como instrumentos de valorização de territórios e de fortalecimento da bioeconomia.

Indicações Geográficas são reconhecimento de potencial

Segundo o professor Valente, o reconhecimento da origem dos produtos é essencial para garantir competitividade e preservação cultural.

“Esses instrumentos são reconhecidos mundialmente, e todos os países estão correndo para proteger seus produtos. Nós, paraenses, também precisamos proteger especialmente aqueles com grande potencial de escala, como o açaí, o cacau e a pimenta-do-reino”, destaca.

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Indicações Geográficas impulsionam desenvolvimento sustentável no Pará - COP30
Indicações geográficas reforçam importância de produtos locais. Foto: Bruno Cruz/Agência Pará

Ele enfatiza ainda que as políticas públicas desempenham papel decisivo para ampliar a presença das IGs no Estado.

“O importante é que o governo, por meio das políticas públicas — como o recém-criado Programa Estadual de Indicação Geográfica —, fomente não apenas as IGs e marcas já consolidadas, mas também incentive a criação de novas. Elas são instrumentos de proteção desses produtos e, acima de tudo, de desenvolvimento territorial”, explica Valente.

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O professor reforça que o tema dialoga diretamente com as pautas da COP30.

“Grande parte desses produtos é originada da agricultura familiar e está ancorada em princípios de sustentabilidade. O Pará tem uma grande oportunidade de promover o desenvolvimento sustentável das suas marcas produtivas”, conclui.

Assim, as Indicações Geográficas mostram caminhos estratégicos para impulsionar economias locais e fortalecer o papel do Pará na agenda global da bioeconomia.

*Com informações da Agência Pará e UEPA

COP30: Novo Programa de Proteção de Terras Indígenas é lançado pelo MPI

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Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Povos indígenas, governo brasileiro e parceiros internacionais lançaram, no dia 19 de novembro, o novo Programa de Proteção de Terras Indígenas, o PPTI, durante a COP30, em Belém (PA). A iniciativa prevê recursos para demarcação de terras, fortalecimento das organizações indígenas e gestão ambiental e territorial.

A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, afirma que o programa reforça o compromisso do país de proteger 59 milhões de hectares de terras indígenas. Ela destaca que o desafio é incluir nas declarações da COP a demarcação de terras como política climática:

“Nós esperamos, pactuamos, construímos, articulamos. Dois anos para construir a maior participação indígena da história. Agora, nós temos apenas três dias para conseguir emplacar, no texto final, a demarcação de terras indígenas como uma política climática. Então, é muito importante, aqui, este programa que a Apib vem construindo, junto com a Alemanha, para se ter uma cooperação internacional com o governo brasileiro e o movimento indígena”.

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sonia guajajara fala sobre novo programa de proteção de terras indígenas na cop30  foto Bruno Peres Agência Brasil
Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Alemanha se compromete com o novo programa

O governo da Alemanha já se comprometeu a participar do novo Programa de Proteção de Terras Indígenas. Rita Walraf, representante do Ministério de Cooperação Econômica e Desenvolvimento alemão, acredita no sucesso da iniciativa:

“O governo alemão tem certeza de que o PPTI será um programa de cooperação internacional de sucesso, que apoiará no avanço significativo da demarcação de terras indígenas e também, claro, no fortalecimento das organizações indígenas. Esses eixos principais são também a receita exitosa para uma efetiva proteção do clima”.

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Kleber Karipuna, coordenador executivo da Apib, a Articulação dos Povos Indígenas Brasileiros, reforça que essa é mais uma iniciativa concreta para implementar as promessas de combate às mudanças climáticas:

“A proposta do PPTI é ser um plano de ação concreta para implementar os compromissos que estão sendo, por exemplo, anunciados aqui nessa COP. Implementar com muita articulação política, interinstitucional, com o governo, com cooperação, com o movimento indígena, as nossas organizações, os nossos mecanismos de fundos indígenas. Fazer com que esses compromissos assumidos aqui na COP, via o programa PPTI e outras iniciativas, sejam assumidos como plano concreto, de ação concreta, para implementar esses compromissos”.

O Programa de Proteção de Terras Indígenas terá uma gestão compartilhada entre o movimento indígena, o governo brasileiro e a cooperação internacional. A previsão é que ele comece a funcionar já no próximo ano.

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*Com informações da Agência Brasil

Lei que institui o Dia da Mulher Indígena é sancionada em Roraima

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Lei institui o Dia da Mulher Indígena. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O Governo de Roraima sancionou a Lei Estadual n°. 2.278 de 13 de novembro de 2025, de autoria da deputada estadual, Joilma Teodora (Podemos), que inclui no Calendário Oficial do Estado de Roraima o Dia Estadual da Mulher Indígena. Essa data será celebrada anualmente em 5 de setembro, como forma de reconhecer esse público e promover ações de valorização.

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Para a parlamentar, celebrar o Dia da Mulher Indígena é uma grande vitória não só para o público feminino roraimense, mas para todos os povos originários que integram a população local.

Lei institui o Dia da Mulher Indígena
Mulheres indígenas. Foto: Diego Silva/Secom-AC

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O objetivo da lei é reconhecer e valorizar a mulher indígena, além da conscientização em escolas, universidades e órgãos públicos.

“É importante ressaltar que essa conquista é fruto de muitos esforços coletivos e, ao mesmo tempo, como autora dessa importante Lei, busco conscientizar sobre a importância da participação dessas mulheres na sociedade, na luta por melhores condições de vida, seja em escolas, universidades e órgãos púbicos”, comemorou Joilma.

Lei foi construída em conjunto

A deputada afirma ainda que em meio a sociedade, Roraima conta com o trabalho de muitas mulheres indígenas, que segundo ressaltou, merecem destaque pelos relevantes serviços que contribuem para o desenvolvimento do Estado e o fortalecimento da economia local.

Mulher Indígena
Mulher indígena. Foto: divulgação

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“Temos como exemplo a nossa querida Telma Taurepang, uma liderança inspiradora, uma mulher indígena guerreira que sempre está lutando pelas causas sociais e principalmente, pelo povo de Roraima, assim como outras personalidades que sonham em termos um estado justo, fraterno e solidário”, finalizou Joilma, que agradeceu ao governador Antônio Denarium (PP), pela sanção.

Banzeiro da Esperança encerra jornada na COP30 e consolida movimento cultural pela Amazônia

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Foto: Divulgação

Após mais de 1.600 quilômetros navegados pelo Rio Amazonas, aproximadamente 90 atividades e milhares de pessoas mobilizadas ao longo do trajeto entre Manaus (AM) e Belém (PA), o Banzeiro da Esperança encerrou oficialmente sua jornada na COP30. O barco deixou Belém nesta sexta (21) para sua viagem de volta à Manaus (AM).

Idealizado pela Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e pela Virada Sustentável, a iniciativa reuniu lideranças indígenas, ribeirinhas, quilombolas, juventudes, organizações sociais, artistas, influenciadores, jornalistas e parceiros nacionais e internacionais em um grande mutirão pela Amazônia.

Leia também: ‘Banzeiro da Esperança’: Barco Cultural levará lideranças amazônicas para a COP30

O barco, com capacidade para 230 pessoas, transformou-se em um laboratório de cultura, ciência, comunicação e participação cidadã, promovendo rodas de conversa, oficinas, plenárias, debates, saraus, encontros com jovens, formações sobre combate à desinformação e intercâmbios entre povos e instituições. Em Parintins e Belém, o Banzeiro atraiu moradores, coletivos e lideranças locais, ampliando o diálogo sobre desafios e soluções para a região.

O influenciador Raull Santiago, do Rio de Janeiro (RJ), visitou o barco e valorizou o trabalho do artista natural de Parintins Romahs Mascarenhas, que registrou as principais atividades no Banzeiro por meio de facilitação gráfica, uma técnica de registro visual que transforma falas, ideias, debates e decisões de um encontro em desenhos, palavras-chave, mapas mentais e ícones feitos em tempo real.

“Esse é um tipo de memória que eu acho sensacional. Mesmo que você não tenha acompanhado a viagem desde o início tem um registro incrível aqui”, valorizou.

A ministra Sônia Guajajara, do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), fortaleceu a representatividade dos povos indígenas no Banzeiro da Esperança durante sua visita para uma reunião com lideranças realizada no dia 16 de novembro: “Nós – o MPI – participamos dessa ideia do Banzeiro da Esperança e ajudamos nessa organização para que a gente pudesse fortalecer aqui a diversidade de lideranças”. 

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Foto: Divulgação

Carta da Amazônia e protagonismo das comunidades

A Carta da Aliança dos Povos Guardiões da Amazônia, construída durante a expedição Banzeiro da Esperança entre Manaus e Belém, consolida as principais reivindicações de povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, extrativistas e agricultores familiares diante dos impactos crescentes da crise climática.

O documento afirma que a proteção da floresta depende do reconhecimento dos territórios, do fortalecimento da gestão local, da valorização dos saberes ancestrais, da equidade de gênero e do protagonismo das juventudes. A carta, entregue ao presidente da COP30, André Corrêa do Lago, nasce de um processo de escuta, diálogo e construção coletiva que envolveu dezenas de comunidades ao longo do percurso do Banzeiro.

Para as lideranças, a carta representa um marco histórico de união e afirmação política.

“A carta foi construída em coletivo, com indígenas, ribeirinhos e quilombolas. Cada palavra foi escolhida com muito cuidado, para que os líderes mundiais sintam o pedido de reconhecimento e valorização dos povos da Amazônia”, afirma Estélio Munduruku, da Terra Indígena Kwatá-Laranjal, do Amapá. 

Valcléia Lima, superintendente geral adjunta da FAS, afirma que a COP30 deve ser “a COP da implementação”. “O Banzeiro da Esperança mostrou, na prática, que as decisões globais sobre o clima precisam ser guiadas por quem vive na floresta. Trazer lideranças indígenas, ribeirinhas e quilombolas para serem voz e protagonistas, inclusive na construção da Carta da Amazônia, é garantir que a região não seja apenas cenário, mas sujeito das decisões. A partir de agora, o compromisso é acompanhar de perto para que o que foi negociado em Belém saia do papel e se traduza em políticas concretas nos territórios”, avalia.

Clique AQUI para ler a carta. 

Onde a cultura floresce, a floresta respira

Durante a expedição ‘Banzeiro da Esperança’, as atividades culturais tiveram papel central na construção de um ambiente de reflexão e celebração dos saberes amazônicos. A programação incluiu shows, narrativas tradicionais, apresentações artísticas e vivências que fortaleceram os laços entre comunidades, juventudes e lideranças de diferentes territórios.

Entre os shows, participação da cantora indígena Djuena Tikuna, uma das maiores referências da música indígena no país. Do interior do Amazonas, de Carauari, veio o sanfoneiro Éder do Acordeon que realizou mais de um show no Banzeiro. 

Djuena e Éder abrilhantaram as noites culturais durante a permanência do barco em Belém. Mas, durante a viagem para a capital do Pará, o Banzeiro da Esperança fez uma de suas paradas simbólicas ao chegar a Parintins, onde foi recebido pelas cores, ritmos e tradições do Festival Folclórico que há décadas inspira e mobiliza a Amazônia.

A chegada marcou um encontro entre a expedição — formada por lideranças indígenas, ribeirinhas, quilombolas, juventudes e pesquisadores — e a força cultural dos bois Caprichoso e Garantido, reforçando que a arte também é instrumento de proteção da floresta.

A bordo e em terra firme, os participantes tiveram a oportunidade de conhecer mais sobre a história, os símbolos e o engajamento socioambiental do Boi Caprichoso, cuja presença cultural conecta a identidade amazônica à agenda da preservação. “É uma honra receber vocês aqui para conhecer nossa cultura antes de ir à COP. Que esta viagem fortaleça ainda mais o compromisso com a Amazônia e com o futuro dos povos que vivem nela”, afirmou Erick Nakanome, presidente da Comissão de Arte do Boi Caprichoso.

O convés do Banzeiro se transformou em palco para a apresentação que emocionou participantes e reforçou a força da arte como instrumento de consciência ambiental. A atriz Lucélia Santos levou ao barco uma performance sensível e contundente, o teatro “Vozes da Floresta: Chico Mendes Vive”, espetáculo que celebra o legado do líder seringueiro e sua luta pela justiça social, pelos territórios e pela preservação da floresta.

Com linguagem direta e emocionante, a peça revisita a trajetória de Chico Mendes e reafirma que suas ideias continuam vivas na resistência dos povos da Amazônia, especialmente diante da crise climática. “Eu já adaptei espetáculos em vários tipos de palco e dessa vez foi diferente realizar nessa estrutura de navio, mas deu tudo certo e foi emocionante”, disse a atriz ao final da apresentação, realizada no dia 14 de novembro. 

Leia também: Fundação Rede Amazônica participa do Banzeiro da Esperança com painel sobre gestão de resíduos sólidos em Belém

Virada Sustentável levou para Belém exposições temáticas

As exposições da Virada Sustentável em Belém traduzem arte, provocação e consciência ambiental. “A Onda”, de Eduardo Baum, transforma mais de 30 mil peças plásticas recicladas em uma escultura azul instalada no Ver-o-Rio, alertando para o impacto do lixo nos oceanos — um problema que coloca o Brasil entre os maiores poluidores marinhos do mundo. A obra celebra os 15 anos da Virada e reforça o poder de transformar resíduos em mensagem potente.

No Boulevard da Gastronomia, a instalação “Eggcident”, do artista holandês Henk Hofstra, exibe ovos gigantes “fritando” no calor como metáfora bem-humorada — e alarmante — do aquecimento global. Inspirada em dados do IPCC, a intervenção provoca o público a refletir sobre emissões, hábitos de consumo e os efeitos do aumento da temperatura, especialmente no contexto amazônico.

Foto: Divulgação

Completando o percurso, a mostra “Araquém Alcântara — 50 anos de Fotografia” reuniu obras icônicas que retratam povos, biodiversidade e os impactos do Antropoceno. Dividida em três atos, a exposição evidencia a interdependência entre cultura e natureza, funcionando ao mesmo tempo como celebração estética e denúncia visual das ameaças ao planeta.

“Saímos dessa COP com a certeza de que promovemos experiências inesquecíveis e de alto impacto, seja para as milhares de pessoas que de alguma maneira vivenciaram o Banzeiro da Esperança, seja para o público que interagiu com as instalações localizadas nos locais de grande circulação em Belém, seja para as centenas de profissionais e artistas envolvidos nessa programação. Que possamos levar essa onda de otimismo e esperança para muito além da COP”, afirma André Palhano, fundador da Virada Sustentável. 

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Da voz dos territórios à COP30: a esperança segue navegando

O legado do Banzeiro da Esperança vai muito além da travessia entre Manaus e Belém. A expedição consolidou um processo de formação, escuta e mobilização que fortaleceu a autonomia das comunidades amazônicas diante da crise climática. Cada roda de conversa, oficina e intercâmbio cultural contribuiu para a construção coletiva dos Planos de Ação Climática, documentos elaborados pelas próprias lideranças indígenas, ribeirinhas, quilombolas e extrativistas a partir de suas realidades, saberes e urgências. Esses planos representam um marco histórico: são a materialização do conhecimento territorial e da força organizativa dos povos da floresta.

A partir da COP30, esse legado seguirá vivo. Os planos de adaptação serão apresentados a governos, organizações e financiadores como instrumentos concretos para orientar políticas públicas, direcionar investimentos e fortalecer a gestão local da Amazônia.

“O legado do Banzeiro da Esperança é uma coalizão de muitos atores, tanto representantes dos povos indígenas, das comunidades quilombolas, das comunidades extrativistas, quanto de parceiros na ciência, na filantropia, nos governos, para que a gente possa fazer com que esses planos de adaptação e mitigação climática saiam no papel e aconteçam na prática, porque é isso que vai manter a esperança viva”, disse Virgilio Viana, superintendente geral da FAS.

O Banzeiro da Esperança é uma articulação interinstitucional que mobilizou a sociedade para a maior conferência climática do planeta, realizada em Belém (PA), a COP30. O projeto foi apresentado por meio da Lei de Incentivo à Cultura e Sabesp, com realização da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Virada Sustentável e Ministério da Cultura.

Conta com o patrocínio da Heineken SPIN, Vale e WEG, e com o apoio da Bemol, Ecosia, Edenred, Instituto Itaúsa e Suzano. O projeto também tem parceria com a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), Rede Conexão Povos da Floresta e Ministério dos Povos Indígenas (MPI). A Rede Amazônica é parceira de mídia do projeto. 

Tecnologia e floresta: a infraestrutura digital como vetor da bioeconomia amazônica

Estação das Docas em Belém. Fonte: Reprodução/Arquivo/Agência Pará. (In: METRÓPOLES. Pará terá o mais diversificado parque de bioeconomia do Brasil. Disponível AQUI)

Por Yunier Sarmiento Ramírez e Jose Barbosa Filho

Ao longo das últimas décadas, o debate sobre modelos de desenvolvimento para a região tem evidenciado as limitações das abordagens tradicionais, baseadas na exploração intensiva de recursos naturais e em infraestruturas pouco integradas às dinâmicas locais. Nesse contexto, cresce o interesse por alternativas capazes de conciliar conservação da floresta, geração de renda e valorização dos conhecimentos territoriais, entre as quais a bioeconomia se destaca como proposta central.

Paralelamente, a revolução digital transforma profundamente a forma como sociedades produzem, circulam e utilizam informações. A expansão de redes de conectividade, o avanço do sensoriamento remoto, a inteligência artificial e as plataformas de dados vêm remodelando setores econômicos e abrindo novas possibilidades para regiões que antes permaneciam isoladas das dinâmicas tecnológicas globais. No caso da Amazônia, essas transformações ganham contornos particulares diante dos desafios de acesso, da grande extensão territorial e das profundas desigualdades entre áreas urbanas e comunidades rurais, ribeirinhas e indígenas.

A infraestrutura digital, entendida como o conjunto de tecnologias, redes, sistemas e plataformas que possibilitam a comunicação e o fluxo de dados, passa a ser um elemento fundamental para apoiar iniciativas econômicas sustentáveis. Além de ampliar a circulação de informações e facilitar o acesso a mercados, essa infraestrutura pode fortalecer processos produtivos baseados na sociobiodiversidade, apoiar o monitoramento ambiental e promover maior integração entre comunidades, instituições, pesquisadores e cadeias produtivas. Ao mesmo tempo, a ausência ou fragilidade dessa infraestrutura limita o desenvolvimento de atividades inovadoras, aprofundando desigualdades estruturais e restringindo a capacidade da Amazônia de avançar em novos modelos econômicos.

Diante desse cenário, torna-se fundamental compreender como tecnologia e floresta se conectam na construção de caminhos para um desenvolvimento sustentável. Assim, este artigo tem como objetivo analisar de que forma a infraestrutura digital atua como vetor estratégico para o fortalecimento e a expansão da bioeconomia na Amazônia, evidenciando oportunidades, desafios e contradições que emergem dessa articulação.

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Bioeconomia amazônica: conceitos, potenciais e desafios

A bioeconomia tem se consolidado como uma das principais alternativas para promover o desenvolvimento sustentável da Amazônia, sobretudo diante da necessidade de conciliar conservação ambiental e geração de renda. Embora o conceito seja amplo e multifacetado, no contexto amazônico ele se associa principalmente ao uso sustentável dos recursos da sociobiodiversidade, à agregação de valor a produtos florestais e à integração entre conhecimentos científicos, tecnológicos e tradicionais.

Nesse sentido, a bioeconomia amazônica não pode ser reduzida à lógica industrial baseada em biomassa, típica de países desenvolvidos, mas deve ser compreendida como um modelo territorialmente situado, que envolve práticas de manejo sustentável, cadeias produtivas tradicionais, tecnologias sociais e a valorização de saberes ancestrais.

Os potenciais da bioeconomia na Amazônia são reconhecidos internacionalmente. A região abriga milhares de espécies com alto valor econômico e farmacológico, além de cadeias produtivas já consolidadas, como o açaí, a castanha, o cacau, os óleos vegetais, a borracha e a pesca manejada. Esses setores movimentam economias locais, fortalecem a agricultura familiar e contribuem para manter a floresta em pé. Além disso, iniciativas baseadas em sistemas agroflorestais, turismo de base comunitária, meliponicultura e manejo florestal comunitário demonstram a possibilidade de articular conservação, inovação e inclusão social, ao mesmo tempo em que ampliam a diversificação econômica e a adaptação climática.

Açaí
Açaí é uma das frutas mais populares da Amazônia. Foto: Divulgação/Idam
  • Apesar desse potencial, a bioeconomia amazônica enfrenta desafios estruturais que limitam sua expansão. Entre os principais estão:
  • a baixa agregação de valor nas cadeias produtivas;
  • a dependência de intermediários;
  • dificuldades logísticas típicas de uma região continental;
  • assimetrias de informação entre produtores e mercados;
  • fragilidades na organização socioprodutiva;
  • e limitações no acesso a crédito, certificações e infraestrutura adequada.

Além disso, persistem lacunas regulatórias relacionadas ao uso de recursos genéticos, à repartição de benefícios e à proteção de conhecimentos tradicionais, o que gera insegurança jurídica e dificulta o desenvolvimento de novos produtos e pesquisas.

Outro elemento crucial é o distanciamento histórico entre ciência, inovação e práticas produtivas locais. Embora a Amazônia concentre centros de pesquisa de excelência, a transferência de tecnologia e a articulação entre instituições, empreendedores, comunidades e governos ocorrem de forma desigual e muitas vezes fragmentada. A falta de integração limita a criação de ambientes de inovação e dificulta o fortalecimento de ecossistemas bioeconômicos capazes de gerar competitividade regional. A isso se soma a desigualdade territorial no acesso a serviços públicos e infraestrutura, que afeta diretamente a capacidade de comunidades ribeirinhas, aldeias indígenas e agricultores familiares de participar de mercados mais amplos.

Portanto, compreender a bioeconomia amazônica exige reconhecer tanto seus enormes potenciais quanto as barreiras que impedem a sua plena consolidação. A superação desses desafios demanda políticas públicas estruturantes, investimentos em ciência e tecnologia, fortalecimento das organizações comunitárias e modelos de governança que respeitem os territórios, seus conhecimentos e seus modos de vida. Nesse cenário, a infraestrutura digital emerge como elemento fundamental para conectar atores, ampliar a circulação de informações, dinamizar cadeias produtivas e viabilizar novos arranjos econômicos — tema que será explorado nas seções seguintes.

Infraestrutura digital: conectividade, dados e transformação territorial

A infraestrutura digital tem assumido papel central nos processos contemporâneos de desenvolvimento, estruturando novas formas de produção, circulação de conhecimento, inovação e interação social. No contexto amazônico, sua importância se intensifica devido à extensão territorial, às limitações históricas de conectividade e às desigualdades no acesso à informação.

A infraestrutura digital compreende um conjunto de tecnologias, redes e sistemas — como internet de banda larga, conectividade móvel, satélites, cabos ópticos, computação em nuvem, sensores, plataformas de dados e inteligência artificial — que permitem o fluxo contínuo de informações, ampliando capacidades produtivas e de governança. Assim, torna-se uma dimensão estratégica para quaisquer iniciativas que pretendam integrar sustentabilidade, competitividade e inclusão social.

A expansão da conectividade modifica profundamente as dinâmicas socioeconômicas dos territórios. Em regiões urbanas, a infraestrutura digital impulsiona setores como comércio, serviços financeiros, educação e saúde à distância. Em áreas rurais e florestais, entretanto, ela adquire uma função ainda mais estruturante: conecta comunidades isoladas, fortalece redes de cooperação, permite o acesso a mercados, incentiva a formalização produtiva e amplia a capacidade local de acompanhar mudanças ambientais e econômicas. A presença de uma rede digital mínima passa a ser requisito para que agricultores familiares, extrativistas, pescadores, artesãos e empreendedores locais tenham condições de participar de circuitos econômicos mais dinâmicos, reduzindo assimetrias históricas de informação.

Ao mesmo tempo, a infraestrutura digital viabiliza o uso de tecnologias de monitoramento e processamento de dados que têm transformado a forma como o território amazônico é observado, analisado e planejado. Sistemas de sensoriamento remoto, imagens de satélite, drones, geoIA (inteligência artificial geoespacial) e plataformas de análise avançada permitem acompanhar desmatamento, queimadas, cheias, secas e dinâmicas produtivas quase em tempo real. Essas ferramentas contribuem para o fortalecimento da governança ambiental, apoiam decisões sobre manejo florestal, logística de produção e prevenção de riscos climáticos, além de ampliar a transparência sobre o uso do território. Nesse sentido, a digitalização também se torna parte dos mecanismos de controle social e de sustentabilidade ambiental.

No entanto, a transformação digital não ocorre de maneira homogênea. Persistem profundas desigualdades de acesso entre regiões, municípios e grupos sociais. Comunidades ribeirinhas, aldeias indígenas, pequenas cidades e áreas de difícil acesso ainda enfrentam limitações de conectividade, custo elevado de equipamentos, baixa formação digital e falta de infraestrutura energética adequada. Essas barreiras não apenas restringem o uso de tecnologias avançadas, mas também impedem que populações locais usufruam dos benefícios associados ao mercado digital, à rastreabilidade de produtos, às plataformas de comercialização e à economia da informação. Assim, a ausência de infraestrutura digital reforça desigualdades históricas e compromete o potencial transformador da bioeconomia.

Leia também: Caminhos sustentáveis: como a infraestrutura verde impulsiona a bioeconomia na região amazônica

Além disso, a expansão acelerada de tecnologias digitais na Amazônia suscita debates críticos sobre soberania de dados, dependência tecnológica, vigilância e assimetrias de poder entre grandes plataformas tecnológicas, governos e populações tradicionais. A captura e o uso de dados territoriais e biológicos por empresas e instituições externas podem aprofundar formas de colonialismo digital, reproduzindo lógicas extrativas agora centradas na informação. Nesse sentido, discutir infraestrutura digital na Amazônia implica questionar quais tecnologias são implementadas, por quem, para quem e com quais mecanismos de governança e participação social.

Desse modo, a infraestrutura digital pode atuar como vetor de transformação territorial, ampliando oportunidades econômicas, fortalecendo a governança ambiental e promovendo maior integração regional. Contudo, seu impacto depende da capacidade de garantir acesso equitativo, participação comunitária, governança transparente e alinhamento com estratégias de desenvolvimento sustentável. É nessa interface entre tecnologia, território e inclusão que se define o potencial da digitalização para apoiar a bioeconomia amazônica — questão aprofundada na próxima seção.

Conexões entre tecnologia e bioeconomia: caminhos de integração

A integração entre infraestrutura digital e bioeconomia amazônica constitui hoje um dos campos mais promissores para a construção de modelos de desenvolvimento sustentáveis na região. A digitalização tem potencial para fortalecer cadeias produtivas, ampliar a agregação de valor, melhorar o monitoramento ambiental e promover a inclusão socioeconômica de populações tradicionais. Ao conectar florestas, pessoas, dados e mercados, a tecnologia cria condições para transformar produtos da sociobiodiversidade em ativos competitivos, rastreáveis e integrados a circuitos econômicos de maior escala, sem romper com a lógica da conservação ambiental.

Um dos principais pontos de convergência entre tecnologia e bioeconomia é a rastreabilidade produtiva. Plataformas digitais, blockchain, georreferenciamento e certificações eletrônicas permitem acompanhar a origem, o modo de produção e a trajetória dos produtos florestais não madeireiros, como açaí, castanha, cacau, óleos vegetais e mel de abelhas nativas. Esse processo não apenas garante maior transparência e confiança aos consumidores, mas também assegura que os benefícios econômicos retornem às comunidades produtoras. A rastreabilidade digital também reduz intermediários, amplia a inserção internacional dos produtos amazônicos e contribui para combater irregularidades como exploração ilegal, fraudes e desmatamento associado.

Mel produzido das flores dos açaizeiros. Foto: Arthur Corrêa/Nectar Amazônia

Outro campo central de integração é o monitoramento ambiental digital. O uso de tecnologias de sensoriamento remoto, drones, imagens de satélite e inteligência artificial possibilita acompanhar desmatamento, queimadas, cheias, secas e dinâmicas ecológicas com alta precisão. Essas ferramentas fortalecem o manejo florestal comunitário, orientam decisões sobre áreas de coleta de produtos extrativos, antecipam riscos climáticos e ampliam a segurança territorial. Em cadeias como as de borracha, pirarucu, castanha ou meliponicultura, o mapeamento digital possibilita otimizar rotas, identificar períodos de coleta e monitorar estoques naturais, integrando sustentabilidade e eficiência produtiva.

Além disso, a tecnologia desempenha papel fundamental na formação, comunicação e integração entre agentes da bioeconomia. Plataformas digitais de aprendizagem, redes comunitárias de internet, telecentros e aplicativos móveis permitem que agricultores familiares, extrativistas, jovens rurais e empreendedores de base comunitária acessem informações técnicas, capacitações e mercados antes distantes. Esse acesso contribui para reduzir assimetrias de conhecimento, apoiar a inovação territorial e fortalecer organizações locais, como cooperativas e associações, que passam a operar com maior autonomia e capacidade de gestão.

As plataformas de comercialização digital também se apresentam como importantes aliados da bioeconomia. Marketplaces regionais, ferramentas de pagamento digital, comércio eletrônico e aplicativos móveis ampliam a visibilidade dos produtos amazônicos e diversificam formas de venda. Em muitos casos, a digitalização possibilita acessar consumidores urbanos, mercados internacionais e nichos específicos interessados em produtos de origem sustentável, orgânica ou florestal. Para microempreendedores e grupos comunitários, isso representa oportunidades concretas de geração de renda e consolidação produtiva, diminuindo a dependência de intermediários e aumentando o valor agregado.

Contudo, essa integração entre tecnologia e bioeconomia não está isenta de riscos e contradições. O avanço da digitalização pode gerar desigualdades dentro das próprias cadeias produtivas, excluindo grupos com menor acesso à internet, baixa alfabetização digital ou restrições de infraestrutura elétrica. Há também questões de soberania e segurança dos dados territoriais, especialmente quando informações sobre recursos naturais, práticas tradicionais e conhecimentos associados entram em plataformas controladas por agentes externos. Assim, o uso da tecnologia precisa estar alinhado a princípios de autonomia, ética, transparência e governança participativa.

A articulação entre infraestrutura digital e bioeconomia demanda políticas públicas integradas, investimentos de longo prazo e fortalecimento de capacidades locais. A tecnologia, por si só, não garante desenvolvimento sustentável. Seu potencial depende do modo como é incorporada aos territórios, do protagonismo das populações amazônicas e do estabelecimento de arranjos institucionais que combinem inovação, inclusão e preservação da floresta. Quando orientada por esses princípios, a integração entre tecnologia e bioeconomia pode se tornar uma das principais vias para um futuro amazônico sustentável, competitivo e socialmente justo.

Considerações finais

A relação entre tecnologia e floresta revela um campo estratégico para pensar novos modelos de desenvolvimento para a Amazônia. A infraestrutura digital, ao ampliar o acesso à informação, permitir monitoramento ambiental preciso e conectar produtos da sociobiodiversidade a mercados mais amplos, emerge como elemento estruturante da bioeconomia contemporânea. Contudo, seu potencial transformador só se realiza plenamente quando articulado às realidades territoriais, aos conhecimentos tradicionais e à superação das desigualdades históricas que marcam a região.

Os resultados da análise mostram que a digitalização pode fortalecer cadeias produtivas sustentáveis, promover inclusão socioeconômica e ampliar a capacidade de governança ambiental. Rastreabilidade, certificações digitais, sensoriamento remoto, plataformas de dados e comércio eletrônico constituem instrumentos concretos para agregar valor, aumentar transparência e melhorar a competitividade de produtos florestais. Ao mesmo tempo, essas ferramentas fortalecem estratégias de conservação ao possibilitar monitoramento contínuo e participação comunitária em ações de gestão territorial.

No entanto, os avanços não eliminam os desafios. A insuficiência de conectividade em áreas rurais, o acesso desigual à formação digital, os custos tecnológicos e os riscos de dependência de grandes plataformas globais demonstram que a digitalização da bioeconomia amazônica exige políticas públicas consistentes, democráticas e territorialmente sensíveis. O fortalecimento da infraestrutura digital deve vir acompanhado de marcos de governança que garantam soberania de dados, participação social e distribuição justa dos benefícios econômicos.

Assim, a tecnologia não deve ser vista como solução isolada, mas como um vetor que pode potencializar arranjos produtivos existentes, promover inovação social e gerar valor econômico sem romper com a lógica da floresta em pé. A construção de uma bioeconomia amazônica digitalizada depende da articulação entre governos, instituições científicas, setor privado, organizações comunitárias e populações tradicionais. É nesse encontro entre saberes, territórios e tecnologias que se delineia a possibilidade real de um desenvolvimento sustentável, inclusivo e baseado no fortalecimento da sociobiodiversidade amazônica.

Com a colaboração de:

Prof. Dr, Yunier Sarmiento Ramírez possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade do Estado do Amazonas, mestrado em Gestão de Empresas pela Universidad de Holguín – Cuba e doutorado em Economia pela Universidade Federal de Rio Grande do Sul. Atualmente é professor da Universidade Federal do Amazonas no Departamento de Economia e Análise – DEA e no Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia – PPGSS. Desenvolve pesquisas na área de Economia aplicada, teoria econômica e métodos quantitativos

Sobre o autor

Prof. Dr, José Barbosa Filho possui graduação em Engenharia de Pesca pela Universidade Federal do Ceará (1989), mestrado em Economia Rural pela Universidade Federal do Ceará (1992) e doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (2005). Atualmente é professor Titular da Universidade Federal do Amazonas. Desenvolve pesquisas na área de Contabilidade Ambiental, Matemática Financeira e Econometria, com ênfase em Gestão Ambiental, atuando principalmente nas seguintes áreas: valoração ambiental, desenvolvimento sustentável, avaliação de impactos ambientais e gerenciamento de processos.

Contato: jbarbosa@ufam.edu.br

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista