O pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, Alfredo Kingo Oyama Homma, foi um dos agraciados com o Prêmio CNA Agro Brasil 2025. A distinção, realizada pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil ocorreu no dia 25, em uma cerimônia na sede da entidade, a profissionais que fizeram a diferença nas categorias “Destaque”, “Política”, “Pesquisa e Desenvolvimento” e “Comunicação”.
A premiação se torna muito mais emblemática, pois além de reconhecer o papel de Homma como uma das maiores referências nacionais em estudos socioeconômicos sobre a Amazônia, marca um momento simbólico de seus 55 anos de graduação a preparação para sua aposentadoria da Embrapa.
A celebração reuniu, em uma noite de festa, o anfitrião e presidente da CNA, João Martins, junto a presidentes de Federações estaduais de agricultura e pecuária, diretores do Sistema CNA/Senar, embaixadores, parlamentares, representantes de entidades, lideranças do setor produtivo e convidados participaram da cerimônia no auditório da Confederação.
Ao discursar na abertura, João Martins deu as boas-vindas aos presentes e destacou a importância dos homenageados deste ano, pois “não apenas os que defendem o agro, mas sobretudo aqueles que defendem e lutam pelo engrandecimento do Brasil”.
Legado para a ciência da Amazônia
Alfredo Homma recebeu o prêmio da mãos do presidente do Instituto CNA, Roberto Brant. E foi agraciado por “seu conjunto de pesquisas e publicações contribuiu para a melhor compreensão sobre o real papel do extrativismo vegetal, permitindo a formulação de políticas apropriadas para a conservação e a preservação da biodiversidade da Amazônia e do mundo”.
Ao subir ao palco, o cientista declarou que não existe solução mágica para a Amazônia. Lembrou que leva tempo e é caro.
“Nós temos que enfrentar esses desafios”, defendeu.
Alfredo Homma é pesquisador da Embrapa desde 1970. Foto: Reprodução/Arquivo/Embrapa Amazônia Oriental
O chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental, Walkymário Lemos, afirmou que a premiação expressa o reconhecimento institucional a uma carreira que influenciou gerações de pesquisadores.
“A premiação concedida ao pesquisador Alfredo Homma é um reconhecimento merecido por sua trajetória exemplar. Essa homenagem coroa uma história profissional de mais de cinco décadas, consagrando-o como uma referência científica e profissional, não apenas para a Embrapa, mas para todo a ciência do país”, afirmou.
Carreira
Natural de Parintins (AM), Homma cresceu em um ambiente profundamente ligado ao extrativismo vegetal e à agricultura regional. Sua família participou diretamente da introdução da juta na região e também se dedicou a estudos sobre a pimenta-do-reino na Amazônia – dois produtos que mudaram a história econômica da região e moldaram as bases do desenvolvimento agrícola no Norte do país. Ao longo da carreira, Homma se tornaria uma das principais referências nos estudos dessas duas atividades e sobre o extrativismo.
Pesquisador da Embrapa desde 1970, Alfredo Homma construiu uma trajetória marcada por produção científica intensa. Ao longo de mais de cinco décadas, publicou centenas de artigos e diversos livros, consolidando-se como referência nacional em economia e sociologia rural. Residente em Belém, dedicou-se também a projetos de manejo de espécies amazônicas como bacurizeiros e dendezeiros.
Reconhecimento
O Prêmio CNA Agro Brasil reconhece personalidades que contribuem para o desenvolvimento sustentável do agro brasileiro. Às vésperas de encerrar sua carreira, o prêmio simboliza o reconhecimento público de um legado científico que moldou o pensamento sobre desenvolvimento rural e extrativismo na Amazônia.
Walkymário Lemos reiterou que o legado do pesquisador ultrapassa a produção científica e alcança um impacto direto sobre políticas, reflexões e caminhos para o desenvolvimento regional:
“Homma sempre defendeu que as vulnerabilidades tecnológicas da Amazônia não decorrem da reação das populações, mas da falta de acesso e de políticas públicas que as fomentassem. Sempre ressaltou a importância de combater o distanciamento científico e tecnológico das nossas populações amazônicas”.
Saneamento em palafitas de Manaus é destaque na COP30 e inspira soluções para a Amazônia. Foto: Patrick Marques/Rede Amazônica AM
O Beco Nonato, em Manaus (AM), se tornou um dos principais exemplos brasileiros de como o avanço no saneamento pode transformar áreas de palafitas. A chegada de água tratada e coleta de esgoto mudou a realidade de uma região antes marcada pela vulnerabilidade, pelo lixo acumulado, pelas enchentes e pela exposição constante a doenças.
A transformação no local, conduzida pela Águas de Manaus, do Instituto Aegea, foi apresentada na Zona Verde da COP30, em Belém (PA), onde especialistas e participantes puderam conhecer o projeto por meio de uma experiência de realidade virtual.
De Manaus para Belém: como o modelo virou referência
No estande da COP30, o público percorria virtualmente as passarelas do Beco Nonato e acompanhava como redes de abastecimento e esgoto foram instaladas em estruturas frágeis suspensas sobre igarapés na Zona Sul da capital amazonense.
Segundo o presidente do Instituto Aegea, Édison Carlos, a experiência no Beco Nonato redefiniu a forma de implantar saneamento básico em regiões vulneráveis.
“Aprendemos muito em Manaus. Nossa área técnica desenvolveu tecnologias específicas para levar água e coletar esgoto em palafitas, algo inédito no Brasil. É um case premiado e que recebe visitas de especialistas do país inteiro”, afirmou.
Beco Nonato no bairro Cachoeirinha, Zona Sul de Manaus, após intervenção da Águas e Manaus. Foto: Reprodução/Águas de Manaus
O beco Nonato é a primeira área de palafitas de Manaus a receber água tratada e rede de esgoto. São mais de 900 moradores beneficiados nessa localidade do bairro Cachoeirinha, Zona Sul.
A mudança no local começou a ser percebida no primeiro semestre de 2023, quando moradores antes expostos à lama, lixo e alagamentos passaram a receber água tratada e ter coleta e tratamento de esgoto.
A dona de casa Ivone Dantas é moradora do Beco Nonato há mais de 40 anos e vivenciou as transformações no igarapé que passa diante da comunidade. Ela lembra que a água, antes limpa e sem odor, foi perdendo qualidade ao longo dos anos, afetando diretamente a vida dos moradores e depois voltou a ser como antes após o funcionamento do sistema de saneamento instalado no local.
“Quando cheguei aqui, a água do igarapé era transparente, não fedia. Com o passar dos anos, a sujeira tomou conta e a gente não tinha o mínimo de qualidade de vida. Hoje eu vejo que é possível voltar a ter vida nesse igarapé. Até o cheiro melhorou”, lembrou.
Moradores do Beco Nonato, em Manaus, percebem melhoria na qualidade de água em igarapé que passa pelo local. Foto: Reprodução/Águas de Manaus
Para garantir que famílias de baixa renda pudessem acessar o sistema, a concessionária criou a Tarifa 10, modelo em que moradores em situação de alta vulnerabilidade pagam apenas R$ 10 pelos serviços. “Elas querem pagar, querem dignidade. Isso também faz parte da sustentabilidade do sistema”, disse Édison.
O projeto foi desenhado para resistir às variações do nível dos rios e às condições sociais e urbanas da região, associando engenharia adaptada à realidade amazônica com políticas tarifárias que evitam exclusão.
Área onde fica o Beco Nonato, em Manaus e área onde fica a Vila da Barca, em Belém. Foto: Reprodução/Rede Amazônica AM
Para o presidente do Instituto Aegea, os avanços em saneamento ainda enfrentam grandes desafios no país. Ele ressalta que muitas regiões do Norte e do Nordeste têm áreas isoladas, comunidades rurais e pessoas distantes dos centros urbanos, que também têm direito a água potável e esgoto tratado.
“A tecnologia existe, mas não são as mesmas soluções usadas nas cidades. São necessários sistemas menores, compactos, muitas vezes movidos a energia solar, adaptados a cada território. O que falta é visão política e educação para que as comunidades consigam operar e manter os sistemas funcionando ao longo do tempo”, afirmou Édison.
Tecnologia manauara aplicada na maior comunidade de palafitas do Pará
A experiência do Beco Nonato serviu de referência para a implantação de saneamento na Vila da Barca, a maior comunidade de palafitas de Belém, e uma das maiores da América Latina, com cerca de 5 mil moradores distribuídos entre casas suspensas e edificações de alvenaria às margens da Baía do Guajará.
De acordo com o presidente do Instituto Aegea, em apenas três meses de obras, os moradores começaram a receber água tratada em casa, um avanço que transforma a rotina da população e reduz os riscos de doenças e infecções.
Instalação do sistema de saneamento básico na Vila da Barca, em Belém do Pará, pela Águas do Pará. — Foto: Divulgação/Águas do Pará
“A Vila da Barca é ainda maior que o Beco do Nonato, mas a tecnologia funcionou com muito sucesso. Trouxemos a experiência de Manaus e aplicamos em Belém, porque os desafios eram muito semelhantes. Hoje, milhares de pessoas deixaram de conviver com risco diário de infecções e doenças”, afirmou Édison Carlos.
A comunidade conta atualmente com cerca de 600 moradias de palafitas, onde vivem mais de mil famílias, além de áreas urbanizadas em alvenaria.
A primeira fase de abastecimento de água já foi concluída, com hidrômetros individuais instalados para cada família.
O valor da conta, que ainda não está sendo cobrado, será de R$ 66,42, dentro de uma taxa social. Já a rede de esgoto deve ser finalizada até abril do próximo ano.
Os sistemas foram concebidos para operar mesmo diante das variações nos níveis dos rios, entre períodos de cheia e seca, e adaptados às condições sociais e geográficas da periferia urbana.
Eleosangela Carvalho é uma das moradoras da região da Vila da Barca, no Pará. Ela relatou como costumava ser a vida dela e da família em seu dia a dia antes do início da instalação do sistema de saneamento na região, que já passou a beneficiar a área onde mora.
“Ia pegar (água) distante, carregando no balde, e trazia pra casa. Ou quando às vezes também faltava no cano que a gente pegava. Eu chego do trabalho tarde, aí tinha que ir na casa de uma amiga pra poder tomar banho, fazer refeição na rua, porque não dava pra fazer alimentação, não tinha como lava-louça, e era assim a nossa rotina”, relatou a moradora sobre a rotina antes da implementação do sistema na Vila da Barca.
Saneamento como proteção climática
Para Édison, a crise climática reforça o papel do saneamento básico como ferramenta essencial de proteção à vida.
Saneamento em palafitas de Manaus apresentado na COP30 inspira soluções para periferias amazônicas. Imagem: Reprodução/Rede Amazônica AM
“Quem mais sofre nas crises climáticas são os ribeirinhos, moradores de palafitas, de favelas. O saneamento aumenta a resiliência dessas comunidades”, disse.
A apresentação na COP30 evidenciou que discutir água e esgoto está diretamente conectado aos impactos das mudanças climáticas, especialmente em territórios vulneráveis.
“Até pouco tempo, nem a água era tema central da COP. Hoje, é impossível falar de clima sem falar de saneamento”, ressaltou.
População atendida com abastecimento de água no AM
Em Manaus, o abastecimento de água apresentou leve melhora, passando de 97,5% em 2019 para 97,98% em 2023, um aumento de 0,48%.
O estudo “Avanços do Marco Legal do Saneamento Básico no Brasil de 2025” também analisou a coleta de esgoto. No Amazonas, o acesso cresceu de 14,95% para 28,63% da população entre 2019 e 2023.
Mesmo com o avanço de 13,68 pontos percentuais, o estado ainda está longe da meta de 90% de cobertura prevista pelo Marco Legal.
População atendida com coleta de esgoto no AM
Para superar esses índices, o estado depende de investimentos contínuos. No âmbito da Aegea, R$ 6 bilhões já foram aplicados na Amazônia Legal, e há previsão de mais R$ 19 bilhões apenas no Pará nas próximas décadas.
Um modelo que pode mudar a Amazônia urbana
A experiência do Beco Nonato e da Vila da Barca mostrou, na COP30, que soluções de saneamento desenhadas para a Amazônia não precisam ser excepcionais, precisam ser replicáveis.
A tecnologia, aliada à adaptação geográfica e ao diálogo comunitário, aponta caminhos reais para transformar periferias ribeirinhas e reduzir desigualdades estruturais.
O que começou em uma viela de palafitas em Manaus se tornou referência continental e agora inspira novas cidades na busca por soluções sustentáveis, acessíveis e resilientes para enfrentar os desafios climáticos e sociais da região.
O Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), em parceria com o Serviço Florestal Brasileiro (SFB) e a consultoria Systemiq, com apoio do UK PACT (UK Partnering for Accelerated Climate Transitions), lançou o estudo ‘Concessões Florestais Federais na Amazônia Legal: Avanços socioeconômicos e ambientais em quase 20 anos de política pública‘. O lançamento ocorreu no dia 19 de novembro, durante evento paralelo à COP30, em Belém (PA).
“Analisamos dados desde a criação das concessões federais no país e a conclusão é que elas são um exemplo da agenda de implementação, de como a gestão pública eficiente e o investimento sustentável podem ser motores da transição para uma economia de baixo carbono, reunindo conservação ambiental, geração de emprego, dinamização da bioeconomia e respeito às comunidades locais”, afirma Leonardo Sobral, diretor de Florestas e Restauração do Imaflora.
Utilizando dados administrativos, geoespaciais e técnico-operacionais de plataformas públicas, como Prodes e Simex, monitoramentos, entrevistas qualificadas e evidências documentais, o estudo concluiu que as concessões têm entregado à sociedade conservação, emprego e participação em receitas públicas.
“As concessões florestais são um exemplo de solução baseada na natureza e que confirma o potencial brasileiro de ser uma liderança climática. A oportunidade agora é expandir o modelo e atrair investimentos, gerando empregos e renda, conservando a floresta”, diz Renato Rosenberg, diretor de Concessões Florestais do SFB.
Dentre os aperfeiçoamentos necessários, ele destaca a necessidade de promover o processamento da madeira nos próprios municípios que sediam as concessões, a fim de impulsionar maior diversificação produtiva, com atividades de serviço e indústria, e consequente aumento do PIB e da arrecadação dessas localidades.
Foto: Mayke Toscano/ Gcom-MT
Principais achados em oito florestas analisadas
O estudo analisou dados de oito Florestas Nacionais (Flonas), que juntas somam 3.570.818 hectares. Nesses territórios, existem 22 Unidades de Manejo Florestal (UMFs), ou seja, de áreas concedidas para manejo florestal sustentável privado, perfazendo 1.254.075 hectares – aproximadamente 35% do total.
Os parâmetros socioeconômicos (como emprego e massa salarial) resultam de um painel de 772 municípios, comparando dados dos que possuem concessões ativas àqueles elegíveis à concessão. Confira os principais resultados apurados.
De sua criação, em 2010, até 2023 as concessões florestais federais colocaram no mercado 2,5 milhões de metros cúbicos de madeira de origem legal e rastreável, extraídos sob regime de manejo sustentável, com a conservação plena da floresta. O volume é quatro vezes maior do que o observado nos municípios sem concessão.
Entre 1988 e 2024, apenas 2% do território das Flonas com concessão foram desmatados, sendo que 92% desse desmatamento ocorreram fora das áreas concedidas. Isso reforça a tese de que o manejo florestal sustentável protege e conserva a florestal contra o avanço das atividades ilegais e predatórias.
Em 75% delas, houve aumento de 62% no número de empregos e de 27% na massa salarial do setor. Em 2023, as concessões geraram 1.616 empregos diretos e 3.232 indiretos, totalizando 4.848 postos de trabalho. Elas já respondem diretamente por cerca de 7,5% dos vínculos formais das localidades concessionadas.
De 2010 a 2025, o poder público arrecadou R$ 240,4 milhões vindos das concessões florestais, com o maior pico de arrecadação em 2024 (R$ 40,5 mi). Do valor total arrecadado, R$ 62 milhões foram destinados aos estados e municípios que sediam as respectivas concessões, ou seja, recurso chegando diretamente na ponta. O acesso aos repasses se dá mediante apresentação de planos de aplicação realizados com participação social.
O município de Terra Santa (PA), por exemplo, utilizou R$ 294.222,94 para construir e estruturar a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Mineração (SEMMAM). Também foram arrecadados mais de R$ 6,26 milhões de recursos do mecanismo de redistribuição de renda, chamado Indicador Social. Desse total, cerca de R$ 4,91 milhões já foram aplicados (2015–2024) em infraestrutura para comunidades que vivem em Flonas sob concessão. Esse investimento destinou-se a melhorias em transporte, energia (incluindo kits de painéis solares), educação ambiental e apoio a cadeias produtivas.
Em cerimônia no Palácio do Planalto, Governo Federal anuncia a primeira Universidade Indígena do Brasil. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
A Universidade Indígena (UNIND) foi lançada em uma cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília, no dia 27. Marcada pela assinatura do Projeto de Lei (PL) a ser encaminhado ao Congresso Nacional que cria a instituição de ensino, a solenidade contou com a presença do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva; da ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, do ministro da Educação, Camilo Santana, e do ministro do Esporte, André Fufuca. Na mesma ocasião, o presidente também assinou o PL que institui a primeira Universidade Pública das Américas dedicada ao esporte.
De acordo com a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, a Universidade Federal Indígena representa mais do que uma nova instituição de ensino superior, ela concretiza uma reparação histórica e apresenta para o Brasil e para o mundo uma proposta de pensamento e produção de conhecimento que rompe com a lógica colonial.
“Apresentamos hoje uma universidade que terá os povos indígenas como protagonistas na sua gestão administrativa e pedagógica, e que servirá a toda a sociedade brasileira como espaço de produção do saber plural, inclusivo, consciente e conectado aos desafios contemporâneos. Uma universidade gerida e liderada pelos povos indígenas vem combater o apagamento da memória, revitalizar as línguas e reconhecer o valor das medicinas, filosofias e ecologias indígenas, validando e valorizando nossos saberes”, afirmou Sonia Guajajara.
O ministro da Educação, Camilo Santana, destacou o compromisso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a educação: “Hoje é um dia histórico para os povos indígenas, para o esporte do Brasil, um país apaixonado pelo esporte. Eu queria, mais uma vez, agradecer ao presidente da educação, Luiz Inácio Lula da Silva, pelo seu compromisso. Nós vamos construir juntos, com todos os ministérios, com a Casa Civil, com os ministérios da Gestão, do Esporte, dos Povos Indígenas, para garantir o sucesso dessas duas novas universidades que o presidente Lula anuncia hoje para o país”.
Após a assinatura dos projetos, o Presidente da República falou sobre a importância da criação das universidades para a dignidade dos povos indígenas e a valorização do esporte nacional. “Eu não tive oportunidade de fazer um curso superior e, justamente por isso, tenho consciência do que representa um diploma universitário”. Lula ainda completou que “quem tem que fazer o trabalho para ajudar as pessoas é o Estado, é a União, e é isso que estamos fazendo quando criamos novas universidades”.
Segundo o Censo do IBGE, a presença de indígenas nas universidades saltou de 9 mil em 2011 para 46 mil em 2022, um aumento de aproximadamente 36 mil estudantes. A conquista das cotas como política afirmativa foi um grande passo, e agora, com a criação da Universidade Indígena, damos um salto ainda maior.
O processo de construção do Projeto de Lei promoveu a escuta de educadores, estudantes, lideranças e representantes de 236 povos indígenas diferentes, ao longo de 20 seminários regionais em todo o país. Participaram desses encontros 3.479 pessoas, em todos os biomas, em todas as regiões, ao longo de 2024.
Após a escuta, o MEC estabeleceu um Grupo de Trabalho com a participação de organizações indígenas especializadas em educação, como o Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena (FNEEI) e o Comissão Nacional de Educação Escolar Indígena (CNEEI), a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES), além da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (FUNAI) e do MPI, para preparar a criação da UNIND, que já conta com estudo de impacto orçamentário e com um modelo inovador de universidade multicêntrica e em rede.
Em cerimônia no Palácio do Planalto, Governo Federal anuncia a primeira Universidade Indígena do Brasil. Foto: Washington Costa
Estrutura da UNIND
Conforme Edilson Baniwa, coordenador-geral de Articulação de Políticas Educacionais Indígenas da Secretária de Articulação e Promoção de Direitos Indígenas (SEART) do MPI, a Universidade Federal Indígena terá um campus-sede, no Distrito Federal, e se valerá de uma rede de Institutos de Formação Indígena de universidades federais, em locais e Territórios Etnoeducacionais a serem especificados.
“Estes institutos serão criados a partir de regras específicas com mediação e integral apoio logístico e material do Ministério da Educação, que garantirá que os campi da universidade sejam plenamente equipados de maneira a dinamizar, de diferentes maneiras, os distintos processos de formação no nível da educação superior”, disse.
Com a oferta inicial de 10 cursos e previsão de oferecer até 48 cursos de graduação, a UNIND atenderá aproximadamente 2.800 estudantes indígenas, nos primeiros quatro anos de implantação.
Os cursos de graduação e de pós-graduação a serem ofertados na UNIND serão voltados às áreas de interesse dos povos indígenas, com ênfase em gestão ambiental e territorial, gestão de políticas públicas, sustentabilidade socioambiental, promoção das línguas indígenas, saúde, direito, agroecologia, engenharias e tecnologias, formação de professores e demais áreas consideradas estratégicas para o fortalecimento da autonomia dos povos indígenas, a atuação profissional nos territórios e a inserção profissional indígena em diferentes setores do mercado de trabalho.
A Universidade terá processos seletivos próprios, que visam ampliar o ingresso de candidatos indígenas e considerem a diversidade linguística e cultural.
Pensada para responder às desigualdades históricas de acesso à educação superior, a UNIND tem como pilares a autonomia dos povos indígenas, com a promoção de ensino, pesquisa e extensão sob uma perspectiva intercultural; a valorização de seus saberes, línguas e tradições; a produção de conhecimento científico em diálogo com práticas ancestrais; o fortalecimento da sustentabilidade socioambiental; e a formação de quadros técnicos capazes de atuar em áreas estratégicas para o desenvolvimento dos territórios indígenas.
GT UNIND
Em abril de 2024, o Ministério da Educação lançou a Portaria n° 350/2024, que estabeleceu o Grupo de Trabalho (GT) para subsidiar a criação e a implementação da Universidade Indígena. O GT foi criado dez anos após a Portaria n°52/2014 que criava um GT semelhante, mas que não conseguiu efetivar a criação da Universidade.
O Grupo de Trabalho foi composto por membros do Conselho Nacional de Educação Escolar Indígena, do Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena, da Secretaria de Articulação e Promoção de Direitos Indígenas e da Secretaria de Educação Superior, com o objetivo de construir o conceito da Universidade.
Seminários
O Departamento de Línguas e Memórias Indígenas (DELING) do Ministério dos Povos Indígenas (MPI) foi responsável por conduzir a série de 20 Seminários Regionais de Consulta sobre a Universidade Indígena em diversas regiões do país. O objetivo foi elaborar, junto aos povos indígenas do Brasil, um projeto para criar a instituição de ensino.
“A minuta, que será enviada ao Congresso Nacional após a assinatura de Lula, é o resultado final de 20 seminários de consulta prévia, livre e informada realizados em territórios indígenas ao longo do ano passado. O documento foi elaborado por um Grupo de Trabalho com participação de diversos órgãos, incluindo o MPI”, relatou a coordenadora de Promoção de Políticas Linguísticas da Secretaria de Articulação e Promoção de Direitos Indígenas (SEART) do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), Altaci Kokama.
De acordo com o diretor do DELING, Eliel Benites, a UNIND é uma demanda antiga que busca utilizar a universidade como meio de resistência e luta para formar jovens lideranças indígenas. A demanda foi originalmente apresentada pelo movimento indígena na Conferência Nacional de Educação Escolar Indígena (CONEEI), em 2009, e no Seminário Educação Superior de Indígenas no Brasil, em 2013.
“A Universidade tem uma característica, uma estrutura que incorpora saberes, línguas e conhecimentos tradicionais dos povos, e aprofunda o processo de fortalecimento da perspectiva de diversidade dos povos indígenas no Brasil”, disse Benites.
Outro importante papel do GT foi analisar a viabilidade técnica e orçamentária da instituição até o início de outubro, quando irá apresentar o resultado da escuta feita junto aos povos indígenas.
“A proposta foi se construindo diante da importância de legitimar o processo da estruturação da Universidade, uma vez que há 391 povos diferentes, com línguas e culturas diversas aqui no Brasil. Nesse GT, foi estabelecido um cronograma de consulta de seminários regionais para informar e também ouvir o que cada povo pensa sobre a Universidade Indígena e, a partir dali, pensar uma proposta que abarque toda essa diversidade”, acrescentou Giovana Mandulão, secretária de Articulação e Promoçao de Direitos Indígenas do MPI.
Protagonismo indígena
Segundo Gersen Baniwa, coordenador do Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena (FNEEI)´, o anúncio marca o início de uma fase de “pré-universidade”, enquanto o Projeto de Lei sobre a instituição tramita no Congresso Nacional.
A futura universidade será gerida majoritariamente por protagonismo indígena, contando com um corpo de intelectuais e professores indígenas já qualificados, fruto de políticas de ação afirmativa e esforços individuais para acesso ao ensino superior. Baniwa detalhou que a futura universidade tem três objetivos centrais.
“O primeiro é garantir espaço para os conhecimentos e ciências indígenas, historicamente excluídos do ambiente universitário tradicional. O segundo é articular esses saberes com os conhecimentos não indígenas de forma complementar, promovendo uma ciência no plural que some e não se anule. O terceiro objetivo é avançar na autonomia dos povos indígenas, formando uma nova geração de lideranças não colonizadas para fortalecer a autonomia intelectual, territorial e étnica”, disse.
O coordenador afirmou que, uma vez enviado ao Congresso, o movimento indígena se mobilizará pela aprovação do projeto de lei com uma atuação “corpo a corpo”, em uma estratégia comparada à mobilização durante a Constituinte de 1988.
FNEEI
O Fórum Nacional de Educação Escolar Indígena (FNEEI) coordena uma rede de mais de 3.000 escolas indígenas e atua em conjunto com mais de 20 universidades federais, estaduais e comunitárias em todo o país. A rede também inclui mais de 200 professores indígenas em sala de aula e gestores em secretarias de educação e no Ministério da Educação.
O FNEEI foi criado em 2014 e começou a se reunir anualmente a partir de 2015. A executiva nacional do Fórum é composta por quatro coordenadores, com representações regionais e estaduais, abrangendo uma base de mais de 800 pessoas, incluindo escolas, universidades, estudantes, professores indígenas e não indígenas que atuam na educação escolar indígena.
O Projeto Consciência Limpa encerrou neste sábado (29) sua programação em Rio Branco (AC) com o ‘Dia D’, realizado na Praça São Francisco. A ação reuniu um público expressivo e marcou o fim de uma semana de atividades ambientais, culturais e educativas no bairro, com forte participação das famílias da região.
A Fundação Rede Amazônica (FRAM) informou que o balanço foi positivo, pois o evento contou com grande adesão da comunidade e superou as expectativas da organização. Para o coordenador de projetos da FRAM, Matheus Aquino, o retorno da comunidade confirma o impacto positivo do projeto.
“O Consciência Limpa foi um sucesso de público e participação. As famílias estiveram presentes desde as oficinas até o Dia D, e vimos crianças engajadas, fazendo perguntas e se tornando multiplicadoras do cuidado ambiental. Esse envolvimento mostra que a comunidade abraçou o projeto e que as ações fizeram sentido para o território”, conta.
Pelotão Mirim Ambiental encerra atividades com certificação
Um dos momentos mais aguardados foi a formatura do Pelotão Mirim Ambiental, que certificou crianças e = adolescentes participantes das oficinas realizadas nos dias anteriores. As atividades envolveram dinâmicas sobre reciclagem, cuidados com o Igarapé São Francisco e práticas sustentáveis para o dia a dia das famílias.
Além das atividades presenciais, o projeto foi reforçado por campanhas educativas na TV, rádio e plataformas digitais, alcançando milhares de pessoas com conteúdos sobre biodiversidade, sustentabilidade e Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
A Fundação Rede Amazônica avalia que o Consciência Limpa contribuiu para fortalecer o engajamento comunitário no bairro São Francisco, promover práticas sustentáveis no cotidiano das famílias e ampliar a discussão sobre preservação ambiental na capital acreana.
A diretora institucional da FRAM, Mariane Cavalcante, destacou que o balanço do projeto reforça a importância da educação ambiental como ferramenta de transformação:
“O resultado em Rio Branco nos emocionou. O que vimos foi uma comunidade que deseja aprender, participar e construir soluções junto com o poder público e com a Fundação. As ações do Consciência Limpa fortalecem vínculos, promovem cidadania e despertam a consciência coletiva sobre a preservação do Igarapé São Francisco. O sucesso do evento demonstra a força desse trabalho compartilhado”.
O jogo ‘Eli e a Queda do Céu em território Yanomami’ transforma o pensamento do xamã e ativista Davi Kopenawa em ferramenta de alfabetização e educação ambiental. Imagem: Hugo Cestari
Um herói indígena infantil, chamado Eli, percorre a Floresta Amazônica enfrentando entes malignos, que encarnam aqueles que derrubam as árvores, queimam a mata, poluem as águas e extraem minérios movidos pela ganância. Esta é a proposta de ‘Eli e a Queda do Céu em território Yanomami‘, jogo em formato de plataforma digital criado pelo laboratório Leetra, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), que se dedica à investigação de práticas linguageiras e identitárias, ao letramento digital e à literatura ameríndia, sob a coordenação da professora Maria Sílvia Cintra Martins, professora do Departamento de Letras da UFSCar.
Inspirado no livro ‘A Queda do Céu: Palavras de um Xamã Yanomami‘, de Davi Kopenawa e Bruce Albert, o jogo pretende ser, ao mesmo tempo, um material de apoio para práticas interdisciplinares de alfabetização e letramento e uma introdução lúdica à cosmovisão indígena e às questões ambientais que afetam toda a humanidade.
“A ideia era criar uma ferramenta pedagógica que ajudasse professores da educação infantil e do ensino fundamental 1 a trabalhar com conteúdos sobre povos indígenas, conforme determina a Lei 11.645/08”, diz Martins. “Os docentes manifestam grande demanda por esse tipo de material e o jogo pode facilitar muito o trabalho em sala de aula”.
Sequência de jogos
O novo jogo dá continuidade a uma trajetória iniciada pelo Leetra com os jogos ‘Jeriguigui e o jaguar na terra dos Bororos‘ e ‘Kawã na terra dos indígenas Maraguá‘, ambos apoiados pela FAPESP por meio do projeto ‘Tradução, poética e artefatos culturais em práticas de letramento na educação infantil‘. “Os dois projetos anteriores tiveram excelente retorno de professores e alunos”, recorda a coordenadora.
Imagem: Reprodução/Leetra/USFCAR
“As crianças jogaram com interesse e curiosidade e os educadores viram neles um recurso concreto para abordar a diversidade cultural brasileira. O sucesso nos levou a propor um novo projeto, centrado na experiência Yanomami. Para isso, nos baseamos nas obras A Queda do Céu e O Espírito da Floresta, de Kopenawa e Albert”.
O roteiro do jogo foi então desenvolvido em parceria com engenheiros e designers especializados em games. O resultado pode ser acessado gratuitamente no site do laboratório.
O personagem central, o menino Eli, não existe nos textos de Kopenawa – é uma criação original da equipe. “Queríamos um protagonista infantil que permitisse às crianças se reconhecerem nele”, afirma Martins. “Eli tem traços xamânicos e enfrenta os entes malignos da floresta, símbolos dos males denunciados por Kopenawa: o desmatamento, as queimadas, a poluição, a mineração ilegal, a destruição da Terra”.
O jogo inclui ainda livretos de iniciação à língua Yanomami, uma inovação que amplia sua dimensão educativa e intercultural. A ideia é que o material seja utilizado tanto por crianças quanto por educadores, de forma autônoma ou mediada em sala de aula. “Dependendo da idade, a criança pode jogar sozinha, mas o ideal é que haja o acompanhamento. Assim, as questões levantadas no jogo – ambientais, culturais e linguísticas – podem ser aprofundadas”, argumenta Martins.
Os ensinamentos de Kopenawa
Publicada originalmente em francês, em 2010, e em português, cinco anos mais tarde, A Queda do Céu é considerada uma das obras mais importantes da antropologia contemporânea. O livro reúne as palavras do xamã Davi Kopenawa Yanomami narradas ao antropólogo francês (nascido no Marrocos) Bruce Albert ao longo de mais de 30 anos de convivência.
Na obra, Kopenawa descreve sua iniciação xamânica, denuncia a devastação da floresta e alerta para o perigo de um colapso cósmico: a “queda do céu”, que seria provocada pela ganância. A dimensão ecológica e espiritual do texto transformou-o em referência mundial em debates sobre meio ambiente, colonialismo e direitos indígenas.
“Os males que afetam o povo Yanomami dizem respeito também à nossa sobrevivência e à do planeta”, comenta Martins. “Transformar essa visão em jogo é uma forma de fazer crianças e adultos pensarem juntos sobre o que estamos fazendo com a Terra”.
O jogo ‘Eli e a Queda do Céu em território Yanomami‘ pode ser acessado AQUI.
*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência FAPESP, escrito por José Tadeu Arantes
Colheita de guaraná no Campo Experimental da Embrapa. Foto: Maria José Tupinambá
Quando os olhos se abrem, é tempo de guaraná. A metáfora, inspirada nas sementes que lembram pupilas humanas, anuncia a chegada da colheita dessa planta emblemática do Amazonas, entre novembro e janeiro.
Este ano, apesar das preocupações com o calor e os efeitos das mudanças climáticas, o saldo tem se mostrado positivo para os produtores no Amazonas. Segundo o pesquisador André Atroch, da Embrapa Amazônia Ocidental, a safra atual apresenta um crescimento expressivo em relação ao ano anterior.
Em visitas de campo, acompanhamentos nas áreas experimentais da Embrapa e trocas de informações em grupos de produtores, Atroch observa que a colheita ainda em andamento já aponta para um aumento de 20% a 30% na produção em comparação com 2024. Grandes empresas do setor também relatam resultados ainda mais robustos, com ganhos próximos de 50%.
“Os produtores comentam que estão colhendo bem mais guaraná do que no ano passado. Esse aumento é perceptível nas áreas que temos acompanhado”, destacou o pesquisador.
Plantação de guaraná no Campo Experimental da Embrapa em Manaus. Foto: Maria José Tupinambá
“O que tem se observado nas áreas é as plantas muito carregadas, muito cheias de guaraná. O estado do Amazonas hoje produz entre 600 e 700 toneladas ao ano e isso pode atingir entre 700 e até 800 toneladas. Essa produção é de guaraná em rama, que é a semente seca a 13%”, acrescenta.
Clima favorável ao cultivo do guaraná
Ao contrário de outros anos, os eventos climáticos não prejudicaram a cultura em 2025. Setembro, período crítico para a floração, não registrou secas prolongadas nem chuvas intensas capazes de derrubar ou secar as flores. Houve dias mais quentes, considerados os mais intensos das últimas duas décadas, mas sem impacto direto na produção. “Para o guaraná, o tempo foi normal. Mesmo com alguns dias de calor extremo, isso não chegou a comprometer a safra”, explicou Atroch.
Expectativas para o fechamento da safra
Com a chegada das chuvas de novembro em Manaus, há uma preocupação pontual: que a intensidade das precipitações provoque a queda de frutos maduros ou o apodrecimento de cachos ainda na planta. Ainda assim, a expectativa é de que o balanço final confirme 2025 como um ano de recuperação e crescimento para o fruto cultivado no Amazonas.
A Embrapa Amazônia Ocidental desenvolve pesquisas estratégicas com o guaraná, voltadas para melhoramento genético, conservação de variedades e aumento da produtividade, buscando fortalecer a cultura tradicional e ampliar seu valor econômico e social no Amazonas.
No Dia Internacional da Onça-Pintada (29/11), o Onçafari, organização não governamental que atua na conservação da biodiversidade brasileira através da proteção de áreas naturais, destaca a importância da conservação da espécie e de iniciativas pioneiras no Brasil de reintrodução e monitoramento.
A onça-pintada, o maior felino das Américas e predador de topo de cadeia, é considerada uma espécie guarda-chuva, exigindo extensas áreas de vegetação nativa, água limpa e variedade de presas para sobreviver, o que torna sua proteção fundamental e um bioindicador da saúde dos ecossistemas. Distribuída originalmente do sul dos Estados Unidos até a Argentina, a espécie ainda está presente em quase todo o território brasileiro, que abriga cerca de 50% da população global.
A onça-pintada, o maior felino das Américas e predador de topo de cadeia. Foto: Onçafari
No Brasil, seu status de ameaça varia: a espécie é classificada como vulnerável no Pantanal e na Amazônia – ainda assim os biomas com as maiores concentrações da espécie; em perigo no Cerrado, com queda populacional superior a 50% nos últimos 25 anos; criticamente ameaçada na Mata Atlântica e Caatinga; e já está extinta no Pampa. Referência da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza na sigla em inglês).
Diante desse cenário, o trabalho do Onçafari, organização não governamental que atua na conservação da biodiversidade brasileira através da proteção de áreas naturais, se destaca ao longo de seus 14 anos.
Distribuída originalmente do sul dos Estados Unidos até a Argentina, a espécie ainda está presente em quase todo o território brasileiro. Foto: Onçafari
“Nossa atuação começou a partir do ecoturismo no Pantanal, com o desenvolvimento da técnica de habituação de animais no Brasil, inspirada nos safáris do continente africano. Nosso trabalho se expandiu para outros biomas e frentes de atuação, com estudos científicos, aquisição e gestão de áreas protegidas para a formação de corredores ecológicos, frente anti-incêndios, monitoramento e reintrodução de animais na natureza. O pioneirismo é um dos valores do Onçafari, que se tornou a primeira organização no mundo a realizar, com sucesso, a reintrodução de onças-pintadas na vida selvagem”, explica Mario Haberfeld, fundador e CEO do Onçafari.
“Temos muito trabalho a fazer para a conservação da onça-pintada e do meio ambiente, mas também é importante celebrar nossas conquistas ao longo dos 14 anos de atuação do Onçafari, com desenvolvimento de processos, parceria com os órgãos ambientais e estudos científicos”, afirma Haberfeld.
Reintrodução e monitoramentona Amazônia
Em 2016, o Onçafari, em parceria com o NEX (Brasília), recebeu duas irmãs da espécie onça-pintada com apenas poucos dias de vida, Pandora e Vivara. Foram acolhidas pela equipe do NEX até junho de 2018, quando foram transferidas com o auxílio da Força Aérea Brasileira (FAB) para o recinto de reintrodução do Onçafari na Amazônia, localizado na Pousada Thaimaçu, em Jacareacanga, no Pará.
Nesse recinto de aproximadamente 15.000m², as duas irmãs passaram pelos mesmos processos desenvolvidos pelo Onçafari com Isa e Fera no Pantanal. Após 12 meses de muita observação comportamental e treinamento para a caça, Pandora e Vivara foram soltas na Reserva do Cachimbo, área extremamente preservada pertencente à FAB (Força Aérea Brasileira).
A onça-pintada é considerada uma espécie guarda-chuva, exigindo extensas áreas de vegetação nativa, água limpa e variedade de presas para sobreviver. Foto: Onçafari
Em 2024 o Onçafari realizou sua primeira reintrodução de uma onça-pintada macho na Amazônia. Xamã, resgatado em agosto de 2022 com cerca de oito meses em uma área de desmatamento e incêndio em Sinop (MT), passou por um período inicial de recuperação na Universidade Federal de Mato Grosso antes de ser transferido para o mesmo recinto pelo qual passaram Pandora e Vivara, na Amazônia.
Após dois anos de cuidados e adaptação, o felino, que aumentou seu peso de 20 kg para 56 kg, foi solto em outubro de 2024 na mesma região da soltura de Pandora e Vivara, área de dois milhões de hectares no sul do Pará. Com o apoio técnico e financeiro da Proteção Animal Mundial, Xamã foi mantido no recinto de reintrodução na Amazônia seguindo os mesmos processos para desenvolver plenamente suas habilidades de caça e com contato restrito com humanos, essenciais para a sobrevivência.
Distribuída originalmente do sul dos Estados Unidos até a Argentina, a onça-pintada ainda está presente em quase todo o território brasileiro. Foto: Onçafari
Segundo Leonardo Sartorello, coordenador de reintrodução do Onçafari, o acompanhamento é crucial para avaliar a capacidade de caça e sobrevivência do animal, especialmente sendo um macho, que enfrenta desafios maiores na disputa por território. Dados do colar de monitoramento avaliados em março de 2025 permitem entender como tem sido o retorno de Xamã à vida livre. Uma curiosidade sobre sua movimentação é que ele evita fortemente áreas abertas e de plantação, com deslocamento feito somente em áreas de mata fechada. O monitoramento identificou que desde a soltura ele já cobriu uma área de aproximadamente 13 mil hectares.
Jaguar Parade Belém
O Onçafari é uma das instituições beneficiadas pelo leilão beneficente das esculturas da Jaguar Parade, exposição criada pela Artery – Produtora Cultural que promove arte, cultura e sustentabilidade com a proposta de ampliar o alcance da mensagem global em defesa da biodiversidade.
O Ministério do Turismo deu início às tratativas junto à Associação Brasileira de Cruzeiros Marítimos (CLIA Brasil), para incluir a cidade de Belém (PA), em novos roteiros turísticos nacionais e internacionais de cruzeiros marítimos nas próximas temporadas no país.
Em ofício endereçado à CLIA Brasil, a Pasta destacou o potencial estratégico do Terminal Portuário de Outeiro, que foi ampliado e modernizado durante as ações preparatórias da COP30, para receber embarcações de grande porte, tornando o terminal apto a consolidar Belém como um ponto de escala e operação de relevância na Região Norte.
O Ministério também destacou a importância de aspectos logísticos, operacionais e comerciais, com o objetivo de construir itinerários que promovam a integração da capital paraense aos roteiros de cruzeiros, ampliando a oferta turística, potencializando o desenvolvimento socioeconômico local e fortalecendo a presença da Amazônia no segmento.
“Com essa ampliação para Belém, teremos a possibilidade de aumentar, cada vez mais, o número de visitantes nacionais e internacionais para o turismo na Amazônia, oferecendo uma experiência satisfatória. A COP30 foi a prova de que somos capazes disso”, destaca o ministro do Turismo, Celso Sabino.
Em resposta ao ofício do Ministério do Turismo, a CLIA Brasil também manifestou interesse “em contribuir tecnicamente e internacionalmente para a promoção de Belém e para a construção de um ambiente mais favorável à atração de navios e operações no país”.
A CLIA Brasil ainda se comprometeu a disseminar, junto às 43 companhias associadas, que operam 310 navios (e têm 81 novas embarcações encomendadas até 2036), todas as informações técnicas, contatos institucionais e materiais promocionais relevantes sobre o terminal de Outeiro, infraestrutura portuária e logística, atrativos turísticos, gastronômicos e culturais da região de Belém, possibilidades de conexão com o Sul do Caribe, Amazônia e Norte/Nordeste e outras informações.
Um trabalho comunitário às margens do Rio Cassiporé, em Oiapoque (AP), ajuda a preservar e repovoar tartarugas e tracajás na Amazônia. A iniciativa começou em 2008 e já devolveu milhares de filhotes à natureza.
O trabalho é liderado por Raimundo Benedito Miranda, de 69 anos, morador da Vila Velha do Cassiporé. Desde o início do projeto, ele já soltou cerca de 20 mil filhotes nos rios da região.
Em 2025, mais de 2 mil ovos de tracajás foram coletados. A coleta e incubação são feitas com apoio da família de Raimundo.
“Meus filhos sempre me ajudam a realizar esse trabalho de incubação que já dura tanto tempo. No primeiro ano soltamos mais de 600 desses animais”, conta Raimundo.
O tracajá tem casco arredondado, é menor e vive dentro e fora da água. Já a tartaruga possui casco duro e alongado, cresce mais e passa a maior parte do tempo na água, saindo apenas para desovar.
Os filhotes de tracajá levam de 50 a 60 dias para nascer.
Já os de tartaruga eclodem entre 45 e 50 dias. Depois desse período, os animais são transferidos para o berçário e, em seguida, soltos no rio.
Trabalho comunitário garante preservação de tartarugas e tracajás no Amapá. Foto: Divulgação/Iepa
Preocupado com o desaparecimento das espécies, Benedito iniciou o projeto em 2008 com apoio da família. A primeira ideia era incubar os ovos atrás de uma escola, mas, segundo ele, parte da comunidade não aceitou.
Ele então passou a usar o próprio quintal para incubar os ovos com segurança. Depois, os filhotes eram soltos na natureza.
“Vamos em campos, prainha e coletamos os ovos. É com ajuda de cunhado, primos e de outros parentes que fazemos isso. As tartarugas precisam de um cuidado antes de serem devolvidas à natureza. Temos que proteger das chuvas, de outros animais também. Acontece até de uma entrar no casco da outra”, conta.
A irmã de Benedito, Jandira Miranda, afirma que o trabalho trouxe resultados para a fauna e ajudou a conscientizar moradores sobre a preservação.
“É muito importante o trabalho do meu irmão para preservar esses animais. Se ele não fizesse isso, não teria a quantidade que existe hoje. Muita gente não tem essa consciência, só querem destruir o que já existe”, conta.
Além da soltura, o projeto promove educação ambiental. Estudantes da região participam das atividades e viajam de voadeira até o local para acompanhar o processo.
O manejo comunitário é apontado como essencial para aumentar a população desses animais nos rios da Amazônia.
*Por Crystofher Andrade, estagiário sob supervisão de Rafael Aleixo, da Rede Amazônica AP