Apresentação de comemoração da Revolução Acreana do bairro 6 de Agosto. Foto: Reprodução/Rede Amazônica AC
A comemoração da Revolução Acreana, feita anualmente no bairro 6 de Agosto, em Rio Branco (AC), passa a ser patrimônio cultural imaterial do município. A decisão está na Lei Municipal nº 2.615, sancionada e publicada no dia 25 de novembro no Diário Oficial do Estado, e garante proteção às expressões que marcam a festa histórica, como dança, vestuário, vocabulário, costumes e desfiles.
O texto aponta que o município deve promover ações de preservação e valorização por meio de políticas públicas, editais, pesquisas, programas culturais e iniciativas que assegurem a continuidade das manifestações.
Além disso, o objetivo é garantir que a tradição permaneça viva e registrada, mantendo as práticas relacionadas à memória da Revolução Acreana e à formação da comunidade local.
O reconhecimento consolida também uma tradição que atravessa décadas e está diretamente ligada à formação do bairro, criado há 121 anos no Segundo Distrito, cujo nome faz referência direta à data em que o conflito começou. A região, inclusive, foi criada dois anos após o início da Revolução Acreana.
Além do desfile cívico, moradores costumam distribuir alimentação gratuita. Foto: Reprodução/Rede Amazônica AC
Uma das festas mais antigas da cidade
Seis de Agosto é um dos primeiros bairros de Rio Branco e foi onde as primeiras comunidades da capital se estruturaram e cresceram. Em 2025, o bairro completou 121 anos.
A comunidade faz, há cerca de 40 anos, uma programação que reúne desfile cívico, atividades culturais, jogos tradicionais e ações comunitárias que mobilizam moradores e reforçam vínculos locais.
A rua principal da região é considerada uma das mais antigas do Acre, elemento que também reforça o valor histórico da celebração. Ao longo dos anos, a festa passou a simbolizar pertencimento e resistência.
Revolucionários sobre o comando de Plácido de Castro durante operação na selva acreana em 1903. Foto: A Epopéia do Acre Silvio Augusto de Bastos Meira. 2° edição /Acervo: Liberalino Alves de Souza/ Acervo Digital: Deptº de Patrimônio Histórico e Cultural – FEM
A escolha da data da festa não é aleatória. No dia 6 de agosto de 1902, há 123 anos, começaram os confrontos que marcaram a Revolução Acreana, movimento liderado por brasileiros que viviam na região e resistiam ao controle boliviano sobre o território.
O conflito teve origem na disputa pela exploração do látex, que desde a década de 1870 atraía migrantes vindos do Nordeste para a área então chamada de “Aquiry”.
Os confrontos se estenderam até 1903, quando o Acre foi incorporado ao Brasil após o Tratado de Petrópolis. A data também coincide com o dia da independência boliviana, o que na época ajudou a surpreender tropas adversárias durante o início da ofensiva.
Nascido em 2001 em Tabatinga, no interior do Amazonas, Guardião chegou ao Cigs em 2007 e se tornou símbolo de resistência, força e adaptação. Foto: Fernanda Soares/Rede Amazônica AM
Guardião, uma onça-pintada que vive no Zoológico do Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS), em Manaus (AM), tem mais de 20 anos e está entre os felinos mais velhos em cativeiro no Brasil. Nascido em 2001 em Tabatinga, no interior do Amazonas, o animal chegou ao CIGS em 2007 e virou símbolo de resistência e adaptação.
Segundo o Zoológico, a onça-pintada Guardião é o macho mais velho vivo sob cuidados humanos no país. O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), porém, ressalta que o zoológico não integra o Programa de Conservação ex situ, o que impede uma confirmação oficial. Em nota, o órgão afirmou:
“Não temos informações precisas sobre os animais mantidos por esta instituição, mas sabemos informalmente sobre o macho que entrou no zoo jovem em 2001. Então, podemos dizer que estas são as duas onças mais velhas do Brasil de que temos informação”, em referência ao Guardião e à fêmea Luna, que vive em Limeira (SP).
A longevidade dos dois chamou atenção após a morte de Sansão, onça-pintada do Instituto Nex, em Goiás, que morreu em junho aos 25 anos.
Mesmo com idade avançada, Guardião segue ativo. No recinto, com vegetação alta e áreas de sombra, ele caminha, nada e pula plataformas diariamente.
“O score do Guardião, pela idade dele, está muito bom. Se jogarmos um pedaço de carne, ele vem atrás”, afirma Eliane.
Por conta da idade, a equipe evita sedar a onça-pintada. As avaliações são feitas à distância e incluem estímulos como trilhas de cheiro com canela e mudanças no local da alimentação para estimular movimento e cognição.
Guardião toma sol diariamente, faz até quatro refeições e utiliza as trilhas do recinto. Ele vive sozinho desde 2020, quando o companheiro castrado morreu.
“Eles viveram juntos até 2020. O outro morreu e achávamos que ele fosse morrer em seguida, mas ele segue até hoje”, contou a bióloga.
O CIGS é o lar de diversas onças pintadas em Manaus. Foto: Divulgação/ Exército Brasileiro
Por que ele vive tanto?
A tenente Eliane Carvalho explicou que onças-pintadas raramente ultrapassam 15 anos na natureza. Isso ocorre porque os animais enfrentam disputa por território, perdas dentárias, dificuldade de caçar com o envelhecimento e longos períodos sem alimento.
“No zoológico, devido ao tratamento e à inspeção periódica desses animais, eles duram mais. O histórico de onça-pintada mais velha no Brasil chegou a 30 anos, em zoológico”, disse.
Guardião, segundo ela, já superou com folga a expectativa natural e segue sendo monitorado de perto. “Ele já é um idosão”, resumiu.
Pesquisadores da Embrapa Amapá apresentaram avanços tecnológicos que podem transformar a produção de espécies regionais como tambaqui, tracajá e camarão-da-amazônia. As pesquisas também incluem soluções para reduzir a mortalidade, melhorar a imunidade dos animais e ampliar a segurança no processo produtivo.
As tecnologias foram debatidas durante o 5º Seminário de Aquicultura da Embrapa Amapá, realizado nos dias 26 e 27 de novembro, em Macapá.
Entre as novidades estão o melhoramento genético do tambaqui, que garante crescimento mais rápido, menor consumo de ração e maior lucratividade, além de sistemas de cultivo para o camarão-da-amazônia, espécie que enfrenta queda nos estoques naturais.
Camarão-da-Amazônia. Foto: Pedro Guerreiro/Agência Pará
Uma das descobertas recentes é a identificação da virose necrosante da carapaça, que tem provocado mortes em camarões, tanto em ambientes naturais quanto em cativeiro.
“Essa descoberta é fundamental porque permite orientar os produtores sobre medidas de biosseguridade e manejo, para reduzir perdas e garantir a continuidade da produção do camarão regional”, explicou o pesquisador da Embrapa, Marcos Tavares.
Treinamento na Embrapa
Durante a apresentação da pesquisa, houve um curso de treinamento para identificar a virose, que tem afetado populações naturais e de cultivo de camarões.
O evento reuniu especialistas de vários estados e contou com parceria do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e da Secretaria de Pesca e Aquicultura do Amapá, com foco na transferência de conhecimento para produtores locais.
A ideia é que as tecnologias desenvolvidas pela Embrapa possam ser aplicadas diretamente na piscicultura. Segundo o organizador técnico, Dr. Jô de Farías Lima, o objetivo é aproximar ciência e setor produtivo.
“Temos colegas da Amazônia e de outras regiões do Brasil. Um deles, do Maranhão, é especialista em sanidade de crustáceos e veio tratar das doenças que afetam o camarão-da-amazônia, cuja população natural está em queda. O objetivo é trazer esse debate para a comunidade acadêmica e, principalmente, para os produtores, criando um diálogo direto com o setor produtivo”, afirmou.
Coronel José Cardoso Ramalho Júnior. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
Por Abrahim Baze – literatura@amazonsat.com.br
Sereníssimo Grão-mestre com grande experiência na Administração da GLOMAM, tendo como Eminente Grão mestre Adjunto o irmão Nicolau Tolentino. O Coronel José Cardoso Ramalho Júnior foi iniciado maçonicamente no dia 9 de agosto de 1890 na Grande Benemérita Loja Simbólica Esperança e Porvir n.° 1, tendo sido por vários anos seu Venerável Mestre e dando dignidade ao primeiro malhete da loja.
Sua vida maçônica fora de grande importância no Amazonas. No dia 5 de março de 1899, a Grande Benemérita Loja Simbólica Aurora Lusitana, pelos bons serviços prestados conferiu-lhe o titulo de membro honorário. Admitindo como filiado livre na Grande Benemérita Loja Simbólica Amazonas n.°2 no dia 11 de março de 1899, foi agraciado no dia 1 de maio de 1899, como título de membro honorário do Grande Oriente do Supremo Conselho do Brasil. No dia 30 de agosto de 1900, toma posse como membro fundador do Consistório de Príncipes do Real Segredo do Estado do Amazonas.
Foi admitido como filiado livre da Grande Benemérita Loja Simbólica Aurora Lusitana no dia 11 de novembro de 1901. Foi agraciado com a patente de Grande Inspetor Geral da Ordem do Grau 33 no dia 5 de maio de 1911, foi investido no Grau 32 pelo Supremo Conselho da Maçonaria Portuguesa, no dia 7 de outubro de 1901. Foi lhe concedido o título de Benemérito da Grande Benemérita Loja Simbólica Esperança e Porvir n.° 1. No dia 25 de junho de 1906, foi admitido como filiado livre da Grande Benemérita Loja Simbólica Fraternidade Amazonense no dia 14 de junho de 1910, tendo exercido nesta Loja por sucessivas administração o autocargo de Venerável Mestre.
No dia 4 de fevereiro de 1933, por ato do Sereníssimo Grão-mestre da Grande Loja do Estado de Pernambuco é nomeado seu Grande Representante daquela Grande Loja como também garante de amizade junto ao Grande Oriente do Estado do Amazonas e Acre. Eleito Grande Comendador do Consistório do Sublimes Príncipes do Real Segredo do Estado do Amazonas. No dia 15 de agosto de 1936, tornou-se Membro Benemérito da Grande Benemérita Loja Simbólica União e Perseverança, foi também membro honorário do Grande Oriente do Amazonas e Acre.
No dia 9 de setembro de 1910 o Presidente da República do Brasil fez publicar no Diário Oficial da República, na coluna do Ministério dos Negócios Estrangeiros na Concessão do Honroso Titulo de Comendador da Ordem Militar de Nosso Senhor Jesus Cristo em reconhecimento aos inestimáveis serviços prestados ao país.
O Coronel teve participação efetiva de seus esforços para que o Brasil mantivesse a soberania do território do Acre. Foi um maçom dedicadíssimo, tendo como marca de sua administração o coração generoso, sempre voltado para ajudar os irmãos.
Coronel José Cardoso Ramalho Júnior. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
“[…] O Coronel José Cardoso Ramalho Júnior do Amazonas nasceu a 7 de abril de 1866, falecendo no Rio de Janeiro a 18 de setembro de 1952. Foram seus pais José Cardoso Ramalho e Maria Francisca da Conceição, ele português, ela brasileira.
Ramalho Júnior fez seus estudos primários em Manaus e os preparatórios em Portugal.
Regressando a sua terra, empregou-se no comércio, ao mesmo tempo ajudando o seu genitor nas labutas da correspondência e prestação de contas de mestre de obras. Dinâmico e inteligente, não lhe foi difícil abrir caminho nos arraiais da politica, contando com as influências dos próceres da época situando-se ao Partido Democrata. Foi eleito Deputado a Assembleia Legislativa. Seu nome foi indicado para vice-governador do estado, na chapa do capitão Fileto Pires Ferreira para governador no quatriênio de 1896-1900.
Entra na função do cargo. Acontece, porém, que o governador Fileto Pires, em 1896 transmite o poder ao seu substituto legal, viajando para a França, com a devida permissão do congresso Legislativo e por motivo de moléstia. Em Manaus tudo ficará em paz e em plena confiança. Uma vez chegando a Paris, o congresso, o mesmo Congresso Foguetão, aceita um pedido de renúncia de Fileto Pires Ferreira, pedido escandalosamente falso.
O Coronel Ramalho, substituto passa a ser o efetivo, até o fim do mandato. A renúncia foi uma das maiores farsas praticadas em nome da lei e do regime republicano. Campos Salles era Presidente da República.
Outros grandes acontecimentos de âmbito nacional atinentes ao Amazonas, se passaram no interregno da administração do Coronel Ramalho Júnior. Sem dúvidas o maior foi a Revolução do Acre, na qual o Brasil ganhou a partida, mas, o Amazonas perdeu grande parte do seu território, essa área que constituiu o território do Acre e há pouco, o estado do Acre, tudo contra o estatuto em nossa Carta Magna de então.
O Governo Federal parecia ter o propósito de entregar o Acre à Bolívia, outra coisa não significando a ordem de se permitir a instalação de uma alfândega mista em zona que disputávamos.
Mas Ramalho Júnior não concordava com esse esbulho. Levantou-se, mandou recurso para que a luta continuasse, o que sucedeu, dando lugar ao Tratado de Petrópolis. O manifesto que no auge da camonha, o governador amazonense mandou ao povo acreano, desconhecido, foi há pouco descoberto e estampado no jornal estado do Acre, da cidade do Rio Branco, de 12.12.1963.
Ramalho Júnior casou-se três vezes. O terceiro casamento foi com sta. Leonarda Antônia Malcher, filha de Leonardo Malcher. Deixou três filhas, Judith Ramalho Viana, viúva do sr. Manoel Esperança Viana. Magnólia casada com o dr. Júlio Nery, ex-integrante Federal no Amazonas, Myosotis, casada com o sr José Victor Sobrinho.
O Coronel José Cardoso Ramalho Júnior morreu pobre e tranquilo, pondo a larga durante a vida o seu grande coração e seu patriotismo dentro daquela boemia espiritual que sempre foi digno do seu temperamento”.
Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.
Atribuições do juiz de paz são celebração de casamentos, análise de processos matrimoniais e outros. Foto: Reprodução/Youtube-TV e Rádio Justiça
O Acre é o primeiro estado do país a colocar em prática a eleição direta para juiz de paz segundo o Tribunal de Justiça do Estado (TJ-AC). A votação aconteceu no domingo (30), das 8h às 17h, e teve apuração em tempo real. O resultado final deve ser homologado a partir de 10 de dezembro.
O cargo tem funções voltadas à esfera civil. Os juízes de paz atuam principalmente em conciliações, celebração de casamentos e análise de processos de habilitação matrimonial. Não há atribuições criminais.
A eleição de juiz de paz, garantida na Constituição há quase quatro décadas, segue os moldes das votações tradicionais, com urna eletrônica e voto secreto.
Para votar no juiz de paz, é necessário estar regularizado com a Justiça Eleitoral e apresentar documento oficial com foto. São aceitos título de eleitor, RG ou CPF. O voto só pode ser registrado no município do próprio domicílio eleitoral.
A escolha dos juízes e juízas de paz vale por quatro anos. O mandato é considerado comunitário e de caráter conciliatório, com atuação direta na resolução de conflitos e na promoção da pacificação social.
Logística e candidaturas
O estado teve 303 candidaturas aptas a juiz de paz:
Rio Branco reúne o maior número de concorrentes (101);
Cruzeiro do Sul vem em seguida (33),
e Sena Madureira tem 23 inscritos.
Nos demais municípios, a disputa varia entre quatro e 14 candidatos. No total, 349 urnas foram distribuídas nos 22 municípios.
Os candidatos precisam ter ao menos 21 anos, diploma de ensino superior reconhecido pelo MEC, morar na comarca onde concorrem, estar com direitos políticos ativos e não possuir antecedentes criminais que prejudiquem a idoneidade.
Para garantir o funcionamento da votação, o Tribunal Regional Eleitoral também treinou 30 servidores no último dia 19. As equipes receberam instruções sobre organização das seções, preparação das urnas e orientações aos mesários.
Ainda segundo o Tribunal de Justiça, a remuneração dos juízes de paz varia entre R$ 1,5 mil e R$ 5 mil, dependendo da localidade e das responsabilidades atribuídas ao cargo.
*Com informações da matéria escrita por Jhenyfer de Souza, da Rede Amazônica AC
Por Osíris M. Araújo da Silva – osirisasilva@gmail.com
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) após realizar em setembro o evento “Agropecuária Brasileira na COP30”, na sede da entidade, promoveu o lançamento de amplo documento definindo o posicionamento do setor para a Conferência do Clima, realizada em Belém do Pará, de 10 a 21 de novembro. Por esse intermédio foram apresentadas propostas e contribuições dos produtores rurais brasileiros a título de subsídio às autoridades nas negociações e nos debates que se travaram durante o evento.
O documento foi entregue pelo presidente da CNA, João Martins, ao enviado especial da Agricultura para a COP30, Roberto Rodrigues, à presidente da Embrapa, Sílvia Massruhá, e ao senador Zequinha Marinho (Podemos/PA), durante uma cerimônia, na sede Confederação, que contou com a presença de presidentes de Federações estaduais de agricultura e pecuária, entidades, autoridades, convidados e diretores do Sistema CNA/Senar.
O “position paper”, que reflete os anseios do setor agropecuário brasileiro, foi discutido em uma série de encontros e reuniões dos integrantes da Comissão Nacional de Meio Ambiente da CNA com produtores rurais, Federações estaduais, entidades do agro, pesquisadores, entre outros atores.
No documento, a CNA afirma que os produtores rurais devem ser reconhecidos como agentes fundamentais no fornecimento e na implementação de soluções climáticas para o alcance das metas brasileiras e potencialmente para as metas globais; que as particularidades da agricultura tropical precisam ser levadas em consideração e que ganhem escala como solução imediata aos desafios do clima; e que os meios para implementar medidas de mitigação e adaptação sejam suficientes para exercer todo o potencial do setor. A CNA reivindica também a garantia da segurança alimentar e energética e que o financiamento climático chegue diretamente aos produtores rurais, facilitando a implementação de tecnologias de baixo carbono.
Sistema CNA/Senar na COP30. Foto: Wenderson Araujo/Trilux
Em relação à Amazônia, a CNA defende, como legado da COP30, que, se por um lado o evento prometeu “colocar no centro das discussões globais a proteção aos recursos naturais, por outro deveria também reconhecer o valor da presença humana na região”. Em síntese, propõe nove recomendações fundamentais sobre e região, destacando-se:
1 – Reconhecer o direito à produção agropecuária sustentável na Amazônia como parte inseparável da agenda climática, combatendo a estigmatização dos agricultores locais;
2 – Acelerar a regularização fundiária e ambiental como condição básica para promover a segurança jurídica, o acesso a crédito e estimular investimentos produtivos;
3 – Reforçar a segurança alimentar regional, incentivando a produção local de alimentos;
4 – Combater o desmatamento ilegal por meio de incentivos econômicos eficientes que assegurem sustentabilidade produtiva da região.
A lista da CNA ainda inclui os seguintes pontos:
5 – Criar linhas de crédito rural e financiamento climático específicas para produtores locais, com juros diferenciados e prazos adequados, apoiando sistemas integrados de produção, recuperação de pastagens e reflorestamento produtivo;
6 – Transformar a bioeconomia alimentar em vetor de renda e inovação, baseada em ciência, tecnologia, domesticação e agregação de valor;
7 – Afirmar a soberania nacional sobre o território e apoiar o combate à violência e ao crime organizado, reconhecendo que não há floresta protegida ou ação climática efetiva sem ordem e segurança no território;
8 – Investir em integração logística e energia limpa na região, reduzindo custos de transporte, aumentando a conectividade e criando condições para atrair investimentos sustentáveis;
9 – Valorizar a contribuição do agricultor amazônico na transição climática global, reconhecendo que produção de alimentos, conservação florestal e segurança alimentar devem caminhar de mãos dadas.
“A agropecuária brasileira é referência em sustentabilidade ambiental, segurança alimentar e transição energética. Também temos as melhores tecnologias que conciliam produção e preservação. Temos muito a contribuir nessa questão”, ao que afirmou o presidente da Comissão Nacional de Meio Ambiente da CNA, Muni Lourenço.
Também presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Amazonas (Faea), Lourenço enfatizou, por outro lado, “ser este o momento decisivo para discutir o progresso global rumo às metas do Acordo de Paris, que completa 10 anos em 2025”. O Acordo criou as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), que estabelecem o comprometimento dos países para redução de emissão de gases de efeito estufa (GEE).
Osíris M. Araújo da Silva é economista, escritor, membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA) e da Associação Comercial do Amazonas (ACA).
Territórios quilombolas no Amapá. Foto: Reprodução/Agência Urutau
O calor da manhã já pesa sobre a comunidade de Conceição. O ar úmido traz o cheiro da mata e da água doce, enquanto as vozes dos moradores se misturam ao canto dos pássaros e ao som ritmado dos remos cortando o rio. À beira do espelho d’água, o líder quilombola Jesus Trindade aponta para a nascente. “É ali que tudo começa”, diz.
“Se a gente não proteger a nascente, a vida se acaba. A água é vida”.
No território quilombola Lagoa do Maracá, no sul do Amapá, a água é mais que um recurso: é memória, espiritualidade e fronteira política. Os Territórios quilombolas, Mari, Fortaleza, Laranjal e Joaquina vivem cercadas por florestas alagadas, igarapés e lagos que alimentam o rio Maracá — um dos principais afluentes da margem direita do rio Jari. É também ali que se travam disputas silenciosas entre preservação e exploração, entre o direito à terra e a omissão do Estado.
Territórios quilombolas. Foto: Divulgação
O levantamento mostra que no Amapá a área de corpos d’água no Amapá cresceu 250% entre 1985 e 2024, segundo dados da rede Mapbiomas. A variação de área alagada e de corpos d’ água ocorreu principalmente na área do território quilombola Lagoa do Maracá, impulsionada pela conservação das florestas quilombolas.
Para a análise dos corpos d’água, o estudo utilizou dados espaciais e, por isso, recomenda cautela na interpretação dos resultados, considerando fatores naturais como as variações sazonais de cheia e seca características da região amazônica. Apesar disso, o estudo destaca o papel vital desses territórios quilombolas na proteção de rios e nascentes. Para as comunidades, essa ligação entre território e água se constrói não só com preservação, mas também com fé e resistência.
O levantamento destaca ainda que o Amapá é o terceiro estado com mais territórios quilombolas da Amazônia Legal, com 31 territórios e 179 comunidades quilombolas identificadas. O estudo integrou bases de dados sobre territórios quilombolas, áreas já delimitadas, e quilombos, comunidades quilombolas representadas por pontos no mapa da Amazônia Legal.
O território quilombola do Maracá foi reconhecido oficialmente em 2013 pela Fundação Cultural Palmares, mas ainda não recebeu o título definitivo. A ausência do documento coletivo, explica o presidente da Associação Quilombola dos Remanescentes dos Territórios quilombolas do Igarapé do Lago do Maracá (AQRCILM), Hamilton Videira, mantém a comunidade vulnerável. “Enquanto não desmembrar, a gente continua como assentado, e qualquer um pode entrar pelos fundos e abrir lote. A titulação é o que nos daria poder de proteger o que é nosso”.
Comunidade Quilombola Conceição do Maracá. Foto: Gabriel Penha/Agência Urutau
Com cerca de 58 mil hectares, a área faz parte da Floresta Estadual do Amapá (FLOTA), criada para o uso sustentável da floresta. Mas, na prática, é um território em disputa. O Maracá enfrenta invasões, desmatamento, pesca predatória, tentativas de plantio de soja, a chegada do gado búfalo, e, mais recentemente, os efeitos das mudanças climáticas.
Embora o levantamento aponte o crescimento dos cursos d’água, os efeitos das mudanças climáticas preocupam os moradores. Jesus Trindade, liderança respeitada e um dos fundadores da associação, caminha perto do rio Macará. Atravessa o olhar pela margem e aponta para o horizonte. “A água recuou. Lá no igapó, dá pra ver a cinta nas árvores, onde a água chegava. Agora ela não chega mais. É o coração da terra batendo mais fraco.”
Ele lembra que, entre 2013 e 2015, um projeto de plantio de soja quase se instalou nas cabeceiras do rio. O projeto previa o uso de agrotóxicos em larga escala. A denúncia feita pela comunidade ao Ministério Público Federal (MPF) impediu o avanço.
“Se a gente tivesse se calado, a soja tinha tomado tudo. O peixe ia boiar morto. Mas a gente lutou, com o que tinha: fé e coragem. Foi Deus que agiu”
Hamilton Videira, presidente da AQRCILM na Comunidade Quilombola Conceição do Maracá. Foto: Gabriel Penha/Agencia Urutau
Desde então, o cuidado com as nascentes se tornou missão coletiva. Famílias se revezam na limpeza das margens, evitam desmatamento e queimadas e ensinam às crianças o valor da água que nasce ali. No Maracá, preservar o rio é mais que tarefa ambiental, é um ato de fé e herança ancestral.
Hamilton diz que a comunidade entende as águas como parte da própria identidade. “A nascente é a nossa caixa d’água. Se ela seca, tudo seca: o peixe, a roça, a vida.” Mas proteger sem poder demarcar é como tentar segurar água nas mãos. “A gente observa que o rio está diminuindo. O calor aumentou, e agora aparecem praias onde antes era fundo. O rio está mais fraco.”
Entre os moradores mais antigos, as lembranças de um tempo de fartura ainda resistem. Havia peixe em abundância, mandioca grossa, caça fácil. Hoje, tudo é mais difícil. “A gente achava que trazer búfalo era progresso. Ia ter leite e queijo. Hoje a gente chora a desgraça deixada por eles”, conta Anastácio Trindade, filho de antigos líderes e um dos articuladores da associação. O peso dos animais compactou o solo, destruiu vegetação de margem e assoreou o igarapé.
Máquinas extraem madeira às margens do rio Maracá, nos Territórios Quilombolas do Conceição do Maracá. Foto: Gabriel Penha/Agência Urutau
“Nosso rio está assoreando. Nunca se viu o igarapé seco desse jeito. Mas ainda dá pra salvar se a maioria quiser”, diz Anastácio, que repete o que aprendeu com a mãe: preservar é um dever com os que virão. “Nossa luta não é por nós. É pelos netos. Se continuar assim, ninguém vai ter nada pra contar.”
A degradação foi agravada por incêndios florestais. Em Mazagão, município vizinho, o número de focos de fogo aumentou nos últimos anos, colocando o território em risco. Dados oficiais confirmam que a região tem enfrentado pressão constante por queimadas.
Entre 2024 e 2023, o município liderou o número de focos de calor com 668 e 443 registros, respectivamente, segundo análise de dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Nos anos anteriores, a ocorrência também foi significativa: 134 focos em 2022, ocupando a 3ª posição no ranking estadual; 74 em 2021, também em 3º lugar; e 76 em 2020, quando ficou em 4º. Em 2025, até o momento, foram identificados 20 focos, colocando o município na 8ª posição.
Jesus Trindade, morador da Comunidade Quilombola Conceição do Maracá. Foto: Gabriel Penha/Agencia Urutau
David Vieira, jovem quilombola que hoje integra a brigada civil, diz que a floresta “anda quente como nunca”. Ele explica que a vegetação seca com facilidade e qualquer fagulha pode se transformar em incêndio. “De uns cinco anos pra cá, tudo mudou. O rio está mais raso, os Igapós sumiram. Agora a gente precisa sair para conscientizar o povo, porque se o fogo continuar, a água vai embora junto.”
A Amazônia que brota da água
A nota técnica Amazônia Quilombola revela que os territórios quilombolas funcionam como barreiras contra o desmatamento e reservatórios de água. Segundo o estudo, os territórios quilombolas preservam 80 mil hectares de corpos d’água, o que eleva a taxa geral de proteção ambiental para 94,4%, quando somada à proteção de florestas e outras formas de vegetação natural.
Além do Amapá, o relatório destacou um aumento de 77% nos corpos d’água no Mato Grosso. Já os estados do Amazonas, Pará, Rondônia, Maranhão e Tocantins apresentaram uma taxa média de perda de 35% da área original de corpos hídricos.
Em todos os estados onde houve perdas na cobertura de corpos d’água, também foi registrada perda de cobertura florestal. O estudo sugere que isso pode representar uma evidência empírica da relação entre a proteção florestal e a disponibilidade hídrica nos territórios quilombolas.
No Maracá, os moradores já têm o conhecimento ancestral. “Aqui, quando o mato cai, o rio sente. A água esquenta e o peixe desaparece”, explica David Vieira, que hoje atua como brigadista. “A floresta é o guarda-chuva do rio.”
Os jovens da comunidade têm tentado reverter esse quadro com ações próprias: campanhas de limpeza de igarapés, plantio de árvores nativas e rodas de conversa nas escolas. Hamilton resume, “O que a gente faz aqui é proteger não só para nós, mas para o mundo inteiro. Se a nascente morre, o rio morre. E se o rio morre, o mundo seca.”
A fé que sustenta
Entre os rios e as rezas, a fé continua sendo o eixo invisível que sustenta a resistência. No Maracá, os terços e ladainhas dividem espaço com os cânticos que pedem chuva, fertilidade e proteção. Durante o mês de maio, as famílias caminham até a beira do igarapé para rezar. “A gente reza pedindo chuva não só para molhar o chão, mas pra Deus lembrar da gente e das águas que nos sustentam”, explica Dona Maria do Carmo, conhecida como “Mãe Carminha”, que conduz o grupo de rezadeiras há mais de 40 anos.
Moradores da Comunidade Quilombola Conceição do Maracá rezam o Pai Nosso (Foto: Gabriel Penha/Agencia Urutau)
A religiosidade se mistura à ecologia: proteger a água é proteger o sagrado. “Quando a nascente seca, a gente sente no corpo. É como se faltasse ar”, diz Anastácio Trindade. Ele lembra que, nas antigas ladainhas, já se falava em cuidar do “olho d’água”, como quem cuida de um filho.
Para muitos moradores, a fé é também um método de resistência. “A gente ora e trabalha. Planta, cuida, limpa a beira do rio, porque rezar sem fazer não resolve”, resume Jesus, com o olhar sereno sobre a correnteza. “Deus fez o planeta com mais água do que terra porque sabia que é dela que vem a vida.”
No final da tarde, o sol se deita sobre o espelho do rio Maracá. Jesus observa o reflexo e fala baixo, quase como uma prece: “A água é o primeiro território. Enquanto tiver um quilombola em pé, o Maracá não vai secar.”
Mapas que não enxergam o território
Apesar de protegerem um ecossistema estratégico, as comunidades quilombolas seguem invisíveis para grande parte das políticas ambientais. O levantamento do ISA e da CONAQ mostra que o desmatamento cai de 17% em áreas privadas para 3% em territórios quilombolas titulados, segundo dados da rede MapBiomas. Para as lideranças, as estatísticas não se convertem em apoio concreto.
“O Incra reconheceu o território rápido, mas o processo de titulação parou”, diz Hamilton. “A gente manda ofício, cobra visita, e sempre tem uma viagem, uma reunião, um atraso. É um empurra com a barriga que custa caro. Sem título, a gente não tem acesso a projeto, não tem crédito, não tem proteção.”
O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) confirma que o processo de titulação do território quilombola do Lago do Maracá tramita desde 2014, sob o número 54350.000739/2014-84, e ainda se encontra na fase de elaboração do Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID). Segundo o órgão, o relatório antropológico já está concluído, mas o avanço das demais etapas depende de recursos e de pessoal técnico.
De acordo com o processo nº 1008186-65.2025.4.01.3100, que tramita na Justiça Federal do Amapá, o território segue em fase de RTID, com relatório antropológico finalizado e pendências fundiárias ainda sem solução.
As vozes da Conaq e o Brasil que não escuta
Para Núbia Souza, liderança da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) no Amapá, o caso do Maracá resume uma política histórica de omissão. “A gente não é uma estratégia. Nós sempre existimos na preservação do clima. Secularmente, entregamos ao mundo um bem imaterial, ambiental, cultural e ancestral. Então, não é estratégia: é resistência”, afirma.
Ela critica o distanciamento entre as decisões globais sobre o clima e quem realmente preserva os territórios quilombolas. “A COP30 garantiu lugar para empresários do mundo todo, mas não conseguiu garantir a fala das comunidades quilombolas nos painéis. A Amazônia é discutida sem os povos que a mantêm viva”.
Ela aponta que o maior entrave é financeiro. “Seriam necessários de quatro a cinco bilhões de reais para titular e desintrusão de todos os territórios do país”, explica. “No Amapá, quase todas as terras são públicas. Como é que o Estado vai indenizar a si mesmo? Poderia titular de imediato.” Diferente do restante do país, no Amapá o Estado não precisa indenizar ninguém para titular os territórios quilombolas, eliminando assim a principal barreira financeira que se observa em outras regiões.
Além da morosidade institucional, Núbia denuncia as novas ameaças. “A Petrobras entrou na costa do Amapá sem nos consultar. Mesmo com estudos técnicos alertando sobre o risco de impacto nos rios e manguezais, o Estado foi omisso. Isso é uma violação direta ao direito de consulta prévia.”
Ela cita ainda o avanço da urbanização e a facilidade com que grandes empresas obtêm licenças ambientais. “É contraditório dizer que o Amapá é o estado que mais preserva se ele não consulta os quilombos. Como é que eu digo que preservo se não garanto direito?”, questiona.
No final da tarde, o sol se deita sobre o espelho do rio Maracá. Jesus observa o reflexo e fala baixo, quase como uma prece: “A água é o primeiro território. Enquanto tiver um quilombola em pé, o Maracá não vai secar.”
Esta é a terceira reportagem da série Amazônia Quilombola, da Rede Cidadã InfoAmazonia, que mostra como os territórios quilombolas e comunidades revelados pelo levantamento do Instituto Socioambiental (ISA) e da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ) são fundamentais para a manutenção das florestas, mas seguem vulneráveis diante de conflitos e da lentidão na titulação. A produção é uma parceria entre a Agência Urutau e InfoAmazonia.
*O conteúdo foi originalmente publicado pelaAgência Urutau, escrito por Rudja Santos
Coleção de documentos inclui edições preservadas de textos jornalísticos, manuscritos e imagens. Foto: Crystofher Andrade/Rede Amazônica AP
Um acervo histórico com jornais, documentos e fotos produzidos no Amapá desde 1899 foi aberto ao público e reúne registros raros sobre a formação do estado. O material está disponível na Biblioteca Pública Elcy Lacerda, reinaugurada no dia 26 de novembro.
A coleção inclui edições preservadas de textos jornalísticos, manuscritos e imagens que mostram o cotidiano da cidade de Macapá no final do século 19.
Uma das responsáveis pelo acervo é Bernadeth Rodrigues, de 60 anos, que está no local há seis meses. Mesmo com pouco tempo de trabalho, a servidora afirma que os materiais são fundamentais para preservar a memória de um Amapá que está no passado.
“São documentos que vamos levar para o resto das nossas vidas, seja em pesquisas, estudos… Livros que passaram por muitas gerações e que mostram um tempo que não existe mais”, conta.
Foto: Crystofher Andrade/Rede Amazônica AP
Primeiro jornal
O mais antigo documento jornalístico disponível no acervo da biblioteca é a edição 126 do Pinsonia, o primeiro jornal impresso a circular na cidade de Macapá. Com uma linguagem formal e rebuscada, o periódico traz relatos da vida política, econômica e social da época.
Foto: Crystofher Andrade/Rede Amazônica AP
Até mesmo uma crítica a um suposto “alarme injusto” aparece na folha, em que o editorial do jornal reprovava um boato que provocou medo nos moradores do município naquela época.
Política
Com forte cunho político, os jornais daquela época também mostravam viagens e a rotina de Ivanhoé Martins, então governador do Território Federal do Amapá entre abril de 1967 e 1972.
Nascido em Cuiabá (MT), Martins era general do exército e assumiu o poder após nomeação do presidente Arthur da Costa e Silva durante a ditadura militar. Ivanhoé deixou o cargo após mudanças políticas em Brasília na gestão de Emílio Médici.
Fotos raras mostram como eram as principais ruas e avenidas da capital no início e no fim do século 20. Os registros revelam a transformação urbana e trazem cenas do cotidiano, com pessoas em momentos simples que ajudam a compor o retrato histórico da cidade.
Foto: Crystofher Andrade/Rede Amazônica AP
O acervo inclui ainda fotos do escritor Coaracy Barbosa entregando a coleção do jornal Pinsonia como artefato histórico para exposição no museu. O material amplia o conjunto de documentos visuais disponíveis e ajuda a contar a trajetória cultural e social da capital.
Foto: Crystofher Andrade/Rede Amazônica AP
*Por Crystofher Andrade, estagiário sob supervisão de Rafael Aleixo, da Rede Amazônica AP
Indígenas Paiter Suruí são capacitados na produção de chocolates e cupulates. Foto:
Um projeto que une saberes tradicionais e tecnologia está transformando a vida do povo indígenas Paiter Suruí, em Cacoal (RO). A iniciativa implantou uma biofábrica-escola dentro da Terra Indígena Sete de Setembro, onde a comunidade aprende todas as etapas de produção do chocolate, desde o manejo do cacau nativo até a finalização do produto.
A iniciativa combina o conhecimento ancestral da floresta com técnicas modernas de transformação do cacau. O objetivo é capacitar a comunidade para produzir chocolate amazônico usando o fruto nativo da região.
Durante quatro semanas, os participantes percorrem todas as etapas da produção: fermentação, secagem, torrefação, moagem, temperagem e embalagem. Para o mestre chocolatier Cesar de Mendes, que conduz o treinamento, o processo reforça a importância do cuidado ainda no campo.
“Da colheita é feita uma seleção dos frutos que a gente chama, que são aptos para fazer cacau fino, chocolate fino. Depois dessa seleção é feita uma quebra, depois da quebra vem a fermentação, na fermentação vem a secagem e depois, então, ele vem para cá para a fábrica”, explicou.
Os equipamentos da biofábrica foram desenvolvidos especialmente para funcionar dentro do território indígena, garantindo que toda a cadeia produtiva aconteça na aldeia.
“O conceito dos laboratórios criativos da Amazônia é trazer para as comunidades uma fábrica que possa garantir a qualidade da receita. Cada pessoa tem sua própria receita, pode colocá-la e pode repetir a mesma receita várias vezes porque as máquinas automatizadas vão garantir que se siga aquele padrão da receita”, destaca Sônia Andrade, executiva do projeto.
Laboratório inteligente que ensina indígenas a transformar cacau nativo em chocolate amazônico. Foto: Luciana Kuster/Rede Amazônica RO
A iniciativa integra a estratégia de bioeconomia da sociobiodiversidade, que valoriza produtos da floresta em pé e estimula a geração de renda nas comunidades tradicionais. Para o líder indígena Almir Suruí, o impacto vai muito além da produção de chocolate.
“Nosso povo está se capacitando e se apropriando da tecnologia para ter autonomia financeira e decidir o destino da nossa produção. O chocolate está sendo feito dentro do território, com a nossa marca. Isso é histórico”.
Chocolate com identidade dos indígenas Paiter Suruí
Entre os alunos, a experiência tem sido transformadora. Para muitos, é o primeiro contato com o processo de fabricação do chocolate e a descoberta de um novo caminho profissional dentro do próprio território. Segundo Márcia Suruí, o curso abriu perspectivas que ela não imaginava
“Eu nunca imaginei trabalhar com chocolate. A partir do momento que eu cheguei aqui, eu entendi um pouco do processo de como fazer e foi uma experiência muito boa”, disse.
De acordo com Almir Suruí, o chocolate leva muito mais do que cacau. Cada tablete reúne o trabalho coletivo da comunidade e o valor da floresta em pé, transformando o cacau nativo em um produto com história, cultura e propósito.
“Estes aqui são chocolates originais da Terra Indígena Sete de Setembro. É um trabalho que está sendo feito para fortalecer a sustentabilidade do povo Paiter Suruí, a partir do seu território. Então, a gente vai buscando cada vez mais industrializar a bioeconomia da floresta”, disse.
Com sabor amazônico e origem certificada, o chocolate produzido na biofábrica tem potencial para conquistar novos mercados e levar a identidade Suruí para além do território.
As pequenas tartarugas alcançam as águas do Xingu e seguem seu curso natural. Foto: Divulgação/Norte Energia
O Refúgio de Vida Silvestre (Revis) Tabuleiro do Embaubal, na região do Médio Xingu, no Pará, recebe mais um ciclo de reprodução das tartarugas-da-Amazônia. Entre agosto e dezembro, milhares de fêmeas de tartarugas, tracajás e pitiús chegam às praias do rio Xingu para depositar seus ovos, num espetáculo natural que transforma o local em um dos maiores sítios de desova de tartarugas de água doce da América do Sul.
O auge da temporada ocorre entre setembro e novembro, quando o nível das águas e a temperatura da areia criam as condições ideais para a incubação. A partir do fim de outubro, inicia-se o nascimento dos filhotes, que se estende até janeiro, quando as pequenas tartarugas alcançam as águas do Xingu e seguem seu curso natural.
Entre agosto e dezembro, milhares de fêmeas de tartarugas, tracajás e pitiús chegam às praias do rio Xingu para depositar seus ovos. Foto: Divulgação/Norte Energia
Programa de Conservação e Manejo de Quelônios
As ações fazem parte do Programa de Conservação e Manejo de Quelônios, desenvolvido há 14 anos pela Norte Energia, concessionária da Usina Hidrelétrica Belo Monte, em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) e secretarias municipais da região.
O trabalho envolve o monitoramento dos ninhos, a fiscalização das áreas de reprodução e atividades de educação ambiental com as comunidades locais, parte essencial do sucesso do programa. Entre outubro de 2024 e janeiro de 2025, foram identificados cerca de 1.692 ninhos, e 308.567 filhotes foram soltos à natureza, que somam mais de 6,5 milhões de filhotes desde o início das atividades.
Mesmo com a estiagem severa na região, o número de nascimentos superou o registrado no ciclo anterior, resultado direto da dedicação das equipes e do engajamento das populações ribeirinhas. No ano de 2025 a equipe já registrou mais de 4.000 ninhos nas praias do Tabuleiro.
Tartarugas, tracajás e pitiús chegam às praias. Foto: Divulgação/Norte Energia
“O monitoramento constante e a sensibilização das pessoas, aliados com os saberes das comunidades ribeirinhas e tradicionais da região, são fundamentais para a conservação das espécies. Cada ninho protegido e cada filhote devolvido ao rio representam um avanço na sobrevivência dos quelônios e no equilíbrio dos ecossistemas do Xingu”, afirma Adriana Malvasio, especialista referência em quelônios que atua como consultora do projeto.
Para manter o programa, a Norte Energia já investiu cerca de R$ 26 milhões e conta com um time de biólogos e técnicos ambientais. A conservação dos quelônios é essencial para o equilíbrio ecológico da Amazônia, eles ajudam na dispersão de sementes, contribuem para a manutenção das cadeias alimentares e limpam os rios ao se alimentarem de matéria orgânica em decomposição. Mais do que isso, as tartarugas carregam um profundo simbolismo cultural na região, associadas à longevidade e sabedoria que atravessam gerações.
Criado em 2016, o Revis Tabuleiro do Embaubal abrange 4.033 hectares e está localizado a cerca de 900 km de Belém. O refúgio reúne uma paisagem de rara beleza, formada por praias, várzeas e igapós, e abriga espécies ameaçadas, migratórias e endêmicas.
O Tabuleiro do Embaubal é um verdadeiro patrimônio ambiental da Amazônia. Foto: Ideflor-Bio
“O Tabuleiro do Embaubal é um verdadeiro patrimônio ambiental da Amazônia. A cada ciclo reprodutivo, reafirmamos nosso compromisso de conciliar o desenvolvimento energético com a conservação da biodiversidade, fortalecendo também a participação das comunidades locais nesse esforço coletivo”, afirma Roberto Silva, gerente de Meios Físico e Biótico da Norte Energia.
Projeto Tartarugas-do-Xingu
O Projeto Tartarugas-do-Xingu é uma iniciativa de voluntariado voltada à conservação das principais espécies de quelônios da região — como a tartaruga-da-Amazônia, o tracajá e o pitiú — e integra o Programa de Conservação e Manejo de Quelônios da hidrelétrica.
Criado em 2018, o projeto já devolveu à natureza cerca de 100 mil filhotes. A iniciativa reafirma o compromisso da Companhia com a conservação da biodiversidade amazônica e o desenvolvimento sustentável na região do Xingu.