Participação feminina aumenta nos campeonatos de pesca esportiva em Rondônia. Foto: Roni Carvalho/Secom RO
A participação feminina nos campeonatos de pesca esportiva vem crescendo a cada ano em Rondônia. O projeto ‘Elas Pescando’, desenvolvido pela Superintendência Estadual de Turismo (Setur), em parceria com a Associação dos Condutores de Pesca Esportiva do Estado de Rondônia (ACPE/RO), ganha destaque no estado e apresenta uma vasta programação, dividida em três etapas, com duração de seis dias de evento.
A primeira etapa ocorreu no distrito Jaci-Paraná, em Porto Velho, nos dias 5 e 6 de julho; a segunda em Candeias do Jamari, na Vila Calderita, nos dias 19 e 20 de julho; e a terceira etapa será realizada em Cabixi, nos dias 9 e 10 de agosto.
A iniciativa tem o objetivo de fomentar o turismo, o empreendedorismo, a economia local e a educação ambiental. Durante a programação várias equipes participam dos torneios. Além da competição, o evento também propõe momentos de conscientização sobre a preservação ambiental e a integração com a comunidade local.
Para o governador de Rondônia, Marcos Rocha, o projeto fortalece e valoriza a participação feminina no esporte de pesca esportiva, além de estimular a conexão com a natureza e o incentivo à conservação do meio ambiente.
“Rondônia é um dos principais destinos de pesca esportiva do país, e o governo tem investido para proporcionar oportunidades para as mulheres em todas as regiões do estado, ampliando a participação feminina no setor, além de contribuir para o desenvolvimento integral e a promoção da saúde e bem-estar”, ressaltou.
Elas pescando: projeto quer participação maior de mulheres na pesca esportiva. Foto: Roni Carvalho/Secom RO
Rondônia é um dos principais destinos de pesca esportiva do Brasil
Segundo o superintendente da Setur, Gilvan Pereira, Rondônia possui um Plano de Desenvolvimento do Turismo de Pesca, e a pesca esportiva contribui para o fortalecimento desse projeto. “Eventos como esse contribuem para o fortalecimento do turismo de pesca esportiva, estimula a economia do estado, além de permitir uma competitividade robusta com outros estados”, destacou.
Com investimentos no valor de R$ 1,5 milhão, provenientes de emenda parlamentar estadual, através de Termo de Fomento pela Setur, e contrapartida da Associação dos Condutores de Pesca Esportiva, no valor de R$ 12 mil, Rondônia fortalece seu potencial para sediar grandes eventos, promovendo seus rios e belezas naturais como atrativos turísticos de destaque.
Com foco no público feminino, a iniciativa busca valorizar e ampliar a participação das mulheres na prática da pesca esportiva, atraindo turistas de diferentes regiões do país e até do exterior, além de consolidar Rondônia como um dos principais destinos de pesca esportiva do Brasil.
O projeto de extensão ‘Roteiros Geo-turísticos – Conhecendo o Centro Histórico de Belém’, do Grupo de Pesquisa de Turismo (GGeotur) da Universidade Federal do Pará (UFPA), acaba de ganhar um novo circuito. Chamado ‘Pelos Caminhos da COP 30: do Parque Linear ao Centro Histórico de Belém‘, o novo tour pretende abordar as transformações no espaço urbano da cidade de Belém do Pará, explorando a relação entre a COP 30, o Parque Linear do Canal da Tamandaré e o Centro Histórico de Belém.
Ao longo do itinerário, que percorrerá espaços como a Praça do Arsenal, os palacetes Pinho e Camelier, e o Beco do Carmo, serão evidenciados os impactos das obras da COP na estrutura urbana local, as variadas formas de apropriação do território, as dinâmicas que envolvem o patrimônio cultural e a identidade local, bem como outros processos histórico-geográficos de produção do espaço urbano.
“A educação patrimonial é de extrema importância para que a população conheça a sua história e cultura e entenda a cidade onde vive. Qualquer projeto ligado ao turismo e ao patrimônio não pode pensar só em infraestrutura, tem que fazer a leitura da cidade e da diversidade da cidade, e tem que ler e dialogar com a sociedade, afinal, a nossa cidade é cheia de contrastes socioeconômicos muito gritantes. Só com o conhecimento da cidade na sua totalidade, podemos reivindicar mais qualidade de vida e acesso à cultura”, explica Maria Goretti Tavares, professora da UFPA e coordenadora do projeto Roteiros Geo-turísticos.
Os passeios promovidos pelo projeto são voltados a toda a população de Belém e interessados, turistas e não-turistas. de acordo com a coordenação do projeto, ao longo desses 15 anos, mais de 10.000 pessoas já participaram dos roteiros e 95% dos participantes foi de moradores da cidade de Belém. Para participar do roteiro é necessário realizar inscrição via formulário virtual, gratuitamente. Basta ficar de olho nos canais do projeto para conferir as datas: http://www.facebookcomroteirosgeoturisticos/, https://www.facebook.com/roteiros.geoturisticos.31 e @roteirosgeoturisticos.
O roteiro é a pé pelas ruas, com concentração na Praça do Arsenal e saída às 8h30. É aconselhável que os participantes usem tênis, boné, protetor solar e roupas leves. Também recomenda-se levar guarda-chuva e/ou capa de chuva, pois a programação não será interrompida caso comece a chover.
O projeto “Roteiros Geo-turísticos – Conhecendo o Centro Histórico de Belém” surgiu em 2011, vinculado à Faculdade de Geografia e Cartografia da Universidade Federal do Pará (FGC/UFPA), com a missão de valorizar a memória socioespacial e patrimonial, material e imaterial da capital paraense, por meio da criação e aplicação de roteiros turísticos temáticos.
Ele foi um dos vencedores da 29º Edição do Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, premiação nacional do IPHAN, na categoria “projetos de iniciativas de excelência em promoção e gestão compartilhada do patrimônio cultural”. Além da região metropolitana de Belém, o projeto já promoveu roteiros nas cidades de: Altamira, Ananindeua, Itupiranga, Marabá, Vigia e Ponta de Pedras.
Praia Grande em Outeiro, no Pará. Foto: Alex Ribeiro/Agência Pará
Apesar de o Brasil ser conhecido mundialmente por suas belezas naturais e abundância de recursos hídricos, a balneabilidade ainda é um desafio a ser superado em muitas praias, pois é o que indica a condição de rios, lagos ou praias para o banho e atividades recreativas com segurança, sem risco à saúde.
A legislação vigente (Resolução Conama 274, de 2000) está defasada e não acompanha os avanços científicos e ambientais dos últimos 20 anos. O país ainda enfrenta surtos de doenças de veiculação hídrica, como cólera, leptospirose, diarreias, gastroenterites, dengue e malária, agravados pela falta de tratamento de esgoto.
Em Belém (PA), a situação é ainda mais crítica. Durante as férias de julho, por exemplo, quando aumenta a procura por balneários na região, muitos desses locais não oferecem condições adequadas para o banho, o que expõe a população a riscos sanitários. E para discutir balneabilidade, é fundamental entender que ela está diretamente ligada ao saneamento básico da região.
A ausência de coleta e tratamento adequados de esgoto impacta diretamente a qualidade da água para banho e lazer. Mesmo quando classificadas como próprias, essas águas ainda podem representar riscos à saúde devido à contaminação invisível.
Segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), a situação é crítica: apenas 12% do esgoto da capital paraense é tratado. Em junho de 2025, um levantamento sobre a qualidade das águas nas praias de Belém, conduzido pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semma), apontou que duas praias foram consideradas impróprias para banho: a praia do Amor, em Outeiro; e a praia do Farol, em Cotijuba.
“As praias deveriam conter placas informativas ao longo de todo o ano indicando a balneabilidade (própria ou imprópria) e a data da análise. Entretanto esta não é uma realidade para as praias paraenses, que não apresentam nenhum tipo de informação”, explica o professor de Oceanografia da UFPA Vinicius Tavares Kütter, especialista em Contaminação e Poluição Ambiental.
Falar sobre lazer e turismo nas praias vai muito além de discutir se a água é própria ou imprópria para banho. Quando o período de férias escolares acaba, percebe-se que o problema é maior, pois afeta diretamente o meio ambiente e a saúde da população. Do ponto de vista ambiental e sanitário, os impactos são significativos.
“A presença de patógenos em praias tem sido detectada com maior frequência em áreas com deficiência em saneamento. A presença de substâncias químicas e patógenos advindos do esgoto coloca também em risco a fauna aquática. Somado a isso, o lixo na forma de microplástico também é um indutor de proliferação de organismos patogênicos resistentes, conforme apontado em estudos realizados na China”, afirma Kütter.
De acordo com o pesquisador, é possível pensar em soluções para a problemática da balneabilidade, como o uso de aplicativos ou plataformas digitais que disponibilizem informações sobre a qualidade da água, medida já adotada em estados como Santa Catarina, Bahia e Paraná.
Nesse sentido, está em desenvolvimento um projeto da UFPA, em parceria com a City University of Hong Kong, para monitorar a presença de resíduos farmacêuticos em rios da Região Metropolitana de Belém, que inclui áreas como a ilha de Mosqueiro, a praia do Cruzeiro e o rio Tucunduba. Os primeiros resultados devem ser divulgados em novembro de 2025, no site globalestuaries.org.
“Espera-se que os resultados deste estudo pioneiro auxiliem no entendimento das condições ambientais dos rios da metrópole e sirvam de subsídio para que a população pressione os gestores públicos a tomarem decisões que assegurem um ambiente sustentável”, conclui o professor
*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal Beira do Rio, da UFPA, edição 175, escrito por Evelyn Ludovina e com edição de Rosyane Rodrigues
Ferreira de Castro. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
Por Abrahim Baze – literatura@amazonsat.com.br
Era uma vez…
Em Ossela, numa encantadora aldeia do concelho de Oliveira de Azeméis, Beira Litoral não muito longe do S. João da Madeira e Porto, em Portugal, nasceu a 24 de maio de 1898, um menino que recebeu na pia baptismal, o nome de José Maria de Ferreira de Castro, destinado pelos deuses ou fadas, a descrever uma trajetória luminosa nos horizontes infinitos das letras portuguesas.
Aos 12 anos, órfão de pai e apenas com o diploma da 4ª classe, emigrou de Ossela rumo a Belém do Pará, munido de um dicionário e no coração a dor da partida e também sonhos lindos e dourados, ser talvez rico e angariar a substância de sua mãe, doente e de seus dois irmãos crianças.
Livro ‘Ferreira de Castro – Um imigrante português na Amazônia’, de Abrahim Baze. Foto: Clarissa Bacellar/Portal Amazônia
Chegando a Belém do Pará, empregou-se numa mercearia e após uma breve estada de uns dois meses, foi despedido. E assim, em março de 1911, ele rumou para o Seringal Paraíso, no Amazonas, nas margens escalavradas do rio Madeira, na companhia de cearenses, maranhenses, marginais, aventureiros, que à selva iam em busca de sorte e fortuna.
Criança sentindo a dor da saudade da família, dos amigos, dos campos e do solo pátrio, para esquecer-se, ele escreveu, aos 13 anos, no Seringal Paraíso, o seu primeiro livro: ‘Criminoso por Ambição’, sob a sombra amiga da sapotilheira junto ao barracão do seringal.
Quatro longos e sofridos anos passou Ferreira de Castro no Seringal, de março de 1911 a 28 de outubro de 1914, quando se iniciava na Europa a 1ª Guerra Mundial, tendo regressado a Belém, onde passou privações e provações.
Em 1916, com a ajuda de um amigo, publicou o seu primeiro livro que foi vender aos amigos e compatriotas, em fascículos.
Indígena parintintim (fotografia de Silvino Santos). Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
Regressou a Portugal em 1919, com apenas 400 mil réis no bolso.
Teima seguir a carreira de jornalismo em Lisboa, mas reconhece alguma animosidade por parte de alguns colegas. Então refugia-se nas comunidades primitivas da Serra do Barroso, em Minho, e na Casa do Capitão, em Padornelos, escreve as primeiras páginas do seu livro ‘Terra Fria’, e na Serra da Estrela vai em busca de dramas sociais e escreve o livro ‘A Lã e a Neve’, depois visita as Minas de Aljustrel (Alentejo) e escreve extensa e realista reportagem, censurada.
Enquanto enamora-se de Diana Liz, poetisa, que inspirou ao neófito escritor uma intensa paixão. Foi sob o olhar terno de Diana de Liz, na Rua Tenente Espanca, em Lisboa, a luz de petróleo, vivendo mil dificuldades, que FC escreveu, em 1929, imortal livro ‘A Selva’, que publicaria no Porto, em 1930.
Nesse mesmo ano de consagração, ele recebe um dos maiores golpes do destino: Diana Liz, que levara para Ossela, morre tuberculosa, a míngua de remédios e recursos financeiros. Profundamente abatido, o romancista refugia-se na ilha da Madeira, onde escreve o livro ‘Eternidade’, um hino de espiritualidade em homenagem a Diana Liz.
Proprietários do seringal Paraíso na época de Ferreira de Castro. Foto do dia do casamento de Sizino Deoclécio Monteiro, conhecido como Duca. Casou-se com Josefina Miranda Ferreira (Tinoca), filha de José Mariano Ferreira (Juca Tristão). Camilo Lélis Monteiro casou com Hilda de Miranda Ferreira (Ninita), também filha de Juca Tristão. Fonte: Irmã Conceição – Irlando Carlos Ferreira. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
Mais tarde, em 1937 e após ter escrito outros livros, vem a conhecer a talentosa pintora de arte Elena Muriel, da Andaluzia, refugiada no Estoril da Guerra Civil espanhola, senhora de uma rara beleza física e moral e companheira dedicada do escritor por mais de 40 anos e com quem vem a casar-se, em Paris (França).
Com Elena Muriel dá a volta ao mundo e escreve no ensejo ‘A Volta ao Mundo’ e ‘As Maravilhas Artísticas do Mundo’ e, escreve mais livros: ‘Emigrantes’ (1929), ‘A Curva da Estrada’, ‘Pequenos Mundos e Grandes Civilizações’, ‘Tempestade’, ‘Missão’, ‘O Instituto Supremo’, ‘Os Fragmentos’ (póstumo), etc.
Em 1970 vê a sua obra ser distinguida com o Prêmio Águia de Ouro Internacional, em Nice (França), pela Academia Francesa, o que constituiu um dos maiores acontecimentos da vida literária portuguesa. Com o valor desse prêmio, constrói a Casa-Museu FC, em Ossela (sua terra natal).
Considerado o precursor do neorrealismo e o mais humanista escritor português, sua obra é um hino de louvor e reconhecimento a todo homem oprimido, solitário ou desprezado, a todo homem que trabalha servindo, muitas vezes explorado, humilhado ou ofendido.
Da leitura dos seus livros, que é dirigida a todos os homens que mandam para melhor compreenderem o drama do homem que trabalha, depreende-se, sempre uma fina ternura e empatia que tanto nos subjuga como fascina.
A Selva
Ao escrever o livro ‘A Selva’, FC denunciou situações tremendamente injustas, como era o caso dos milhões de seringueiros que a extração da borracha davam o melhor do seu sangue, suor e liberdade. Em todos os seus livros está patente a denúncia – apresentar os fatos são somente para o leitor ajuizar, sem jamais se socorrer da linguagem da violência ou do ódio. Aí o seu mérito e a sua missão. A denúncia sutil por amor à humanidade enferma. Daí o ter sido considerado o mais humanista escritor português e um dos mais universalistas, já traduzido em 25 línguas e em Braile.
Em 1980, no Parque Municipal de Ferreira de Castro, em São João da Madeira (Portugal), é inaugurado um monumento no ensejo do Cinquentenário de ‘A Selva’ (1980), um busto em Ossela e, mais tarde, outros bustos se ergueram em terras do Brasil – em Teresópolis (RJ), Belém (PA), Manaus e Humaitá (AM), mesmo defronte no Seringal Paraíso, palco central e geográfico da odisseia. Agora há outro no átrio principal da Universidade do Amazonas.
Em 1979, por iniciativa do pintor do Canto dos Verdes da Amazônia, o professor catedrático Moacir Andrade fundou a Associação Internacional dos Amigos de Ferreira de Castro (AIAFC), com o propósito de divulgar a Vida/Obra/Mensagem humanista de FC entre a juventude portuguesa e brasileira.
Em Ata subscrita pelo Embaixador Brasileiro em Portugal, General Carlos Alberto da Fontoura, estão a viúva do romancista, Elena Muriel; sua filha, Dr.ª Elza Muriel; o então Presidente da Assembleia da República, Vasco da Gama Fernandes; Tenente-Coronel Júlio Baptista Santos; presidente da Câmara Municipal de Sintra, Eurico de Andrade Alves (empossado como presidente); Moacir Andrade; Manuela Montenegro; Manuel de Portugal e outras individualidades.
Ferreira de Castro na maturidade. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
A AIAFC, na pessoa do seu presidente, realizou já quatro visitas de divulgação cultural ao Brasil, nomeadamente a Belém, Manaus, Brasília, Rio, Teresópolis, Salvador e Santos, a Humaitá e Seringal Paraíso, já visitado em 1986 e 1989, tendo escrito no ensejo o livro ‘Visita ao Seringal Paraíso’, além de palestras em Universidades, Centros Culturais e Escolas Técnicas e Televisão.
Levou longe o humanismo do escritor e, na zona mais ridente do Porto, na Foz do Douro, em 22 de outubro de 1988, erigiu um monumento ao romancista, de 6 metros de porte, três figuras distintas, mais de três toneladas de bronze, contemplando o Oceano e lá longe o Amazonas e o Seringal Paraíso.
Em 1989, no ensejo dos 10 anos da fundação, a AIAFC publicou o livro ’10 anos in memoriam de Ferreira de Castro’, livro muito documental e ilustrado com perto de cem fotos.
A AIAFC tem sua sede em São João da Madeira, conta com 400 associados de Portugal, Brasil, USA, Espanha, França, Polônia, Japão e Panamá, sendo 200 fundadores.
Ferreira de Castro morreu em 29 de junho de 1974, no alvorecer da Democracia em Portugal e, está sepultado, segundo seu desejo expresso em carta, sob um banco de pedra, em campa rasa, no Castelo dos Mouros, em Sintra, para estar mais perto dos homens, “meus irmãos das árvores, da lua e das estrelas que tanto amei…”.
Veja o filme produzido por Márcio Souza sobre ‘A Selva’:
Sobre o autor
Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.
Força Integrada de Combate ao Crime Organizado no Amazonas (FICCO/AM) em operação no município de Careiro, em março de 2025. Foto: Reprodução/Polícia Fedral
Por Osíris M. Araújo da Silva – osirisasilva@gmail.com
De acordo com investigações do 19º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, apreensões de cocaína na Amazônia aumentaram 92% ao longo de 11 anos, de 5,4 toneladas em 2013 para 10,4 toneladas em 2024. O crescimento supera a média do Brasil, de 72% sobre as apreensões da droga no período. Por outro lado, no mesmo espaço de tempo foram apreendidas, na região, 15,2 toneladas de maconha no ano passado na região, isto é, 6.530% em relação aos 229 kg alcançados em 2013. Em todo o país, a média nacional “apenas” dobrou no período. Os dados são coerentes com a vasta extensão das áreas fronteiriças dos estados da região Norte, abrangendo Amazonas, Pará, Acre, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, com os países maiores produtores de drogas ilícitas do Planeta, Peru, Bolívia e Colômbia. Justamente nesse território se encontram quinze rios identificados por pesquisadores brasileiros como os “rios de cocaína”, por servirem à rota do o tráfico de drogas na região: os rios Abuna, Acre, Amazonas, Caquetá, Envira, Içá, Japurá, Javari, Juruá, Madeira, Mamoré, Negro, Purus, Tarauacá, Uaupés e Xiê.
O Brasil, segundo o IBGE, mantém cerca de 8 mil km de fronteira com os três países que concentram o plantio de coca na região nas seguintes proporções: Colômbia (61%), Peru (26%) e Bolívia (13%). De acordo com relatório mundial do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc, na sigla em inglês), de 2021, até o começo dos anos 2000, as principais rotas de escoamento passavam pela América Central e Caribe ou iam diretamente para os Estados Unidos e Europa, que concentram os maiores compradores. A Amazônia brasileira começou a aparecer nesse mapa em meados dos anos 2000. Até então o país figurava na décima posição em volume de cocaína apreendida, atualmente é o terceiro, atrás de Estados Unidos e Colômbia. Foi nessa mesma época que o governo brasileiro investiu para aumentar o controle das fronteiras e do espaço aéreo na Amazônia, que abriga a maior floresta tropical do planeta e tem baixa densidade populacional: cerca de 5,6 habitantes por km².
De acordo com dados do estudo “Landing on Water: Air Interdiction, Drug-Trafficking Displacement, and Violence in the Brazilian Amazon (em tradução livre: Pousando na Água: Interdição Aérea, Tráfico de Drogas e Violência na Amazônia Brasileira)”, do qual tomaram parte pesquisadores do Insper e da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP) e publicado pelo IZA (Institute of Labor Economics), da Alemanha. O deslocamento dos meios de transporte de entorpecentes na região verificou-se após 2004, quando o governo brasileiro instituiu a política de interdição aérea, aprovada ainda em 1998. Ao que comprova o estudo, em decorrência dos efeitos da nova lei, a Força Aérea Brasileira (FAB) foi autorizada a abater aeronaves suspeitas de transportar drogas vindas dos países vizinhos. Assim, a migração para os rios foi uma estratégia dos criminosos para fugir da fiscalização policial.
Nesse meio tempo, o crime organizado contaminou a região. Nenhuma cidade (micro, pequena, média ou grande) escapa do registro de inimagináveis (até 20, 30 anos atrás) crimes com o selo do tráfico de entorpecentes. Estudos demonstram que entre 1996 e 2004, a média da taxa de homicídios de pessoas acima de 1 ano era de 3,7 por 100 mil habitantes, número que saltou para vertiginoso 34 homicídios a cada 100 mil habitantes em 2024, um crescimento extraordinário de 819%. Crescem absurdamente os índices de violência e de investigações sobre crimes correlatos, à exemplo do garimpo ilegal e lavagem de dinheiro. De acordo com o Fórum Cartografias da Violência na Amazônia, em 2023 o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) encaminhou 3.615 relatórios de inteligência financeira para autoridades dos estados que compõem a Amazônia Legal, que inclui partes de Mato Grosso, Tocantins e Maranhão.
Sobre o autor
Osíris M. Araújo da Silva é economista, escritor, membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA) e da Associação Comercial do Amazonas (ACA).
Imersão na Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, em 2024, foi um passo para a realização do mapeamento das bioindústrias. Foto: Divulgação
Pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais (PPGCFA), da Universidade Federal do Tocantins (UFT), participam de um projeto para fortalecer a bioeconomia na Amazônia Legal. A iniciativa é resultado de uma cooperação técnica firmada em 2024 entre o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI).
O projeto mapeia indústrias que atuam na região com foco em bioprodutos, extrativismo, agricultura familiar, tecnologias verdes e insumos naturais.
Ao longo do processo, foram identificados cerca de 11 mil empreendimentos nos nove estados da Amazônia Legal, revelando a diversidade das cadeias produtivas da sociobiodiversidade, além de lacunas e oportunidades estratégicas para impulsionar a bioeconomia regional.
Na primeira fase, a equipe reuniu dados secundários. Agora, a pesquisa entra na etapa de coleta de dados primários, diretamente com os empreendedores.
Essa fase é essencial para refinar o diagnóstico, com informações sobre produtos, processos produtivos, desafios como acesso a crédito e infraestrutura e potencialidades locais.
O mestrando Gustavo Ferreira Amaral, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais e Ambientais, destacou o papel da Universidade na iniciativa.
“A Universidade Federal do Tocantins tem um papel central nesse processo, não apenas por ser uma instituição de ensino e pesquisa, mas por ser um dos pilares do ecossistema de ciência, tecnologia e inovação voltado à bioeconomia no estado. A UFT forma profissionais, desenvolve tecnologias, abriga incubadoras e é ponte entre o conhecimento científico e a realidade das comunidades e empreendimentos locais protagonizados por mulheres, povos indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais e agricultura familiar”, afirmou.
Gustavo também destacou a importância da atuação da universidade em iniciativas que contribuem para modelos de desenvolvimento mais sustentáveis:
“Projetos como este mostram como a universidade pode e deve ser protagonista na transição para modelos de desenvolvimento mais sustentáveis e inclusivos, especialmente em territórios como o Tocantins, que estão entre biomas estratégicos e guardam uma biodiversidade única. Participar dessa iniciativa tem sido uma experiência transformadora e reafirma o potencial que temos em construir soluções a partir da própria Amazônia Legal”.
Fotografia aérea da usina de biometano de Manaus. Foto: CTTR Amazônia
Capital do estado do Amazonas, Manaus,é uma das cidades brasileiras que mais gera resíduos sólidos, com uma produção diária de 1 kg por habitante. Segundo a Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema), o problema do lixo não é exclusivo do município amazonense mais populoso: o estado como um todo apresenta um dos maiores índices de uso de lixões, com quase 92% de suas cidades descartando seus detritos dessa forma. Em estados como São Paulo e Santa Catarina, a taxa não chega a 3%.
A prática resulta em um acúmulo de resíduos poluentes que, além de criar problemas socioeconômicos e logísticos, contamina o solo em territórios amazônicos, acendendo diversos alertas ambientais.
A transição energética, agora, pode ter a solução.
Atualmente, o mesmo lixo que preocupa especialistas no Amazonas pode se tornar um importante aliado na corrida nacional contra as emissões poluentes, graças à futura operação do Centro de Tratamento e Transformação de Resíduos (CTTR) Amazonas. Com estrutura inaugurada em 2024, o CTTR de Manaus é a primeira usina de biometano do estado.
A instalação buscará transformar o material descartado pelo ser humano em biometano, chamado de “gás verde” por seu alto potencial de descarbonização. A captura desse energético gasoso vem da decomposição da matéria orgânica — uma vez coletado, o metano é convertido em biogás, que depois é purificado até chegar em sua versão final. Estima-se que o elemento emita até 2,5 vezes menos CO2 do que o gás natural.
O empreendimento deve iniciar as operações em 2028, data prevista para a transferência da gestão de tratamento dos resíduos para o novo aterro sanitário vinculado ao centro de tratamento. A futura produção diária de gás verde é estimada em 80 mil m³, o suficiente para abastecer 179 mil residências, segundo projeções de representantes do setor. Quando alcançar pleno funcionamento, o centro terá a capacidade de produzir 41 milhões de m³ de biometano por ano.
O biometano e o gás natural têm estruturas moleculares semelhantes, o que os aproxima em termos de infraestrutura de distribuição. Isso torna o gás produzido pelo CTTR um elemento estratégico para os esforços nacionais de descarbonização — uma meta que segue desafiadora. “O metro cúbico de biometano reduz 90% das emissões de gás carbônico caso substitua o gás natural. O número pode ser ainda maior se a substituição envolver o diesel. É uma molécula energética muito valiosa”, diz o economista Gustavo Soares, pós-doutorando na área de Bioenergia pela Universidade Federal Fluminense (UFF), em entrevista à Mongabay.
A iniciativa manauara pode atrair a atenção do mundo em 2025. Isso é possível à medida que as discussões sobre transição energética aumentam a meses da COP30, marcada para o próximo mês de novembro em Belém, outra capital do Norte brasileiro. No embalo da cúpula do clima da ONU, a região amazônica pode encontrar caminhos para aliar dois pilares importantes de desenvolvimento: sustentabilidade e soberania energética.
Mas, para atingir esse objetivo, o debate ambiental em fóruns globais deve ser plural, uma vez que “o problema não é só a floresta [amazônica]”, diz Pedro Maranhão, presidente da Abrema.
“O Brasil ainda possui 3 mil lixões [a céu aberto]. São muitas fontes de água contaminadas, em sua maioria pela falta de uma destinação correta do lixo. É preciso que se fale sobre o tratamento de resíduos sólidos e do gás verde”.
Um raio-x do biometano no Amazonas
Os resíduos sólidos são a principal fonte do biometano produzido no Amazonas — mas não a única. Segundo Vinícius Magno, chefe de Energia do Instituto Conecthus, à frente de projetos tecnológicos para impulsionar o desenvolvimento sustentável em Manaus, há outras duas alternativas que podem abastecer o setor de biogás de forma eficiente.
“As vísceras do peixe são uma poderosa matéria-prima para a produção de biometano. Podem ser consideradas o segundo [melhor insumo]”. O engenheiro diz que o estado pode se beneficiar da piscicultura por se destacar nacionalmente no setor. Em 2024, apenas a produção do tambaqui (Colossoma Macropomum), um dos peixes mais tradicionais da Amazônia, superou 17 mil toneladas, de acordo com o Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (Idam).
O ramo de biogás conta com outro aliado: a cana-de-açúcar. “Os resíduos da indústria açucareira também servem para se produzir biometano e buscar a descarbonização”, diz Magno. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o estado produziu quase 358 mil toneladas de cana somente em 2023. Parte dessa estrutura produtiva está localizada no município de Presidente Figueiredo, a 125 km de Manaus, onde operam empresas do ramo de bebidas alcoólicas. A proximidade entre o pequeno município e a capital poderia facilitar a destinação das sobras de cana para o CTTR.
A matriz energética de Manaus é abastecida primordialmente pelo gás natural produzido em Coari, município que fica a cerca de 363 km. O gás que vai para a capital é levado por um gasoduto — e por ser de fluxo contínuo, não pode ser armazenado.
Magno diz que esse modelo de distribuição traz alguns riscos. “Se houver algum tipo de interrupção na produção em Coari, o gasoduto para. Isso diminui a geração de energia elétrica. O Polo Industrial de Manaus, que precisa de gás natural para funcionar, pode deixar de operar”. A crise desencadeada por um eventual quadro de abastecimento pode ir além da capital: segundo a Agência Amazonas, em 2024 houve um consumo recorde dessa fonte de energia fóssil em todo o estado.
Diante dessa realidade, o engenheiro diz que a produção de biometano pode criar uma solução dupla, aliando práticas de descarbonização a futuras “reservas energéticas de segurança”.
O engenheiro Vinícius Magno, do Instituto Conecthus, no laboratório que estuda o biometano. Foto: Adriana Amâncio
Segundo o especialista, a insegurança energética é ainda maior fora de Manaus. O estado tem 62 municípios e não há um padrão na estrutura de energia — muitos contam com sistemas isolados, o que mantém cidades inteiras sem acesso a linhas de transmissão. Os casos mais críticos são detectados em regiões extremas do território estadual, no norte e no sul. “Cerca de 89% dos municípios amazonenses estão fora do Sistema Elétrico Nacional”, diz Magno. Mais ainda, a maior parte dessas cidades depende da atividade de 121 usinas termelétricas, por sua vez altamente dependentes da queima de combustíveis, como o diesel. Para piorar, essa dinâmica, naturalmente poluente, é afetada em períodos de estiagem.
“Quando os rios secam, é inviável abastecer as termelétricas. Muitos municípios ficam descobertos [de fornecimento elétrico]. Ao mesmo tempo, [esses mesmos locais] produzem resíduos que, se transformados em biometano, podem ajudar a descarbonizar o setor, além de aumentar a confiabilidade energética nessas regiões”, diz Magno.
Apesar das perspectivas positivas, representantes da categoria trazem uma visão pragmática. “Não vamos concorrer com o petróleo. Nós [o setor do biometano] somos parte integrante do processo de transição energética. O biometano é o agente de descarbonização do gás [vindo do] petróleo”, diz Hugo Nery, presidente da Marquise Ambiental, empresa de soluções ambientais responsável pela administração do CTTR.
Para Nery, ainda que o biometano seja uma “excelente alternativa”, o gás verde não poderá, sozinho, tornar-se um agente substituto dos combustíveis fósseis.
Ao menos, por enquanto.
Da coleta do lixo ao processo de distribuição: o caminho do gás verde
A produção do biometano começa com a coleta dos resíduos sólidos. Esse material chega aos aterros ainda misturado, reunindo a matéria orgânica com sobras de papel, metal e plástico. A primeira etapa consiste na separação do que de fato é orgânico — processo fundamental para descontaminar o gás antes de sua distribuição. Essa “limpeza” é necessária à medida que parte dos resíduos pode conter resquícios de medicamentos, inseticidas ou outros produtos químicos contaminantes.
No futuro, o processo pode ser facilitado caso os resíduos cheguem aos aterros já separados, otimizando o tempo, reduzindo custos e potencializando a produção.
Há, no entanto, um longo caminho a ser percorrido. O volume de biometano desejado pelo setor só se tornará viável em 2031, pelo menos três anos após o início das atividades do CTTR. Esse é o período necessário para que a empresa acumule uma quantidade suficiente de biogás a ser convertido em biometano. Concluída essa etapa, é previsto que a Companhia de Gás do Amazonas (Cigás) leve o produto ao cliente final. Em 2025, o centro e a Cigás já discutem a construção de um gasoduto extra que insira o biometano na rede de distribuição que está em funcionamento.
Outros avanços ambientais indiretos são previstos no processo. Além da estrutura produtiva de biogás, a planta de Manaus contará com um sistema de osmose reversa, que transforma o chorume — líquido que resulta da decomposição de matéria orgânica — em água de reúso. “Com o uso de nanotecnologia, o chorume será transformado em água desmineralizada, que pode ser utilizada na limpeza de equipamentos industriais, por exemplo. A usina deve produzir cerca de 1 mil m³ de água de reúso por dia”, diz Thiago Levy, diretor comercial da Marquise Ambiental.
Estrutura do CTTR destinada à água desmineralizada que vem do tratamento do chorume. O líquido escuro que sai do lixo é filtrado por nanotecnologia, gerando água de reúso. Foto: Adriana Amâncio
O que ainda falta para iniciar a produção
Localizado a 40 km da região central de Manaus, o CTTR ocupa uma área de 140 hectares, antes utilizada por uma rede de extração ilegal de areia. Diante dos possíveis impactos ambientais dessa atividade, o terreno passou por um processo de restauração florestal antes do início das obras.
O CTTR já possui licenciamento ambiental para operar. Ainda depende, no entanto, que a prefeitura transfira a administração da coleta de lixo e o tratamento dos resíduos para o aterro sanitário vinculado à usina. Esse aterro, o principal da capital, atingiu o tempo de vida útil em janeiro de 2024, após 40 anos de operação — mas, em vez de ser desativado, conseguiu autorização para operar até 2028.
A assessoria de imprensa da Marquise Ambiental, futura administradora do CTTR, informou que “todas as etapas do processo foram fiscalizadas por técnicos do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam), com laudos independentes e pareceres emitidos pelo Tribunal de Contas do Estado do Amazonas que atestam a legalidade, viabilidade e segurança ambiental do empreendimento”.
Ainda segundo a assessoria, em respeito ao Código Florestal do Brasil, foi estabelecida uma distância de 200 metros entre o perímetro da usina e o Igarapé do Leão, um importante curso hídrico que deságua no Rio Tarumã-Açu, um dos principais afluentes do Rio Negro. O tópico é sensível, uma vez que a construção de estruturas de armazenamento de lixo próximas ao igarapé já foi tema de denúncias por parte do poder público em anos recentes.
A Mongabay entrou em contato com a Prefeitura de Manaus para entender o que falta para a assinatura do contrato que transfere o tratamento dos resíduos para o aterro da CTTR Amazonas. A reportagem também perguntou se o contrato que confere à prefeitura o direito de administrar os resíduos será cumprido até 2028 — ou se os prazos podem ser modificados, de forma a acelerar o início da produção de biometano.
Já o Ipaam foi questionado sobre os riscos, caso existam, que as obras do CTTR impõem à qualidade da água do igarapé. Até o fechamento deste material, o instituto e a prefeitura não haviam respondido às perguntas enviadas por e-mail.
A Marquise Ambiental, por sua vez, aposta em sua experiência no setor para levar o projeto adiante. A empresa participou da criação da GNR Fortaleza, primeira planta de biometano das regiões Norte e Nordeste. Com sete anos de operação, a unidade localizada na capital cearense é responsável por 31,6% do biometano produzido no Brasil e fornece 15% de todo o gás consumido no estado do Ceará. A produção utiliza os resíduos sólidos vindos de Fortaleza e Caucaia.
Área impermeabilizada da CTTR Amazonas que receberá camadas de argila, depositadas sob os resíduos sólidos. A estrutura é utilizada para evitar que o lixo entre em contato direto com o solo. Foto: Adriana Amâncio
Brasil tem cenário favorável para expandir produção, mas desafios seguem
Segundo o painel dinâmico de produtores de biometano da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, a ANP, a produção de biogás no Brasil em 2024 foi de 81,5 milhões de m³. Para o economista Gustavo Soares, os números são animadores, sobretudo ao se considerar a vasta biodiversidade e base agrícola sólida do país — cujas sobras podem “alimentar” essa estrutura.
Os setores de etanol, resíduos sólidos e agropecuária estão entre os maiores potenciais fornecedores de matéria-prima para a produção de biometano. No médio prazo, para que a estrutura de biogás se beneficie dessa oferta de resíduos, o investimento em logística e infraestrutura será fundamental para superar desafios, diz Soares.
“Há também um grande potencial [de uso para a indústria de biometano] no esterco animal, considerando a grande população utilizada do Brasil. Os bois, no entanto, estão no pasto, o que gera desafios econômicos e biológicos”.
Para ele, iniciativas de incentivo aos biocombustíveis serão cruciais para a expansão do setor. Entre elas está a RenovaBio. Criada em 2017, a medida se baseia em compromissos climáticos internacionais de redução de gases poluentes e exige que empresas distribuidoras de combustíveis comprem os Créditos de Descarbonização (CBIO). O título corresponde a uma tonelada de carbono que deixa de ser emitida para a atmosfera.
Outra ação com potencial de fomento é o Combustível do Futuro, programa que promove a transição para fontes de energia mais limpas e renováveis. A partir dela, as distribuidoras de combustíveis devem comprar anualmente uma quantidade de biometano suficiente para descarbonizar sua matriz em cerca de 1% — parte de uma meta que busca incorporar 10% de gases verdes ao gás natural disponível no mercado brasileiro.
“O objetivo é descarbonizar o setor de combustíveis fósseis e valorizar a característica ambiental do biometano. Grandes emissores [de gases poluentes], como as indústrias química e siderúrgica, além das empresas [produtoras] de alumínio, serão obrigadas a alcançar uma meta de descarbonização. O biometano é uma excelente alternativa”, diz Soares.
Eficiência energética pode potencializar ganhos do biometano
A adoção de energias renováveis é um passo importante para redução das emissões em escala mundial. Felipe Barcellos, especialista em biometano do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), vai além: para ele, essa tendência pode ser potencializada se for aliada à eficiência energética.
Em resumo, “eficiência energética” significa produzir mais com menos recursos — como iluminar o mesmo número de ambientes de uma casa com menos lâmpadas, consumindo menos eletricidade.
Para Barcellos, essa pode ser a chave para a otimização. “É importante que tanto as usinas que buscam produzir biometano quanto os aparelhos eletrônicos que vão consumir essa energia sejam modelos eficientes — demandando menos biometano [de forma geral]. Esse é o melhor dos mundos: combinar biometano, energia renovável e eficiência energética”.
O pesquisador diz que essas práticas favorecem a cultura de consumo consciente e, no longo prazo, podem reduzir as pequenas emissões que fazem parte do ciclo natural do biometano. “O biometano é um gás verde que tem CO2 de origem neutra. Porém, como todo gás queimado, ele emite outros gases poluentes em pequena quantidade. Com a eficiência energética, esse impacto também pode ser reduzido.”
A reportagem visitou as instalações do CTTR Amazonas a convite da Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente (Abrema).
*O conteúdo foi originalmente publicado pela Mongabay, escrito por Adriana Amâncio
Após seis anos de pausa, o Festival Folclórico de Codajás retorna no Amazonas. Nos 1º e 2 de agosto, o município de Codajás se transformou no palco da 12ª edição de um dos mais tradicionais eventos culturais da região. O tema, ‘O resgate e a valorização da cultura popular codajaense’, vai de encontro a busca do evento em 2025: reforçar a identidade cultural local.
A proposta é fortalecer a identidade local por meio da arte, da tradição e da participação ativa da comunidade. O evento conta com o apoio do Governo do Amazonas, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa e do Conselho Estadual de Cultura, além de ter apoio do Governo Federal, através da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB).
Organizado pelo Instituto Puxirum de Educação e Cultura — organização local dedicada à educação, inclusão e valorização da cultura amazônica — e sob a coordenação do produtor cultural Mário Fernando da Silva Santos, o evento conta com novidades, como o 1º Concurso Municipal de Quadrilhas de Bairro.
“Este evento é mais do que uma festa: é um movimento de resistência cultural, um espaço onde os bairros mostram sua força criativa, suas cores, suas vozes. Dessa maneira, reforçamos a importância do puxirum, ou seja, da construção coletiva para fazer cultura no Amazonas”, afirmou Mário Fernando, coordenador geral do projeto.
Fotos: Divulgação
Além de ser um momento importante de celebração cultural, o festival também tem impacto direto na economia local. Para Silvio Barros, coordenador de produção, o evento beneficia diversos setores.
“O festival é importante e necessário, pois além de celebrar nossa cultura popular, ainda movimenta a economia do município de Codajás. É um projeto onde todos ganham: os artistas, os comerciantes e a comunidade”, destacou.
Fotos: Divulgação
Durante os dois dias de festival em 2025, com entrada gratuita, o público acompanha uma programação diversificada, que inclui:
Apresentações das Quadrilhas Juninas Eldorado e Rosa de Anil
Evento precede a 4ª Marcha das Mulheres Indígenas. Foto: Fábio Rodrigues-Pozzebom/Acervo Agência Brasil
Brasília sedia, entre os dias 4 e 6 de agosto, a 1ª Conferência Nacional das Mulheres Indígenas. Com o tema ‘Mulheres Guardiãs do Planeta pela cura da Terra’, o evento tem a expectativa de reunir cerca de 5 mil mulheres indígenas dos seis biomas brasileiros na capital federal. Durante o encontro, serão entregues pelo Governo Federal políticas públicas específicas e diferenciadas com foco nesse público.
A Conferência é coordenada pelo Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e pelo Ministério das Mulheres (MMulheres), e tem o apoio da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (ANMIGA).
As ministras dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, e das Mulheres, Márcia Lopes, participam da abertura do evento, na segunda-feira (4), na Tenda da Plenária.
O evento é realizado após sete etapas regionais prévias para ampla consulta e colaboração de mulheres indígenas de todas as regiões do país às políticas públicas propostas.
Durante os três dias de evento, das 9h às 19h, serão realizados debates divididos em cinco eixos temáticos:
Direito e Gestão Territorial,
Emergência Climática,
Políticas Públicas e Violência de Gênero,
Saúde,
e Educação e transmissão de saberes ancestrais para o bem viver.
Ao final, as demandas e propostas das mulheres indígenas participantes serão entregues ao Governo Federal. No encerramento da Conferência, está prevista a entrega de um pacote de políticas públicas com foco nas mulheres indígenas pelo Governo Federal.
A Conferência Nacional das Mulheres Indígenas precede a realização da IV Marcha das Mulheres Indígenas, que será realizada no dia 7 de agosto. Com o lema ‘Nosso corpo, nosso território: somos as guardiãs do planeta’, o movimento pretende ter, como produto final, um plano nacional de políticas públicas para mulheres indígenas. São esperadas pelos menos 5 mil mulheres de cerca de 100 etnias para a marcha até o Congresso Nacional, onde está previsto ato político cultural, às 14h.
A mobilização para a marcha começou neste sábado (2). Este é o maior encontro de mulheres indígenas do Brasil, que ocorre a cada dois anos, em Brasília.
Com programação até 8 de agosto, o evento contará com mesas temáticas e atos públicos, além da Conferência Nacional.
Momento decisivo
Para os organizadores, a marcha ocorre em um momento decisivo, já que o presidente Lula tem até o dia 8 de agosto para sancionar ou vetar o projeto de lei que reduz exigências para o licenciamento ambiental no país. Conhecido como ‘PL da devastação’, a nova Lei de Licenciamento Ambiental pode impactar diretamente povos tradicionais por, entre outros, excluir a participação de órgãos como a Funai em projetos que afetam territórios não homologados.
No centro da marcha há também um apelo por direitos iguais para mulheres indígenas em áreas como saúde, educação e oportunidades econômicas.
Silvana Terena, da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade, ressalta que mulheres indígenas que vivem em contexto urbano em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, participarão pela primeira vez da marcha e desejam somar experiências e apresentar reinvindicações com as lideranças que vivem nos territórios.
“A importância de levar a nossa voz, falar das nossas pautas, as nossas necessidades e as nossas representatividades. Essa é a importância desse grande ponto de liderança, as mulheres que representam o nosso Brasil. Nós somos a matriz cultural deste país”, destaca.
A primeira marcha de mulheres indígenas aconteceu em 2019 e reuniu mais de duas mil mulheres de diferentes povos, territórios e biomas. Na última edição, em 2023, mais de seis mil mulheres indígenas se reuniram em Brasília, segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil.
Projeto da ponte entre Brasil e Bolívia. Foto: Divulgação/Ministério dos Transportes
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) anunciou que o Consórcio Mamoré venceu a licitação para a construção da ponte binacional que vai ligar Guajará-Mirim (RO) à cidade boliviana de Guayaramerin.
O processo licitatório estava suspenso pelo Tribunal de Contas da União (TCU) desde outubro do ano passado. Segundo o DNIT, o valor da obra foi fixado em R$ 421 milhões.
A licitação, publicada no Diário Oficial da União em novembro de 2023, inclui a elaboração dos projetos básico e executivo, além da construção da ponte, dos acessos e do complexo de fronteira. A estrutura, com 1,22 km de extensão, vai passar sobre o rio Mamoré.
A construção da ponte faz parte de um acordo centenário entre Brasil e Bolívia para a integração dos países, e integra o Novo Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC) do Governo Federal.
A assinatura foi feita na sede do Ministério dos Transportes, em Brasília (DF). Estiveram presentes representantes do governo da Bolívia, o prefeito de Guayaramerín e parlamentares de Rondônia.
“Tendo uma empresa vencedora, ela terá a responsabilidade de elaborar o projeto e de, em até seis meses, iniciar as obras. O período previsto para a execução das obras é de 2 anos e meio a 3 anos. É uma obra que vai integrar o desenvolvimento do Norte do Brasil, do Centro-Oeste também, ao desenvolvimento da Bolívia e criar um corredor capaz de chegar ao Chile e ao Peru, que vai ser muito importante para a integração regional”, explica o ministro Renan Filho.
Além da importância estratégica para o Brasil, que passará a contar com um corredor logístico para o oceano Pacífico, a ponte também tem potencial de impulsionar as trocas comerciais com Rondônia.
Da Bolívia, o Brasil poderá importar principalmente lítio, usado em baterias e produtos usados na agricultura, como destacou o ministro de Obras Públicas da Bolívia.
A estrutura terá 1,22 km de extensão sobre o rio Mamoré e integra o Novo Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC), com investimento de R$ 421 milhões.
Perguntas frequentes sobre a Ponte Binacional
1. Qual empresa venceu a licitação da ponte entre Brasil e Bolívia?
O Consórcio Mamoré foi o vencedor da licitação para construir a ponte binacional.
2. Qual será o custo total da obra?
O valor da construção foi fixado em R$ 421 milhões, incluindo projeto básico, executivo, acessos e complexo de fronteira.
3. Onde será construída a ponte?
A ponte ligará Guajará-Mirim, em Rondônia (Brasil), à cidade boliviana de Guayaramerín, cruzando o rio Mamoré.
4. Qual é a extensão da ponte?
A estrutura terá 1,22 km de extensão sobre o rio, com previsão de acessos terrestres adicionais.
5. Quando as obras devem começar?
A empresa vencedora tem até seis meses para iniciar as obras após a assinatura do contrato.
6. Qual é o prazo estimado para conclusão?
A previsão é de 2 anos e meio a 3 anos para a conclusão total da ponte.
7. Qual a importância estratégica da ponte?
A ponte criará um corredor logístico entre Brasil, Bolívia, Chile e Peru, facilitando exportações e integração regional.
8. Quais produtos o Brasil poderá importar da Bolívia?
Principalmente lítio, sal para o gado e produtos exóticos agrícolas, segundo o governo boliviano.
9. A obra faz parte de algum programa federal?
Sim, integra o Novo Programa de Aceleração do Crescimento (Novo PAC) do Governo Federal.