Turismo de pesca movimenta a Amazônia. Foto: AmazonsaTur
Entre os meses de setembro e março, o interior do Amazonas, especialmente os municípios de Barcelos e Santa Isabel do Rio Negro, no alto rio negro, se transforma em um dos destinos mais procurados por praticantes da pesca esportiva no Brasil e no mundo. A região é considerada o principal polo nacional de pesca do tucunaré, peixe símbolo da modalidade pesque-e-solte, que valoriza o contato com a natureza e a preservação da biodiversidade local.
De acordo com a Associação Brasileira de Pesca Esportiva (ABAPE), a atividade movimenta mais de R$ 2 bilhões ao ano no país, com o Amazonas liderando em atratividade para turistas estrangeiros e brasileiros de alto poder aquisitivo. Em 2023, o município de Barcelos, a 436 quilômetros de Manaus, recebeu mais de 10 mil visitantes voltados exclusivamente à pesca, segundo estimativas do setor.
Mas o impacto do turismo vai além dos rios. A capital, Manaus, principal porta de entrada para os viajantes, também se beneficia diretamente, especialmente por meio da gastronomia regional. Restaurantes especializados em peixes amazônicos vêm se consolidando como parada obrigatória na jornada desses turistas.
O Grupo Engenho, que atua tanto com experiências imersivas de sabores regionais quanto com pratos de alto padrão. Com uma proposta sustentável, optou por não incluir o tucunaré no cardápio, respeitando o ciclo da pesca esportiva.
O Grupo Engenho optou por não incluir o tucunaré no cardápio, respeitando o ciclo de turismo de pesca. Foto: Grupo Engenho
“É uma escolha ética e simbólica. O tucunaré é o peixe que nossos visitantes vêm buscar nos rios, praticando a pesca esportiva com devolução. Não faria sentido servi-lo em nossos pratos. Em vez disso, valorizamos outras espécies manejadas de forma consciente, como o tambaqui, aruanã, matrinxã e pirarucu”, explica Sidnei Dutra, diretor do Grupo Engenho.
A prática, segundo o empresário, tem sido bem recebida por clientes que se preocupam com o impacto ambiental de suas escolhas. Muitos, inclusive, chegam à região interessados em experiências que alinhem natureza, sabores e responsabilidade socioambiental.
O modelo de atuação do Grupo Engenho vai ao encontro das tendências globais de turismo responsável, especialmente em um momento em que a Amazônia ganha protagonismo nas discussões sobre clima, biodiversidade e bioeconomia.
O Grupo Engenho optou por não incluir o tucunaré no cardápio, respeitando o ciclo da pesca esportiva. Foto: Grupo Engenho
Com a realização da COP30 em novembro, em Belém (PA), cresce o interesse internacional por experiências sustentáveis na região. E o turismo de pesca – com sua dinâmica de baixo impacto, geração de renda local e valorização dos saberes da floresta – emerge como exemplo positivo.
“O turista que pesca o tucunaré e devolve ao rio não leva só uma foto de recordação. Ele leva uma nova percepção de mundo. Isso gera engajamento, gera cuidado com a floresta, e muitas vezes, fideliza o visitante”, afirma Rogério Perdiz, diretor do Grupo Engenho.
Dados do setor indicam que o ticket médio de um turista de pesca esportiva é até três vezes superior ao do turismo tradicional, o que fortalece economias locais, fomenta a cadeia gastronômica e incentiva a criação de empregos em regiões remotas.
Combinando vivência, sabor e propósito, a Amazônia se consolida como destino de alto padrão para viajantes em busca de experiências transformadoras. E iniciativas como a do Grupo Engenho ajudam a provar que preservar pode ser também um excelente negócio.
A Glocal Amazônia 2025 segue com os debates de temas fundamentais para a formação social do amazônida. Na sexta-feira (29) o evento promoveu a masterclass ‘Criatividade com Propósito: Publicidade a Serviço das ODS’, discutindo como o setor publicitário pode ser um instrumento de transformação alinhado aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidades (ONU), que compõem a Agenda 2030.
A palestra reuniu profissionais do Grupo Dreamers e da agência Artplan, que compartilharam experiências e cases de sucesso.
Débora Moura, head de Diversidade & Inclusão do grupo, ressaltou que as ODS podem orientar qualquer trabalho de comunicação.
“Quando nos inspiramos nas ODS, conseguimos transformar um briefing em algo que realmente gera impacto. É uma forma de aproximar o público do universo publicitário e mostrar situações em que a publicidade fez a diferença”, afirmou.
Cláudia Scott, líder do Grupo de Responsabilidade Social do Grupo Dreamers, destacou que os ODS não se limitam apenas à sustentabilidade ambiental.
“Muita gente associa o termo apenas a práticas sustentáveis, mas as ODS também têm um forte viés social. Trouxemos exemplos que mostram como é possível conectar pessoas e gerar oportunidades reais”, explicou.
Durante sua apresentação, Claudia apresentou o projeto ‘Futuros Sonhadores’, que há três anos apoia uma escola técnica pública do Rio de Janeiro voltada à formação em publicidade. Segundo ela, o simples contato dos alunos com profissionais do setor reduziu a evasão escolar de 14% para 0% já no primeiro ano de parceria.
Yuri Alcântara, diretor de Planejamento e Estratégia da Artplan, reforçou a importância do alinhamento entre propósito e estratégia.
“ODS e planejamento é um casamento perfeito. É no planejamento que identificamos os grandes insights, cruzamos dados e encontramos tensões que podem guiar a criação para desenvolver campanhas com propósito”, disse.
A masterclass mostrou que, mais do que vender produtos, a publicidade pode inspirar mudanças sociais e ambientais, tornando-se uma ferramenta essencial para alcançar as metas globais da Agenda 2030.
Foto: Thay Araújo
O que são ODS?
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são 17 metas globais estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015, como parte da Agenda 2030, para acabar com a pobreza, proteger o planeta e garantir que todas as pessoas possam desfrutar de paz e prosperidade até o ano de 2030.
Eles abrangem diversas áreas como erradicação da pobreza e fome, saúde e educação de qualidade, igualdade de gênero, água potável, energia limpa, crescimento econômico e ação climática, e são um plano de ação para governos, empresas e cidadãos.
Oficinas da Glocal reúnem debates sobre moda amazônica e turismo regenerativo em Manaus
Oficinas da Glocal também focam em sustentabilidade
Já no último dia do evento, neste sábado (30), a programação incluiu mais duas oficinas com foco em sustentabilidade e também em inovação.
As atividades abordaram ‘Moda Amazônica’, conduzida pelo estilista Lucas Melquids, e ‘Turismo Regenerativo’, apresentada pela especialista Mariana Madureira.
A Glocal, que se consolida como um espaço de troca de experiências sobre a Amazônia, trouxe ao público reflexões sobre como diferentes áreas, como a moda e o turismo, podem atuar de forma mais consciente, promovendo valorização cultural e respeito ao meio ambiente.
Foto: Hector Muniz/Portal Amazônia
Durante sua oficina, Lucas Melquids destacou a moda como um instrumento de transformação social e cultural, ressaltando a importância de repensar os padrões de consumo. Para ele, a sustentabilidade deve estar presente em todas as etapas do processo criativo.
“O meu trabalho é fazer com que a moda seja uma ferramenta social, valorizando a cultura amazônica e, ao mesmo tempo, mostrando que esse valor precisa ser reconhecido fora daqui também. Quando falamos de sustentabilidade, é importante lembrar que a moda é um dos setores que mais poluem. E, por estarmos na Amazônia, temos ainda mais responsabilidade de pensar em soluções sustentáveis para esse mercado”, afirmou.
Em outra sala, Mariana Madureira conduziu a oficina sobre turismo regenerativo, conceito que vai além da sustentabilidade ao propor a recuperação de áreas e comunidades impactadas pela atividade turística.
Ela explicou como o setor pode se tornar um aliado na preservação ambiental e no fortalecimento de saberes tradicionais.
“O turismo regenerativo parte da ideia de reconstruir territórios e relações que foram degradados. Isso envolve populações indígenas, quilombolas, ribeirinhas e caboclas, que são fundamentais na manutenção desses espaços. É essencial que quem trabalha com turismo compreenda esses conceitos para não cair no uso superficial de termos, mas sim aplicar práticas reais que gerem impacto positivo”, destacou.
Foto: Hector Muniz/Portal Amazônia
As oficinas da Glocal mostraram como diferentes áreas do conhecimento podem convergir para um mesmo objetivo: encontrar caminhos que integrem desenvolvimento econômico, valorização cultural e preservação ambiental, fortalecendo a Amazônia como um polo de referência em sustentabilidade.
O último painel da Glocal Amazônia 2025, realizado em Manaus (AM), trouxe para o centro do debate a ilha tupinambarana e seu maior símbolo cultural: o Festival Folclórico de Parintins. Com o tema ‘Uma Parintins mais Sustentável’, a discussão mostrou como turismo, cultura e meio ambiente precisam caminhar lado a lado no presente e no futuro da cidade.
O painel foi mediado por Malu Sevieri, Head da Glocal na Dream Factory, que ressaltou a importância de enxergar o festival como uma vitrine da Amazônia para o mundo.
“Parintins é um dos pilares da cultura e turismo da região amazônica, mas não podemos pensar nisso sem sustentabilidade. A cada visita, levamos aprendizados para casa e repensamos nossos hábitos”, destacou.
Quem abriu os debates foi a secretária municipal de Turismo de Parintins, Karla Viana Ferreira, apresentando dados sobre os avanços da cidade. Entre as ações citadas, estão a ampliação do uso do triciclo como transporte sustentável durante o festival, a coleta seletiva implantada desde setembro de 2024 e projetos inovadores como a destinação de resíduos das agremiações Caprichoso e Garantido para a produção de móveis e roupas, em parceria com o Sebrae.
“Trabalhamos para implantar uma Parintins do Futuro, onde o turismo seja consciente e preserve nossa cultura”, afirmou.
Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia
Na sequência, Fabrícia Arruda, secretária executiva adjunta de Gestão Ambiental da Sema, apresentou o projeto ‘Recicla, Galera’, que há quatro anos atua no município em conjunto com a associação local de catadores. O programa promove educação ambiental, logística reversa e descarte adequado dos resíduos gerados durante o festival.
“O Festival Folclórico é um dos maiores a céu aberto do mundo e gera um volume expressivo de resíduos. Nosso trabalho é dar a destinação correta e, principalmente, conscientizar moradores e visitantes”, explicou.
Quem produz o festival também esteve presente no debate. Rivaldo Pereira, diretor de eventos do Garantido, reforçou o compromisso da agremiação com a causa. “Hoje temos no galpão pessoas dedicadas a separar e reciclar resíduos das alegorias e fantasias. É uma honra mostrar que a cultura pode caminhar junto com a sustentabilidade e servir de exemplo para o nosso povo”, disse.
Encerrando a programação da Glocal Amazônia 2025, o painel evidenciou que Parintins é mais que um festival: é uma oportunidade de repensar práticas, inspirar mudanças e colocar a sustentabilidade como protagonista do desenvolvimento cultural e turístico da Amazônia.
Migrante venezuelano chega em Pacaraima, na fronteira do Brasil com a Venezuela. Foto: Caíque Rodrigues/Rede Amazônica RR
A população de Roraima cresceu 3,07% em um ano e chegou a 738.772 mil habitantes, segundo uma nova estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada no dia 28 de agosto. O estado registrou o maior crescimento populacional do Brasil em 2025, impulsionado principalmente pela migração de venezuelanos.
Os dados consideram a contagem de pessoas até o dia 1º de julho de 2025. Se comparado ao ano anterior, o estado ganhou 21.979 novos moradores . Até a última estimativa, divulgada em 2024, ele tinha 716.793 habitantes.
Contexto da migração em Roraima
Roraima é, desde 2015, a principal porta de entrada para venezuelanos que buscam melhores condições de vida no país. Desde que a migração venezuelana para o Brasil começou, mais de 1 milhão de pessoas cruzaram a fronteira, e mais da metade permanece no país, atraída pela política brasileira de acolhimento e interiorização.
De acordo com o assessor técnico especializado do IBGE em Roraima, Eduardo Vasconcelos Garcia Frigério, o crescimento tem sido impulsionado pelo fluxo migratório e os dados apontam para uma tendência.
“[É] pelo fluxo migratório das pessoas que chegam aqui em Roraima da Venezuela. Esse fator vai continuar impactando, com certeza, porque ele apareceu no Censo [2022] e é considerado nas estimativas dos anos seguintes, a não ser que aconteça alguma coisa significativa, que exigiria outros métodos para calcular”, explicou Frigério em entrevista ao Grupo Rede Amazônica.
Migrantes venezuelanos em Pacaraima, cidade de Roraima na fronteira do Brasil com a Venezuela. Foto: Caíque Rodrigues/Rede Amazônica RR
Localizado na fronteira com a Venezuela, o município de Pacaraima registrou a maior taxa de crescimento populacional de Roraima: 4,6%. A cidade passou de 22.104 mil habitantes em 2024 para 23.112 mil neste ano.
Na sequência estão:
Uiramutã — 3,9%;
Normandia — 3,7%;
Amajari — 3,4%.
Enquanto isso, os menores crescimentos foram registrados em São Luiz, que apresentou taxa de 0,9%, Caracaraí (1,4%) e Iracema (1,5%), no Sul do estado.
Segundo os dados, Boa Vista continua sendo o município mais populoso do estado, com 485.477 mil habitantes — 65% do total da população de Roraima. Em 2024, eram 470.169 mil pessoas vivendo na capital, uma alta de 3,3% em 2025. Ela apresentou a maior taxa de crescimento entre as capitais brasileiras.
Em relação a população, Boa Vista é seguida dos municípios de Rorainópolis, com 37.787 mil habitantes; Alto Alegre, com 23.589 mil moradores; e Pacaraima, com 23.112 mil (veja a lista completa abaixo).
População por município em Roraima
Município
População 2024
População 2025
Variação (%)
Amajari
15.583
16.112
3,4%
Alto Alegre
23.049
23.589
2,3%
Boa Vista
470.169
485.477
3,3%
Bonfim
15.222
15.570
2,3%
Cantá
20.552
21.102
2,7%
Caracaraí
22.443
22.750
1,4%
Caroebe
11.708
12.004
2,5%
Iracema
10.778
10.937
1,5%
Mucajaí
19.619
20.006
2,0%
Normandia
15.744
16.323
3,7%
Pacaraima
22.104
23.112
4,6%
Rorainópolis
36.747
37.787
2,8%
São João da Baliza
9.727
9.969
2,5%
São Luiz
7.777
7.848
0,9%
Uiramutã
15.571
16.186
3,9%
Fonte: IBGE
Apesar do crescimento populacional, Roraima ainda é o estado com a menor população do país. Os mais populosos são: São Paulo, com 46.081.801 milhões de pessoas, seguido de Minas Gerais e o Rio de Janeiro, com 21.393.441 milhões e 17.223.547 milhões de habitantes, respectivamente.
Em todo o Brasil, a população é estimada em 213.421.037 de habitantes, uma alta de 0,39% em relação a última estimativa de 2024. Apesar do avanço populacional, o IBGE projeta que o número de brasileiros irá começar a encolher em 2042, seis anos antes do que era previsto até 2018.
O Censo é uma contagem de pessoas e domicílios, enquanto as estimativas englobam outros indicadores, como taxas de nascimento, mortalidade e migração. Os dados servem como referência para vários indicadores sociais, econômicos e demográficos do país.
Além disso, são um dos parâmetros utilizados pelo Tribunal de Contas da União (TCU) para o cálculo dos fundos de participações de estados e municípios — por meio dos quais a União distribui recursos.
O último dia da Glocal Amazônia em Manaus (AM), realizado neste sábado (30), trouxe à tona os desafios e oportunidades de impulsionar o turismo na região amazônica. No primeiro painel do dia, o foco foi no planejamento urbano sustentável.
O debate, intitulado ‘Impulsionando o Turismo – Urbanização e Desenvolvimento Aliados à Sustentabilidade’, reuniu representantes de instituições públicas e privadas, além de especialistas engajados na disseminação da cultura local.
Mediado por Isaque Souza, professor da Universidade Estadual do Amazonas (UEA), o encontro contou com a presença do secretário de Meio Ambiente, Eduardo Taveira; da representante da Embratur, Roselene Medeiros; da superintendente do Iphan, Beatriz Calheiro; e da integrante do Amazonas Cluster de Turismo, Vanessa Mariana.
“O turismo sustentável precisa estar no centro do planejamento urbano da Amazônia, considerando a riqueza socioambiental da região e o bem-estar das comunidades”, destacou Souza na abertura do painel.
Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia
Eduardo Taveira ressaltou os principais desafios enfrentados para desenvolver o turismo na região. Segundo ele, a infraestrutura, a logística e os custos de acesso às comunidades ainda são barreiras significativas.
“Temos trabalhado nas unidades de conservação para fortalecer o turismo de base comunitária, promovendo capacitação e investimentos. Após dez anos de aprendizados, já conseguimos incluir o turismo como uma cadeia produtiva importante em áreas como o Rio Negro, Mamirauá e São Sebastião do Atumã, onde a atividade hoje representa a principal fonte de renda das comunidades”, afirmou.
Roselene Medeiros, da Embratur, reforçou que a experiência turística na Amazônia precisa estar profundamente ligada à sustentabilidade:
“O viajante moderno busca vivências autênticas, contato real com a floresta e com as comunidades. Temos exemplos exitosos de hotéis de selva e embarcações sustentáveis, muitos apoiados por instituições como a Fundação Amazonas Sustentável [FAS], que hoje são geridos pelos próprios comunitários. Não há como dissociar turismo de sustentabilidade”.
Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia
Patrimônio Cultural e COP 30
A superintendente do Iphan, Beatriz Calheiro, destacou a importância de alinhar preservação e turismo. “É possível integrar patrimônio cultural, geração de renda e sustentabilidade. Sítios arqueológicos, patrimônios edificados e bens materiais podem impulsionar o turismo quando se garante que os benefícios também cheguem a quem vive nesses territórios. Se o turismo respeita o patrimônio, todos ganham — comunidades, visitantes e a própria região”, observou.
Vanessa Mariana, representante do Amazonas Cluster de Turismo, lembrou que eventos globais como a COP 30 serão oportunidades decisivas para fortalecer o turismo sustentável na região.
“É preciso aproximar as instituições da sociedade civil, ouvir diferentes vozes e transformar ideias em projetos. Urbanização, turismo e desenvolvimento precisam caminhar juntos para gerar crescimento econômico sem perder de vista a preservação ambiental”, afirmou.
O painel reforçou a visão de que a Amazônia tem potencial para ser referência em turismo sustentável, combinando valorização cultural, planejamento urbano responsável e geração de renda para as comunidades locais.
Turismo de experiência e sustentabilidade na Amazônia
Ainda no sábado (30), a Glocal Amazônia promoveu o painel ‘O Brasil que o Mundo Quer Visitar: Turismo de Experiência e Sustentabilidade’, que reuniu novos especialistas, representantes do poder público e empreendedores para debater os rumos do turismo na região amazônica e seus impactos no desenvolvimento sustentável.
O painel foi marcado por reflexões sobre como transformar a visita à Amazônia em uma experiência significativa para o turista, sem perder de vista a preservação da natureza e a valorização das comunidades locais.
Cristiane Barroncas, professora da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), destacou a importância da integração entre universidade, poder público e iniciativa privada.
“O painel traz reflexões sobre qual é o turismo que estamos construindo na Amazônia. Será que as pesquisas que vêm sendo desenvolvidas estão de fato contribuindo para mudar o cenário? Esse diálogo é essencial”, pontuou.
Diretamente do município de Maués, Ítalo Michiles, da Experiência Mawê, reforçou que a Glocal abre espaço para que realidades do interior do estado sejam conhecidas.
“O turismo é uma alavanca que movimenta toda a economia local. Precisamos mostrar o que cada município tem a oferecer. Muitas vezes recebemos mais visitantes de fora do que de Manaus ou das capitais da região. O interior precisa ser descoberto também por quem está mais perto”, afirmou.
Com duas décadas dedicadas ao tema, Mariana Madureira, do projeto Raízes Desenvolvimento Sustentável, lembrou que o turismo responsável deve valorizar a sociobiodiversidade. “A gente precisa usar os biomas, a ancestralidade e a cultura exuberante do Brasil para construir um diferencial. Mostrar esse Brasil é também uma forma de conservar a natureza e a cultura”, disse.
Foto: Francisco Cabral
A secretária de Turismo de Parintins, Karla Viana, trouxe a experiência do município que se torna mundialmente conhecido durante o Festival Folclórico. “Recebemos o dobro da população da ilha nessa época. É um destino de grande orgulho, mas que precisa ser tratado com cuidado. O turismo de massa exige estratégias de sustentabilidade, e já começamos esse trabalho, embora ainda seja um início que precisa ser ampliado”, declarou.
Representando a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA), Cristiano Gonçalves ressaltou o potencial das unidades de conservação para atividades turísticas. Ele apresentou iniciativas em andamento, como o turismo de pesca esportiva e o turismo de base comunitária na RDS Uatumã.
“Essas práticas são operadas pelos próprios moradores e mostram como é possível unir conservação ambiental, geração de renda e experiência diferenciada para o visitante. Precisamos chamar mais turistas para conhecer as riquezas da Amazônia”, destacou.
‘Uma Parintins mais Sustentável’
E falando em Parintins, o último painel colocou no centro do debate a ilha tupinambarana e seu maior símbolo cultural: o Festival Folclórico dos bois-bumbás Caprichoso e Garantido. Com o tema ‘Uma Parintins mais Sustentável’, a discussão mostrou como turismo, cultura e meio ambiente precisam caminhar lado a lado no presente e no futuro da cidade.
O painel foi mediado por Malu Sevieri, Head da Glocal na Dream Factory, que ressaltou a importância de enxergar o festival como uma vitrine da Amazônia para o mundo. “Parintins é um dos pilares da cultura e turismo da região amazônica, mas não podemos pensar nisso sem sustentabilidade. A cada visita, levamos aprendizados para casa e repensamos nossos hábitos”, destacou.
Quem abriu o debate foi a secretária municipal de Turismo de Parintins, Karla Viana Ferreira, apresentando dados sobre os avanços da cidade. Entre as ações citadas, estão a ampliação do uso do triciclo como transporte sustentável durante o festival, a coleta seletiva implantada desde setembro de 2024 e projetos inovadores como a destinação de resíduos das agremiações Caprichoso e Garantido para a produção de móveis e roupas, em parceria com o Sebrae.
“Trabalhamos para implantar uma Parintins do Futuro, onde o turismo seja consciente e preserve nossa cultura”, afirmou.
Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia
Na sequência, Fabrícia Arruda, secretária executiva adjunta de Gestão Ambiental da Sema, apresentou o projeto ‘Recicla, Galera’, que há quatro anos atua no município em conjunto com a associação local de catadores. O programa promove educação ambiental, logística reversa e descarte adequado dos resíduos gerados durante o festival.
“O Festival Folclórico é um dos maiores a céu aberto do mundo e gera um volume expressivo de resíduos. Nosso trabalho é dar a destinação correta e, principalmente, conscientizar moradores e visitantes”, explicou.
Quem produz o festival também esteve presente no debate. Rivaldo Pereira, diretor de eventos do Garantido, reforçou o compromisso da agremiação com a causa. “Hoje temos no galpão pessoas dedicadas a separar e reciclar resíduos das alegorias e fantasias. É uma honra mostrar que a cultura pode caminhar junto com a sustentabilidade e servir de exemplo para o nosso povo”, disse.
Encerrando a programação da Glocal Amazônia 2025, o painel evidenciou que Parintins é mais que um festival: é uma oportunidade de repensar práticas, inspirar mudanças e colocar a sustentabilidade como protagonista do desenvolvimento cultural e turístico da Amazônia.
A 54ª Expofeira do Amapá chega com uma novidade que promete facilitar a vida de expositores, visitantes e empreendedores: a oferta de internet gratuita em áreas estratégicas do Parque de Exposições da Fazendinha.
A iniciativa é fruto de uma parceria do Governo do Estado com a Você Telecom, que oferece conexão wi-fi livre via rede “Você Livre”.
O objetivo da ação é proporcionar mais acesso à informação, facilitar a comunicação e impulsionar o trabalho de quem depende da internet para vender, divulgar ou se organizar durante os dias de evento.
A conexão estará disponível nas seguintes áreas:
Praça da Bandeira
Praças de Alimentação 3, 5 e 6
Camarotes dos shows
Área dos empreendedores populares, no entorno dos palcos.
Como se conectar?
1. Ligar o Wi-Fi do aparelho celular ou dispositivo. 2. Procurar pela rede “Você Livre”. 3. Clicar na opção “continuar”. 4. Preencher os dados no cadastro rápido. 5. Pronto, você estará conectado!
Caso haja dúvidas durante o processo, os agentes da Você Telecom estarão identificados e disponíveis para orientar e auxiliar no cadastro.
Segundo Marcila Salgado, diretora comercial da Você Telecom, a ação representa um avanço importante para democratizar o acesso à tecnologia.
“Sabemos que muitas pessoas juntas podem atrapalhar o desempenho de uma operadora. Então, por que não oportunizar mais conectividade para todos? Quanto mais possibilidades de comunicação, melhor para todos os públicos da feira”, afirma Marcila.
Para um evento do porte da Expofeira, com milhares de visitantes diários, as praças digitais representam um passo importante na modernização da experiência do público. Os espaços oferecem estrutura para que, tanto a população quanto os expositores, possam se manter conectados, fazer pagamentos on-line, divulgar produtos nas redes sociais, além de facilitar o acesso a informações sobre a programação do evento.
Expofeira na Rede
A Expofeira na Rede tem o objetivo de valorizar e ampliar o impacto social, cultural, econômico e turístico da tradicional ExpoFeira do Amapá. É uma realização da Fundação Rede Amazônica (FRAM), com apoio do Grupo Equatorial, Tratalyx e Governo do Amapá.
Crianças também puderam participar da Glocal Amazônia 2025 em Manaus (AM). Pensando em um futuro sustentável, que possa atender essas crianças quando forem adultas, o evento trabalhou em seu terceiro dia, neste sábado (30), o tema ‘Turismo sustentável’.
Preparar o presente para construir o futuro foi o modo que os participantes dos debates no Palco Glocal encontraram de mostrar o que tem sido pensado de soluções para a Amazônia. Confira alguns momentos:
Foto: Thay AraújoFoto: Thay AraújoFoto: Thay AraújoFoto: Thay AraújoFoto: Thay AraújoFoto: Thay AraújoFoto: Thay AraújoFoto: Thay AraújoFoto: Thay AraújoFoto: Thay Araújo
Além dos painéis sobre meio ambiente, sustentabilidade e cultura pensando em soluções para a Amazônia, a Glocal Amazônia 2025 realizou em Manaus (AM) atividades paralelas que reforçam o bem-estar, a história da Amazônia e a identidade regional. O público pôde vivenciar desde a arte indígena e práticas de yoga até uma mostra de curtas-metragens exibidos com o auxílio da realidade virtual.
O artista Tuniel Mura levou a pintura corporal indígena para o evento, ressaltando a ancestralidade dos povos originários.
“A pintura corporal é uma forma de mostrar um pouco mais da cultura dos povos indígenas”, explicou. As pinturas utilizam tinta extraída do genipapo, que permanece na pele de sete a 15 dias. “O desenho pode ser feito em qualquer parte do corpo. Todo o conhecimento aprendi com meus pais e agora posso levar isso para os meus filhos”, contou Tuniel, reforçando a tradição passada de geração em geração.
Participantes tiveram a chance de fazer um desenho indígena com tinta produzida a partir do jenipapo, fruto típico da região. Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia
Para os apreciadores do audiovisual regional, a Glocal apresentou a Mostra de Filmes em Realidade Virtual (VR), com três produções:
‘Awavena’, de Lynette Wallworth;
‘Cipó de Jabuti – Histórias Ribeirinhas da Amazônia’, de Guilherme Novak, Rafael Bittencourt e Odenilze Ramos;
e ‘Fazedores de Floresta’, do Instituto Socioambiental.
A curadoria ficou a cargo de Clarissa Hungria, gerente de conteúdo da Glocal. “Com os curtas, o público consegue estar imerso em experiências que muitas vezes estão distantes, sentindo-se parte daquela narrativa, principalmente com o auxílio do VR [realidade virtual, em tradução livre]”, destacou.
Participantes conheceram a Amazônia através do VR. Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia
No meio da intensa programação, uma sala de bem-estar funcionou como ponto de equilíbrio para os visitantes. A instrutora Mariellen Kuma ministrou aulas de yoga voltadas para postura, equilíbrio e percepção corporal.
“Trouxemos uma prática pensando na correria do dia a dia. A yoga é uma pausa necessária. Diferente do hábito de silenciar o corpo com remédios, queremos sentir as sensações, ouvir o que o corpo comunica. Pergunto sempre sobre as dores que as pessoas já têm para conduzir a melhor aula para cada uma”, explicou.
Mariellen destacou ainda a importância da Glocal para aproximar novos públicos da prática: “Muita gente acha que yoga é só para pessoas superflexíveis. O evento fura bolhas e mostra que a prática é para todos, especialmente para quem sente dores ou vive uma rotina estressante e precisa desacelerar”.
Durante os dias de programação da Glocal Amazônia 2025, o Largo de São Sebastião, em Manaus (AM), foi transformado em uma extensão vibrante do evento. Enquanto o Palácio da Justiça abrigava painéis e oficinas, o entorno do Teatro Amazonas recebeu a Feira Criativa, batalhas de poesia, jogos interativos e um palco repleto de atrações musicais.
Sob uma estrutura coberta, a Feira Criativa reuniu 24 expositores com produtos que iam do artesanato a peças de vestuário, objetos regionais e gastronomia. Entre eles, a loja Grimório Amazônia chamou atenção com seus produtos naturais voltados ao bem-estar e à aromaterapia.
“É fundamental termos um espaço como este. Mostramos ao público a importância do norte, do natural e do regional, que sustentam famílias e negócios. A Glocal trouxe visibilidade para nossa marca e possibilitou entregas para todo o Brasil”, afirmou o empreendedor Kelson Nunes.
Feira movimentou o Largo de São Sebastião. Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia
A expositora Suh Ximenes também apostou na regionalidade para atrair clientes. “Vendemos produtos personalizados com a temática de Manaus. É uma forma de retribuir o carinho que recebemos, oferecendo arte e souvenirs que falam da cidade”, explicou.
Quem passou pelo Largo aprovou a iniciativa. A turista Fran Paula, de Mato Grosso, aproveitou para fazer compras de última hora.
“Vim a trabalho e quase não tive tempo de passear. A feira me surpreendeu, consegui conhecer muito do artesanato regional”, contou.
Já Cristina Ventura, paulista que se mudou para Manaus, viu na feira uma oportunidade de decorar a própria casa. “É uma experiência que conecta com a identidade local e aproxima da cultura manauara”, disse.
Jogos e poesia animam o público
Além das compras, o Largo de São Sebastião se tornou espaço de interação com jogos e desafios que testavam a coordenação e concentração dos participantes. “São atividades diferentes do que estamos acostumados, exigem cuidado e são muito divertidas”, afirmou o estudante Adam Azevedo.
Glocal realizou diversas atividades no entorno do Teatro Amazonas. Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia
De frente ao Teatro Amazonas, o palco do Slam de Poesia reuniu vozes, rimas e resistência em batalhas performáticas. O apresentador Leonardo Matheus destacou o cenário especial.
“Estar diante de um dos ícones da cidade torna a experiência ainda mais mágica. Aqui, vemos desafios e pessoas apaixonadas pela poesia falada”, disse.
Palco do Slam de Poesia. Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia
Muita música
As noites foram marcadas por apresentações musicais que celebraram a diversidade cultural do Amazonas. O cantor Uendel Pinheiro e o Boi Caprichoso abriram a programação, enquanto o encerramento contou com Boi Garantido e RAP Amazônia, além de artistas como Jander Manauara, DJ Rafa Militão, Lary Go & Strela, MC Dacota e Matheus Crazy.
Foto: Ernan Passos/Glocal Experience
Com atividades para todos os gostos, o Largo de São Sebastião mostrou que a Glocal Amazônia vai além dos debates e oficinas, tornando-se um verdadeiro festival de cultura, criatividade e integração com a cidade.
O trio amazonense D’Água Negra. Foto: Ana Beatriz Dantas
O Psica 2025, festival independente da Amazônia, volta a ocupar Belém (PA) entre 12 e 14 de dezembro. Em sua 11ª edição, o evento traz como tema ‘O Retorno da Dourada’, metáfora inspirada no ciclo migratório do peixe dourada, que cruza toda a bacia amazônica e simboliza o encontro entre as culturas englobadas por ela.
Este ano, o Psica amplia ainda mais sua conexão com a Amazônia para além do Pará levando o trio amazonense D’Água Negra, de Manaus, para a lista de atrações confirmadas que vem despontando na cena musical amazônica. O trio mescla ritmos regionais, beats eletrônicos e poesia urbana.
Conhecido por dar lugar não só a nomes consagrados na região, como os Bois do Festival Folclórico de Parintins, mas também por olhar para artistas que estão emergindo em suas carreiras graças ao projeto “Aposta Psica”, o festival abre espaço para os amazonenses mostrarem um novo som fora do estereótipo esperado.
Bruno Belchior, membro do trio D’Água Negra, destaca o simbolismo do intercâmbio cultural entre Pará e Amazonas, celebrando um Norte que se reconhece enquanto potência musical e eletrônica, indo do tecnobrega ao rap, do carimbó ao trap e até ao rock alternativo.
“Fazemos parte dessa geração de artistas contemporâneos que vem pensando mais a fundo o que é ser um corpo amazonense e como fugir das alegorias que esperam de nós, e somos muito orgulhosos de fazer parte desse processo de provocar e afirmar novos imaginários da cultura amazonense Brasil afora”, comenta.
Clariana Arruda, também integrante do grupo, completa: “A Amazônia é historicamente tratada como margem, inclusive dentro do próprio Brasil. Quando um festival como o Psica se abre para artistas de toda a região, ele rompe esse isolamento e cria uma frente de resistência cultural. Não somos apenas vozes locais: somos parte de um território imenso, múltiplo e atravessado por desigualdades e idiossincrasias. Estar juntos, do Acre ao Amapá, do Amazonas ao Pará, é afirmar que a Amazônia não é fragmentada, mas um só corpo pulsante, que ecoa mais alto quando está unido e organizado”.
A voz amazonense no Psica
Formado por Clariana Arruda, Bruno Belchior e Melka Franco, o D’Água Negra surgiu em Manaus durante a pandemia, com músicas que refletem resistência, sensibilidade e inovação estética. Seu EP de estreia foi o Erógena (2021), com influências de soul, jazz e breakbeat.
Sobre o show no festival, Melka Franco revela: “Essa será uma das primeiras inaugurações em palco do nosso primeiro álbum que será lançado agora no 2º semestre, e nele vamos dar início a um novo formato de apresentação. O D’água Negra já é conhecido pela dramaticidade, e vai ser delicioso trazer um pouco mais de performance e dança, mas bem ao nosso jeito”.
Um dos singles mais marcantes do trio fala sobre o colapso da pandemia em Manaus (Acopalices), momento que a banda surge refletindo sobre suas experiências pessoais em suas letras. Seus mais recentes trabalhos são “Escárnio” e “Corpo Quente”, este, que inclusive faz parte do projeto Circuito Manacaos, contemplado pelo edital Natura Musical.
A banda já fez turnês em Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro, com participações na Sim São Paulo, Virada Cultural e show no Festival Se Rasgum. Obtiveram reconhecimento nacional gravando um episódio para o programa Experimente (Canal Bis/Multishow) e agora, são a Aposta Psica 2025, integrando oficialmente a programação do festival, e levando o som de Manaus para um dos maiores palcos da música amazônica atual.