A Amazônia é conhecida por sua imensa biodiversidade e por seus rios de proporções grandiosas, mas também por seu vasto repertório de mitos e lendas que atravessam gerações. Entre essas histórias, uma das mais famosas no estado do Amapá é a da Cobra Sofia, uma serpente lendária que, segundo o imaginário popular, habita o Rio Amazonas e teria proporções colossais.
A origem da lenda é antiga e se confunde com o próprio desenvolvimento cultural da região. Relatos orais transmitidos ao longo do tempo falam sobre uma cobra de tamanho descomunal que viveria submersa nas águas, capaz de emergir e causar grandes transformações na paisagem.
As narrativas sobre a Cobra Sofia são variadas, mas todas convergem para a representação de um ser temido, cuja presença estaria associada a eventos extraordinários. Em comunidades ribeirinhas, há registros de moradores que garantem ter ouvido ou encontrado com a criatura.
A lenda se fortalece à medida que se entrelaça com a vivência cotidiana dos povos amazônidas, reforçando a ideia de que a natureza da região guarda segredos ainda não revelados pelo homem. A Cobra Sofia, nesse contexto, não é apenas um personagem do folclore, mas também símbolo de mistério e respeito à grandiosidade do Rio Amazonas.
A lenda da Cobra Sofia está presente em festas, manifestações culturais e até mesmo na literatura regional. Poetas e escritores locais já fizeram referências à serpente em suas obras, mantendo viva a memória dessa figura folclórica, afinal, quem nunca ouviu uma história sobre as “cobras grandes” da Amazônia?
Moradores da região próxima ao rio Amazonas dizem que Cobra Sofia seria tão grande que seu corpo poderia dar voltas inteiras em torno de ilhas. Alguns relatos afirmam que seus movimentos poderiam causar redemoinhos capazes de afundar embarcações. Esses elementos alimentam o caráter fantástico da narrativa, reforçando a ligação entre a lenda e o temor da natureza
Em sua página no Instagram, o pescador Felipe Parker encontrou no interior do estado uma grande cobra e ele afirma que esta pode ser a Cobra Sofia:
A lendária cobra também tem relação com explicações populares para fenômenos naturais. Movimentos fortes nas águas, mudanças súbitas na correnteza ou o desaparecimento de embarcações mais frágeis são, muitas vezes, atribuídos à ação da Cobra Sofia.
Pesquisadores de cultura popular ressaltam que esses mitos cumprem a função de transmitir ensinamentos e de fortalecer laços comunitários. Estas afirmações funcionam como advertências, principalmente para as novas gerações, sobre os perigos dos rios e a importância do cuidado ao navegar pelas águas amazônicas.
No Amapá, a Cobra Sofia é considerada parte integrante do patrimônio cultural imaterial. O mito transcende a esfera do medo e se torna elemento de identidade coletiva.
A cobre é lembrada em músicas, histórias contadas em escolas e até em produções artísticas que utilizam a imagem da cobra como representação simbólica da força da Amazônia.
O professor da Universidade Federal do Amapá e músico Rafael Senra, já usou a história como tema para uma música.
A narrativa também serve como fonte de inspiração para produções audiovisuais e para o turismo cultural. Guias locais incluem a lenda em roteiros de passeios pelos rios, despertando o interesse de visitantes pela riqueza do folclore amazônico.
Apesar de não haver registros científicos que comprovem a existência da criatura, a permanência da lenda demonstra como a tradição oral e o imaginário popular têm papel fundamental na construção das identidades regionais. A Cobra Sofia continua sendo contada, reinventada e transmitida, garantindo sua presença viva na memória coletiva do Amapá e da Amazônia.
No dia 1º de junho de 2005, The White Stripesrealizou um concerto memorável no Teatro Amazonas, em Manaus (AM). Trata‐se de uma das raras ocasiões em que a dupla norte-americana se apresentou em ambiente clássico de ópera no Brasil, e, 20 anos depois, o evento segue como marco na agenda cultural da capital amazônica.
O evento, em junho de 2005, para muitos, “parece que foi ontem”, de tão marcante que se tornou no cenário musical amazonense. O Portal Amazônia buscou por algumas curiosidades que envolvem a passagem da banda por Manaus:
A primeira vinda ao Brasil e o teatro singular
Embora o The White Stripes já tivesse turnês internacionais, a passagem por Manaus em 2005 foi parte de uma extensão brasileira durante a turnê ‘Get Behind Me Satan‘.
O Teatro Amazonas, com capacidade para cerca de 701 espectadores distribuídos entre plateia e camarotes, foi escolhido como palco singular para esse show — segundo registros, era um dos locais “pequenos” em que a banda já havia se apresentado.
Foto: Reprodução
O cenário de um teatro erguido no coração da Amazônia conferiu à ocasião um caráter simbólico de encontro entre rock contemporâneo e um patrimônio arquitetônico regional.
Setlist e gravações oficiais
O repertório do show no Teatro Amazonas incluiu faixas populares da dupla, como ‘Blue Orchid’, ‘Dead Leaves and the Dirty Ground’, ‘Hotel Yorba’, ‘Fell in Love With a Girl’ e, claro, ‘Seven Nation Army’, esta última um dos hinos da banda.
A apresentação foi posteriormente lançada oficialmente no formato de álbum duplo e DVD sob o título ‘Under Amazonian Lights‘, pela Third Man Records, mantendo vivo o registro daquela noite.
Foto: Divulgação/ The White Stripes
Casamento
No mesmo dia do show, segundo relatos da imprensa internacional, o vocalista Jack White teria realizado uma cerimônia simbólica de casamento com a modelo Kate Elson às margens do encontro das águas, dos rios Negro e Solimões, com bênção de um pajé local.
Parte da turnê chegou a incluir um passeio de barco pelos rios amazônicos, com incursões por hospedagens sobre palafitas e contato com aspectos simbólicos da floresta tropical — ação de promotores e da logística da turnê procuraram inserir elementos regionais no contexto da passagem da banda.
A cerimônia do casal não teve o registro divulgado. Das fotos do momento, a única foi publicada por algumas revistas e jornais da época. O casal teve dois filhos e se divorciou em 2011.
Registro do casamento de Jack White e Kate Elson em Manaus. A única do momento do casal. Foto: Divulgação
Interação com o público fora do teatro
Antes e depois do show, registraram-se momentos de interação entre os integrantes e o público local fora dos limites do Teatro Amazonas. Durante a passagem pelo Largo de São Sebastião, Jack e Meg White interagiram com a multidão para executar uma versão acústica de ‘We Are Going to Be Friends‘ para aqueles que não haviam conseguido ingressos.
A mobilização de fãs do lado de fora do teatro chegou a provocar tensão, com tentativas de invadir o espaço, necessitando de reforço de segurança.
Legado midiático e repercussão
A presença do The White Stripes em Manaus gerou repercussão nacional e internacional. O show foi transmitido pela MTV em edições especiais e foi citado em diversas matérias sobre música e turismo cultural no Amazonas.
A Third Man Records aproveitou o décimo aniversário da apresentação para reeditar o registro ‘Under Amazonian Lights‘, incluindo material exclusivo e memorabilia para fãs. Em Manaus, a lembrança do espetáculo também permanece presente em memórias como a da designer Suellen Fonseca.
“Eu não conhecia tanto os White Stripes, mas de tanto passar os clipes na MTV eu comecei a me familiarizar e ouvir. Depois eu comprei o álbum Get Behind Me Satan e adorei a estética que aquela dupla tinha, usando apenas cores vermelha, preta e branco e apenas dois instrumentos, no caso uma guitarra e uma bateria”, contou ao Portal Amazônia.
Outra pessoa que lembra com grande afeto a passagem deles por Manaus é a musicista Trícia Lima: “Eu era adolescente na época e amava os White Stripes. Lembro que não consegui ingresso na época, mas quando eles foram até uma sacada do Teatro Amazonas foi incrível e eu estava lá”, destacou.
Balsas sendo explodidas na orla de Humaitá, cidade amazonense. Foto: Reprodução/PF
O município de Humaitá, localizado às margens do rio Madeira, no sul do Amazonas, tornou-se ao longo das décadas um dos principais polos da atividade garimpeira na região Norte do país. A abundância de depósitos auríferos no leito do rio, somada às condições geográficas favoráveis e ao acesso fluvial facilitado, contribuiu para que a cidade fosse vista como ponto estratégico para a mineração.
As características do rio Madeira, que apresenta áreas rasas e bancos de sedimentos ricos em ouro, atraíram sucessivas levas de trabalhadores em busca de oportunidades. Esse movimento impulsionou a formação de acampamentos e balsas de garimpo nas proximidades da cidade, modificando a dinâmica populacional. Em diferentes períodos, o município registrou aumentos repentinos no fluxo migratório, com a instalação de dragas e balsas que, muitas vezes, ultrapassaram a capacidade de fiscalização local.
Reportagens e estudos sobre a ocupação garimpeira no Amazonas destacam que Humaitá se consolidou como um ponto de referência para o garimpo artesanal e mecanizado. Essa realidade está diretamente ligada às questões sociais e econômicas da região, onde parte significativa da população passou a depender da atividade para garantir renda e subsistência.
Um artigo científico publicado em 2015 já falava sobre os impactos ambientais na população de Humaitá por conta das atividades mineradoras. O estudo identificou diversas cooperativas que facilitam o trabalho de garimpo na região, o que normaliza ainda mais a atividade que tanto degrada o ecossistema como um todo.
A atuação da Polícia Federal no combate ao garimpo
Nos últimos anos, a Polícia Federal intensificou operações de repressão ao garimpo ilegal em Humaitá e em outros municípios vizinhos. As ações têm como foco a inutilização de balsas, dragas e equipamentos utilizados para a extração mineral clandestina. Segundo comunicados oficiais, o objetivo é desarticular a infraestrutura responsável por impulsionar a atividade irregular e mitigar os danos ambientais causados pela exploração desenfreada.
As operações são realizadas com apoio de embarcações, equipes em terra e monitoramento aéreo, garantindo maior alcance na fiscalização. A PF também atua de forma integrada com órgãos ambientais como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Em algumas etapas, a Força Nacional é acionada para assegurar a ordem pública e a proteção das equipes durante a execução das medidas.
Uma ação da PF realizada em 15 de setembro interditou a orla do município. Vídeos mostram dragas sendo explodidas na região.
Vídeo mostra explosão de dragas na manhã desta segunda (15) na orla de Humaitá. Autor desconhecido
A ação gerou críticas locais, onde a Polícia Federal reafirmou que a destruição de balsas e dragas faz parte da estratégia de combate ao garimpo ilegal na Amazônia. Segundo o diretor de Amazônia e Meio Ambiente da PF, delegado Humberto Freire, as operações têm o objetivo de “salvar vidas”, ao proteger comunidades ribeirinhas e povos indígenas que sofrem com os impactos da atividade criminosa.
Em entrevista coletiva pela manhã, Freire destacou que o garimpo ilegal não apenas contamina rios e solos com mercúrio, como também aumenta a vulnerabilidade social de comunidades amazônicas, muitas vezes cooptadas por facções criminosas. Ele citou como exemplo a Terra Yanomami, onde, segundo a PF, ações emergenciais em 2023 reduziram em 96% as áreas de exploração clandestina.
O delegado explicou que a PF atua em duas frentes: operações imediatas em áreas de garimpo e investigações para identificar financiadores e redes de apoio logístico. Entre os alvos estão desde operadores de aeronaves ilegais até pessoas envolvidas em lavagem de dinheiro e exploração sexual em garimpos.
Freire defendeu ainda que o enfrentamento ao garimpo precisa vir acompanhado de políticas de desenvolvimento social: “Não é esmola, é levar riqueza efetiva para essas populações”, afirmou, defendendo projetos de geração de renda para ribeirinhos e indígenas.
As operações da Polícia Federal em Humaitá, entretanto, não ocorrem sem resistência. Em diferentes momentos, a cidade e seus arredores registraram episódios de tensão quando balsas foram destruídas ou equipamentos apreendidos. Garimpeiros organizados chegaram a protestar contra a inutilização das embarcações, o que resultou em confrontos e manifestações na orla da cidade.
Em operações anteriores, houve relatos de bloqueios temporários de vias e mobilização de grupos que buscavam impedir a atuação dos agentes. Em algumas ocasiões, dragas foram destruídas em larga escala, em operações que duraram dias e mobilizaram centenas de servidores. Esses episódios chamaram a atenção não apenas das comunidades locais, mas também de autoridades estaduais e municipais, que acompanharam de perto os desdobramentos.
Na ação de 15 de setembro, a Prefeitura e a Câmara Municipal de Humaitá também se posicionaram de forma contrária à destruição de balsas e dragas na orla do município. Assim como em Manicoré, as autoridades locais destacaram que a operação da Polícia Federal afetou diretamente famílias que dependem da atividade de extração mineral para sobreviver.
O comunicado ressaltou que as explosões trouxeram riscos à segurança de comunidades ribeirinhas e geraram apreensão entre os moradores. A Prefeitura e a Câmara de Humaitá pediram mais diálogo e planejamento por parte das autoridades federais, reforçando que a fiscalização ambiental precisa ocorrer de forma que não coloque em risco vidas humanas.
As autoridades de Humaitá também defenderam a necessidade de alternativas sustentáveis para garantir o sustento das famílias locais, conciliando preservação ambiental e desenvolvimento social.
Impactos ambientais e justificativas legais
A repressão ao garimpo ilegal em Humaitá está ligada aos impactos socioambientais da atividade. Estudos e relatórios de órgãos ambientais mostram que a mineração clandestina provoca erosão das margens, assoreamento de canais e poluição por mercúrio, afetando diretamente os ecossistemas aquáticos do rio Madeira.
Esses danos também atingem comunidades ribeirinhas que dependem do rio para pesca, abastecimento e transporte. A contaminação por metais pesados é um dos pontos mais críticos, com riscos para a saúde humana e para a fauna local. Além disso, a atividade ilegal ameaça territórios indígenas e áreas de conservação, o que reforça a necessidade de fiscalização federal.
Humaitá deve ganhar delegacia da PF
Após receber a Operação Boiúna, foi anunciado que o município deve ganhar uma delegacia própria para repressão de crimes ambientais. A informação foi confirmada ao Grupo Rede Amazônica pelo coordenador do Centro de Cooperação de Polícia Internacional da Amazônia (CCPI/Amazônia), Paulo Henrique Oliveira, no dia 19 de setembro.
A nova unidade já recebeu autorização para ser instalada na cidade e atualmente passa pela fase de implantação. A previsão é de que a delegacia seja inaugurada no primeiro semestre de 2026.
O objetivo da nova delegacia é fazer com que ações de repressão a crimes ambientais na região deixem de ser pontuais e ocorram regularmente.
Encontro dos rios Negro e Solimões em Manaus. Foto: Reprodução/Setur-Amazonas
A Amazônia abriga a maior rede hidrográfica do planeta, formada por milhares de cursos d’água que se estendem por diferentes paisagens e ecossistemas. Esses rios não são apenas vias de transporte ou fontes de alimento para as populações ribeirinhas, mas também elementos que moldam a biodiversidade, influenciam o clima e determinam o modo de vida de milhões de pessoas.
A variedade de cores, transparências e características químicas da água resulta em classificações específicas que distinguem os tipos presentes na região.
A diversidade amazônica se reflete também nas águas que percorrem sua imensidão. Dependendo da origem, da geologia das cabeceiras, da quantidade de sedimentos transportados e da matéria orgânica dissolvida, os rios podem se apresentar como de águas brancas, negras ou claras.
Além dessa divisão clássica, pesquisas recentes mostram que existem categorias intermediárias, que ampliam o entendimento científico sobre os ecossistemas aquáticos da região. Essa classificação é fundamental para compreender a dinâmica ecológica, a distribuição de espécies e até questões relacionadas à saúde pública.
Rios de águas brancas, negras e claras: definições e exemplos
Os rios de águas brancas têm origem em áreas montanhosas, especialmente nos Andes. São ricos em sedimentos em suspensão, como argila e limo, que deixam a água com aspecto barrento e turvo. Eles apresentam pH próximo ao neutro e possuem concentração significativa de nutrientes, o que favorece a produtividade aquática. Exemplos incluem o Rio Solimões, o Madeira, o Purus e o Juruá, que formam extensas várzeas utilizadas tanto pela fauna como pelas populações humanas para agricultura e pesca.
Já os rios de águas negras têm como característica a presença de compostos orgânicos dissolvidos, oriundos da decomposição de matéria vegetal. Essas substâncias, conhecidas como ácidos húmicos e fúlvicos, conferem à água uma coloração escura, semelhante a um “chá forte”. O pH costuma ser ácido, em torno de 4 a 6, o que limita a quantidade de nutrientes disponíveis. O exemplo mais conhecido é o Rio Negro, cujas águas contrastam de forma marcante com as do Rio Solimões no fenômeno do Encontro das Águas, próximo a Manaus.
Os rios de águas claras apresentam coloração transparente ou levemente esverdeada. São formados em áreas de solos cristalinos antigos, com baixa quantidade de sedimentos em suspensão. Possuem pH próximo ao neutro e águas menos férteis em termos de nutrientes. Destacam-se nessa categoria o Tapajós e o Xingu, ambos com grande importância ambiental e cultural para as populações que vivem em suas margens.
Além das três classificações principais, algumas pesquisas identificaram categorias intermediárias que ajudam a detalhar ainda mais a diversidade hídrica da Amazônia. É o que aborda, por exemplo, o estudo ‘Classificação dos rios da Amazônia: uma estratégia para preservação desses recursos‘, publicado na revista Holos Environment em 2013.
Os autores – Maria do Socorro Rocha da Silva; Sebastião Átila Fonseca Miranda; Roberto Naves Domingos; Sergio Luiz Rodrigues da Silva; e Genilson Pereira Santana – destacam que, por exemplo, há subtipos de águas claras que apresentam variações químicas específicas, bem como rios com características situadas entre as águas brancas e as negras.
Outra categoria é a das águas salobres, que possuem maior quantidade de íons dissolvidos e podem ocorrer em áreas de transição ou em trechos próximos à foz dos grandes rios.
“As águas dos rios na região apresentam na sua maioria composição bem diferenciada, sendo águas ácidas (pH variando de 3,60 a 6,59), ou de levemente ácida a próximo à região de neutralidade, bem como levemente alcalina (6,43-7,9). Nas águas do rio Amazonas e tributários da margem direita, devido a maior carga iônica, são elevados os teores de turbidez, material em suspensão e condutividade elétrica. Já os tributários da margem esquerda do rio Amazonas, que nascem no Planalto das Guianas (…) são baixos os teores de eletrólitos (…) e águas mais ácidas (pH de 3,6 a 6,59)”, explica o estudo.
Essa ampliação das classificações segundo os pesquisadores permite uma compreensão mais precisa sobre rios de menor porte, como igarapés, que desempenham papel essencial no equilíbrio ecológico da floresta.
Também auxilia na formulação de políticas de conservação e no manejo sustentável dos recursos naturais, já que cada tipo de rio apresenta particularidades que afetam tanto a fauna quanto o uso humano.
Importância ambiental dos diferentes tipos de rios
Há estudos que ainda destacam que há diferentes tipos de rios exercem influência direta sobre a biodiversidade da Amazônia. As águas brancas, ricas em nutrientes, alimentam extensas áreas de várzea que se tornam berçários naturais de peixes e de outras espécies aquáticas.
Já os rios de águas negras, apesar de menos férteis, oferecem habitats específicos para espécies adaptadas à baixa disponibilidade de nutrientes. Os rios de águas claras, por sua vez, abrigam ecossistemas singulares, em que a transparência da água favorece certos tipos de peixes e plantas aquáticas.
O estudo publicado em 2022 na Revista Science Advances, intitulado ‘Rearranjos da rede fluvial promovem especiação em aves das terras baixas Amazônicas’ -de autoria da pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), a bióloga Camila Ribas, e pesquisadores do Museu Americano de História Natural (AMNH), da qual Ribas é pesquisadora associada desde 2008 -, mostrou que até as aves são influenciadas pelos rios.
De acordo com Ribas, as aves se tornam “ótimos marcadores” da evolução das paisagens, por serem grupos especializados em diferentes ambientes Amazônicos, como sub-bosque de floresta de terra firme, várzeas, igapós, campinas e savanas.
“Aqui podemos testar hipóteses sobre como mudanças nas paisagens afetaram a distribuição das espécies de aves em cada ambiente amazônico no passado e com isso entender melhor tanto a formação da biodiversidade amazônica como a conhecemos hoje quanto o que pode acontecer com essa diversidade frente ás mudanças futuras, mais rápidas, causadas pelo homem”, explica Camila Ribas.
A diversidade de rios também tem implicações para a saúde pública. Vários estudos apontam que a acidez e a composição da água dos rios podem influenciar a proliferação de mosquitos transmissores de doenças, como a malária.
Além disso, o transporte de sedimentos em grandes volumes modifica os leitos, margens e áreas de inundação, impactando tanto os ecossistemas quanto as comunidades humanas que vivem em regiões de cheias sazonais.
Fatores que determinam o tipo de rios na Amazônia
Entre os principais fatores que determinam o tipo de rio estão a origem geológica das cabeceiras, a topografia, a composição do solo e os processos hidrológicos sazonais. Rios que nascem em regiões montanhosas tendem a arrastar grandes quantidades de sedimentos, formando águas brancas.
Já os que se originam em áreas de solos antigos e cristalinos, pobres em sedimentos, formam águas claras. Em áreas planas e alagadas, com acúmulo de matéria orgânica em decomposição, predominam rios de águas negras.
Além disso, a sazonalidade desempenha papel fundamental: durante as cheias, aumenta o transporte de sedimentos e matéria orgânica, alterando temporariamente a cor e a composição da água. Esses fatores tornam os rios da Amazônia sistemas dinâmicos e complexos, que variam não apenas de um curso para outro, mas também ao longo do próprio ciclo anual.
O Suriname é um país localizado no nordeste da América do Sul, banhado pelo Oceano Atlântico ao norte e limitado pela Guiana a oeste, pela Guiana Francesa a leste e pelo Brasil ao sul. Essa localização o faz também ser parte da Amazônia, em função da presença do bioma no país.
Situado pouco ao norte da linha do Equador, mais de 94% do território do país é coberto por florestas segundo um relatório da Food and Agriculture Organization (FAO) de 2015, o que representa o maior percentual de cobertura florestal do mundo em um único país.
Grande parte dessa floresta permanece praticamente intacta, em especial nas regiões mais remotas e de difícil acesso, o que contribui para a preservação da vida silvestre e dos recursos naturais.
Mas o país enfrenta uma série de crimes ambientais recorrentes, que incluem principalmente o desmatamento ilegal, a mineração aurífera informal e o tráfico de vida selvagem, todos com sérios impactos ecológicos e sociais e reconhecidos pelo governo do Suriname.
De acordo com dados recentes informados pela Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 32% do território dos Saamaka, povo quilombola que vive no país, o que equivale a 447 mil hectares, já foi concedido sem o consentimento livre, prévio e informado de suas comunidades.
Esse processo resultou em mais de 60 mil hectares de floresta degradada ou desmatada. É o que aponta um relatório da Land Coalition:
“Novos dados revelam que a exploração madeireira ilegal está devastando as florestas do Suriname O governo concedeu ilegalmente 32% do território Saamaka, causando mais de 60.000 hectares de floresta danificada ou degradada”.
A floresta amazônica do Suriname exibe uma diversidade impressionante. Estima-se que mais de 5.000 espécies de plantas ocorram na Reserva Natural do Suriname Central, uma das principais áreas de conservação reconhecidas internacionalmente.
Nas florestas de dossel, árvores que chegam a 50 metros de altura formam copas densas, criando um ambiente sombreado onde prosperam inúmeras espécies vegetais.
Voltzberg, montanha localizada na reserva natural do Suriname Central. Foto: Andre Gregory
No que se refere à fauna, esses ecossistemas abrigam grandes mamíferos como jaguares (onças-pintadas), preguiças e a lontra gigante do rio. O país também é habitat de oito espécies de primatas e cerca de 400 espécies de aves, incluindo a harpia, o galo-da-serra e a arara canga. Em áreas específicas, como a savana de Sipaliwini, foi descoberta a rã-dardo-azul, uma espécie endêmica.
Nos arredores da capital, Paramaribo, encontram-se florestas pantanosas costeiras com vegetação adaptada às inundações, que fazem transição para manguezais e florestas submontanas. Nesses ambientes vivem aves especializadas, como o íbis-scarlet e outras espécies aquáticas.
Comunidades na Amazônia surinamesa
A Amazônia do Suriname não se resume à fauna e flora. Ela também é habitada por comunidades tradicionais que mantêm modos de vida estreitamente ligados ao território. As comunidades indígenas Christiaankondre e Langamankondre, do povo Kali’na, desenvolvem práticas de gestão sustentável, incluindo manejo de resíduos, como forma de preservar o equilíbrio da floresta ao longo de gerações.
Outro grupo de grande relevância é o dos saramacanos, descendentes de africanos que escaparam da escravidão e formaram comunidades quilombolas na floresta. Atualmente, cerca de 90 mil saramacanos vivem em mais de sessenta vilarejos espalhados pelo interior do país.
Eles mantêm organização social própria, idioma distinto e tradições religiosas e culturais preservadas. Grande parte dessas comunidades se distribui ao longo dos rios, utilizando as águas como via de transporte, sustento e parte essencial da vida cotidiana.
O vídeo a seguir, publicado no canal ‘Histórias Vivas – Gente, vida, documentales’, no Youtube, destaca a rotina de parte do povo surinamês, que encontra na natureza não apenas recursos de subsistência, mas também elementos fundamentais que moldam a identidade cultural:
Conservação e desafios ambientais
A busca pela preservação do ambiente amazônico no Suriname é realizada por meio de unidades de conservação como a Reserva Natural do Suriname Central. A reserva, com cerca de 1,6 milhão de hectares, é um dos maiores exemplos de áreas protegidas do país. Nela estão nascentes de rios e ecossistemas fundamentais para a biodiversidade regional.
Ainda assim, apesar da elevada cobertura florestal, o país segue enfrentando pressões ambientais. Documentos recentes emitidos pelo governo do Suriname e alertados por diversas agências de notícias apontam que o governo avalia liberar centenas de milhares de hectares para agricultura, pecuária e aquicultura.
Caso todos os projetos sejam implementados, isso poderia significar a perda de, pelo menos, aproximadamente 2% da cobertura florestal. Essa possibilidade traz atenção para a necessidade de equilíbrio entre desenvolvimento econômico e conservação ambiental no país.
A busca por uma vida mais saudável e ativa tem levado cada vez mais pessoas a calçarem seus tênis e explorarem as cidades em busca de espaços ideais para manutenção da saúde. Em Manaus (AM) essa busca se traduz em percursos que combinam a beleza natural com a infraestrutura urbana, oferecendo opções que agradam a todos os gostos e níveis de preparo físico.
Longe da poluição e do caos do trânsito, a cidade abriga uma série de parques, calçadões e avenidas que se transformaram em verdadeiros paraísos para quem busca o bem-estar por meio de atividades ao ar livre. Seja para uma atividade física leve e relaxante, um treino de velocidade ou até mesmo um “longão” desafiador, Manaus se mostra como um cenário promissor para os que buscam atividade física “unindo o útil ao agradável”.
Parques, praças, avenidas e calçadões vêm se consolidando como pontos de encontro para a prática de esportes ao ar livre, oferecendo desde áreas para caminhada e ciclismo até quadras poliesportivas e academias comunitárias.
Pensando na busca por hábitos mais saudáveis e a valorização do contato com a natureza, o Portal Amazônia prepara uma série com foco em encontrar locais ideais nas capitais da Amazônia Legal para quem quer melhorar a qualidade de vida. Começamos por Manaus:
Ponta Negra: o cartão-postal esportivo de Manaus
O Complexo Turístico da Ponta Negra é um dos espaços mais simbólicos para atividades ao ar livre em Manaus. Com quase 5 km de calçadão, o local, na Zona Oeste, é utilizado para caminhada, ciclismo, patins, skate e treinos funcionais. A vista privilegiada do Rio Negro torna a prática esportiva mais atrativa, especialmente ao nascer e ao pôr do sol.
Nos fins de semana e feriados, a prefeitura realiza a ‘Faixa Liberada’, fechando parte da pista de asfalto para veículos e oferecendo ainda mais segurança para pedestres e ciclistas.
O espaço conta com banheiros privados que custam dois reais por pessoa, bebedouros públicos e quiosques de alimentos diversos, permitindo que os frequentadores prolonguem sua permanência no local.
Faixa liberada na Ponta Negra. Foto: Nathalie Brasil/Acervo Semcom Manaus
Parque do Mindu: esporte em meio à floresta
Na Zona Centro-Sul, o Parque Municipal do Mindu é uma das opções preferidas para quem deseja praticar esportes em contato direto com a natureza.
O espaço dispõe de pistas que se assemelham a trilhas, passarelas suspensas e áreas destinadas a exercícios de força e alongamento.
A infraestrutura inclui banheiros e lanchonetes, além de áreas de descanso sombreadas. O ambiente favorece práticas como caminhada, corrida leve, yoga, alongamentos e até observação de fauna e flora, tornando-se um local multifuncional para esportes e lazer.
Algumas atividades, como yoga, contam com professores que recebem valores simbólicos para a continuidade do serviço. A entrada é gratuita.
Foto: Divulgação/Arquivo Semcom Manaus
Parque dos Bilhares: modernidade e praticidade
O Parque Ponte dos Bilhares, na Zona Centro-Sul, passou por reformas em 2023 e hoje conta com uma pista de 1,42 km, playgrounds, academias ao ar livre, quadras poliesportivas e quiosques. A iluminação reforçada após a reforma busca garantir a segurança para quem prefere se exercitar à noite.
Além da prática de esportes individuais como corrida e caminhada, o espaço recebe grupos de futebol, basquete e vôlei, tornando-se um centro de convivência esportiva.
Os visitantes encontram banheiros e bebedouros gratuitos além de pontos de venda de lanches, o que incentiva a permanência de famílias inteiras no local.
Parque Ponte dos Bilhares. Foto: Dhyeizo Lemos/Arquivo Semcom Manaus
CSU do Parque Dez: tradição e comodidade
O Centro Social Urbano (CSU) do Parque Dez, na Zona Centro-Sul, é outro dos pontos mais tradicionais para atividades físicas em Manaus. Com uma pista de cerca de 1 km, é frequentado por praticantes de caminhada, corrida e grupos de esportes coletivos.
A infraestrutura inclui banheiros, bebedouros e quadras para diferentes modalidades, como futsal, vôlei e basquete. O CSU também abriga academias comunitárias e áreas abertas que recebem treinos funcionais, sendo referência de espaço esportivo para todas as idades.
Vista aérea do Csu do Parque 10 mostra as diversas áreas para prática de esporte. Pista em vermelho pode ser utilizado para corrida. Foto: Reprodução/Arquivo Semcom Manaus
Avenida das Torres: percurso urbano desafiador
A Avenida Governador José Lindoso, conhecida como Avenida das Torres, que abrange as zonas Leste e Norte, consolidou-se como um dos locais mais usados para treinos de resistência. A calçada ampla e a ciclofaixa recebem praticantes de ciclismo, caminhada, corrida e patins ao longo dos seus 17,4 km de extensão.
Mas a pista merece a atenção de quem usar o espaço para fazer atividade física ao ar livre por conta do fluxo de veículos.
As ladeiras tornam o percurso desafiador, atraindo esportistas que buscam melhorar condicionamento físico, além de ser uma pista já conhecida por receber eventos esportivos, como corridas de rua e passeios ciclísticos.
Ao longo da via, há pontos de comércio local que oferecem água, sucos e lanches rápidos, além de áreas de descanso. Porém não há banheiros públicos no espaço, sendo encontrados apenas nos estabelecimentos comerciais.
Avenida das Torres é popular por receber eventos espotivos. Foto: Reprodução/Arquivo CBMAM
Ponte Rio Negro: esporte com vista panorâmica
A Ponte Jornalista Phelippe Daou, mais conhecida como Ponte Rio Negro, que conecta os municípios de Manaus e Iranduba, oferece um cenário único para a prática esportiva. Com 3,6 km de extensão, a travessia é utilizada para caminhada, ciclismo e corrida.
A vista do rio e das cidades transforma cada atividade em uma experiência visual marcante. O percurso, plano e contínuo, exige resistência, mas é acessível a diferentes níveis de preparo físico.
Apesar da ausência de pontos fixos de apoio, há vendedores ambulantes em horários de maior movimento em ambos lados da ponte.
Ponte Jornalista Phelippe Daou também tem opção onde pedestre pode passar e correr por extensão de quase quatro quilômetros. Foto: Diego Oliveira/ Portal Amazônia
Avenida Getúlio Vargas: um novo ponto no coração da cidade
Em agosto de 2025 a Avenida Getúlio Vargas, no Centro de Manaus, passou a fazer parte do projeto ‘Faixa Liberada’, assim como ocorre na Ponta Negra. O trajeto de aproximadamente 1,5 km agora é utilizado para caminhada, corrida, patins, skate e ciclismo, tornando-se parcialmente exclusivo para as atividades esportivas nas manhãs de domingo.
A infraestrutura do entorno inclui banheiros em prédios públicos próximos e pontos de venda de alimentos e bebidas. O espaço também promove a reocupação do centro histórico, tornando-o mais acessível para práticas esportivas em ambiente urbano.
Faixa Liberada na Avenida Getúlio Vargas. Foto: Clóvis Miranda/Semcom Manaus
Gigantes da Floresta: atividade até para crianças
No bairro Novo Aleixo, o Parque Gigantes da Floresta oferece uma pista de 1,5 km rodeada por vários esculturas de animais amazônicos gigantes além de uma praça molhada para as crianças.
O espaço já está sendo utilizado para caminhada, corrida leve e exercícios de alongamento em uma das áreas mais populosas da cidade, entre as zonas Norte e Leste.
Gigantes da Floresta fica localizado entre as zonas Norte e Leste de Manaus. Fotos: Reprodução/Facebook-Maikon Henrique
A infraestrutura inclui banheiros e áreas de descanso ao longo do complexo. Em horários de maior movimento, vendedores ambulantes oferecem água e lanches. Também é um ponto de encontro de moradores que buscam tranquilidade durante a prática esportiva.
Vista aérea do parque. Foto: Reprodução/Semcom Manaus
Lagoa do Japiim: atividades à beira d’água
A Lagoa do Japiim, na Zona Sul, é uma área de lazer que também abriga esportes ao ar livre. Com percurso de 1,8 km ao redor da lagoa, o espaço é usado para caminhada, corrida, ciclismo e exercícios em grupo.
A infraestrutura inclui banheiros, lanchonetes e bancos para descanso. A combinação de natureza e acessibilidade torna o local bastante procurado por famílias e grupos de amigos, especialmente nos fins de semana.
A combinação de natureza e acessibilidade torna o local bastante procurado por famílias e grupos de amigos. Foto: Dhyeizo Lemos/Semcom Manaus
Passeio do Mindú: espaço urbano para atividades variadas
O Passeio do Mindú, na Zona Centro-Sul, é um espaço que dispõe de uma pista de 1 km e áreas destinadas a atividades coletivas. É utilizado tanto por esportistas iniciantes quanto por praticantes de treinos funcionais.
O espaço oferece banheiros e bebedouros públicos, além de quiosques de alimentação e academias ao ar livre, garantindo versatilidade para diferentes tipos de prática esportiva.
Área do Parque do Mindú foi revitalizada em 2024. Foto: Reprodução/Semcom Manaus
Avenida São Jorge: praça de esportes e lazer comunitário
Na Zona Oeste, a Avenida São Jorge abriga uma praça com pista de 1 km e diversas quadras esportivas. O local é usado para caminhada, corrida leve, futebol, vôlei e basquete, tornando-se referência para esportes coletivos no bairro.
A praça conta com banheiros e venda de água de coco e lanches, principalmente no fim da tarde. É um espaço que combina lazer, atividade física e convivência comunitária. Além disso há também várias lanchonetes em torno do bairro, o que proporciona um espaço de lazer além da prática esxportiva
Avenida São Jorge é utilizada para caminhadas no seu entorno. Foto: Reprodução/Arquivo Semcom Manaus
Parque Municipal do Idoso: estrutura completa e acessível
Localizado no bairro Nossa Senhora das Graças, na Zona Centro-Sul, o Parque Municipal do Idoso se destaca pela infraestrutura acessível. A pista de 800 metros é utilizada para caminhada e corrida leve, mas o espaço também dispõe de academias ao ar livre, quadras e áreas cobertas para atividades em grupo.
O parque possui banheiros, bebedouros e uma cantina que oferece refeições leves, frutas e sucos. Com estrutura adaptada, o local é voltado para pessoas de todas as idades, garantindo conforto e inclusão na prática esportiva.
Parque Municipal do Idoso. Foto: Reprodução/Arquivo FDT
Os cursos d’água fazem parte da vida humana desde os primeiros assentamentos, desempenhando funções de abastecimento, transporte, alimentação e equilíbrio ecológico. No Brasil, é comum ouvir falar de rios como o Amazonas, o Negro ou o São Francisco, mas em diferentes regiões também aparecem denominações locais e únicas, como igarapé, córrego e arroio. Essas palavras despertam dúvidas sobre o que diferencia cada termo e em quais contextos são usados.
Em específico, a distinção entre arroio e rio é um exemplo claro. Embora ambos sejam cursos naturais de água, apresentam diferenças relacionadas ao porte, à extensão e até ao uso cultural da nomenclatura em diferentes regiões do país.
No Rio Grande do Sul, por exemplo, a palavra arroio é largamente utilizada, enquanto em outras regiões se fala em córrego ou riacho para designar cursos menores.
Mas afinal, o que é um arroio?
Comumente chamado de igarapé na Amazônia, alguns podem dizer que igarapé e arroio são as mesmas coisas em regiões diferentes do Brasil. O pesquisador doutor pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Rogério Marinho, em entrevista ao Portal Amazônia, destacou que os termos são usados em diferentes partes do país:
“Ambas expressões, arroio e igarapé, tratam de curso d’águas, só que com aplicações geográficas diferentes. Então, enquanto o igarapé é mais utilizado na região Norte, principalmente na Amazônia, arroio é muito utilizado mais no Sul do país. Assim como o córrego é mais usado para a região Centro-oeste do país. Então são expressões bem pontuais de cunho para caracterizar o curso d’águas, mas que têm suas peculiaridades linguísticas dependendo da região que se falam”.
Arroios têm funções importantes, como escoar a água da chuva, recarregar lençóis freáticos, sustentar a fauna e a flora locais e alimentar rios maiores. Em áreas urbanas, no entanto, sofrem impactos do assoreamento e da poluição. O Arroio do Salso, em Porto Alegre, por exemplo, percorre quase 93 km² da capital gaúcha e enfrenta problemas de degradação da qualidade da água por causa do esgoto doméstico.
O que é um rio?
Já o rio é um curso de água de maior porte, que pode atravessar extensas áreas geográficas e receber a contribuição de diversos arroios, igarapés e córregos. Normalmente, possui maior profundidade, largura e volume de água, servindo como artéria principal de uma bacia hidrográfica.
O Brasil possui alguns dos maiores rios do mundo, como o Rio Amazonas, que chega a ter mais de 1,5 km de largura em determinados trechos, e o Rio São Francisco, que percorre mais de 2.800 km pelo território nacional.
Os rios podem ser navegáveis, servir para geração de energia elétrica, irrigação, pesca, transporte e consumo humano em larga escala.
Diferenças entre arroio e rio
Assim, as principais diferenças entre arroio e rio estão no tamanho e na capacidade de drenagem. Enquanto o arroio é pequeno, muitas vezes sazonal e limitado a áreas específicas, o rio é extenso, contínuo e de maior importância na rede hidrográfica.
Outra distinção está, portanto, no vocabulário regional. O termo arroio é comum no Rio Grande do Sul, enquanto em estados do Sudeste e Centro-Oeste o mais frequente é córrego ou riacho. No Norte do Brasil, sobretudo na Amazônia, predomina o uso de igarapé para designar cursos menores, que cumprem função semelhante à de um arroio. Já para grandes cursos d’água, como o Negro, o Madeira ou o Tapajós, a designação é sempre rio.
Rios na Amazônia como o rio Madeira (Foto) são como estradas utilizadas para transporte e durante a seca, prejudica a locomoção. Foto: Thiago Mendes/ Arquivo Rede Amazônica
Segundo a Dra. Yara Schaeffer-Novelli, pesquisadora do Instituto de Oceanografia da USP, há diferença entre rio, riacho, arroio e termos semelhantes:
“Córrego e arroio são sinônimos. O termo ‘arroio’ é frequentemente usado no Sul do Brasil. Refere-se a um curso de água maior que um ‘regato’ e menor do que uma ‘ribeira’”.
Do ponto de vista ambiental, os arroios cumprem papel complementar aos rios, funcionando como pequenos canais de alimentação e drenagem. Quando preservados, ajudam a evitar enchentes e a manter a biodiversidade. Quando degradados, podem comprometer a qualidade da água dos rios que alimentam.
Importância da gestão
Compreender a diferença entre arroios e rios é fundamental para a gestão dos recursos hídricos. Enquanto rios exigem políticas de escala regional ou nacional, arroios pedem cuidados locais, muitas vezes relacionados ao planejamento urbano, ao tratamento de esgoto e à preservação das matas ciliares.
No Rio Grande do Sul, por exemplo, estudos de bacias hidrográficas têm mostrado como a impermeabilização do solo aumenta a pressão sobre os arroios, reduzindo a infiltração da água e elevando os riscos de enchentes. Já na Amazônia, rios e igarapés desempenham papel vital não só no equilíbrio ecológico, mas também no transporte de populações ribeirinhas e na economia local.
O pesquisador Philipp Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas sobre a Amazônia (INPA), também já abordou sobre a importância dos rios da Amazônia para a população que vive na região, principalmente em função dos fenômenos de seca e cheia.
“Os rios são o único meio de acesso em muitas partes da Amazônia. Com a queda dos níveis, algumas comunidades ficaram isoladas, levantando preocupações sobre um desastre humanitário”, destacou.
Frutos do cutiribá. Foto: Reprodução/Artigo ‘Stability and Antioxidant Activity of Pouteria macrophylla Fruit Extract, a Natural Source of Gallic Acid’
Uma fruta que “gruda a boca”, doce e de cheiro forte. Muitas pessoas, principalmente do Norte, pode ter pensado imediatamente no abiu. Mas você sabia que existe um “primo” bem parecido com esse fruto? É o cutiribá, nome popular usado em várias regiões para a espécie Pouteria macrophylla (Lam.) Eyma, árvore da família Sapotaceae (a mesma do abiu e do canistel).
Em publicações técnicas e de divulgação científica, essa fruta também aparece com outros nomes, como cutite, abiu-cutite, tuturubá e cutitiribá, entre outros sinônimos regionais.
Segundo o pesquisador Eniel David Cruz, da Embrapa Amazônia Oriental, em um Comunicado Técnico de 2017, “o cutite, que pertence à família Sapotaceae, é também conhecido como jarana, abiurana-cutite, bapeba-pêssego, abiurana-cutitiribá, tuturubá, cortiça, cutiribá, abiu-cutite, juturubá, banana-do-mato e sapotilla, entre outros nomes regionais”.
Visualmente, o cutiribá é um fruto arredondado, de casca amarela quando maduro e polpa de cor igualmente amarelada, de aspecto denso. O fruto é nativo da Amazônia, consumido in natura e em sucos, com frutificação concentrada entre outubro e fevereiro.
De acordo com Cruz, o fruto pode ser encontrado no Brasil e em outros países amazônicos como Bolívia, Peru, Guiana Francesa, Suriname, Colômbia e Venezuela. No Brasil, registros botânicos apontam presença ampla em estados como Acre, Amazonas, Pará, Roraima, Rondônia, Maranhão, Tocantins, Bahia, Ceará, Goiás, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo.
Ele informa que “a espécie é encontrada em floresta de terra firme, várzea, igapó e em mata de galeria”. Essa diversidade de ambientes explica sua ampla adaptação e o valor cultural associado a diferentes comunidades da Amazônia e de outras regiões.
Veja aqui o comunicado da Embrapa sobre este fruto:
O cutiribá integra o conjunto de frutas regionais consumidas frescas e processadas. Segundo Cruz, a espécie já foi cultivada no Pará, “principalmente nos quintais domésticos, podendo fornecer frutos, sombra, madeira, lenha e carvão, assim como ser utilizada para sombreamento de cacaueiros”.
Além da polpa aproveitada em sucos, sorvetes, doces e cremes, o comunicado técnico também destaca propriedades não alimentares.
“A polpa em pó é indicada para fabricação de talco, creme anti-idade e a casca é usada contra disenteria e otite”, descreve o pesquisador.
Germinação e desafios de propagação
Do ponto de vista de manejo, o documento ressalta que as sementes apresentam dormência e comportamento recalcitrante, o que dificulta o armazenamento.
Como explica o pesquisador: “as sementes apresentam germinação lenta e desuniforme, iniciando apenas no 41º dia após a semeadura, com germinação final de 86% aos 201 dias”.
Uma alternativa para acelerar o processo é a retirada da ‘testa’. “Quando a semeadura é realizada apenas com as amêndoas, o início da germinação é antecipado para 24 dias, alcançando 79,5% de germinação”, detalha o comunicado.
Modelos com camisas em homenagem ao Círio de Nazaré em 2024. Foto: Jorge Palheta/DFN
No dia 16 de setembro de 2025, a Diretoria da Festa de Nazaré (DFN) vai apresentar as camisas oficiais em homenagem ao Círio de Nazaré, em parceria com os clubes Remo, Paysandu, Tuna Luso Brasileira e a novidade deste ano: o Vasco da Gama. A iniciativa faz parte do Projeto Selo do Círio e busca unir tradição, fé e esporte em um mesmo evento.
A cerimônia de lançamento ocorrerá na Casa de Plácido, localizada no estacionamento da Basílica-Santuário, em Belém (PA), e marcará uma edição especial, já que será a primeira vez que um clube de fora do Pará participa oficialmente da homenagem.
O Vasco da Gama, do Rio de Janeiro, estreia nesta edição do projeto com uma camisa exclusiva, reforçando a importância do Círio de Nazaré para além das fronteiras do estado.
Enquanto isso, os três principais clubes paraenses se reúnem pela quinta vez consecutiva em uma parceria que começou em 2021 e que já se tornou aguardada pelos torcedores e devotos.
A participação das quatro equipes tem como objetivo fortalecer os laços entre futebol, cultura popular e religiosidade, ao mesmo tempo em que contribui com a preservação e a valorização da festa.
Da esquerda para direita, camisas do Paysandu, Remo e Tuna Lusa do Círio de Nazaré 2022. Foto: Divulgação
Histórico dos clubes paraenses
Paysandu
Nomes do clube: Paysandu Sport Club, Papão, Papão da Curuzu Nomes dos torcedores: Fiel bicolor, Papão bicolor, Fiel Fundação: 2 de fevereiro de 1914 Mascote: Lobo mau (bicho-papão) Técnico: Luizinho Lopes
Campeonato Paraense: 1920, 1921, 1922, 1923, 1927, 1928, 1929, 1931, 1932, 1934, 1939, 1942, 1943, 1944, 1945, 1947, 1956, 1957, 1959, 1961, 1962, 1963, 1965, 1966, 1967, 1969, 1971, 1972,1976, 1980, 1981, 1982, 1984, 1985, 1987, 1992, 1998, 2000, 2001, 2002, 2005, 2006, 2009, 2010, 2013, 2016, 2017, 2020, 2021 e 2024 Campeonato Brasileiro (Série B): 1991, 2001 Copa dos Campeões: 2002 Copa Verde: 2016, 2018, 2022, 2024, 2025 Copa Norte: 2002 Super Copa Grão-Pará: 2025 Torneio Início do Pará: 1917, 1926, 1929, 1930, 1932, 1933, 1937, 1938, 1944, 1957, 1958, 1962, 1965, 1966, 1967, 1969 e 1970
Remo
Nomes do clube: Clube do Remo, Leão Azul, Leão da Amazônia, Clube de Periçá Nomes dos torcedores: Azulino, Remista, Fenômeno Azul Fundação: 5 de fevereiro de 1905, como Grupo do Remo, voltado para atividades náuticas Mascote: Leão Malino Técnico: Daniel Paulista
Copa Verde: 2021 Campeonato Brasileiro – Série C: 2005 Campeonato Norte Nordeste: 1971 Taças Norte: 1968, 1969, 1971 Campeonatos Paraense: 1913, 1914, 1915, 1916, 1917, 1918, 1919, 1924, 1925, 1926, 1930, 1933, 1936, 1940, 1949, 1950, 1952, 1953, 1954, 1960, 1964, 1968, 1973, 1974, 1975, 1977, 1978, 1979, 1986, 1989, 1990, 1991, 1993, 1994, 1995, 1996, 1997, 1999, 2003, 2004, 2007, 2008, 2014, 2015, 2018, 2019 e 2022, 2025 Torneios Início do Campeonato Paraense: 1920, 1921, 1922, 1923, 1925, 1928, 1934, 1939, 1945, 1952, 1955, 1956, 1959, 1964 Torneio Quadrangular de Salvador: 1967 Torneio Pará-Goiás: 1972 Torneio Pará-Maranhão: 1977 Torneio Pará-Ceará: 1993
Tuna Luso
Nomes do clube: Tuna Luso Brasileira, Elite do Norte, Águia guerreira Nomes dos torcedores: Tunante, Cruzmaltino Fundação: 1 de janeiro de 1903 Mascote: Águia Técnico: Ignácio Neto
Campeonato Brasileiro – Série B: 1985 Campeonato Brasileiro – Série C: 1992 Campeonato Paraense: 1937, 1938, 1941, 1948, 1951, 1955, 1958, 1970, 1983 e 1988 Campeonato Paraense – Série B1: 1941, 2020 Copa Grão Pará: 2024 Torneio Início do Pará: 1941, 1942, 1943, 1947, 1948, 1953, 1983, 1990, 1991 e 1997 Taça Cidade de Belém: 2007
Homenagens dos clubes
Remo e Paysandu foram os primeiros a aderir ao Projeto Selo do Círio em 2021, lançando camisas que incorporavam elementos da devoção a Nossa Senhora de Nazaré. Já em 2022, a Tuna Luso Brasileira passou a integrar o projeto, ampliando a representatividade dos clubes locais na homenagem.
Ao longo dos anos, cada equipe tem se destacado ao lançar peças que unem identidade esportiva com símbolos do Círio, como a corda, a berlinda e a Basílica de Nazaré. Esse histórico mostra que a parceria já se consolidou como parte da programação cultural e religiosa que antecede a grande procissão. Em 2025, Remo, Paysandu e Tuna seguem unidos nesse projeto.
O Clube do Remo destaca, em seu novo uniforme, ilustrações que valorizam a berlinda, a Basílica e elementos da região amazônica, sem deixar de colocar Nossa Senhora de Nazaré como centro da homenagem.
O Paysandu, por sua vez, apresenta uma camisa que simboliza devoção, cultura e tradição, destacando-se pela expectativa gerada entre os torcedores bicolores e devotos da padroeira.
A Tuna Luso Brasileira traz em sua edição elementos inéditos que unem tradição e modernidade, exaltando a marca do clube e a devoção a Nossa Senhora, em mais uma participação que reforça sua ligação com a cultura paraense.
A presença do Vasco da Gama em 2025 é um marco histórico para o projeto. Em janeiro deste ano, a diretoria do clube carioca manifestou interesse em integrar a homenagem, tornando-se a primeira equipe de fora do Pará a lançar uma camisa oficial com o Selo do Círio.
Vasco da Gama, clube do Rio de Janeiro, será o primeiro clube a ter uma camisa em homenagem ao Círio de Nazaré. Foto: Matheus Lima – Vasco da Gama
O uniforme vascaíno chega em tom branco predominante, com detalhes dourados que simbolizam luz, vitória e devoção. No peito, o escudo do clube divide espaço com uma delicada ilustração de Nossa Senhora de Nazaré, criando uma identidade visual que une tradição religiosa e esportiva. As imagens no entanto, não foram divulgadas.
Para reforçar o simbolismo da homenagem, o Vasco anunciou que a produção inicial será limitada a 127 unidades, número que faz alusão aos 127 anos de fundação do clube, comemorados em 2025. As camisas serão disponibilizadas inicialmente no site oficial do Círio, com vendas a partir de 17 de setembro, e posteriormente chegarão às lojas oficiais do clube em todo o Brasil. O gesto simboliza o estreitamento de laços entre o clube carioca e a comunidade paraense, além de demonstrar reconhecimento à importância cultural e religiosa do Círio.
Preço, vendas e destino da renda
As camisas oficiais do Círio de Nazaré 2025 terão o preço de R$ 199,00, tanto para os clubes paraenses quanto para o Vasco. Os torcedores poderão adquirir os modelos do Remo e do Paysandu em suas lojas oficiais, enquanto a camisa da Tuna estará disponível na sede do clube, localizada na Avenida Almirante Barroso, em Belém. Já os vascaínos terão acesso às unidades limitadas inicialmente pelo site oficial do Círio, com possibilidade de compra em todo o território nacional.
Parte da renda obtida com as vendas será destinada às obras sociais da Paróquia de Nazaré e à própria realização da festa. Essa contribuição tem sido uma característica importante do projeto desde a sua criação, já que garante recursos para ações sociais voltadas a comunidades carentes, creches, espaços pedagógicos e programas de capacitação de jovens. Além disso, auxilia na preservação da Basílica-Santuário e na manutenção de atividades ligadas à Arquidiocese de Belém.
O Selo do Círio e a dimensão cultural da festa
O Selo do Círio foi criado em 2017 como uma certificação de qualidade e autenticidade para produtos e serviços com temática relacionada à festa de Nossa Senhora de Nazaré. Desde então, a Diretoria da Festa de Nazaré tem utilizado o selo em diferentes itens, garantindo que cada produto carregue elementos de originalidade e compromisso com a preservação da cultura local. A iniciativa tem se mostrado relevante ao unir a religiosidade com o universo esportivo, ampliando o alcance da festa para novos públicos.
O Círio de Nazaré é considerado a maior manifestação religiosa do estado do Pará e uma das maiores do Brasil, reunindo milhões de pessoas todos os anos no segundo domingo de outubro, em Belém. Reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO, a procissão mobiliza não apenas fiéis e devotos, mas também diferentes setores da sociedade, como o esporte, a cultura e o comércio.
Nesse contexto, a participação dos clubes Remo, Paysandu, Tuna e Vasco fortalece ainda mais o elo entre tradição religiosa e identidade popular, fazendo com que a festa alcance dimensões ainda maiores em 2025.
Café de açaí apresenta potencial antidiabético. Foto: Celso Lobo/Alepa
O café de açaí, preparado a partir das sementes torradas do fruto amazônico (Euterpe sp.), é uma bebida da Região Norte que, aos poucos, tem conquistado novos consumidores também em outras partes do Brasil. Embora conhecido popularmente como uma alternativa natural para auxiliar no controle da diabetes e da hipertensão, até recentemente faltavam pesquisas científicas que comprovassem sua eficácia e segurança.
Essa lacuna começou a ser preenchida com a defesa da 163ª dissertação do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal do Amazonas (PPGCF/Ufam), apresentada no dia 30 de julho de 2025 pelo mestrando Wilibran Candido de Barros, sob a orientação do professor Emersom Silva Lima.
O trabalho, intitulado ‘Avaliação da Toxicidade e Efeitos Antidiabéticos de um Extrato Aquoso das Sementes Torradas de Açaí (Euterpe sp.)‘, analisou os impactos do consumo do café de açaí em testes laboratoriais e, segundo os pesquisadores, trouxe resultados promissores para a ciência e para a valorização da biodiversidade amazônica.
De acordo com os experimentos conduzidos ao longo de 2024 e 2025, não foram identificados indícios de toxicidade nos testes in vitro e in vivo realizados com o extrato obtido a partir das sementes. Mais do que isso, em camundongos diabéticos, a bebida demonstrou redução significativa dos níveis de glicose no sangue, reforçando relatos tradicionais de seu efeito hipoglicemiante.
Para o professor Emersom Lima, o estudo é um marco importante para a ciência amazônica.
“Trata-se de um trabalho pioneiro, que não apenas confirma a segurança do consumo do café de açaí, mas também abre caminho para novas pesquisas sobre seu potencial como alimento funcional de origem amazônica”, explicou.
O pesquisador destacou ainda que os próximos passos envolvem estudos clínicos em seres humanos, algo considerado viável devido ao histórico de consumo do produto. “O processo de testagem em humanos é relativamente mais simples, pois já existe um uso tradicional consolidado. A etapa seguinte será desenhar um modelo de estudo clínico, submetê-lo ao Comitê de Ética e avaliar efeitos como o hipoglicemiante em indivíduos”, acrescentou.
O aluno responsável pela dissertação, Wilibran Barros, lembrou que o nome “café de açaí” é uma denominação popular, já que o grão não contém cafeína.
“A realidade é que o termo é bastante empregado pelas populações ribeirinhas. O que nos levou a investigar essa bebida foi justamente o uso tradicional, especialmente no Pará, onde há relatos de que ajudaria a reduzir a glicemia. A partir disso, estruturamos um projeto científico para comprovar essa hipótese”, disse.
Café de Açaí pode ser comercializado em pó, como comumente é comercializado o café. Foto: Wilibran Barros/Acervo pessoal
O desenvolvimento da pesquisa, segundo ele, envolveu desafios como a adaptação da semente para se tornar semelhante a um pó de café, o cumprimento de exigências éticas para estudos em animais e a colaboração entre instituições.
Parte dos testes foi conduzida no laboratório BIOPHAR, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Ufam, e outros, como o ensaio de toxicidade em modelo Zebrafish, foram realizados em parceria com a Universidade Federal do Amapá (UNIFAP).
Valorização da biodiversidade e aproveitamento sustentável
Além dos resultados relacionados à saúde, o estudo chama atenção para a dimensão ambiental e econômica do aproveitamento das sementes de açaí. Estima-se que elas representem cerca de 80% do fruto, sendo normalmente descartadas como resíduo após a produção da polpa. Esse descarte em larga escala chega a se tornar um problema ambiental, uma vez que os caroços acumulados podem gerar impactos negativos.
Nesse contexto, a pesquisa evidencia que o café de açaí pode ter um destino mais nobre.
“O café de açaí está sendo um uso mais nobre porque é um alimento, e esse tipo de pesquisa vai valorizar com certeza o uso desse produto”, destacou o professor Emersom Lima.
Ele ressalta que o estudo fortalece a possibilidade de regulamentação do produto junto à vigilância sanitária, já que a comprovação científica é requisito para empresas que pretendem comercializá-lo de forma oficial.
O mestrando Wilibran complementa que a bebida também pode ser enquadrada como alimento funcional, agregando benefícios à saúde humana.
“As expectativas relacionadas a essa pesquisa são que, a partir da comprovação da atividade antidiabética, possamos elaborar um produto que valorize o caroço de açaí, gerando impacto positivo tanto para a saúde, com o controle glicêmico e a presença de fibras e antioxidantes, quanto para o meio ambiente, ao evitar que esse material seja descartado”, afirmou.
Apresentação de mestrado de Wilibran Corrêa. Foto: Reprodução/UFAM
O pesquisador lembra ainda que o aproveitamento da semente gera valor econômico adicional à cadeia produtiva do açaí, trazendo oportunidades para comunidades locais. Além disso, reforça a importância de unir conhecimentos tradicionais e metodologia científica para fortalecer a credibilidade de produtos regionais.
Um futuro promissor para o café de açaí
Apesar de ser um estudo inicial, a dissertação da Ufam já oferece bases sólidas para novas investigações. O orientador e o aluno afirmaram que a continuidade da pesquisa está nos planos, com a perspectiva de transformar os dados obtidos em publicações internacionais e avançar para uma tese de doutorado.
A meta é aprofundar a análise de formulações e, futuramente, realizar ensaios clínicos em humanos que possam confirmar os benefícios identificados.
“Apesar desses resultados preliminares serem bem promissores, tanto em relação à segurança quanto em relação à eficácia, é fundamental que outros estudos sejam realizados para garantir total confiabilidade. Nossa ideia é continuar com pesquisas mais focadas, especialmente em ensaios clínicos”, destacou Emersom Lima.