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Demanda do Centro-Sul por produção agropecuária pressiona desmatamento na Amazônia

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A demanda por produtos agrícolas e pecuários no Centro-Sul do Brasil pressiona de forma significativa o desmatamento da Amazônia, aponta estudo da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP. Os pesquisadores mapearam as relações comerciais com o restante do Brasil e do mundo, para identificar todos os elos da cadeia produtiva. Desse modo, constataram que a procura por produtos e insumos dentro do País, e não apenas as exportações, apresentam um impacto relevante sobre os recursos naturais da região amazônica.

As conclusões do estudo foram publicadas em artigo. Com base nos resultados, os autores do artigo recomendam o aumento das ações de rastreamento da produção agropecuária da Amazônia, hoje restritas a algumas grandes empresas, a fim de mapear também entre os pequenos produtores os impactos do desmatamento.

“O principal objetivo da pesquisa foi mapear e quantificar pelo lado da demanda quais as principais pressões econômicas sobre o desmatamento da Amazônia Legal”, afirma o professor e pesquisador Eduardo Haddad, da FEA, primeiro autor do artigo. “A grande novidade que nós introduzimos foi a possibilidade de fazer a identificação do ponto de vista geográfico da origem dessas pressões; seja referente ao mercado interno, ao da própria Amazônia ou ao do restante do País, as demandas geradas pressionam o desmatamento de forma direta e indireta.”

De acordo com Haddad, a literatura científica tem colocado grande ênfase na demanda externa, ou seja, das exportações que são feitas para outros países de itens produzidos na Amazônia, principalmente da agropecuária.

“Ao mapearmos as nossas origens de demanda, nós também identificamos o peso da procura local e principalmente o papel crítico que a demanda no resto do País, especialmente no Centro-Sul, de modo direto e indireto, exerce sobre o desmatamento da região amazônica”, aponta. “O grande resultado da pesquisa é mostrar essa relevância das relações da Amazônia com o restante do Brasil, de forma a pressionar os recursos naturais.”

Pressão da demanda

Os pesquisadores, por meio de uma abordagem sistêmica, mapearam todas as relações de compra e venda nas várias regiões, dentro e fora da Amazônia, e no resto do mundo, de modo a obter uma visão de cadeia de valor.

“Dessa forma, nós conseguimos identificar a demanda gerada, por exemplo, aqui em São Paulo, influenciando, direta ou indiretamente o desmatamento”, relata Haddad.

“Diretamente, demandando por produtos finais, que exercem alguma pressão, especialmente os da agricultura e pecuária, e de forma indireta quando há uso de insumos da floresta que possam pressionar a mudanças no uso da terra, e dessa forma identificamos a relação do Centro-Sul do Brasil com o desmatamento por meio dos fluxos de comércio e das interações econômicas.”

“Ao fazermos esta análise no contexto de cadeia produtiva e efeitos sistêmicos, olhando pelo lado da demanda, a gente consegue olhar todos os elos dessa cadeia que chegam no desmatamento”, enfatiza Haddad. “Então o que a gente sugere, e isso já tem sido feito por intermédio de algumas grandes empresas que usam recursos naturais na Amazônia, é identificar quem são os fornecedores, e ao rastreá-los, garantir que tenham práticas ambientalmente saudáveis, ou seja, não estejam desmatando na sua produção; é importante aumentar esse procedimento para que o problema não persista.”

“Essa é uma das questões que levantamos no trabalho: o processo de rastreamento teria que tomar uma escala nacional para chegar até os pequenos produtores”, recomenda o pesquisador da FEA. “A pesquisa demonstra que é possível mapear e rastrear os elos da cadeia produtiva, até chegar, no início do processo, aos pontos que estariam associados ao desmatamento”.

Outro ponto discutido no artigo, que tem a ver com políticas públicas, se refere a consequências não desejadas de algumas medidas, como, por exemplo, a Reforma Tributária, que eventualmente pode gerar pressões sobre os recursos naturais ao desonerar exportações e gerar isenções totais ou parciais sobre produtos agrícolas, caso não haja rastreabilidade ou fiscalização”, explica Haddad. 

“Por outro lado, essa mesma reforma pode gerar recursos adicionais para a criação de fundos de desenvolvimento regionais direcionados a ações de adaptação e mitigação visando políticas de desmatamento zero.”

Participaram do estudo Inácio Araújo, pós-doutorando, Ademir Rocha e Karina Sass, pesquisadores associados do Núcleo de Economia Regional e Urbana (Nereus) da USP, sediado na FEA, e Fernando Perobelli, professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Também colaboraram, por meio do projeto sobre a Nova Economia da Amazônia, da organização World Resources Institute Brasil (WRI Brasil), o economista Rafael Feltran Babieri, da WRI Brasil, e Carlos Nobre, coordenador do projeto e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP.

*O conteúdo foi originalmente publicado pelo Jornal da USP, escrito por Júlio Bernardes

Equipe interdisciplinar registra pesquisa sobre relação de indígenas e o Rio Nãnsepotiti, na Amazônia

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Uma equipe da Secretaria Executiva de Comunicação (SEC) da Unicamp acompanha pesquisadoras da Universidade em um trabalho de campo na aldeia Nãnsepotiti, terra indígena Panará, que ocupa parte do território do município de Altamira, no vale do rio Nãnsepotiti (rio Iriri para os não Panará), divisa dos estados do Mato Grosso e do Pará, desde o dia 1º de julho. 

A professora Cassiana Montagner, do Instituto de Química (IQ), e a geógrafa Zaira Anislen Moutinho, doutoranda no Instituto de Geociências (IG), orientada pelo Professor Raul Reis, realizam uma pesquisa interdisciplinar sobre a ligação entre o povo Panará e o Rio Nãnsepotiti, evidenciando sua importância para a aldeia e o impacto que o uso e ocupação da terra na sub-bacia do Iriri provocam para os indígenas. 

Foto: Divulgação/ Jornal da UNICAMP

O objetivo desta viagem, entre as já feitas até agora pelas pesquisadoras às terras dos Panará, é registrar em vídeo o processo de coleta de amostras das águas do rio e os depoimentos dos anciãos da aldeia.

A intenção é obter também, por meio dos relatos, a visão Panará sobre a história da reconquista de parte da terra indígena, em meados da década de 1990, após o processo de saída do Parque Indígena do Xingu, onde a aldeia ficou reduzida a pouco mais de 70 indivíduos.

Hoje a população Panará chega a 600 pessoas, um exemplo de resistência e da relação estruturante entre a existência do povo e o rio Iriri.

A Associação Iakiô é a principal parceira e financiadora da pesquisa, por meio do projeto Lira (Legado Integrado da Região Amazônica), além do ISA (Instituto Socioambiental).

A jornalista Hebe Rios e o repórter cinematográfico Marcos Botelho Jr. retornam neste domingo (7) com parte da equipe de pesquisa. O resultado do trabalho de campo e os relatos obtidos nos dias vividos na aldeia Nãnsepotiti serão divulgados.

*Com informações do Jornal da UNICAMP

Pela primeira vez, pesquisadoras do Butantan comprovam que serpente amazônica se alimenta de aves

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Com olhar atento aos detalhes e anos de experiência e dedicação às serpentes: foi assim que duas pesquisadoras do Museu Biológico do Parque da Ciência Butantan comprovaram, pela primeira vez, que as aves fazem parte da dieta da cobra papagaio (Corallus batesii), conhecida no exterior como jiboia-esmeralda da Bacia Amazônica (Amazon Basin emerald tree boa, em inglês). A descoberta foi pelas biólogas Circe Cavalcanti de Albuquerque e Silvia Regina Travaglia Cardoso.

Leia também: Primeiro registro de vocalização para uma serpente na América do Sul é realizado na Amazônia

O estudo chamou a atenção de um dos maiores especialistas do mundo no gênero Corallus: o pesquisador Robert W. Henderson, curador da coleção herpetológica do Museu Público de Milwaukee, dos Estados Unidos, que já publicou uma série de trabalhos sobre a serpente. Ele chegou a entrar em contato para parabenizar as cientistas do Butantan – surpreendentemente, no mesmo dia em que saiu o artigo.

“Eu sabia que, eventualmente, alguém documentaria a ingestão de aves por Corallus batesii. Parabéns por terem sido as primeiras”, escreveu ele.

Fotos: José Felipe Batista/Comunicação Butantan

Serpentes do gênero Corallus são arborícolas e vivem a maior parte do tempo no topo das árvores de florestas tropicais. São animais oportunistas, que se alimentam de lagartos, pássaros e pequenos mamíferos que passam por elas.

A presença de aves na dieta dessas cobras já havia sido registrada para quase todas as espécies do gênero – com exceção da C. batesii e C. caninus, que vivem na floresta amazônica. A suspeita, porém, existia há décadas na ciência. 

Suas próprias características físicas são ideais para capturar presas volumosas, com dentes finos curvados para trás e cabeça avantajada. Inclusive, por serem morfologicamente muito parecidas, ambas eram consideradas da mesma espécie até a revalidação de C. batesii por Henderson e colaboradores em 2009.

A história da descoberta de Circe e Silvia começou em fevereiro de 2023, quando o Museu Biológico do Butantan recebeu uma C. batesii, resgatada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) – a título de curiosidade, fazia parte da mesma entrega a famosa víbora azul batizada de Rita Lee e atualmente exposta no museu. A cobra-papagaio passou por quarentena para receber cuidados veterinários, assim como todos os animais que são resgatados e encaminhados ao Museu Biológico. Nos primeiros meses, algo chamou a atenção das biólogas.

“A serpente passou dois meses sem se alimentar e, quando defecou, notamos a presença de penas nas fezes. Isso mostra como observar o material biológico do animal e prestar atenção pode ajudar a obter respostas sobre sua biologia”, afirma Silvia.

Fotos: José Felipe Batista/Comunicação Butantan

As cientistas coletaram o material e o conservaram em álcool 70%. Três ornitólogos (especialistas em aves) foram consultados, mas não foi possível identificar a espécie de ave ingerida devido à degradação provocada pela digestão.

O estudo sugere que a ingestão da ave ocorreu na própria natureza, antes do animal ser capturado ilegalmente. O transporte e manutenção inadequados, frequentes durante capturas ilegais da fauna silvestre, podem gerar desidratação e estresse no animal, o que neste caso retardou o processo de defecação e explica o nível de degradação das penas.

Para Circe e Silvia, além da satisfação da descoberta, foi emocionante receber o contato de um pesquisador que é referência para elas.

“Foi uma surpresa muito boa. O nosso papel como cientistas é produzir conhecimento, e o que me encanta é que estamos sempre aprendendo. Saber que contribuímos para o conhecimento científico é muito gratificante”, ressalta Circe.

Saiba mais:

Vídeo: Reprodução/ Youtube – Butantan

Em ritual de povo indígena, mulheres só se tornam artesãs após primeiro ciclo menstrual

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Foto: Emily Costa/g1 Rondônia

Na cultura do povo indígena Paiter Suruí, o primeiro ciclo menstrual de uma jovem marca o momento de passagem para a vida adulta. Na Terra Indígena (TI) Sete de Setembro, em Cacoal (RO), o ritual chamado de “resguardo cultural” ocorre em uma maloca, durante um mês. Lá, elas aprendem várias atividades importantes para a vida adulta, mas principalmente o artesanato.

Os Suruí de Rondônia se autodenominam Paiter, que significa “gente de verdade, nós mesmos”. Eles falam uma língua que pertence ao grupo Tupi, da família Mondé, e vivem na TI Sete de Setembro, localizada no sudeste de Rondônia e noroeste do Mato Grosso.

Leia também: Paiter Suruí, “o povo de verdade”: conheça os fundadores da primeira agência de turismo indígena do Brasil

Kailane Suruí tem 13 anos e conta que antes da primeira menstruação, as jovens só podem fazer canecas de barro e não tem permissão para confeccionar outros tipos de artesanato.

Resguardo cultural: processo de purificação

No momento do primeiro ciclo menstrual, as jovens Suruí ficam em uma maloca (tradicional habitação indígena) sob os cuidados da mãe. Durante o ‘resguardo cultural’, elas aprendem novos comportamentos, formas de alimentação, educação, conselhos e serão capacitadas para se tornarem artesãs.

Na cultura Paiter Suruí, esse é um dos rituais mais importantes na vida de uma mulher indígena. É nesse ‘processo de purificação espiritual’ que ela se prepara para assumir as responsabilidades dessa nova fase.

Aldeia indígena Lapetanha na TI Sete de Setembro, em Cacoal — Foto: Emily Costa/g1 RO
 Foto: Emily Costa/g1 Rondônia

“Antes, as mulheres ficavam mais de um ano em uma maloca passando por esse processo de purificação, mas hoje em dia, no máximo, a indígena fica de 30 a 40 dias, para respeitar o psicológico dessa jovem”, explica Celso Suruí.

Após esse processo de mudança, a indígena passa a auxiliar as outras mulheres da aldeia na confecção e venda de artesanatos. Além de garantirem uma forma de renda.

Artesanato

Canecas e cuias de argila, brincos e colares de tucumã, e cordão de algodão, são alguns dos artesanatos confeccionados pelas mulheres Suruí. Os produtos são feitos manualmente com matérias-primas extraídas dentro da Terra Indígena (TI). Isso porque, o modo de vida tradicional desta etnia está ligado ao uso dos recursos da floresta e às atividades extrativistas, ou seja: os frutos produzidos dentro da TI, além de gerarem renda, também contribuem para alimentação e manutenção da forma de vida desses povos.

Caneca feita de argilha por mulheres Paiter Suruí — Foto: Emily Costa/g1 RO
Foto: Emily Costa/g1 Rondônia

Já os cascos e partes de árvores se tornam matérias-primas para a confecção de peças e acessórios exclusivos da cultura Suruí. A venda é feita na aldeia e os maiores compradores são pessoas que visitam e se hospedam na Yabnaby (agência de etnoturismo que fica dentro da TI).

Além disso, eles possuem diferentes modelos de cocar tradicional da etnia: cada formato é feito para ocasiões e indivíduos específicos, como líderes e jovens. Já em relação a esse tipo de artesanato, somente o indígena mais antigo da aldeia tem permissão para confeccioná-lo.

*Por Emily Costa, da Rede Amazônica RO

Indígenas do Peru e do Brasil se unem para proteger povos isolados 

Organizações indígenas do Peru e do Brasil estão unindo forças para pressionar os respectivos governos para salvaguardar um corredor territorial de 16 milhões de hectares na Amazônia, que se estende desde o Rio Tapiche, no Peru, até o Rio Javari, no Brasil.

As 15 organizações indígenas, que incluem a Organização Regional dos Povos Indígenas da Amazônia Oriental (Orpio) e a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), planejam criar uma comissão binacional para definir políticas transfronteiriças destinadas à proteção dos povos indígenas em isolamento e contato inicial que vivem dentro do Corredor Territorial Javari-Tapiche e transitam livremente entre os dois países. 

O corredor se espalha pelos departamentos de Loreto e Ucayali no Peru, e Amazonas e Acre no Brasil. Abriga também a maior diversidade de primatas no mundo, incluindo macacos-aranha (Ateles belzebuth) e saguis-pigmeus (Callithrix pygmaea).

“Propusemos a criação de uma comissão binacional formada por organizações indígenas para fortalecer as estratégias de proteção dos povos isolados, bem como para convocar e exigir ações urgentes dos países para deter as invasões territoriais”, disse Apu Miguel Manihuari Tamani, líder indígena que faz parte do conselho de administração da Orpio.“[Há] necessidade de articular esforços para o monitoramento, gestão e vigilância do território entre organizações indígenas, tanto em nível nacional quanto transfronteiriço”.

Esse esforço enfrenta desafios de políticos de ambos os países que favorecem um modelo de agronegócio e desenvolvimento que eliminaria e restringiria o reconhecimento dos territórios indígenas para lavouras ou indústrias.

A ideia de instalar um corredor neste local não é recente. Desde 2011, as organizações têm pressionado pela proteção deste corredor territorial e de outros. Entre 2016 e 2021, a Orpio liderou estudos para comprovar a existência do Corredor Territorial Javari-Tapiche no lado peruano da fronteira, apresentados ao Ministério da Cultura do Peru em 9 de dezembro de 2021.

Devido ao progresso lento por parte do Estado e ao aumento das ameaças a esses territórios, a Orpio elaborou um novo projeto de lei para pressionar o governo peruano a reconhecer formalmente o Corredor Territorial Javari-Tapiche e vários outros, como o Yasuní-Napo-Tigre e o Putumayo-Amazonas, além de conceder aos povos isolados as proteções de que precisam. Ainda em fase inicial, o projeto está sendo compartilhado com outras organizações da região, com o objetivo de apresentar uma proposta conjunta ao Congresso peruano e aos demais setores do Estado responsáveis pela proteção desses povos nos próximos meses.

A antropóloga Beatriz Huertas disse à Mongabay que, possivelmente, os corredores abrigam a maior concentração de povos indígenas isolados do mundo. Mas as atividades ilícitas em ambos os lados da fronteira Brasil-Peru, incluindo a rápida expansão das culturas de folhas de coca, mineração ilegal, desmatamento e tráfico de drogas, representam um risco para as pessoas isoladas e em contato inicial.

“Eles não são como nós, que temos nossa comunidade, que temos nossa casinha; eles são nômades, assim como nós ou nossos ancestrais já foram um dia”, disse Apu Roberto Tafur Shupingahua, coordenador da Plataforma de Organizações Indígenas para Proteção do Corredor Territorial Javari-Tapiche da Orpio. “O problema é que o Estado [peruano] abandonou as comunidades durante muitos anos e, se não fosse pelas nossas organizações, nada chegaria a essas comunidades.”

A Ministra da Cultura do Peru, Leslie Urteaga, disse à Mongabay que se reuniu com as organizações indígenas em 22 de março para discutir as propostas. Questionada sobre quais ações tomou para lidar com as ameaças aos povos isolados, informou que o ministério organizou 757 patrulhas em 2023 para detectar ameaças ligadas a possíveis atividades ilícitas e, este ano, realizou mais de 200, além de nove operações de monitoramento.

Atuação além das fronteiras criadas

A natureza transfronteiriça desse esforço é rara, comentou Hilton da Silva Nascimento, do Centro de Trabalho Indígena (CTI) brasileiro. 

“Tudo é novo e precisamos lembrar que isso envolve dois países diferentes, duas histórias diferentes, duas formas diferentes de fazer política, alianças com o Congresso e as forças de poder de ambos os países.”

O objetivo é simplesmente defender “nossos irmãos Piaci [acrônimo usado para definir povos isolados e em contato inicial]” onde quer que estejam, explicou Tamani. “Eles não conhecem fronteiras; vão do Peru ao Brasil e não conhecem esses limites.”

Nascimento explica que, ao criar políticas indígenas transfronteiriças, as organizações indígenas poderão formar uma rede mais formal para troca de informações e experiências entre si, como conhecimentos sobre proteção e gestão territorial. Outro objetivo é promover a coordenação entre ambos os Estados em questões de saúde, como alcançar um modelo de saúde intercultural com uma abordagem transfronteiriça.

Um desafio enfrentado pelas organizações indígenas é que os congressos do Brasil e do Peru são em grande parte compostos por membros a favor do agronegócio. Nos últimos anos, eles têm promovido vários projetos de lei contrários aos povos indígenas e ao meio ambiente, como a polêmica tese do marco temporal do Brasil para Terras Indígenas, que pode ter reduzido novas demarcações, encolhido territórios aprovados e aberto áreas indígenas para projetos de mineração e infraestrutura.

No ano passado, o Congresso do Peru debateu um projeto de lei polêmico que buscava alterar as leis de proteção aos povos isolados do país e reavaliar a existência de todas as reservas indígenas que continham essas populações. O projeto de lei, que, segundo especialistas em direitos humanos e ambientais, é legalmente falho e uma violação dos direitos humanos, foi oficialmente descartado em junho, em parte devido aos esforços das organizações indígenas que fizeram lobby para detê-lo.

No entanto, outros projetos de lei semelhantes estão a caminho. Em 10 de janeiro, o Congresso conseguiu aprovar uma emenda à lei florestal e da vida selvagem do país, que José Francisco Calí Tzay, relator especial da ONU sobre os direitos dos povos indígenas, argumentou que poderia “legalizar e encorajar a expropriação dos povos indígenas de suas terras”.

“Os congressos do Peru e do Brasil têm promovido projetos de lei que são tão prejudiciais aos povos indígenas em geral, e aos povos isolados em particular, que constituem graves ataques à vida e à continuidade desses povos”, expressou Huertas. “São projetos de lei que visam despojar os Piaci de seus territórios para disponibilizá-los para fins econômicos, independentemente de este caminho ameaçar a própria existência desses povos.”

*O conteúdo foi originalmente publicado pela Mongabay, escrito por Aimee Gabay

Entenda qual a relação do El Niño com infestação de lagartas em Roraima

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A morte de mais de 7 mil bois e vacas por falta de pasto devido a uma infestação de lagartas está diretamente ligada ao fenômeno El Niño, evento climático que neste ano foi severo em Roraima. É o que explicam especialistas em meio à situação de emergência que 10 dos 15 municípios enfrentam diante das consequências da infestação. O fenômeno El Niño ocorre quando o Oceano Pacífico aquece, o que afeta o clima em todo o país.

O cenário no estado, que neste ano teve recorde de seca e queimadas históricas, também foi impulsionado pelo aquecimento do Oceano Atlântico Norte. Juntos, estes fenômenos resultaram na escassez dos predadores das lagartas que consomem os pastos. É o que explica meteorologista Ramon Alves, da Fundação Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh), que monitora a situação climática no estado.

“Embora não tenhamos tido um super El Niño como o de 2015, as consequências foram mais graves. Registramos recordes de queimadas e baixas precipitações, com aproximadamente quatro meses quase sem chuvas, e quatro ou cinco meses de recorde de queimadas. Essas condições trouxeram consequências graves para o estado, causando desequilíbrio ambiental, e afetando todo o meio ambiente”, explicou.

Em menos de dois meses, 7.139 bois morreram por falta pasto. No interior, as áreas das fazendas viraram cemitérios de animais mortos de fome. A estimativa é que ao menos 54 mil hectares de pasto – o equivalente a 75 mil campos de futebol, tenham sido devastados.

O motivo da morte desse gado é a infestação de lagartas das espécies lagarta-do-cartucho-do-milho (Spodoptera frugiperda) e o curuquerê-dos-capinzais (Mocis latipes). Elas devoram o pasto que serve de alimento para os bois.

Essa superpopulação das lagartas está relacionada ao desequilíbrio ambiental causado pelo El Niño intenso nos primeiros meses do ano em Roraima, conforme o doutor em entomologia agrícola e pesquisador sobre lagartas e mariposas na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Cirano Melville.

Foto: Caíque Rodrigues/Rede Amazônica

Com seca severa e os focos de calor reflexos do fenômeno climático, a população de predadores naturais das lagartas reduziu e os impactos foram sentido em ao menos 840 propriedades rurais do estado.

“O desequilíbrio ecológico afugenta os predadores naturais das lagartas. Esses predadores naturais incluem bactérias, fungos, vírus, parasitoides, vespas e besouros, que ajudam a controlar as pragas. Em situações de seca e altas temperaturas, a população desses insetos controladores pode ser reduzida em até 60%”.

“Esses controladores biológicos geralmente chegam atrasados, após a reestabilização do equilíbrio ecológico, que pode demorar devido à mortalidade causada pelas condições climáticas desfavoráveis”, explicou o pesquisador.

Para se ter ideia, a cadeia da devastação nos pastos de Roraima ocorreram desta forma: com o início do período chuvoso, o capim começou a brotar novamente e ganhar vida. No entanto, neste mesmo período, surgiram as lagartas e os percevejos que atacaram os brotos que se tornariam alimento para o gado. Com isso, o capim não nasceu – e ainda foi impactado pela ação voraz do mata-pasto, uma espécie de erva daninha.

Clima úmido favoreceu reprodução

Melville explicou ainda que a transição das altas temperaturas do El Niño para o período chuvoso fez com que a umidade do clima também contribuísse para que as lagartas se reproduzissem de uma maneira desenfreada, aumentando a população desses insetos. Esse processo é descrito por ele como desequilíbrio ambiental.

“A umidade e a temperatura elevadas favorecem os insetos. Quando chove, por exemplo, aqui em Roraima, a temperatura baixa um pouco, tornando-se mais amena, o que é ideal para as lagartas. Elas precisam de temperaturas entre 25 e 30 graus para se desenvolverem”.

“A temperatura elevada acelera o metabolismo e o desenvolvimento das lagartas, o que também impacta na reprodução mais rápida desses insetos, encurtando o ciclo de vida deles. Em vez de 55 a 60 dias, o ciclo pode se reduzir para 40 a 45 dias, aumentando o número de ciclos e populações de insetos nesse período favorável.

As plantas que começaram a brotar com o início do período chuvoso, em abril, também são pratos cheios para espécies como a lagarta-do-cartucho-do-milho e o curuquerê-dos-capinzais, as duas que têm atacado os pastos em Roraima.

“Nas áreas de pastagem, após queimadas, as novas brotações de capim se tornam um ambiente perfeito para as lagartas devido ao alto teor de nitrogênio presente nas cinzas. As primeiras folhas que surgem após a queima são ricas em nitrogênio, o que é ideal para a alimentação das lagartas, acelerando ainda mais o desenvolvimento delas”.

Também pesquisador da Embrapa, Daniel Schurt explica que os efeitos do El Niño e do período seco em Roraima, independentemente da intensidade, podem ter soluções se houver a preparação dos produtores antes dos desastres acontecerem.

Ele recomenda que seja ofertado aos produtores capacitações que os preparem para adversidades como secas, cheias e pragas.

“É importante que os agricultores e pecuaristas estejam preparados para essas situações. Recomendamos que se capacitem, busquem informações nos órgãos de pesquisa e extensão, diversifiquem as pastagens, façam rotação de culturas e análises de solo, e conheçam as alternativas de controle, incluindo o uso de inseticidas e o monitoramento constante das pragas”, explicou o pesquisador.

Foto: Caíque Rodrigues/Rede Amazônica

Regiões impactadas

Nos dados obtidos, Mucajaí, a 60km da capital Boa Vista, é o município com as maiores perdas. No entanto, o problema se estende a Amajari, Alto Alegre, Bonfim, Cantá, Caracaraí, Iracema, Pacaraima, Normandia e Uiramutã.

Diante da situação, com um número crescente de gado que morre a cada dia, o governo decretou situação de emergência. A ideia é oferecer apoio financeiro a produtores rurais das regiões afetadas.

Como a falta de comida impacta o gado

Sem ter pasto para se alimentar diariamente, o gado morre em poucos dias. É o que explica doutor em zootecnia e professor de bovinocultura na Universidade Federal de Roraima (UFRR), Jalison Lopes.

Ele explica um boi consegue sobreviver sem comida por até 20 dias, dependendo do estado nutricional. Sem água, sobrevive até 4 dias, no máximo. As alternativas para enfrentar o problema incluem substituir a pastagem morta por alimentos conservados, como silagem (alimento conservado) ou feno (mistura de plantas secas).

“A ideia seria substituir o pasto pela ração, podendo fornecer milho-grão inteiro junto com núcleo proteico mineral vitamínico. Diversas plantas podem ser usadas para produzir feno, assim como palhadas de culturas. Coprodutos de agroindústria indústria, como a borra de dendê em Roraima, também são opções para substituir a pastagem”, explica o professor.

Reflexos do desequilíbrio ambiental

A reportagem esteve em dois locais que foram severamente afetados pela morte de rebanhos em fazendas por falta de comida: as vilas Samaúma e a Apiaú, município de Mucajaí, no Sul de Roraima. Na região, produtores perderam grande parte do gado. Emocionados, eles relataram o clima de desespero, apreensão e medo.

Historicamente, a criação do estado de Roraima se entrelaça com a da pecuária e, consequentemente, com os impactos ambientais que a atividade engloba, como o desmatamento. No entanto, desta vez, especialistas afirmam que ainda é prematuro associar o desequilíbrio ambiental das lagartas e mortes dos bois com a supressão de vegetação. Até agora, a principal relação é com o El Niño intenso dos últimos meses.

Foi neste cenário que o pecuarista Joaquim Simão Costa, de 55 anos, se viu obrigado a buscar pasto em outras regiões. Para fugir da fome, ele levou o rebanho a pé para uma fazenda alugada de um amigo na região do Truarú, em Boa Vista, distante quase 113 Km da Sumaúma, onde vive, numa viagem de aproximadamente 10 dias.

No trajeto, muitos animais de Joaquim morreram e foram deixados na estrada, outros tiveram a carcaça arrastada pelo caminho. Vídeos mostram ele levando o rebanho pelas ruas para fugir da fome.

Na vila Samaúma, o cenário é de tristeza. Urubus sobrevoam por todas as partes nas ruas e nas estradas. Carcaças de bois e vacas mortos são vistas com facilidade nas margens das vias. As áreas de pastos se tornaram cemitérios dos animais que antes eram o sustento de famílias rurais.

No caminho, com o rebanho fraco e com fome, animais morrem e são abandonados. Rastros de sangue de cascos machucados são deixados na estrada. Tudo isso deixa Joaquim emocionado.

Passar pela situação é um “pesadelo” para ele, mas não há outra solução a não ser levar o gado para outro lugar que não esteja infestado por lagarta.

“É muito triste ver essa situação. Estamos enfrentando uma dificuldade enorme, muita tristeza. A situação está muito feia e difícil. Moro aqui há 40 anos. Nunca tivemos um fenômeno tão desesperador. Está muito difícil, nunca tinha visto algo assim. Fomos pegos de surpresa”.

“Em dez dias o gado foi morrendo de fome na estrada, debilitado, caindo e ficando para trás. É uma tristeza imensa, muito difícil”, contou o pecuarista.

Com o decreto de emergência, o governo também criou o Programa Emergencial de Apoio à Pecuária Familiar, medida que prevê a contratação temporária de pessoas, dispensa de licitação para aquisição de bens e serviços essenciais, além da convocação de voluntários para reforçar as ações de resposta ao desastre.

Para o combate às pragas e recuperação do pasto nas propriedades, o governo, por meio da Agência Desenvolve, anunciou o o repasse de R$ 1.750 aos produtores rurais. O valor será concedido por meio do programa Desenvolve Roraima. O teto máximo que cada produtor deve receber é de 5 hectares, o equivalente R$ 8.750.

*Por Caíque Rodrigues, da Rede Amazônica RR

Aprenda a fazer tambaqui na brasa com vinagrete de milho verde

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Tambaqui na brasa com vinagrete de milho de verde. Foto: Reprodução/Rede Amazônica RO

Nos pratos dos rondonienses não pode faltar ele: o tambaqui. Pensando nisso, o chef Pedro Bagattoli ensina uma receita de tambaqui na brasa e na folha de bananeira com um vinagrete de milho verde.

Ingredientes

Peixe

1 tambaqui inteiro 3 a 4kg
5 folhas de chicória picada
2 pimentas de cheiro
2 limão
4 colheres de sopa de azeite
Sal
3kg sal grosso
Folha de bananeira

Vinagrete de milho verde

1kg milho verde
1 colher de manteiga
3 dentes de alho
3 tomates maduros
1 cebola ( se tiver a roxa melhor )
1/2 maço de cebolinha
1 limão
1/3 xícara de azeite
Sal

Modo de preparo:

Peixe

  • Tempere o tambaqui por dentro com sal, azeite, limão, chicória e pimenta de cheiro, meia hora antes de assar.
  • Sapeque as folhas de bananeira na chapa quente do fogão a lenha ou na chama do fogão a gás, para que ela fique maleável.
  • Faça uma cama de folhas na bancada, coloque uma cama da sal grosso e em seguida coloque o tambaqui.
  • Cubra o tambaqui com mais sal grosso e enrole na folha de bananeira totalmente na crosta de sal.
  • Leve para brasa por aproximadamente 1 hora, retire as folhas de bananeira, a crosta de sal e retire também a pele que vai sair com facilidade.
  • Sirva com o vinagrete de milho verde.

Vinagrete de milho verde

  • Doure o alho na manteiga e refogue o milho verde até ele ficar mole.
  • Deixe esfriar.
  • Com o milho frio, misture o tomate a cebola, cebolinha, e tempere com o azeite, sal e limão.
  • Sirva com o peixe assado.

Plantas não convencionais transformam alimentação escolar em Gurupi, no Tocantins

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Tudo começou em 2022, no curso de Agronomia do Câmpus Gurupi, da Universidade Federal de Tocantins (UFT), quando a professora Susana Cristine Siebeneichler viu uma oportunidade no projeto do Programa Institucional de Inovação Pedagógica (PIP), coordenado pela professora Carmes Ana da Rosa Batistella. O plano era simples: montar uma horta em uma escola municipal. No entanto, a visão de Susana foi além dos vegetais convencionais.

Ela submeteu um projeto sobre plantas alimentícias não convencionais (PANC) na primeira carteira de projetos do Centro de Desenvolvimento Regional Sul (CDR Sul), sob a coordenação da professora Adriana Terra. O projeto foi contemplado, iniciando uma jornada que levaria a ora-pro-nóbis, uma planta rica em vitaminas, proteínas e minerais, para a mesa das crianças de Gurupi.

As professoras Susana e Adriana com o Senhor Jorge em campo explicando com plantar e cultivar ora-pro-nóbis. Foto: Susana Cristine Siebeneichler/Acervo pessoal

Cultivando mais que alimentos

A horta começou a ganhar vida na Escola Agripino de Sousa Galvão, com a ajuda de diversos parceiros. Além da ora-pro-nóbis, a horta abrigou a beldroega, outra PANC. A professora Susana, sempre buscando inovar, teve a ideia de fazer com que as crianças experimentassem pratos preparados com as plantas que elas mesmas ajudaram a cultivar.

Com o apoio da Secretaria Municipal de Educação, foi organizado um dia de degustação na escola. O prato escolhido? Uma deliciosa farofa de ora-pro-nóbis com peixe. O resultado surpreendeu: quase 70% das crianças do turno matutino aprovaram a novidade!

O sucesso da farofa abriu portas para um passo ainda maior: incluir a ora-pro-nóbis no cardápio da merenda escolar de Gurupi. Para garantir um fornecimento sustentável, mudas foram distribuídas a produtores locais, como a associação Micro Jandira e o assentamento Vale Verde, onde o senhor Jorge Cabral e a família de Josué Degmar da Silva já comercializavam alimentos para a merenda escolar.

Diante de tudo que Susana tem feito e presenciado, ela destaca que o impacto deste projeto vai além da alimentação saudável:

“A criação de políticas públicas que garantam a segurança alimentar e nutricional nas escolas fortalece a conexão entre a Universidade e a comunidade. A expectativa é que outras PANC, com seus diversos benefícios nutricionais, possam em breve fazer parte do cardápio escolar.”

Além disso, ela conta que com projetos como este, não só é possível plantar alimentos, mas também semear conhecimento, saúde e inovação na educação das futuras gerações.

Professora Susana junto com a equipe da escola preparando e testando receitas com as plantas. Foto: Susana Cristine Siebeneichler/Acervo pessoal

Agradecimento às parcerias

Susana destaca ainda que “nada disso seria possível” sem o esforço conjunto de várias mãos. A equipe de nutricionistas da Secretaria Municipal de Gurupi (Lucia Isabel Oliveira Santos, Marcos Antônio Ramos de Oliveira, Wanderlei Sousa Silva Júnior e Luana Venâncio da Costa) foi fundamental; além de Raffael Batista Marques, bolsista do projeto; a Direção da Escola Agripino de Sousa Galvão; o financiamento e apoio do CDR Sul e da Fapt.

*Com informações da UFT

Saiba qual história de escritor do Amapá se tornou alegoria do Boi Caprichoso em 2024

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Foto: Daniel Landazuri/g1 AM

A historia contada em um livro do escritor Gian Danton foi interpretada em uma alegoria do Boi-Bumbá que compete anualmente no Festival Folclórico de Parintins, o Boi Caprichoso, tricampeão em 2024. O Amapá se fez presente no segundo dia do festival, com a alegoria que levou o tema ‘Lenda do Chico Patuá: Um herói da resistência popular’.

Gian Danton, autor do livro ‘Cabanagem’, que originalmente conta a história do herói Chico Patuá, contou que descobriu que a sua autoria estava no Festival de Parintins através de um amigo que leu a obra.

“Eu soube por um amigo de Manaus, que na hora me mandou mensagem dizendo: que bacana a homenagem que estão fazendo para o seu livro no Festival de Parintins. Na hora que estava acontecendo a apresentação”, disse Danton.

O autor entrou em contato com a equipe do Boi Caprichoso, que esclareceu e confirmou que a apresentação era uma interpretação da história criada por ele.

O presidente do Conselho de Artes do Boi Caprichoso, Ericky Nakanome informou que foi uma alegria receber uma ligação de Gian e o convidou para ir à Parintins para lançar a pesquisa junto à equipe.

“Para a gente foi uma alegria imensa receber a ligação dele. Eu acredito que seja a primeira vez que isso aconteça. A gente trabalha com uma referência de quase 200 livros. O livro do Gian foi um achado. A obra aparece na bibliografia como uma das principais e temos o desejo de trazer ele (autor) à Parintins até o final do ano, para lançar o livro aqui com a gente”, disse o presidente.

Gian Danton, autor de livros no Amapá. Foto: Gian Danton

Ainda de acordo com o presidente do conselho, a história completa é um tema importante que deve ser apresentado no festival, sendo a luta contra a cabanagem e a exaltação indígena.

“A referência do Chico Patuá aparece na fala de um conselheiro em uma das nossas reuniões. Fomos pesquisar em outros livros de cabanagem e a mais completa obra que falava sobre sua história, sua narrativa, era o livro do Danton”, descreveu.

A partir de um resumo da história, a equipe do Boi Caprichoso deu vida e cores à história do personagem Chico Patuá que seria a apresentação. O presidente Ericky Nakanome contou que a história tinha “a cara do caprichoso”.

Conheça a inspiração: ‘Cabanagem’

O livro ‘Cabanagem’ surgiu da inquietação de Gian Danton, após descobrir que o movimento da cabanagem chegou ao Amapá, até Mazagão e à Ilha de Santana, fato pouco falado historicamente. Mesmo se tratando de uma história fictícia, ele insere fatos da revolta no Grão-Pará na narrativa.

O livro conta sobre as lendas e as mitologias da região, com o foco principal no Chico Patuá, que é o protagonista. Patuá é um cabano que está fugindo da repressão no Pará e vem em direção ao Amapá.

Livro Cabanagem, de Gian Danton. Foto: Gian Danton

Durante a fuga, o protagonista recebe a ajuda de entidades místicas como o Curupira, a Matinta Perêra, a Cobra Grande. Por outro lado, algumas das lendas acabam tomando partido da repressão, o que acaba causando mais uma guerra, mas desta vez entre humanos e entidades sobrenaturais.

*Por Isadora Pereira, da Rede Amazônica AP

Parque Chico Mendes é 1º da Região Norte a receber selo de sustentabilidade de fundação holandesa de turismo

O Parque Ambiental Chico Mendes, em Rio Branco (AC), recebeu o selo de sustentabilidade Good Travel Seal, da Fundação Holandesa Green Destinations durante cerimônia no dia 3 de julho. O selo é concedido a empreendimentos de turismo que tenham compromisso ambiental, com o objetivo de incentivar destinos e negócios a viajantes responsáveis.

Certificação foi articulada pelo Fórum Empresarial do Acre através do programa DEL Turismo, que atua em todo o país, além de apoio da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Turismo, Tecnologia e Inovação (SDTI).

Desde janeiro, a equipe cuidou de toda a documentação necessária para as diversas etapas do processo de certificação. Foram avaliados 59 critérios entre prevenção contra poluição, resíduos, energia e clima, acessibilidade, entre outros. Em ato simbólico, o certificado foi fixado ao lado do Memorial Chico Mendes, trecho do parque que conta a história do seringalista e ativista ambiental acreano morto em 1988.

O Parque Chico Mendes é o primeiro da Região Norte a receber este selo. A administração do local espera que isso traga visibilidade. Joseline Guimarães, coordenadora do espaço, ressalta que muitos turistas procuram destinos que possuam responsabilidade ambiental e que a conquista do selo vai colocar o parque na rota internacional.

“Nós estamos sempre prontos para receber o turista, preparados da melhor forma possível que nos cabe. E [o certificado] foi montado em frente do Memorial Chico Mendes, que é um ato também mais simbólico ainda. Esse foi um motivo de muita alegria esse ano, a gente ficou muito feliz, é um espaço super agradável. Quem já veio visitar e quem ainda não veio, nós fazemos o convite, porque você vai ter uma experiência muito agradável. É um local totalmente integrado à natureza”, destacou a coordenadora.

Para receber o selo, os empreendimentos precisam cumprir os seguintes passos:

  • Inscrição
  • Relatório
  • Avaliação
  • Auditoria
  • Decisão de comitê
Foto: Aline Nascimento/g1 Acre

Uma das articuladoras da certificação, a coordenadora do Fórum Empresarial, Tíssia Veloso, destacou que a certificação abrange o período de um ano, e que durante esse tempo a ideia é que o parque melhore nos critérios que ainda não são satisfatórios para então obter uma certificação ainda melhor.

“A certificação funciona por um ano, e dentro desse primeiro ano a gente vai melhorar os critérios que a gente não conseguiu atender para, no próximo ano, tentar uma certificação melhor ainda”, ressaltou

O secretário municipal de Turismo, Coronel Ezequiel Bino, destacou o trabalho entre diversas instituições no processo de certificação. Com o apoio do Fórum Empresarial, Bino ressalta que o nome de Chico Mendes atrai olhares internacionais, e espera que o selo traga um maior número de visitantes ao parque.

“Essa instituição leva o nome do Parque Chico Mendes como um destino sustentável. E isso é muito observado pelos nossos turistas, pelos nossos visitantes. Então, a gente acredita que com isso, esse parque, que já é tão visitado por pessoas daqui do mundo, receba ainda mais turistas”, disse.

Parque Ambiental Chico Mendes é o 1º da região norte a receber selo de sustentabilidade

*Por Victor Lebre e Aline Nascimento, da Rede Amazônica AC