O objetivo do manual é disponibilizar conhecimentos de forma gratuita para os públicos de interesse, especialmente comunidades agroextrativistas que produzem o fruto.
A Embrapa Amapá está elaborando um manual de ‘Boas Práticas de Fabricação de bebida fermentada de açaí‘, a partir da experiência do empreendimento Flor de Samaúma na produção do AçaíTinto e os requisitos da legislação para produtos seguros.
O objetivo é disponibilizar conhecimentos de forma gratuita para os públicos de interesse, especialmente comunidades agroextrativistas que produzem o fruto de açaí e potenciais produtores e consumidores da bebida, agregando valor a este produto abundante na biodiversidade da Amazônia.
Foram realizadas duas etapas do processo para a validação técnico-científica do processo artesanal de produção da bebida. Inicialmente os empreendedores João Capiberibe e Janete Capiberibe, demonstraram no Laboratório de Alimentos da Embrapa Amapá, os insumos e princípios da produção artesanal de bebida fermentada de açaí. “Usamos um garrafão de 20 litros, desses que vêm com água mineral, fizemos o mosto; é assim que chamamos a mistura de polpa de açaí, água, açúcar e levedura. Em seguida, lacramos o garrafão”, recordou Capiberibe.
Os empreendedores Janete e João Capiberibe demonstraram a fabricação artesanal do AçaíTinto no lalaboratório da Embrapa. Foto: Ricardo Costa
A pesquisadora Valeria Bezerra participou do processo, registrando e analisando parâmetros como avaliação da densidade do xarope, do mosto e da bebida finalizada, representada pelo teor de açúcar, que é expresso em °Brix, medido pelo equipamento refratômetro e por sacarímetro. “Também fizemos avaliação da cor da bebida final, pelo equipamento colorímetro Konica Minolta”, explicou a pesquisadora, autora do manual em elaboração.
Após 23 dias de fermentação, a bebida foi finalizada pelos processos de filtração, envase em garrafa de vidro âmbar e fechamento com rolha de cortiça e lacre. A equipe conferiu a cor, aroma e sabor do fermentado de açaí. Em seguida, como parte da atividade, foi realizada a degustação da bebida entre funcionários da Embrapa Amapá, com anotações para posterior planejamento do teste sensorial.
O trabalho é realizado sob a supervisão da pesquisadora Valeria Bezerra, doutora em Ciência dos Alimentos, e conta com atuação do supervisor de Laboratórios da Embrapa Amapá, analista Leandro Damasceno, e do assistente Raimundo Nonato Teixeira Moura.
“Esta iniciativa faz parte de uma proposta mais ampla, que é uma ação de transferência de tecnologias para que comunidades agroextrativistas produtoras de açaí possam produzir a bebida para consumo próprio e também para comercialização. Nossa perspectiva é de que o manual esteja disponibilizado em nossos canais digitais no segundo semestre deste ano”,
destacou Valeria Bezerra.
O AçaíTinto é a marca comercial da bebida fermentada da polpa de açaí, produzida pelo empreendimento Flor da Samaúma, localizado em Macapá (AP). De acordo com testes laboratoriais realizados pela Embrapa Agroindústria Tropical (Fortaleza/CE), o produto apresenta características físico-químicas e sensoriais semelhantes a alguns vinhos tintos. O relatório aponta que tanto os perfis físico-químicos revelam esta proximidade entre as duas bebidas, quanto a partir de análise sensorial com 50 provadores, consumidores habituais de vinho, ficou demonstrado que há uma atitude positiva de compra do produto.
*O conteúdo foi originalmente publicado pela Embrapa Amapá
De acordo com dados do Censo 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o bairro mais populoso fica na zona leste da capital amazonense.
O bairro mais populoso de Manaus (AM) é bem conhecido na cidade. São 43.947 domicílios que abrigam 133.448 pessoas, de acordo com os dados do Censo 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Onde ele fica? Na Zona Leste. O bairro em questão é o Jorge Teixeira.
Além do Bairro Jorge Teixeira, os outros bairros mais populosos da capital por zona são:
Cidade Nova (124.935), na Zona Norte;
Compensa (73.111) na Zona Oeste;
Alvorada (61.696) na Centro-Oeste;
Japiim (55.652), na Zona Sul
e Flores (40.588) na Zona Centro-Sul.
A Prefeitura de Manaus, via Instituto Municipal de Planejamento Urbano (Implurb), concluiu os dados de levantamento de dez mapas por zonas da cidade no dia 8 de maio e os dados mostram ainda que a zona mais populosa de Manaus é a Norte, com 650.075 pessoas, seguida da zona Leste, com 494.319 habitantes.
A área urbana de Manaus tem 2.042.21 habitantes, enquanto na zona rural há 1.465 pessoas, e na de transição, 2.614. Segundo os dados apresentados, Manaus tem 738.012 domicílios; 3.210 Setores Censitários; um Distrito e nove Subdistritos.
“Os dados vêm se somar a uma complexa operação do IBGE, realizada dentro do país. Os documentos vão auxiliar a prefeitura a tomar medidas mais assertivas dentro de um planejamento urbano, que visa o gerenciamento de informações, criando melhores diretrizes urbanísticas. O principal objetivo dentro de uma base territorial é organizar o conjunto de informações já referenciadas sobre todas as estruturas territoriais brasileiras. Geramos mapas dentro do arquivo, que são os mapas censitários, um projeto final com população por bairro e zonas, a divisão de áreas urbanas da cidade de Manaus. E tudo será usado para ter precisão de dados visando o crescimento da cidade”, explicou o gerente de Informação de Geoprocessamento (GIG), Luiz Augusto.
Dados
A Prefeitura de Manaus recebeu os resultados do ‘Censo Demográfico 2022: Agregados por Setores Censitários preliminares – População e Domicílios’, do IBGE, que foram divulgados em março.
Para o coordenador de base territorial da superintendência do Amazonas, Jessé Nogueira Miranda, essa publicação vai somar bastante para a sociedade. “Essa parceria engrandece tanto o trabalho do IBGE quanto o da prefeitura. Agradecemos também pelo pronto atendimento da gestão municipal. Ficamos satisfeitos de contribuir para o conhecimento da nossa realidade e o exercício da cidadania, que é a missão do IBGE”, comentou.
Os Setores Censitários são as unidades territoriais de coleta do Censo Demográfico. Com a divulgação preliminar, os resultados estarão disponíveis para os recortes político-administrativos de Distritos e Subdistritos, além de permitir explorações com maior detalhamento espacial. Nos próximos meses, o IBGE prosseguirá com os processos de apuração de resultados e de aperfeiçoamento da malha de Setores Censitários, para que os agregados por Setores Censitários definitivos sejam divulgados.
*Portal Amazônia, com informações do Implurb Manaus
A cidade sediará a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, a COP 30, em 2025.
O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e o diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, Enio Verri, anunciaram o investimento de R$ 1,3 bilhão para melhoria da infraestrutura de Belém (PA). A cidade sediará a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima, a COP30, em 2025.
O valor representa o maior aporte financeiro da Itaipu fora da área de abrangência da empresa, que compreende os 399 municípios do Paraná e 35 do Mato Grosso do Sul.
Foto: Divulgação/Planalto
Participaram da cerimônia, no Palácio do Planalto, na última semana, o governador do Pará, Helder Barbalho; o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues; ministros de Estado; diretores da Itaipu; representantes de órgãos públicos; e autoridades federais, estaduais e municipais.
Na ocasião, foram assinados três convênios, o primeiro deles com a Secretaria de Estado de Obras Públicas para o aprimoramento de infraestrutura viária e implantação do Parque Linear Doca, na Avenida Visconde de Souza Franco.
Estão previstas várias ações, como a execução de 50 quilômetros de rede coletora de esgoto, 4,8 mil ligações de esgoto, pavimentação de vias de acesso à COP 30, implantação de vias marginais do Canal Água Cristal, equipamentos de controle de tráfego, entre outras. O investimento passa de R$ 1 bilhão.
O segundo convênio, no valor de R$ 323,5 milhões, assinado pela Itaipu e a Prefeitura de Belém, prevê a implantação do Parque Urbano Igarapé São Joaquim, incluindo projetos de arquitetura, paisagismo, rede esgoto, abastecimento, iluminação pública, pavimentação e sinalização viária.
O acordo contempla ainda reforma e revitalização do Complexo Ver-o-Peso, símbolo da capital paraense que abriga um dos mercados mais antigos do Brasil, e a restauração do Mercado Municipal de São Brás, construção histórica localizada no centro da cidade.
Foi assinado ainda um convênio no valor de R$ 41,8 milhões envolvendo a Itaipu, o Parque Tecnológico Itaipu (PTI), a Prefeitura de Belém e a Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp), para o desenvolvimento de metodologia para a gestão de resíduos sólidos, ações de educação ambiental e de inovação em biotecnologia.
COP 30
A 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) será realizada em novembro de 2025, na cidade de Belém, no Pará. Será a primeira vez que a Amazônia, bioma essencial para o combate à mudança do clima, sediará uma COP. A Conferência reúne anualmente lideranças mundiais para debater soluções para conter o aquecimento global e criar alternativas sustentáveis para a vida no planeta. Em 2024, a COP 29 será no Azerbaijão.
Não se tem informação sobre o processo de construção do solar, mas tem inspiração portuguesa, com três pavimentos, sendo o último em forma de ‘camarinha’.
Um solar ou palacete é a casa de origem de uma família nobre. Em Belém (PA), aqueles que passam pela Rua D’Aveiro (antiga Thomázia Perdigão) podem ver um dos mais antigos solares da cidade, o Solar do Barão de Guajará.
De acordo com informações do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), não se tem informação sobre o processo de sua construção.
No entanto, a construção tem inspiração portuguesa, com três pavimentos, sendo o último em forma de ‘camarinha’. O pátio interno demonstra a influência moura na arquitetura ibérica, transferida para a Amazônia. A fachada é revestida de azulejos, com desenhos em formas geométricas nas cores brancas e azuis, provavelmente vindos de Portugal.
O interior possui piso e forro de madeira, a escada para o segundo pavimento tem guarda-corpo com balaustrada e assoalho formando desenhos geométricos.
Em 1970, o solar foi reinaugurado após obras de restauração, passando a funcionar o Instituto Histórico e Geográfico do Pará, conservando as mesmas características da época de sua construção. O palacete possui ainda a biblioteca do ‘Barão de Guajará’, com estantes de jacarandá artisticamente trabalhadas.
Proprietários
Em 1837, a proprietária do solar era Ângela de Cácia Fragoso, que recebeu de herança de sua mãe. Dois anos se passaram e o Solar passou para o nome de dona Inês Micaela de Lacerda Chermont, que mais tarde o transferiu para seu irmão, o primeiro Barão e Visconde de Arari, que a remodelou, colocando grades de ferro com seu monograma (agrupamento ou combinação de duas ou mais letras ou outros elementos gráficos para formar um símbolo) nas sacadas das janelas.
Tendo recebido o Solar de herança, sua sobrinha se casa com Domingos Rayol, o Barão de Guajará. O Barão faleceu em 1912 deixando o Solar para seus herdeiros. Em 1942, o então prefeito de Belém, Abelardo Leão Condurú adquiriu o prédio.
Atualmente
Em 2023, a Prefeitura de Belém cedeu definitivamente o prédio Solar Barão de Guajará para o Instituto Histórico e Geográfico do Pará. A assinatura de intenção foi feita pelo prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, e pela presidenta do IHGP, Anaíza Virgulino. Todo o processo para o título definitivo de propriedade do prédio foi feito pela Companhia de Desenvolvimento da Área Metropolitana de Belém (Codem).
*Com informações do Iphan e da Prefeitura de Belém
A tecnologia antiga das empresas estrangeiras de hidrocarbonetos sediadas na Colômbia, no Peru e no Equador permitiu que os dutos fossem construídos acima do solo, uma prática agora abandonada em suas respectivas fábricas nos EUA.
Todos os três oleodutos herdados do sistema da Amazônia Andina são antigos. O Oleoducto Transandino Colombiano (OTC) está em operação há 53 anos, seguido pelo Sistema de Oleoducto Transecuatoriano (SOTE), com 50 anos, e pelo Oleoducto Norperuano (ONP), com 45 anos. A tecnologia dos dutos mudou drasticamente desde sua construção, com melhorias nas ligas de aço, na tecnologia de soldagem e nos revestimentos de superfície. A maior falha desses sistemas, no entanto, foi a decisão de construí-los acima do solo, uma prática que havia sido abandonada pelo setor em seus sistemas sediados nos EUA muito antes da construção desses dutos.
Os sistemas superficiais são propensos a falhas porque ficam diretamente sobre a superfície do solo, o que aumenta a taxa de oxidação, ou são sustentados por suportes e vigas, o que os torna suscetíveis a falhas mecânicas. Mais importante ainda, os sistemas acima do solo têm maior probabilidade de serem fisicamente comprometidos por ações humanas, sejam elas acidentais ou deliberadas.
Foto: Reprodução/Mongabay
A exposição desses importantes ativos de infraestrutura à sabotagem é mais evidente na Colômbia. Entre 1986 e 2015, a infraestrutura de petróleo foi atacada mais de 1.000 vezes em Putumayo, provocando pelo menos 160 derramamentos de petróleo. As milícias marxistas justificaram suas ações alegando que estavam resistindo à exploração por empresas petrolíferas estrangeiras. No entanto, as comunidades indígenas sofreram a maior parte dos impactos de suas ações.
Os ataques diminuíram após o início do processo de paz (2016-2018), mas voltaram ao status quo ante quando as milícias armadas mais uma vez afirmaram seu poder. Aparentemente, os ataques são um estratagema para semear o caos e perturbar a economia formal; mas, como a poluição dos habitats aquáticos perturba os meios de subsistência tradicionais, eles também aumentam a capacidade da milícia de recrutar jovens das comunidades indígenas.
O Equador sofreu um número ainda maior de falhas em dutos, com mais de 1.000 incidentes entre 2000 e 2021. A maioria foi causada por veículos que colidiram com dutos alimentadores paralelos à rede de estradas secundárias da região. O impacto ambiental desses vazamentos de pequena escala não atraiu a mesma atenção da mídia que as falhas em grande escala dos dois dutos principais, mas seu dano cumulativo é significativo e duradouro. Estima-se que 130.000 barris de petróleo bruto tenham sido liberados em paisagens habitadas por dezenas de milhares de famílias rurais. Mais graves são as rupturas no oleoduto tronco da SOTE, com 65 incidentes entre 1972 e 2019 que derramaram cerca de 730.000 barris. A maioria dos incidentes é causada por um deslizamento de terra ou pela erosão da margem do rio, mas o oleoduto foi danificado duas vezes por um terremoto.
O setor mais problemático é um trecho no sopé da Cordilheira dos Andes, onde chuvas intensas e inundações repentinas causaram vários acidentes de grande escala. No entanto, a empresa melhorou seu desempenho, e o volume de petróleo liberado no meio ambiente é consideravelmente menor do que nos primeiros anos de suas operações.
Foto: Reprodução/Mongabay
A Petroecuador iniciou um programa para enterrar os componentes de planície do sistema SOTE em 2013, um investimento que reduziu drasticamente os incidentes até 2020, quando um “ato de Deus” cortou não apenas o SOTE, mas também o OTC e um terceiro oleoduto (Poliducto Quito Sushufundi), causando uma enorme mancha de óleo no Rio Coca que afetou habitats e comunidades a jusante até o Peru. A partir de 2022, a Petroecuador e o consórcio OCP reprojetaram seus sistemas de oleodutos para evitar esse tipo de falha, a um custo estimado de aproximadamente US$ 200 milhões. Enquanto isso, eles gastarão uma quantia não revelada para remediar os impactos de aproximadamente 15.800 barris de petróleo vazados.
O sistema de oleodutos do Peru sofre com uma combinação de acidentes e sabotagem. As informações sobre as primeiras operações no Peru não estão disponíveis publicamente, mas houve 497 vazamentos de petróleo entre 2000 e 2019.
Numericamente, a maioria dos vazamentos ocorreu nos dutos alimentadores que atendem aos dois principais campos de produção (Lotes 8 e 192), mas três seções da ONP sofreram 27 incidentes e são a fonte da maior parte do petróleo liberado no meio ambiente. A gestão eficaz se deteriorou significativamente desde 2016, quando treze eventos liberaram cerca de 6.000 barris de petróleo em habitats florestais e aquáticos.
O órgão ambiental (Organismo de Evaluación y Fiscalización Ambiental – OEFA) realizou uma inspeção nos locais dos acidentes e concluiu que a maioria das falhas foi causada por uma combinação de corrosão interna e externa. O órgão citou e multou uma empresa estatal por manutenção inadequada e ordenou a interrupção das operações do oleoduto até que a empresa desenvolvesse uma estratégia plausível para reparar e operar o oleoduto. Uma análise posterior do Organismo Supervisor de la Inversión en Energía y Minería (OSINERGMIN), uma agência semiautônoma afiliada ao ministério de energia, contestou essas conclusões e determinou que dez desses incidentes foram resultado de tentativas deliberadas de sabotagem por terceiros.
As comunidades indígenas agora estão cientes dos danos que têm sofrido durante cinco décadas de negligência e controles operacionais precários, bem como da repetida falha do governo em atender às suas demandas. A desobediência civil, um estratagema consagrado nas comunidades andinas, agora é uma tática rotineira nos campos de petróleo da Amazônia peruana. O episódio mais famoso foi o Baguazo, um confronto mortal em 2009 entre o Presidente Alain Garcia e grupos indígenas que se opunham às políticas que teriam expandido a produção de petróleo na sub-bacia de Marañón.
Desde então, as comunidades indígenas têm feito protestos e tomado reféns de forma ritualizada para protestar contra o fracasso contínuo do governo em atender às suas demandas, muitas das quais têm pouco ou nada a ver com as operações reais do oleoduto. Os protestos aumentaram de frequência em 2018, quando os moradores do rio Morona impediram as operações de limpeza e ocuparam uma estação de bombeamento. Isso foi seguido, em 2019, por um protesto passivo na Estação de Bombeamento nº 5, um centro logístico importante perto de Saramiriza, que foi ocupado novamente por várias semanas em 2021.
Durante todo esse período, atos deliberados de sabotagem liberaram milhares de barris de petróleo nos rios e córregos. A agitação social fez com que a ONP interrompesse as operações por semanas, às vezes até meses, exacerbando o ambiente operacional já desafiador na área de produção da Selva Norte. Os planos de estender o ramal norte para transportar petróleo do campo de petróleo mais promissor da região (Lote 67) estão, aparentemente, em dúvida: duas empresas, a Frontera Energy (Lote 192) e a GeoPark (Lote 64), deixaram o país. A PetroTal, operadora do único campo que produz petróleo (Lote 95), começou a exportar petróleo bruto por meio de barcaças e pela Hidrovia Amazônica.
Os dutos que atendem a Camisea e a Urucu são sistemas subterrâneos que têm tido, em geral, operações sem problemas. Não há relatos de incidentes no gasoduto Urucu-Manaus desde sua conclusão em 2009, nem do gasoduto de gás-líquidos associado entre Urucu e Coari, que iniciou suas operações em 2000. O gasoduto de líquidos e gás entre Camisea e o sistema da costa do Pacífico sofreu cinco rupturas em seus três primeiros anos de operação (2004-2007), o que motivou o operador a modificar o projeto do sistema. O gasoduto ainda não sofreu nenhuma falha.
Mitigação e remediação de derramamentos de petróleo
Os protocolos de gerenciamento ambiental das empresas petrolíferas têm como foco evitar e mitigar os derramamentos de petróleo. Se ocorrer um derramamento, a primeira prioridade é recuperar a maior quantidade possível de óleo. Depois disso, os impactos devem ser remediados.
Os derramamentos em terra são facilmente contidos, o que facilita a recuperação. O solo poluído pode ser recolhido e levado para instalações de tratamento, conhecidas como “fazendas terrestres”, onde bactérias especialmente selecionadas decompõem as moléculas orgânicas de cadeia longa e os compostos aromáticos que constituem o petróleo bruto. Se não for tratado, os processos naturais acabarão por degradar e decompor o petróleo, embora isso leve muitas décadas e, nesse ínterim, envenene o ambiente local.
Os derramamentos na água são muito mais problemáticos. As manchas de óleo se expandem rapidamente por toda a área de superfície do corpo d’água, enquanto os córregos e rios amplificam seu impacto ao transportá-lo rio abaixo. As manchas de óleo de derramamentos no rio Coca, no Equador, em 2013 e 2020, chegaram ao Peru a mais de 250 quilômetros rio abaixo. Os habitats de remansos, como os pântanos sazonais e os pântanos de palmeiras, são particularmente vulneráveis porque são caracterizados por água parada, onde o óleo fica retido.
À medida que os níveis de água caem durante a estação seca, a mancha de óleo permeará as superfícies do solo e envenenará os habitats bentônicos que são a base das redes alimentares aquáticas. A degradação microbiana ocorre mais lentamente nesses ambientes carentes de oxigênio porque as bactérias que se alimentam de óleo trabalham principalmente por meio de processos metabólicos aeróbicos. O óleo é especialmente tóxico para sapos devido à sua pele frágil e altamente permeável; peixes e aves aquáticas também morrem quando expostos ao óleo.
Foto: Reprodução/Mongabay
O impacto dos derramamentos de petróleo na Amazônia é imediatamente sentido pelas comunidades humanas. As comunidades indígenas e ribeirinhas estão agrupadas ao longo dos rios e dependem muito da pesca para sua subsistência. Não é de surpreender que elas sejam as maiores críticas ao setor petrolífero na Colômbia, no Peru e no Equador (consulte o Capítulo 11). Elas protestam contra a ocorrência cada vez maior de derramamentos de petróleo, bem como contra o fracasso das instituições em remediar derramamentos anteriores e compensá-las de forma justa pelos danos sofridos a curto e longo prazo.
Na Colômbia, a luta é liderada por representantes do grupo indígena Siona, instalado ao longo das margens do rio Putumayo, cuja militância tem sido auxiliada por membros de seu grupo étnico no Equador. Os grupos indígenas do Equador, especialmente Waorani, Cofán, Siona e Kichwa, conseguiram articular suas demandas por meio de protestos civis. No entanto, eles elevaram suas queixas para a esfera judicial, obtendo decisões importantes em tribunais nacionais e internacionais. A situação é mais caótica no Peru devido a uma propensão nacional à desobediência civil, onde os manifestantes associados aos Achuar, Awajún e Huambisa basicamente fecharam a ONP.
Os governos são altamente dependentes das receitas do petróleo e não estão dispostos a abrir mão dessas receitas em favor da remediação de problemas ambientais que afetam uma fração muito pequena da população nacional. Torna-se difícil responsabilizar as empresas estatais devido à proteção política inerente aos seus sistemas de governança corporativa. As tentativas de responsabilizar as multinacionais também não prosperaram, em parte, porque os sistemas jurídicos foram comprometidos por atos de corrupção que dão às empresas a oportunidade de prolongar e desviar as ações judiciais.
Impactos secundários
Os impactos secundários e indiretos causados pelo processo de desenvolvimento e exploração de hidrocarbonetos provocaram ainda mais preocupação. A experiência do Equador nas décadas de 1970 e 1980, em que o desmatamento em grande escala acompanhou o desenvolvimento dos campos de petróleo na província de Sucumbíos, é um exemplo do poder das sinergias de várias políticas. Nesse caso, o governo decidiu vincular o desenvolvimento dos campos de petróleo a investimentos em estradas, desenvolvimento agrícola, redução da pobreza, reforma agrária e segurança nacional. Mais de quarenta por cento do desmatamento amazônico total do Equador ocorreu como consequência dessa decisão (consulte o Capítulo 2). Um processo semelhante ocorreu na Colômbia com o desenvolvimento de campos de petróleo do outro lado da fronteira, no Departamento de Putumayo.
No entanto, essas políticas não se repetiram no norte do Peru, onde os campos de petróleo foram desenvolvidos usando técnicas semelhantes às de uma plataforma de petróleo offshore. Os equipamentos foram transportados pelos rios enquanto o oleoduto era construído, sem a criação de uma rodovia permanente. Estradas locais foram construídas para conectar as plataformas de poços de petróleo e uma estrada de acesso temporária foi criada para atender à construção do oleoduto, mas não foi melhorada com aterros ou pontes. Consequentemente, não foi criado um corredor de imigração entre as áreas povoadas da costa peruana e as paisagens remotas dos campos de petróleo.
A abordagem offshore (ou enclave) também foi usada no desenvolvimento do campo de gás de Camisea, nas províncias das planícies do Departamento de Cusco, quando ele foi conectado aos mercados interno e externo por um gasoduto em 2004. Da mesma forma, os brasileiros optaram por desenvolver o campo de gás de Urucu entre 2006 e 2009 com um mínimo de construção de estradas e adotaram uma política para desencorajar os assentamentos. Não há evidências ou relatos de assentamentos ou desmatamento não autorizado ligados a nenhum desses projetos.
“Uma tempestade perfeita na Amazônia” é um livro de Timothy Killeen que contém as opiniões e análises do autor. A segunda edição foi publicada pela editora britânica The White Horseem 2021, sob os termos de uma licença Creative Commons (licença CC BY 4.0).
*O conteúdo foi originalmente publicado pela Mongabay, escrito por Timothy J. Killeen, traduzido por Lisete Correa
Análises de esqueletos exumados em um cemitério datado do período 500 a.C a 400 a.C mostram traumatismos mortais e indícios de uma população carente.
A transição do quinto para o quarto séculos antes da presente era teria sido uma época crítica na região dos Andes Centrais, que ficam atualmente no território do Peru (país que faz parte da Amazônia Internacional). Os estudiosos apontam evidências de um tempo conturbado, que marcaria a passagem do período Formativo Médio (1200 a.C.-400 a.C.) para o período Formativo Tardio (400 a.C.-1 a.C.).
Desintegração política e violência intergrupal fariam parte do contexto, talvez associado à hipotética substituição de governos teocráticos por governos seculares. Um novo estudo, publicado na revista Latin American Antiquity, vem reforçar de forma consistente tal suposição.
Vários traumas em um dos indivíduos estudados: a) fratura penetrante perimortem no parietal direito, produzida por trauma contuso infligido; b) marca de corte na arcada superciliar direita relacionada com contusão perfurante; c) fratura linear penetrante cicatrizada e marcas de corte no osso zigomático esquerdo relacionadas a mecanismo cortante-contuso, e fratura nasal cicatrizada. Fotos: Luis Pezo-Lanfranco
A pesquisa foi conduzida por uma equipe de pesquisadores peruanos, colombianos e brasileiros, liderada pelo bioarqueólogo peruano Luis Pezo-Lanfranco, na época associado ao Laboratório de Antropologia Biológica do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP) e apoiado pela FAPESP por meio do Programa Jovens Pesquisadores em Centros Emergentes.
“Fizemos uma análise detalhada das ossadas de 67 indivíduos escavados em um cemitério do período 500 a.C.-400 a.C. localizado no Vale de Supe, a poucos quilômetros de Caral, famoso centro cerimonial que esteve em funcionamento entre 2900 a.C. e 1800 a.C. Nesse cemitério, detectamos padrões de lesões característicos de eventos repetitivos de violência interpessoal. Dos indivíduos examinados, 80% dos adultos e adolescentes morreram em decorrência dos traumatismos infligidos”, diz Pezo-Lanfranco. O pesquisador encontra-se instalado agora no Departamento de Pré-História da Universitat Autònoma de Barcelona, na Espanha.
Pezo-Lanfranco conta que as lesões perimortem (isto é, ocorridas no momento da morte) encontradas em ossos do crânio, face e tórax de vários indivíduos são compatíveis com violência letal provavelmente intercomunitária. E que essa violência não vitimou apenas homens e mulheres, mas também crianças.
“Nossa hipótese é que um grupo alheio à comunidade teria chegado no local e perpetrado os homicídios. Depois que os agressores foram embora, os indivíduos mortos foram inumados pela própria comunidade seguindo ritos regulares, como sugerem os padrões de sepultamento”,
afirma.
Dos 67 indivíduos estudados, 64 foram enterrados em posição fetal: 12 estavam em decúbito dorsal, quatro em decúbito ventral, sete em decúbito lateral esquerdo e 41 em decúbito lateral direito. A posição fetal é um padrão recorrente nos sepultamentos de várias populações pré-históricas e antigas do mundo. Por ser característico da fase intrauterina, alguns especialistas acreditam que estava associado à ideia de continuidade da vida depois da morte ou de renascimento.
Apesar de o traumatismo perimortem ser o mais frequente nos esqueletos estudados, amplamente distribuído entre adultos de ambos os sexos e em algumas crianças, muitos exemplos de traumatismo antemortem (isto é, antes da morte) também foram encontrados, e vários indivíduos apresentam as duas formas de traumatismo, antemortem e perimortem, o que sugere pelo menos dois eventos violentos ao longo da sua vida, um que gerou fraturas que depois cicatrizaram e outro que os vitimou. “Os marcadores indicam exposição à violência repetitiva e letal ao longo da vida”, comenta Pezo-Lanfranco. E informa que as lesões mais comumente observadas foram fraturas deprimidas da calota craniana, fraturas maxilofaciais, fraturas torácicas, principalmente em costelas e escápulas, e “fraturas defensivas” na ulna, o osso maior que forma o antebraço.
Além dos sinais de violência, a análise das ossadas aponta alta incidência de estresses inespecíficos e doenças infecciosas, que podem estar associadas a más condições de vida decorrentes de uma combinação de pobreza de recursos e crescimento populacional. A pobreza também é atestada pela simplicidade das oferendas funerárias: cabaças contendo restos de vegetais, sementes de algodão e raízes; peças de tecido liso de algodão, esteiras e cestos; colares de contas e fragmentos de cerâmica. “Estudos de isótopos estáveis revelaram que os produtos agrícolas básicos eram a principal fonte de subsistência”, diz Pezo-Lanfranco.
O pesquisador argumenta que esse cenário pobre de recursos no vale de Supe provavelmente se relaciona com o colapso da cultura Chavín, que se expandiu pela serra e costa do Peru entre 1200 a.C. e 500 a.C., e cujo centro era o sítio monumental de Chavín de Huantar, localizado no norte do Peru, na bacia do rio Marañón, que nasce nos Andes peruanos a cerca de 5.800 metros de altitude e flui para leste, até formar, no Brasil, o Solimões.
“Durante a transição do Formativo Médio para o Formativo Tardio, por volta de 500 a.C. a 400 a.C., esse sistema atingiu a exaustão. Vários centros cerimoniais, incluindo Chavín de Huantar, foram dessacralizados e abandonados. E ocorreu uma desintegração das formações políticas organizadas em torno da esfera religiosa, caracterizando, talvez, o declínio dos sistemas teocráticos e a emergência de governos seculares”, relata Pezo-Lanfranco.
Segundo o pesquisador, o sistema Chavín tinha como deidade principal um ser zooantropomórfico, que reunia atributos humanos e atributos da onça pintada.
Deidades zooantropomórficas são encontradas em numerosíssimas culturas em todo o mundo: Índia, Egito, Creta etc. Em uma abordagem puramente especulativa, alguns estudiosos consideram que poderiam ser reelaborações tardias de tradições pré-históricas, de tipo xamânico, nas quais as virtudes dos animais tutelares são sincretizadas com a figura do xamã. Mas esta é uma hipótese, que ainda não pode ser confirmada no estágio atual de nosso conhecimento.
Não se sabe o nome do homem-jaguar de Chavín, porque, à diferença de outras regiões do Velho Mundo, nos Andes não existem registros escritos, que, se decifrados, poderiam trazer informações mais precisas sobre essa época. Leve-se em conta que o período aqui tratado antecede em quase 2 mil anos o estabelecimento formal do Império Inca, que foi a última expressão de milênios de civilizações andinas. Fundado por Pachacuti em 1438 da presente era, o Império Inca sobreviveu por menos de um século, sendo subjugado pelos espanhóis em 1533. Seu último imperador, Túpac Amaru, refugiado em Vilcabamba, foi capturado e morto pelos espanhóis em 1572.
Para a equipe de pesquisadores envolvida no estudo em pauta, os achados são ainda mais relevantes exatamente por virem de uma época tão pouco documentada da arqueologia andina. Poucos cemitérios desse período foram escavados nos Andes Centrais e em menos ainda têm sido encontradas amostras com tão boa preservação, que, nesse local, devido à aridez do clima, permitiu a observação detalhada de lesões em ossos quase íntegros.
“Esta pesquisa, que é parte do que se denomina ‘Bioarqueologia da Violência’, ajuda a entender a natureza dos conflitos interpessoais ao redor da metade do primeiro milênio antes da nossa era. Por outro lado, dados da mesma análise a serem publicados proximamente oferecem uma série de respostas sobre os fatores que modulavam a morbidade e mortalidade dos indivíduos dessa sociedade, que se desenvolveu sob um hipotético contexto de pressão populacional e transição política, associadas ao colapso dos sistemas de crenças em um ambiente bastante pobre em recursos”, conclui Pezo-Lanfranco.
O artigo Bioarchaeological Evidence of Violence between the Middle and Late Formative (500–400 BC) in the Peruvian North-Central Coast pode ser acessado AQUI.
*O conteúdo foi originalmente publicado pela Agência Fapesp, escrito por José Tadeu Arantes
Novo método torna as plantas mais saudáveis e com baixo custo. Prática consiste no cultivo em estufas, com a temperatura, irrigação e adubação sendo controlados pelo próprio agricultor.
Uma nova técnica de produção de mudas de mandioca está sendo implementada no Amapá. O Governo do Estado, em conjunto com o Instituto de Desenvolvimento Rural do Estado do Amapá (Rurap), capacita produtores para que essa técnica seja implementada nas propriedades.
O novo método tem o objetivo de fortalecer a mandiocultura no Estado, pois a técnica aumenta em até 20 vezes a produção, além de tornar as plantas mais resistentes às doenças e pragas.
Outro benefício que impacta o agricultor é o baixo custo para a implementação nas lavouras, pois o ambiente utilizado é próprio, além dos materiais usados na construção da estufa serem pequenos, não chegando a R$ 2 mil.
A prática consiste no cultivo em estufas, com a temperatura, irrigação e adubação sendo controlados pelo próprio agricultor. Essa capacitação garante uma maior autonomia e independência aos produtores, que já estão sendo capacitados para implementar o novo método.
O Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO) e o Ministério Público Federal no Amazonas (MPF-AM) realizam, no dia 16 de maio, o primeiro evento em Manaus da iniciativa Diálogos pelo Clima, dentro do Programa COPAÍBAS. Na programação, estão temas como a COP 30 e o G20, mensuração de danos climáticos e a relação entre segurança pública e climática.
O resultado do encontro vai gerar uma lista de pontos a serem acompanhados durante as negociações do G20, que acontecem no Brasil em novembro, relacionados ao sistema jurídico e à mitigação das mudanças climáticas.
O primeiro evento do Diálogos pelo Clima em Manaus vai ajudar a dar ainda mais peso ao papel da capital do Amazonas na reunião do G20. O fórum, que reúne as 19 maiores economias do mundo, além da União Europeia e da União Africana, contará com quatro conferências em Manaus nos meses de junho e setembro, dentre as quais uma sobre Iniciativa de Bioeconomia e outra com o Grupo de Trabalho de Sustentabilidade Climática e Ambiental.
Imagem aérea de Manaus. Foto: Adneison Severiano/Arquivo/g1 Amazonas
Para a gerente de projetos do FUNBIO, Andréia Mello, esse é o momento propício para ampliar a troca de ideias dentro da Amazônia Legal. Segundo ela, a parceria com o MPF-AM ajuda a dar mais peso às ações e debates desenvolvidos dentro dessa temática. “A proximidade com a reunião do G20 e os recentes eventos climáticos extremos no país, como as fortes chuvas no Sul e a onda de calor no Centro-Oeste e Sudeste do Brasil tornam esse debate cada vez mais urgente. A iniciativa Diálogos pelo Clima busca trazer diferentes olhares e novas vozes para a discussão sobre mudanças climáticas. O objetivo é encontrar caminhos para um futuro mais promissor e sustentável”, acrescentou Andréia.
O procurador da República no Amazonas, Rafael Rocha, destacou que essa é uma oportunidade única para os membros do MPF-AM refletirem e entenderem melhor o papel do sistema de justiça em relação às mudanças climáticas. “Participei do Diálogos pelo Clima em outros estados e fiquei encantado com a dinâmica do projeto. Foi muito interessante acompanhar o envolvimento dos promotores de justiça nas discussões com especialistas e representantes da sociedade civil. Por isso, fiquei muito feliz em poder proporcionar essa mesma experiência aos meus colegas aqui no Amazonas”, disse.
Além da discussão para o G20, o evento em Manaus vai reunir também especialistas nos temas da segurança climática e mensuração de dano climático. Entre os convidados, nomes como Fernanda Bortolotto (The Nature Conservancy/TNC), Adalberto Val (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia/INPA), Vivian Calderoni (Instituto Igarapé), Paulo Amaral (Imazon), Danielle Moreira (PUC-Rio) e Júlia Côrtes (Forest Trends). O MPF-AM se junta aos Ministérios Públicos estaduais do Pará e do Maranhão e ao Fórum dos Procuradores Públicos da Amazônia Legal nesta parceria com o FUNBIO. Os debates da iniciativa Diálogos pelo Clima vão acontecer na sede do MPF-AM (Avenida André Araújo, 358, Adrianópolis, Manaus).
Diálogos pelo Clima
A série Diálogos pelo Clima começou em junho de 2021, com seis encontros online e já realizou, posteriormente, três eventos presenciais em estados que integram as iniciativas do Programa COPAÍBAS — Comunidades Tradicionais, Povos Indígenas e Áreas Protegidas nos Biomas Amazônia e Cerrado, que tem o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FUNBIO) como gestor técnico e financeiro e a Iniciativa Internacional da Noruega pelo Clima e Florestas (NICFI), como financiadora.
Quando a Polícia Civil entrou em contato com a Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) o objetivo era apenas um: que os pesquisadores pudessem auxiliar em uma investigação que apurava denúncias de pescadores e ribeirinhos sobre o total desaparecimento da ilha Camará, localizada no município de Marapanim, zona costeira do Estado do Pará, nordeste paraense.
De acordo com as denúncias, o sumiço da ilha se deu por ação humana, a partir do excessivo fluxo de lanchas de praticagem, que trazem pessoas que estão em alto mar para o continente. A ilha faria parte da Reserva Extrativista Marinha (Resex) Mestre Lucindo, uma das 23 unidades de conservação do Estado, registradas no Cadastro Nacional de Unidades de Conservação (CNUC) do Ministério do Meio Ambiente (MMA).
Imagem: Divulgação
Entre os auxílios técnicos prestados pelos pequisadores à investigação está uma extensa análise cartográfica, com uso de geoprocessamento e análise de imagens de satélite, trabalho realizado com o apoio da professora Tabila Verena da Silva Leite, docente do curso de Engenharia Cartográfica e Agrimensura da universidade (icibe/Ufra).
A professora, que há anos pesquisa dados sobre a zona costeira paraense, reuniu dados que vão de 1985, momento em que se tem as primeiras imagens de satélite da ilha, até 2021, data da solicitação da Polícia Civil. As imagens analisadas comprovam o desaparecimento total da ilha Camará, que na década de 80 possuía uma área de 13.561,998 m² e em 2016 não aparecia mais no mapa.
“A ilha sempre aparecia nas imagens de satélite. Observou-se que havia existência vegetação e solo e a ilha fornecia vários serviços ecossistêmicos para as comunidades do entorno, que a usavam também para atividades recreativas e lazer”, diz Tabila.
A professora explica que as ilhas localizadas no município de Marapanim, assim como na zona costeira paraense, em sua maioria pertencem à tipologia de uma ilha costeira do tipo fluviomarítima, onde se destacam ilhas de sedimentação e de erosão.
“O processo de erosão é natural e ocorre muito na Amazônia, por conta do solo arenoso e do litoral ser baixo. A erosão costeira é provocada principalmente pela ação das águas do mar, que atuam sobre os materiais do litoral, na linha de costa, modificando o solo através da sua ação química e da sua ação mecânica, como o impacto das ondas, por exemplo. Por isso, na área costeira paraense é natural que ilhas apareçam e desapareçam, devido a influência das marés, dos sedimentos e dos rios amazônicos”, diz.
Mas não foi esse o caso da ilha Camará
“Nessa ilha em específico alguma ação antrópica acelerou esse processo”, explica a pesquisadora. Como parâmetro de investigação, foi observada e comparada uma outra ilha próxima, parecida em tamanho, solo e localização geográfica, mas em outro braço de rio. Comparada a ilha Camará, a outra ilha observada sofreu pouca alteração. “Essa outra ilha não era rota das embarcações da praticagem e a ilha Camará sim. A outra ilha não sofre o impacto das ondas dos barcos”, explica.
Segundo o parecer técnico emitido pela pesquisadora, a ilha Camará teria começado a desaparecer a partir do ano de 2003, quando já tinha somente 8.100,46 m². Esse sumiço foi ficando mais claro e intenso no ano/intervalo de 2012, quando a ilha alcançou uma área de 5.400,147 m² e 2013 com área de 5.399,79 m². Em 2015 a área chegou a 2.697,863 m², até o completo desaparecimento no ano de 2016.
O período crítico de desaparecimento da ilha coincide com as atividades de uma empresa de navegação que opera na área. O laudo técnico foi assinado pela professora Tabila Leite e pelo professor Robson Ramos e encaminhado à Polícia Civil. Em nota, a Polícia Civil do Pará informou que indiciou a empresa de navegação por crimes ambientais e por atuar sem licença, após resultados de estudos técnicos conduzidos pela Ufra apontarem que o desaparecimento da Ilha foi provocado por ação humana. A área era usada como rota da empresa investigada. O inquérito foi submetido à Justiça.
Imagem: Divulgação
A zona costeira paraense
O Pará possui 47 municípios em sua zona costeira, normatizados a partir da Lei A LEI N° 9.064, de 25 de maio de 2020, que instituiu a Política Estadual de Gerenciamento Costeiro. Os municípios são divididos em cinco setores principais: Marajó Oriental; Continental Estuarino (considerando a Região Metropolitana de Belém); Costa Atlântica Paraense e o setor Flúvio-Marítimo, composto por dez municípios, entre eles Marapanim.
Dentro desses setores existem as unidades de conservação de jurisdição estadual e federal. “Nessa região temos 10 unidades de conservação, sete delas federais, onde temos a Resex Mestre Lucindo, que precisa estar com seus serviços ecossistêmicos protegidos”, diz a pesquisadora.
Os serviços Ecossistêmicos são os benefícios que as pessoas e animais obtêm dos ecossistemas conservados, ou seja, as contribuições diretas e indiretas dos ecossistemas para o bem-estar humano. Assim como nas demais áreas da zona costeira do Pará, o extrativismo de recursos pesqueiros e a pesca artesanal, são consideradas as atividades principais das comunidades da região, cercada por áreas de mangue. Segundo Tabila Leite, há dois tipos de ameaças principais na região: as externas, que são as mudanças climáticas, erosões costeiras, aumento do nível do mar.
E existem as internas, que ocorrem naquele local.
“Nisso temos o turismo desordenado, excesso de lixo e atividades como pesca industrial insustentável e praticagem, realizadas de forma cada vez mais intensa e impactando muito o modo de vida das comunidades tradicionais, que dependem dos ecossistemas saudáveis. É o modo de vida deles, nunca vão conseguir disputar com a pesca industrial”, explica a pesquisadora.
Ela afirma que uma das formas de evitar que mais crimes ambientais como esse ocorram é uma gestão costeira de forma integrada, reunindo outros estados que possam controlar não só a praticagem, mas a pesca industrial e outras atividades antrópicas que prejudicam os ecossistemas e os serviços oferecidos por eles.
“O ideal é que cada município tivesse sua própria fiscalização. É preciso que mais instrumentos sejam aplicados para que seja feita a gestão do local, como gerenciamento costeiro municipal, zoneamento estadual, Elaboração dos planos de manejo nas Reservas Extrativistas Marinhas do nosso litoral e mais pesquisas voltadas à região, que ainda são poucas”, orienta.
A Ufra é a única universidade da Região Norte que possui o curso superior de Engenharia Cartográfica e Agrimensura, avaliado com a nota 5, pontuação máxima considerada pelo Ministério da Educação. Os pesquisadores costumam auxiliar, a partir de laudos técnicos, em mapeamentos sobre estradas, desmatamentos e investigações sobre crimes ambientais na Amazônia, que também originam artigos e trabalhos de conclusão de curso dos alunos, assim como projetos de pesquisa e extensão na área de Geotecnologias (Cartografia, Sensoriamento remoto e Geoprocessamento) voltados para análise ambiental, fundiária e ordenamento territorial.
Castello e seus colegas identificaram 24 áreas de pesca artesanal e industrial ao longo do litoral brasileiro, como esta em Cananeia (SP), para as quais já existiam dados coletados por cientistas ou órgãos governamentais sobre a pesca e a atividade dos pescadores. Foto: michael_swan via Flickr (CC BY-ND 2.0)
Quando Castello se formou em Oceanografia em 1998, não conseguiu um trabalho ligado diretamente ao oceano. Em vez disso, foi para a região do Médio Solimões, na Amazônia, estudar a pesca do pirarucu (Arapaima gigas), gigante da água doce que, além de respirar debaixo d’água, também sobe à superfície para respirar. A pesca dessa espécie foi proibida em vários lugares devido à sobrepesca.
“Conheci pescadores que tinham um conhecimento incrível”, diz Castello, que hoje é biólogo conservacionista de peixes no Instituto Politécnico da Universidade Estadual da Virgínia, nos EUA.
“Testamos se esses pescadores conseguiam contar a quantidade de peixes, assim como as pessoas fazem com as baleias no oceano, e se essa contagem poderia ser usada para basear o manejo”.
O pirarucu (Arapaima gigas) é um dos maiores peixe de água doce do mundo. Foto: Brian Gratwicke via Flickr (CC BY-NC 2.0)
Castello diz que as contagens foram “incrivelmente precisas” e “200 vezes mais baratas e mais rápidas” do que avaliar o estoque de peixes usando um método científico equivalente. Em 2004, o Ibama até mesmo aprovou uma autorização especial para pescadores capturarem o pirarucu desde que apresentassem seus dados de contagem, e várias ONGs e organizações governamentais também passaram a promover e implementar esses métodos, disse Castello.
Atualmente, mais de 400 comunidades pesqueiras no Amazonas pescam o pirarucu com base na contagem de pescadores, o que permite que eles mesmos façam o manejo sustentável da pesca, complementa. “Essa experiência me ensinou que há muito [que se pode fazer com o] conhecimento local”, conclui.
Cerca de 20 anos mais tarde, Castello iniciou outro projeto de pesquisa focado no conhecimento local, desta vez identificando como os cientistas podem traduzir as lembranças dos pescadores brasileiros sobre a pesca no passado em “dados coletados da memória”, que podem ser usados para manejar os estoques em lugares com pouco ou nenhum acesso a dados.
Muitos outros estudos já exploraram como a memória dos pescadores pode servir como fonte de dados, incluindo um anterior feito pelo próprio Castello, focado na pesca de pequena escala na Bacia do Congo. Este novo estudo, publicado recentemente na revista Frontiers in Ecology and the Environment, foi além, procurando avaliar a confiabilidade desses dados em comparação com aqueles coletados por métodos científicos tradicionais.
Este estudo é uma das iniciativas mais abrangentes sobre a confiabilidade dos dados de memória, usando uma amostra grande de pescadores e vários estoques de pesca diferentes.
Castello e seus colegas identificaram 24 áreas de pesca, tanto artesanal quanto industrial, ao longo do litoral brasileiro, para as quais havia dados sobre a pesca coletados por pesquisadores ou órgãos governamentais. Então, para testar se a memória dos pescadores poderia ser uma fonte de dados útil, eles entrevistaram cerca de 400 indivíduos envolvidos na pesca nessas áreas, a maioria deles caiçaras, populações tradicionais do Sul e Sudeste do Brasil.
Os pesquisadores elaboraram um questionário sobre o tipo de pesca que era feita, que equipamento era usado, as espécies pescadas, e qual a idade dos pescadores quando se dedicavam à atividade. Então pedia informações específicas sobre “capturas normais”, “capturas boas” e “capturas ruins”, incluindo quantos quilos pescavam em cada viagem e quanto tempo ficavam pescando. Os pesquisadores pediram essas estimativas para os primeiros anos de trabalho dos pescadores bem como para os últimos.
A equipe descobriu que a memória dos pescadores era especialmente precisa para recordar eventos extremos, como uma temporada de pesca muito farta ou muito escassa. Contudo, fatores como o tempo passado e a idade dos entrevistados tornavam algumas memórias menos precisas. No conjunto, porém, os pesquisadores descobriram que, coletivamente, a memória dos pescadores corroborava os dados científicos em 95% do tempo.
“Algumas pessoas se lembravam de uma pesca muito mais farta ou muito mais escassa do que tinha sido de fato, mas a média é consistente. Então, em média, a memória das pessoas é realmente confiável.”
diz a coautora do estudo e professora associada da Universidade do Rio Grande do Norte, Priscila Lopes.
Tanto Castello quanto Lopes dizem que os métodos para recuperar a memória descritos em seu estudo podem ser especialmente úteis em países como o Brasil, onde os dados sobre a atividade pesqueira são escassos, ou para quando é financeiramente impossível reunir os dados necessários para implementar sofisticados esquemas de manejo de pesca baseados na ciência ocidental.
“Entrevistas rápidas com pescadores podem produzir dados históricos sobre a pesca por um custo muito menor do que o dos dados convencionais (científicos)”, diz Castello. Além de fornecer informações sobre dados de pesca, ele conta que a memória dos pescadores pode ser usada para entender tendências históricas, tais como declínios e aumentos na captura, e períodos de estabilidade. Esses resultados podem então ser usados para tomar decisões críticas de manejo, acrescenta.
Pesca na Ilha Ancheta, em Ubatuba (SP); os pesquisadores descobriram que as memórias dos pescadores eram ainda mais precisas quando se tratava de eventos extremos, como uma temporada de pesca muito farta ou muito escassa. Foto: michael_swan via Flickr (CC BY-ND 2.0).
William Cheung, professor e diretor do Instituto para Oceanos e Estoques de Pesca da Universidade da Colômbia Britânica, no Canadá, que não esteve envolvido na pesquisa, elogiou a “robustez” da análise do novo estudo. Em sua opinião, este estudo se destaca dos demais que também avaliam a utilidade das memórias dos pescadores para coletar dados.
“Um dos motivos pelos quais eles encontraram esta alta confiabilidade [na memória dos pescadores] foi a descrição detalhada de seus métodos, e como eles tentaram desenvolver perguntas comuns que podem ajudar as pessoas a se lembrar das informações com mais precisão”, diz Cheung. “Isso [a alta precisão] é uma coisa que acho bastante promissora e que a meu ver se destaca”.
Castello diz que ele e seus colegas já tiveram problemas com autoridades governamentais para implementar esses métodos – baseados na coleta de memórias no manejo da pesca. Mas agora ele tem esperança de que a maré mude. Castello diz que seu “sonho” é que o conhecimento local seja usado para manejar a pesca tradicional, não só no Brasil, mas também em outras partes do mundo.
“Temos milhões de pescadores que vivem e pescam nesses lugares há muito tempo, e eles têm todas essas memórias que podemos usar para obter dados de forma fácil e rápida. Não é perfeito, mas de acordo com as melhores estimativas científicas, tem 95% de acurácia e confiabilidade. Isso irá produzir um manejo tão bom quanto o manejo feito na América do Norte ou na Europa? Não, definitivamente não. Mas é muito melhor do que não ter nenhum manejo, nenhum dado, nenhuma informação, nenhuma ação.”
concluiu Leandro.
*O conteúdo foi originalmente publicado pela Mongabay, escrito por Elizabeth Alberts e traduzido por Eloise de Vylder