O Amazonas foi o estado brasileiro que registrou o maior avanço no número de registro de crianças com até 5 anos de idade em relação ao Censo 2010. Os dados fazem parte do Censo 2022 e foram divulgados no dia 8 de agosto pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
De acordo com o levantamento, em 2010, o número de pessoas na faixa etária registradas em cartório era de 402.103, equivalente a 89,5% desta população. Segundo os números divulgados pelo IBGE, no último Censo de 2022 o número subiu para 406.420, equivalente a 96%.
O principal avanço foi entre crianças com até um ano de idade. Em 2010, apenas 79% possuíam registro. Em 2022, esse número subiu para 92,4%.
Os municípios com maior cobertura de registro de nascimento de crianças até cinco anos no estado, segundo o Censo 2022 são: Borba, com 94,7%; Boca do Acre, com 94,6% e Nova Olinda do Norte, com 94,5%.
Cidades do Amazonas no ranking nacional
Cidade de Manaus, Amazonas. Foto: Lucas Silva/Amazonastur
Mesmo com o crescimento no número de registros, os municípios de Barcelos e Japurá, no interior do Amazonas, estão entre as dez cidades brasileiras com menores percentuais de pessoas com até cinco anos de idade registradas em cartório.
Segundo o levantamento, Barcelos possui 2.838 crianças de até cinco anos de idade. Deste total, apenas 62,5% estão registradas em cartório. Os números fizeram com que o município amazonense alcançasse o terceiro lugar do ranking nacional, ficando atrás apenas das cidades de Alto Alegre e Amajari, ambas em Roraima.
Situado ao norte do estado, na região do Baixo Rio Negro, Barcelos é o maior munícipio do Amazonas em faixa territorial, com 120 mil km². A extensão, somado a uma parcela significativa de indígenas que habitam na zona rural e precisam se locomover até a sede do município para ter acesso ao único cartório de Barcelos, são fatores que contribuem para o alto número de crianças sem registro.
Outro município do Amazonas que aparece na sétima colocação do ranking é Japurá, com 82,3% das crianças de até cinco anos de idade registradas em cartório. De acordo com o IBGE, o total de habitantes nesta faixa etária na localidade é de 1.438 pessoas.
De acordo com o levantamento, em todo o Brasil, 114.221 crianças não possuíam registro civil (ou os responsáveis legais não souberam informar a existência do documento).
A região Norte, que concentra 45% da população indígena do país, tem o menor percentual de crianças com com registro civil – 97,3%, segundo o IBGE (a média do país é 99,3%).
Entre os estados, Roraima (89,3%), Amazonas (96%) e Amapá (96,7%) estão nas piores situações e, Paraná, Espírito Santo e Minas Gerais, nas melhores (99,7% nos três estados).
Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil
O que é o registro de nascimento
O registro deve ter nome do indivíduo, sexo, data, horário e município de nascimento, além dos dados dos pais. Para fazer o documento, os pais devem apresentar RG, CPF, e certidão de nascimento ou de casamento.
Quando os pais da criança são casados, não há necessidade de comparecimento de ambos ao cartório, basta a apresentação da certidão de casamento para que o registro seja feito em nome dos dois.
Quando os pais não são casados, é necessário o comparecimento dos dois para que o registro seja realizado.
Todo nascimento deve ser registrado no prazo de 15 dias, podendo ser ampliado em até três meses, no caso de localidades distantes mais de 30 quilômetros da sede do cartório. O registro civil de nascimento deve ser feito na localidade onde a pessoa nasceu ou na de residência dos genitores (pai, mãe) ou responsável legal.
Fora do prazo legal, o documento é feito no cartório da circunscrição da residência do interessado.
Caso a criança não tenha sido registrada no prazo legal, que varia de acordo com o local de nascimento, não há incidência de multa, e os pais podem ir ao Cartório de Registro Civil mais próximo de onde moram, acompanhado de duas testemunhas, com todos os documentos possíveis para a comprovação dos dados.
Grande expoente da cultura amazonense e nacional, o escritor e dramaturgo Márcio Souza morreu nesta segunda-feira (12), aos 78 anos, em Manaus. A causa da morte não foi revelada.
História e legado
Márcio Souza nasceu em Manaus, no ano de 1946. O amazonense era romancista, diretor de teatro e ópera. Estudou Ciências Sociais na Universidade de São Paulo e escreveu críticas de cinema e artigos em diversos jornais e revistas brasileiras, como ‘Senhor’, ‘Status’, ‘Folha de S. Paulo’ e ‘A Crítica’.
Escreveu grandes obras literárias como ‘Galvez, Imperador do Acre’; ‘A Caligrafia de Deus’; ‘Lealdade’ – pelo qual recebeu o prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) em 1997; e ‘Mad Maria’, seu livro de maior destaque e que deu origem à minissérie de mesmo nome, de Benedito Ruy Barbosa, produzida pela TV Globo em 2005.
Ele também foi professor assistente na Universidade de Berkeley e escritor residente nas universidades de Stanford, Austin e Dartmouth (todas nos EUA), além de ter sido diretor da Biblioteca Nacional e presidente da Funarte.
Como palestrante, foi convidado pelas internacionais Universidad de San Marcos, Sorbonne, Toulouse, Aix-en-Provence, Heidelberg, Coimbra, Universidade Livre de Berlim, Harvard e Santiago de Compostela.
Dirigiu o Teatro Experimental do Sesc (Tesc) do Amazonas, hoje extinto. O autor foi ainda presidente do Conselho Municipal de Política Cultural.
Atuava como diretor da Biblioteca Pública do Amazonas e ocupava a cadeira de número 25 da Academia Amazonense de Letras (AAL). Nas redes sociais, a Academia lamentou a morte de Souza:
A editora Valer também prestou condolências ao ocorrido e ressaltou que:
“Márcio foi acima de tudo um dos grandes intelectuais da nossa Amazônia. Traduzido para diversas línguas. Uma das mais importantes vozes da moderna literatura brasileira”.
“Para nós, da editora Valer, essa é uma notícia que nos pegou desprevenidos, porque sempre esperávamos mais obras de Márcio e, também, de desfrutar da sua companhia, dado que ele era um dos maiores conhecedores das Amazônias e um dos nossos maiores intelectuais, um grande conhecedor da literatura, do teatro e do cinema. Nós lamentamos profundamente a morte de Márcio Souza”, disse Neiza Teixeira, coordenadora editorial da Valer, em publicação no blog da editora.
Saul Benchimol nasceu em 14 de agosto de 1934 e estudou as primeiras letras de alfabetização no Grupo Escolar Barão do Rio Branco em Manaus, tendo, mais tarde, transferindo-se para o Grupo Escolar Saldanha Marinho.
Já na juventude, Saul Benchimol passa a residir na rua Henrique Martins n.º 414 em frente ao Sesc Senac e passa a dar continuidade aos seus estudos no Colégio Estadual do Amazonas, cursando o Científico com o apoio de sua mãe, que tinha a preocupação com esse aspecto pecu- liar na formação de seus filhos, como ocorre até os dias atuais com seus descendentes. Essa história não foi um diálogo emudecido pelo tempo, pelo contrário, construíram pelo saber o caminho para a sobrevivência e para as conquistas de que foram e que são merecedoras. Os mitos permanecem no ar, sobrevoando a vida das pessoas. Ancorado na busca do estudo para seus filhos e no trabalho do velho guarda-livros que chegava a Manaus cheio de sonhos por dias melhores.
Apesar das dificuldades enfrentadas pela família, sobretudo por tratar-se de uma família numerosa, seu pai, trabalhava dia e noite como guarda-livros, provendo o sustento da família. Na verdade, seu pai sempre teve esse anseio de mudança, força de sua experiência em Belém do Pará e naturalmente compartilhado com sua esposa.
Saul Benchimol, já na sua juventude, demonstrava sua maturidade, com a responsabilidade de vencer através dos estudos. A luta de seus pais e tantos momentos enfrentados proporcionaram maior experiência, ensejando lhe um modo diferenciado de ver o mundo.
Seus pais procuravam dar bons exemplos de honestidade para seus filhos, exemplo este que Saul Benchimol levou para sua vida. A Manaus de sua época era uma cidade muito tranquila, e foi nessa cidade que vivenciou e guardou na memória suas ruas de paralelepípedos e muito urbanizada, cujo silêncio era quebrado pela passagem do bonde vindo da rua 10 de Julho seguindo pela rua Costa Azevedo e passando bem ao lado de sua casa pela rua Rui Barbosa.
Aos domingos, tinham matinês nos Cine Guarany e Polytheama, o que nem sempre lhe era permitido frequentar, ou o passeio na Praça da Polícia com a Banda da Polícia Militar tocando no coreto ao centro da praça das 17h até as 19h. Saul Benchimol foi protagonista desses fatos e até hoje guarda essas lembranças em sua memória.
Saul Benchimol aos 3 anos. Acervo da Família. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoalGrupo Escolar Barão do Rio Branco em Manaus, onde Saul Benchimol estudou as primeiras letras de alfabetização. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
Do Liceu Provincial e mais tarde Colégio Amazonense Dom Pedro II
Esta casa do saber formou muitas gerações: uns tornaram-se médicos, engenheiros, advogados, administradores, professores e tantas outras profissões que exerceram. Saul Benchimol bebeu na fonte do conheci- mento dessa casa do saber. Edificado em frente à Praça Heliodoro Balbi. É certo que somente por meio do conhecimento e da palavra os mortais podem passar para a posteridade, tão significativos e ilimitados são as ações e os fazeres e as formas de expressão daqueles que por lá passaram.
Ele, Saul Benchimol, tornou-se professor e foi por meio da palavra que o singularizou na sua forma única de ensinar, ultrapassando além dos limites de suas contingências e de sua efêmera existência material. Sua vocação para partilhar conhecimento com aqueles que foram buscar na fonte de sua sabedoria que o consagrou na imortalidade acadêmica é ainda lembrada nos dias atuais.
Grupo Escolar Saldanha Marinho. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
O professor Otoni Moreira de Mesquita na sua obra “Manaus História e Arquitetura 1852-1910” nos transporta nas curvas do tempo através de uma agradável viagem de recordações, reencontros e revelações da história deste patrimônio do saber.
[…] A construção do Liceu Provincial foi autorizada pela Lei 1506, de 4 de novembro de 1880 (Coleção de Leis do Amazonas, 1879 Tomo XXVII, pg. 28). Em abril de 1881, haviam preparado o terreno para obra (Dias, 1881, pg.43) e, em 16 de maio do mesmo ano, o Presidente Satyro Dias informava ter mandado “lavrar” o contrato para a construção do alicerce do prédio (Dias, 1881, pg. 7). Em 31 de maio de 1881, a Assembleia libera a quantia de 30:000$000 réis pra a referida obra (Annais da Assembleia Legislativa do Amazonas, pg. 92) e em 27 de agosto do mesmo ano, o Presidente Alarico José declarava a aprovação, em 02 de junho daquele anos, do “acto do diretor de Obras Públicas ordenando aos arrematantes das obras do Lyceu Provincial, que desse aquellas obras dimensões maiores, do que as marcadas na planta respectiva. (Furtado, 1882, p. 8)
Trecho da Av. Joaquim Nabuco, onde residia a família Benchimol, quando do nascimento de Saul Benchimol (em 14 de agosto de 1934). Fonte: Bazar Esportivo
Em 25 de março de 1883, o Presidente José Paranaguá informava que o engenheiro Leovegildo Coelho mantinha-se no cargo de diretor da Repartição de Obras Publicas e as obras do Lyceu, “começadas em maio de 1881” encontravam-se muito atrasadas. Estavam prontos somente os “alicerces e algumas paredes até a altura do vigamento inferior”, mas em “24 de julho” havia ordenado ao Tesouro Provincial chamar concorrência para a “construção das paredes do pavimento térreo”, além do fornecimento e instalação do “vigamento do soalho”. Aceita a proposto do engenheiro João Carlos Antony, o contrato fora assinado em “20 de janeiro” de 1883. Para o “sócco da fachada”, contratara com José Cardoso Ramalho o fornecimento da “cantaria necessária” pela quantia de 3:774$085 réis, e o assentamento desse material havia sido feito por Antonio Ruibal pela importância de 540$000 réis. Estavam compradas as grades de ferro para “os vãos por baixo das janelas” e já haviam aterrado o saguão e o pátio de edifício. (Paranaguá, 1883, p. 77)
Em 9 de janeiro de 1884, já estavam entregues as paredes de cantaria para o “sócco da fachada principal” do Lyceu, em 08 de fevereiro, foi encerra- do o período de concorrência estabelecido pelo Tesouro Provincial para construção da obra, só que, em 16 do mesmo mês o Presidente nada decidira sobre as cinco propostas apresentadas. (Paranaguá, 1884, p. 58 e 63)
Em 16 de maio de 1884, a Lei nº 640 autorizava o Presidente da Província a mandar concluir as obras do Lyceu Provincial e em outubro do mesmo ano, o Presidente anunciava que a obra estava (em grande andamento) juntamente com a obra da igreja de São Sebastião, que eram as duas únicas obras autorizadas “por contato” (Sarmento, 1885 pg. 9). Em setembro de 1885, o Presidente Ferreira Junior informava que a obra do Lyceu contratada com Malcher, Ramalho, e Castro continuava com “muita atividade” (Chaves, 1886, pg.32). No entanto em março de 1886, o Presidente Vasconcellos Chaves notificava que as obras do Lyceu deveriam ter sido concluídas em novembro do ano anterior, mas por “acto de 21 de julho daquele ano” haviam sido prorrogadas por mais oito meses e contava estarem concluídas em 21 de junho daquele ano, e lamentava que sendo o Lyceu um edifício importante, ressentia-se de “defeitos grosseiros”, muitos dos quais já não eram possíveis de serem reparados. (Ferreira Junior, 1885, pg. 51)
Em relatório de 10 de fevereiro de 1886, o diretor da Repartição de Obras Públicas, Lauro Bittencourt, afirmava que “com exceção dos três salões da frente, todo o segundo pavimento” estava assoalhado e forrado e as paredes embuçadas. (Bittencourt, 1886, pg. 37)
Oficialmente foi concluída em 5 de setembro de 1886, de acordo com a placa de bronze fixada no hall de entrada do prédio. Entretanto, posteriormente a esta data, surgiram algumas solicitações dos governantes no sentido de concluir a obra. Em 20 de junho de 1893, o Diretor de Obras Públicas, Armenio de Figueiredo, afirmava não ser necessário “mais que sessenta contos de réis pra terminar a obra” (Figueiredo, 1893, pg.10). Em 6 de janeiro de 1899, o Governador Fileto Ferreira comunicava estar o edifício passando “por modificações bem radicais), pois apesar de aberto há muitos anos a uso público fora entregue “quase ao abandono pela falta de limpeza e reparos”. (Ferreira, 1898, pg.16)
O antigo Lyceu Provincial, posteriormente Gymnasio Amazonense Pedro II e atualmente Colégio Estadual do Amazonas é um dos raros exemplares típicos da arquitetura neoclássica em Manaus.
Sua estrutura, assim como sua composição espacial e seu aspecto orna- mental, correspondem com bastante precisão às características traçadas pelo historiador Paulo Santos em sua obra Quatro Séculos de Arquitetura (1981, pg.53). A planta baixa do prédio e sua fachada são simétricas, bastante equilibradas e raro são os elementos ornamentais. O edifício tem dois andares sobre um alto porão e segue a estrutura da antiga “caixa” greco-romana, também muito utilizada durante o Renascimento.
A fachada tem duas alas laterais com um corpo central, ligeiramente pro- eminente. Na parte central fica a entrada do prédio, composta por uma escadaria de treze degraus que termina em um pórtico composto por quatro colunas no primeiro pavimento e quatro no segundo.
Com frequência, os elementos clássicos aplicados nas construções realizadas na última passagem do século apresentam alterações que escapam dos padrões mais rígidos. Ao utilizarem pórticos e colunas em suas fachadas, dispõe as ordens aleatoriamente, confundem, muitas vezes, a sequência convencionada pelos romanos. Ao aplicarem as ordens gregas às suas construções, os romanos definiram que o primeiro pavimento de uma construção deveria apresentar colunas da ordem dórica ou toscana, enquanto o segundo pavimento deveria utilizar colunas jônicas e o terceiro adotaria a ordem coríntia. No entanto a adoção de uma ordem implica no uso de outros elementos além da coluna, abrangendo, como por exemplo, o entablamento com seus frisos característicos.
Assim, pode-se classificar as colunas no primeiro pavimento do Lyceu Provincial como Toscanas, por apresentarem fuste liso e base, entretanto o entablamento sustentado por estas colunas é da ordem dórica, caracte- rizado pelo friso composto com triglífos e métopas. As colunas do segundo pavimento, apesar de ostentarem capitéis jônicos, apresentam fustes liso, quando a ordem exige caneluras. Por trás do pórtico, abre-se três portas em arco pleno que dão acesso ao vestíbulo do prédio.
As alas laterais de cada andar são vazadas por três janelas, todas de vergas retas, sendo as do segundo pavimento, janelas de púlpito com balaústres. Pilastras com mesma característica das colunas do pórtico intercalam-se entre as janelas e se apresentam em dupla nas extremidades da fachada e na divisão com o corpo central, A construção é arrematada na parte superior por uma platibanda de decoração singela, que circunda todo o edifício, sendo interrompido apenas pelo frontão triangular liso.
Dessa forma, escondem-se os beirais imprimindo ao edifício um aspecto mais de acordo com o estilo neoclássico. Como já foi dito anteriormente neste trabalho, este prédio apresenta grande semelhança com algumas obras de Palladio, lembrando, entretanto que tais características tornaram–se bastante comuns no século passado em todo o Brasil.1
1 MESQUITA, Otoni Moreira de. Manaus: história e arquitetura (1852-1910). Manaus: Edua, 1997, p. 102-107.
Saul Benchimol. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
O trabalho como propagandista
Saul Benchimol tinha, na sua rotina de trabalho, o gerenciamento de visitas médicas e promoção de produtos do laboratório Merck Sharp & Dohme, especialmente nas farmácias e para classe médica, cuja representação era da empresa da família. Também era responsável por planejar e realizar visitas apresentando os produtos produzidos pelo laboratório. Na visita com os médicos, promovia uma apresentação dos produtos em pauta, com indicação, posologia, benefícios aos pacientes, entre outras
informações dos produtos. Manaus, nessa época, tinha aproximadamente entre quarenta a cinquenta médicos. Dentre eles: Antônio Comte Telles de Souza, Antônio Hosannah da Silva Filho, José Raimundo Franco de Sá, Olavo das Neves de Oliveira Melo, Leopoldo Cyrilo Krichanã da Silva, Menandro Tapajós, Euzébio Rodrigues Cardoso, Mário Isaac Sahdo, José Leite Saraiva e tantos outros.
Saul Benchimol lembra das tarefas de produzir os relatórios de suas visitas aos médicos e farmácias. Neste período, não era necessário ter curso superior, mesmo assim, era necessário ter conhecimento em anatomia, fisiologia, farmacologia, e naturalmente bons conhecimentos em vendas e negociação. Tratava-se de uma profissão de muitos desafios. O profissional precisava ser bastante proativo, organizado e possuir um senso analítico muito elevado para gerenciar seu tempo entre vendas, cobranças e propaganda médica.
Foi sim, um período importante em sua vida, com fortes lembranças desses momentos vividos por ele no início de sua jornada profissional.
A caminho da Faculdade de Direito (1953-1957)
A história da ocupação do espaço amazônico tem como momento o período do ciclo do látex, com profundas consequências para a realidade demográfica regional. A verdade é que a Amazônia não seria a mesma depois do fausto do látex.
Transcorria o ano de 1953, o jovem Saul Benchimol, fiel aos ensina- mentos de seu pai, ingressava na Faculdade de Direito, a “velha jaqueira”, que já havia formado grandes nomes da jurisprudência do Amazonas. Afinal, era a única opção, somente os filhos de famílias ricas podiam buscar estudos fora do domicílio. Para contribuir com o sustento da família, Saul Benchimol dedicava-se também ao trabalho de propagandista e vendedor do Laboratório Merck Sharp & Dohme. Na verdade, os homens e mulheres que lograram êxito em suas histórias tiveram como principal atributo a coragem e o espírito de luta. Foram, sobretudo, seres que acreditaram em seus sonhos e projetos movidos pelo entusiasmo e pelos ideais que legaram à sociedade uma história de feitos e conquistas.
Saul Benchimol tem como atributo servir ao próximo, ação que se oculta por trás da simples dimensão de suas ações, faz de sua vida o enigma e condição indispensável para uma existência enriquecedora e feliz.
O jovem Saul Benchimol, fiel aos ensinamentos de seu pai, ingressava na Faculdade de Direito, 1953. Acervo da Família. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
Saul Benchimol – A saga de judeu na Amazônia
Dos seus inúmeros afazeres diários dedicava seu precioso tempo ao seu trabalho de propagandista e aos estudos. Ocupou seu lugar na primeira fila e, como lutador, marchou sempre na vanguarda com uma participação efetiva e dedicada. Estudioso, procurou fazer daquele espaço sua projeção para o futuro, não poupou esforços para ser útil aos seus irmãos e aos seus pais.
Neste período, seu pai trabalhava duro para manter a família. Todos os esforços eram também para manter seu irmão Alberto Benchimol, estudante de medicina no Rio de Janeiro. E, mais tarde, já formado, imigrou para os Estados Unidos da América, precisamente para Phoenix no Arizona, onde construiu sua carreira profissional de sucesso.
Manaus, nesse período, com uma população aproximada de 250 mil habitantes, tinha seu conglomerado urbano e comercial nas principais ruas do centro. O reconhecimento dessas circunstâncias, hoje narrados por Saul Benchimol, constitui o mútuo e legítimo orgulho de seus pais, que mantêm sua história com boas lembranças de todos esses acontecimentos. Essas verdades históricas resultam do espírito desbravador de Isaac
Israel Benchimol e da senhora Nina Siqueira Benchimol, que fincaram aqui a decisão de construir suas vidas.
Saul Benchimol e professores. Foto: Abrahim Baze/Acervo pessoal
Sobre o autor
Abrahim Baze é jornalista, graduado em História, especialista em ensino à distância pelo Centro Universitário UniSEB Interativo COC em Ribeirão Preto (SP). Cursou Atualização em Introdução à Museologia e Museugrafia pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e recebeu o título de Notório Saber em História, conferido pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas (CIESA). É âncora dos programas Literatura em Foco e Documentos da Amazônia, no canal Amazon Sat, e colunista na CBN Amazônia. É membro da Academia Amazonense de Letras e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA), com 40 livros publicados, sendo três na Europa.
Por Flávio Guimarães – flavioguimaraesjr@hotmail.com
Seria um sonho de vida conseguir unir uma ideia com a outra, não é verdade? Entretanto, a prática nem sempre pode possibilitar isso. Ou pode, dependendo do que definirmos como linha de atuação, o tempo de maturação da carreira e os frutos rendidos em médio e longo prazo.
A questão principal desse tema é que podemos, sem dúvida, fazer o que gostamos e, com isso, ainda ganhar muito dinheiro. Porém, a maioria de situações assim nos mostra que isso leva um certo tempo, a depender da área que a pessoa quer atuar. Se for petróleo, por exemplo, a tendência é que o enriquecimento seja proporcionalmente mais rápido do que em outros setores.
Nesse artigo vou falar sobre o aspecto profissional unido ao comportamental e de gosto pessoal por profissão. Vamos entender esse universo tão sonhado por muitas pessoas.
Mas quais profissões dão lucros mais rápidos?
Entre os setores de mercado que vemos ao nosso redor, tradicionais e não tradicionais, há alguns que podemos destacar com os que geram ganhos mais rápidos. São eles:
– Petróleo e gás: apesar de um ser um setor muito burocrático em termos regulatórios e documentais, gera um alto índice de lucro, pois tudo ao nosso redor usa esse recurso natural para a produção. Entretanto, para mergulhar nesse segmento de mercado é necessário ter um alto caixa inicial para o investimento em estudos, operações de perfurações e a produção em si.
– Mineração e ouro: também é um setor burocrático regulatório e documental, entretanto, o lucro líquido é proporcionalmente maior do que o petróleo e gás, que requer uma estrutura operacional maior para a execução. Além disso, o valor agregado por produto é maior com a projeção menor de prejuízo. Exemplo: uma única venda pode fornecer fôlego financeiro para a pessoa, mesmo que ela tenha sequentes prejuízos.
– Gamers e influencers digitais: a geração de conteúdos digitais é a mais nova área geradora de muitos ganhos financeiros e surgiu como um novo eixo de mercado a partir, principalmente de 2010, quando as plataformas de vídeos, fotos e imagens vieram à tona com maior força. Entre as possibilidades de ganhos, há opções como a monetização da própria plataforma, patrocínios fixos de marcas, publicidades por postagens e outros.
Como identificar, através da profissão, que a riqueza vem em média e longo prazo?
Algumas profissões têm a característica de gerar riqueza em média e longo prazo devido o tempo de maturação do profissional, projetos e atuações perante o mercado. Entre elas podemos citar…..
– Carreira executiva: a pretensão de atuar como gerente ou diretor(a) é de uma escolha muito próspera, entretanto, isso pode não ser tão rápido quanto gostaríamos. Um(a) profissional leva aproximadamente 10 anos para chegar a um cargo de gestão. Isso requer muita especialização, paciência e estudos. Dependendo da área, esse tempo pode se estender para até 20 anos.
– Vendas digitais de produtos e serviços: é uma área próspera e que já trouxe riqueza para muitos profissionais, porém, há um tempo de maturação para a conquista de clientes, mercado e desafios de concorrentes. Mesmo que o uso de tráfego pago promova um retorno mais rápido, a continuidade do negócio depende de muitos fatores.
– Profissionais de tecnologia: o desenvolvimento de softwares e soluções de tecnologias, segurança da informação e e-commerce são as áreas que mais estão gerando oportunidades de negócios para contratações diretas e prestadores de serviços. Muitos deles cobram peso de ouro e trabalham mais de uma empresa ao mesmo tempo. Por isso, há tendência que a atividade prospere em médio prazo.
– Profissionais de Odontologia: a área protética também é próspera para quem quer ser especialista da área. A média de lucro, por cada peça, gira em torno de 250 a 350%. Mesmo assim, para que os ganhos sejam significativos, é necessário ter uma clientela formada, que geram novas indicações e clientes. De certa forma, isso leva um período de médio ou longo prazo.
E as áreas improváveis?
Sim, elas existem.
Você já viu alguém falar que essa ideia ou projeto são absurdos e que dificilmente dariam certo? A verdade é que tem vezes que dá certo sim. Quer saber um exemplo disso??
CASE: uma moça, desde criança, dizia que iria trabalhar criando baratas. Durante toda a sua fase jovial ouviu muitas críticas e descrenças quanto a sua ideia. O tempo passou, ela se especializou no assunto e hoje é uma das maiores exportadoras de baratas para zoológicos no mundo inteiro. Dá para imaginar a quantidade de dinheiro que ela ganha?
Por mais improvável que pareça, sempre tem uma sub-área que pode ser estudada e vendida como um projeto inovador e lucrativo. Para isso, é necessário saber onde exatamente está a demanda. Isso pode ser feito através de pesquisas de mercado ou conversas com profissionais da área.
Por isso, acredite no seu projeto, acredite na sua ideia, acredite na sua crença. E vá em frente !!! Só vá !!!
Sobre o autor
Flávio Guimarães é diretor da Guimarães Consultoria, Administrador de Empresas, Especializado em Negócios, Comportamento e Recursos Humanos, Comentarista de Carreira, Emprego e Oportunidade dos Jornais Bom Dia Amazônia e Jornal do Amazonas 1ª Edição, CBN Amazônia, Portal Amazônia e Consultor em Avaliação/Reelaboração Curricular.
O governo do Amazonas publicou o Decreto nº 49.906, de 24 de julho de 2024, por meio do qual concede prazo adicional de 45 dias para pagamento de ICMS, Fundos e Contribuições estaduais, com objetivo de mitigar o impacto financeiro e logístico do período de estiagem dos rios da bacia amazônica face à severidade da nova seca que se aproxima e que deverá superar a do ano passado, a maior já verificada em cem anos. O ato foi editado face ao cenário de que trata o Decreto nº 49.763/24, por meio do qual o Executivo declara situação de emergência no Estado do Amazonas, particularmente nos municípios localizados nas calhas do Madeira, Juruá, Purus e Alto Solimões ora afetados pelo desastre decorrente do severo período de vazante. A decisão governamental levou em conta, adicionalmente, a necessidade de criação de mecanismos de mitigação dos impactos econômicos do gargalo logístico que, como em 2023, prejudica severamente as atividades comerciais e industriais.
Face à repetição de seca severa para o ano de 2024 e a necessidade de criação de mecanismos de mitigação dos impactos econômicos sobre o gargalo logístico de transporte de mercadorias no período e a necessidade de prazo mais alongado para compensar períodos mais alongados de estocagem acima normal, o governo estadual concede prazo adicional de 45 dias para o recolhimento de 50% de débitos de ICMS, fundos e contribuições devidos ((FMPE, FTI, Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e Fundo de Promoção Social e Erradicação da Pobreza (FPS) por ocasião do desembaraço de entrada de mercadorias ou bens em operações interestaduais e de importação vincendos nos meses de agosto, setembro, outubro e novembro de 2024.
Entretanto, para fruição do prazo adicional de pagamento estipulado, o contribuinte deverá estar em situação regular e adimplente junto ao fisco estadual. Tais benefícios, ressalta o Decreto, não se aplicam aos débitos decorrentes de operações com petróleo e seus derivados, gás natural, álcool anidro ou hidratado e demais combustíveis e lubrificantes não derivados de petróleo.
Sucessivas secas têm-se verificado na Amazônia. Pela gravidade do problema, atraem preocupações de diversos órgãos científicos no Brasil e mundo afora. Em 2023 a região experimentou uma das piores secas de sua história. Artigo publicado pelo Jornal da UNESP, de abril de 2024, constata que a baixa acentuada dos níveis dos rios afetou a vida de todos os habitantes da região, dificultando o deslocamento das populações ribeirinhas, e o transporte de água, alimento e outros suprimentos essenciais. A busca por explicações para eventos tão extremos mobilizou uma rede internacional de pesquisadores, entre eles docentes e discentes do Programa de Pós-graduação em Desastres Naturais, que é uma parceria entre o Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de São José dos Campos, e o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).
As análises sugerem que tanto o calor quanto a seca que atingiram a maior floresta tropical úmida do mundo já refletem o panorama das mudanças climáticas, tanto em nível local como global. Os resultados do estudo vieram a público em artigo publicado em abril na revista científica “Scientific Reports”. Ao que salienta o texto, a Amazônia já registrou neste século outros episódios de estiagem extrema e prolongada, quase sempre associados à ocorrência do fenômeno climático El Niño, caracterizado por um aquecimento acima da média nas águas do Pacífico, na região da linha do equador. A primeira em 2005, a segunda em 2010, a terceira em 2015 e 2016 e a mais recente em 2022-2023. O nível do Negro chegou a baixar 20 centímetros por dia entre agosto e início de setembro, segundo o Serviço Geológico do Brasil. O dobro do registrado em 2022, mas menos do que nas grandes secas amazônicas de 2005 e 2010.
Sobre o autor
Osíris M. Araújo da Silva é economista, escritor, membro do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas (IGHA) e da Associação Comercial do Amazonas (ACA).
A Diretoria do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) aprovou o contrato da nova doação do governo dos Estados Unidos (EUA) ao Fundo Amazônia, no valor de US$ 47 milhões, o equivalente a R$ 270 milhões.
Este novo aporte do governo dos EUA completa a entrega inicial de US$ 50 milhões, cerca de R$ 285 milhões, ao Fundo, e faz parte do compromisso de US$ 500 milhões feito pelo presidente Biden em abril de 2023. Segundo a embaixada americana, o presidente Biden continua trabalhando com o Congresso norte-americano para solicitar e garantir o financiamento restante para o Fundo Amazônia e atividades relacionadas até 2028.
Desde sua retomada, os novos contratos de doação ao Fundo Amazônia somam aproximadamente R$ 1,4 bilhões, além do anúncio de intenções de doações no montante de aproximadamente R$ 3,1 bilhões ao câmbio atual.
“Esta nova doação do governo norte-americano reforça seu entendimento de que a agenda de combate ao desmatamento do governo brasileiro vem apresentando resultados. Esperamos que o fluxo de recursos dos EUA siga constante ao longo dos próximos anos” ponderou a Diretora Socioambiental do BNDES, Tereza Campello.
O Fundo Amazônia prevê o apoio não reembolsável a ações de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento e de conservação e do uso sustentável da Amazônia Legal. Até 20% dos recursos podem ser aplicados no desenvolvimento de sistemas de monitoramento e controle do desmatamento em outros biomas brasileiros e em outros países tropicais.
Criado em 2008, o Fundo já conta com 7 doadores, dos quais 6 são governos estrangeiros, o que demonstra a confiança da comunidade internacional na agenda de combate ao desmatamento e apoio ao desenvolvimento sustentável do governo brasileiro.
Já são 114 projetos apoiados, em um investimento total de cerca de R$ 2,5 bilhões. As ações apoiadas já beneficiaram aproximadamente 239 mil pessoas com atividades produtivas sustentáveis cujas receitas obtidas com a comercialização de produtos atingiram R$ 317 milhões, além de 101 terras indígenas na Amazônia e 196 unidades de conservação apoiadas que resultaram em mais de 74 milhões de hectares de áreas protegidas e com gestão fortalecida (Tis e UCs).
Foto: Fabio Rodrigues-Pazzebom/Agência Brasil
Outros números do Fundo Amazônia:
– Cerca de 1,1 milhão de imóveis inscritos no CAR
– Mais de 75 milhões de hectares de área de floresta com manejo sustentável
– Quase 1.900 missões de fiscalização ambiental efetuadas
– Mais de 61 mil indígenas diretamente beneficiados
– 613 publicações científicas ou informativas produzidas
– Mais de 2.000 pesquisadores e técnicos envolvidos nas atividades de ciência tecnologia e inovação apoiadas
Transparência
O site do Fundo Amazônia reúne informações detalhadas sobre todos os 114 projetos apoiados, bem como os seus contratos. Nele, o BNDES publica, periodicamente, relatórios anuais de atividades, informes sobre a carteira de projetos e informações acerca da execução dos projetos, possibilitando que todos os interessados acompanhem as atividades desenvolvidas com os recursos do Fundo.
No site também estão também disponíveis os resultados dos diferentes tipos de avaliação aos quais o Fundo Amazônia já foi submetido, e os relatórios de auditoria externa independente produzidos, anualmente, com relação ao Fundo.
Cinco cidades de Roraima e duas do Amazonas estão entre as dez primeiras do Brasil com os maiores números de crianças de até 5 anos sem certidão de nascimento. É o que indicam novos dados do Censo 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
As cidades de Roraima são Alto Alegre, Amajari e Iracema, onde está quase metade da Terra Indígena Yanomami — o maior território indígena do país —, e Pacaraima e Uiramutã, que é proporcionalmente o município mais indígena do país e onde está a Terra Indígena Raposa Serra do Sol.
As cidades amazonenses são Barcelos, onde o povo Yanomami também vive, e Japurá, a cidade menos populosa do Amazonas. De forma geral, Roraima lidera com a menor cobertura do registro civil de nascimento, entre as unidades federativas — uma porcentagem de 89,3%.
Além disso, outra cidade da região Norte integra o ranking: Pedra Branca do Amapari, no interior do Amapá.
Em Roraima, apenas oito dos 15 municípios possuem Cartórios de Registro Civil, incluindo Alto Alegre e Pacaraima. Para obter a certidão de nascimento, moradores de Amajari, Iracema e Uiramutã precisam se deslocar para as outros municípios. Existem cartórios nas duas cidades amazonenses e na cidade do Amapá.
A certidão de nascimento é o primeiro documento civil que oficializa, para o estado e a sociedade, a existência de um novo indivíduo natural. Ela é emitida por cartórios de Registro Civil de Pessoas Naturais (RCPN), instituições que também são responsáveis pelo registro civil de nascimento.
Mesmo com um cartório, Alto Alegre é o município com o menor percentual de crianças com registro de nascimento. Na cidade, há 3.638 crianças de até 5 anos e apenas 37,7% delas tiveram o nascimento registrado. Alto Alegre é o município onde está a maior parte do território Yanomami (19,28%).
Foto: Reprodução/Anoreg-PR
O registro civil de nascimento é feito uma única vez em livro específico do cartório e fica na instituição, diferente da certidão de nascimento, que é entregue para o responsável pela pessoa. A certidão:
Funciona como a identidade formal do cidadão;
É pré-requisito para a retirada de outros documentos, como a Carteira de Identificação Nacional (CIN);
Permite o acesso a serviços sociais básicos, incluindo saúde, educação e justiça. Por exemplo, as primeiras vacinas, matrícula em escola ou creche e auxílio social.
Evita risco de apatridia e buscar proteção contra violência e exploração infantil. Por exemplo, a prova de idade é necessária para ajudar a prevenir o trabalho infantil, o casamento infantil e o recrutamento de menores para as forças armadas.
De acordo com o IBGE, as informações dos municípios estão alinhadas com as elevadas estimativas de sub-registro de nascimentos ocorridos em 2022, segundo o lugar de residência da mãe de cada criança.
Os sub-registros de nascimentos correspondem ao conjunto dos eventos vitais não registrados no prazo legal previsto, uma vez que as vulnerabilidades sociais e econômicas, como gastos com transporte e a distância entre as comunidades e cartórios podem dificultar o acesso das populações ao serviço.
O Instituto estima que 756 crianças de mães residente em Alto Alegre nasceram em 2022. No entanto, 508 delas não foram registras até o 1° trimestre de 2023, gerando um sub-registro de 67,2% para a cidade.
Em Amajari, localizado ao Norte de Roraima, a estimativa para o sub-registro de nascimento foi de 65,2% em 2022. Naquele ano, 434 crianças nasceram no município, mas 283 não foram registradas em cartório.
Crianças indígenas e Roraima no ranking
Roraima é o estado brasileiro com o maior percentual de indígenas sem o registro de nascimento em cartório ou Registro Administrativo de Nascimento Indígena (Rani), realizado em livros próprios por funcionários da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).
Para cada Rani, é emitido um documento correspondente, devidamente autenticado e assinado. Ele pode servir como documento para solicitar o registro civil e não substitui a certidão de nascimento.
Conforme o IBGE, nos municípios de Alto Alegre, Amajari e Uiramutã mais de 75% da população de até 5 anos que não possui certidão de nascimento é indígena. Para se ter ideia, só no Uiramutã, município proporcionalmente mais indígena do Brasil, 96,8% das crianças sem o documento são indígenas.
Em Iracema, ao Sul do estado, cerca de 27,6% das crianças de até 5 anos identificadas pelo estudo são indígenas.
Além disso, de forma geral, Roraima lidera com a menor cobertura do registro civil de nascimento no grupo de crianças de até 5 anos, entre as unidades federativas. Em 2022, o percentual do estado foi de 89,3%.
A segunda posição nesse ranking é ocupada pelo Amazonas, que teve 96%. O Amapá ficou com a terceira colocação, com percentual de 96,7%. Nos outros estados brasileiros, o percentual de crianças de até 5 anos foi superior a 98%.
Se considerar o grupo com crianças com menos de 1 ano, os três estados ainda se mantém no topo da lista. Roraima permanece na liderança, com 87,1%, mas as posições se invertem com o Amapá e o Amazonas.
Uma equipe de pesquisadores descobriu que mais de 40% das terras na Pan-Amazônia — área que abarca nove países — estão sob alguma forma de manejo de conservação, um número significativamente maior do que os 28% indicados em registros oficiais. Essa número inclui todos os ecossistemas da região. Só na Floresta Amazônica, 62,44% das terras estão definidas como algum tipo de área de conservação.
Para chegar a esse número, os autores olharam para além das áreas protegidas tradicionais, como parques nacionais e reservas ambientais. Eles reuniram informações de artigos científicos, documentos legais e conhecimento local para incluir terras manejadas por povos indígenas, áreas de manejo de recursos naturais mantidas por comunidades locais, regiões cobertas por programas de pagamento por serviços ecossistêmicos e até mesmo áreas de produção florestal de manejo sustentável.
Os pesquisadores dizem que este método fornece um quadro mais completo das iniciativas de conservação do que os atuais sistemas de rastreio e ajudará outros atores a avaliar a eficácia de diferentes tipos de sistemas de governança de conservação.
“Saber quem está gerindo essas áreas e como, bem como reconhecer sua posição quanto à conservação, é o primeiro passo para planejar coletivamente um futuro justo e viável para nosso planeta”, diz Siyu Qin, autora principal do estudo.
O estudo enfatiza o papel dos povos indígenas e das comunidades locais na conservação. Os territórios indígenas correspondem a 16% da área total da Pan-Amazônia, enquanto as áreas de conservação administradas por comunidades locais somam outros 3,5%. Grandes ganhos de conservação vêm das reservas indígenas, especialmente onde as comunidades conquistaram direitos consolidados à terra.
Reservas de uso sustentável e florestas de manejo comunitário também ocupam áreas significativas da região. Embora nem todas essas terras sejam geridas estritamente para a conservação, os autores observam sua importância para manter serviços ecossistêmicos e modos de vida sustentáveis.
No mundo todo, o estudo estima que 45% ou mais das terras pertençam tradicionalmente a povos indígenas e comunidades locais, embora nem todas essas terras estejam formalmente reconhecidas ou tenham a conservação como principal objetivo.
Os territórios indígenas da Amazônia enfrentam inúmeras e crescentes ameaças, incluindo a exploração ilegal de madeira, a mineração e a expansão agrícola. Muitas comunidades enfrentam a falta de reconhecimento legal do seu direito à terra, o que dificulta a defesa de seus territórios contra pressões externas.
“Se a floresta ainda está de pé, é graças à presença dos povos indígenas. E hoje, essa é a missão mais importante do nosso planeta. É uma missão que não garante só as nossas vidas, mas a vida de todas as pessoas”, declarou a ativista Txai Suruí, do povo Paiter Suruí e coordenadora do movimento da juventude indígena de Rondônia.
De acordo com um relatório do Projeto Monitoramento da Amazônia Andima (MAAP) de 2023, os territórios indígenas na Floresta Amazônica tiveram apenas um terço da perda de floresta primária em relação às áreas não protegidas.
Foto cedida pelo Goldman Environmental Prize
“Empoderar comunidades historicamente marginalizadas e garantir seu papel como protetores da natureza é fundamental em áreas onde faltam serviços públicos”, afirma Vilisa Morón Zambrano, bióloga da Universidade Simón Bolívar na Venezuela e coautora do estudo. Ela explica que isso dá a essas comunidades uma chance de mostrar sua importância na proteção da natureza e dos serviços ambientais para além de seus territórios.
Brooke Williams, pesquisadora e fellow da Universidade de Tecnologia de Queensland, na Austrália, que não esteve envolvida no estudo, comentou sobre a importância de identificar e classificar adequadamente os diferentes tipos de esforços de conservação. Ela observa que todas as medidas de conservação baseadas em áreas devem fornecer benefícios duradouros à biodiversidade para contribuir com as metas globais.
Qin observa que, em mais de 30% das áreas que estão sob algum manejo de conservação, a Floresta Amazônica continua sob risco de desmatamento e incêndios. As mudanças climáticas exacerbam esses problemas, alterando os padrões de chuva e aumentando a frequência das secas e de incêndios que se espalham das áreas agrícolas para a floresta.
Cientistas alertam que a Amazônia está se aproximando do ponto de não-retorno, a partir do qual começaria a se transformar numa savana seca e degradada.
Dadas essas ameaças, Qin questiona se a meta global de “30×30” (proteger 30% das terras e águas do planeta até 2030) é suficiente, especialmente para ecossistemas de importância tão crucial quanto a Amazônia. Alguns especialistas pedem ainda mais proteções para a maior floresta tropical do mundo.
“Na verdade, 30% das terras não é um número ambicioso, pois se acrescentarmos as áreas protegidas já existentes e os territórios dos povos indígenas onde a biodiversidade é de fato preservada e o uso é sustentável, o número global já está acima de 30%”, afirma a Avaaz, organização não-governamental de ativismo.
Foto: 350.org via Flickr (CC BY-NC-SA 2.0)
Em abril, centenas de organizações endossaram uma declaração pela proteção de 80% da Amazônia até 2050.
“Nossos dados mostram que a proteção de 80% da Amazônia é necessária e possível, mas acima de tudo, urgente. Se a atual tendência de desmatamento continuar, a Amazônia como conhecemos hoje não chegará a 2025”, informou um relatório de 2022 baseado na análise de dados de desmatamento de 1985 a 2020.
As taxas de desmatamento ilegal no Brasil caíram no último ano, desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se comprometeu a conter a crescente perda de florestas no Brasil. Os incêndios, contudo, estão em alta.
A coautora do estudo Clara L. Matallana-Tobón ressalta que, embora existam diversas estratégias de conservação na Amazônia, muitas precisam ser fortalecidas em termos de governança, monitoramento e financiamento.
Para fortalecer as áreas já destinadas à conservação, especialistas sugerem melhorar as estruturas de governança, aprimorar os sistemas de monitoramento da biodiversidade, aumentar o financiamento e basear as decisões de manejo em pesquisas sólidas. Há também uma forte ênfase em ampliar o envolvimento das comunidades locais nos esforços de conservação, uma vez que sua participação pode aumentar em muito a eficácia dos mesmos.
O dinheiro para proteger a natureza deve se destinar não só aos parques e reservas, dizem os autores do estudo. Eddy Mendoza, pesquisador que trabalha com conservação no Peru, defende que haja mais financiamento para diferentes tipos de áreas de conservação, especialmente para aquelas onde os moradores locais estão envolvidos.
Cada área de conservação tem seus próprios desafios e pode precisar de estratégias específicas para seu fortalecimento. O objetivo é criar áreas protegidas bem geridas que possam suportar melhor as pressões ambientais e preservar efetivamente a biodiversidade no longo prazo.
“Esperamos que esse inventário sirva como ponto de partida para o planejamento dos esforços de conservação”, diz Yifan He, uma das principais autoras do estudo, da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara (EUA). “Antes de decidir onde criar novas áreas de conservação ou como priorizar recursos limitados, precisamos primeiro entender o que já existe e como essas áreas são geridas.”
Esta reportagem foi publicada originalmente pela equipe da Mongabay Global em 01/07/2024.
A liderança indígena da Terra Las Casas, Tuíre Kayapó, morreu aos 54 anos, neste sábado (10), no Pará, após lutar contra um câncer de colo de útero. A notícia foi confirmada pelo Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Kaiapó do Pará.
Tuíre ficou conhecida em 1989, durante o 1º Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, quando, aos 19 anos, em um ato de resistência contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, pressionou um facão contra o rosto do então presidente da Eletronorte, José Antônio Muniz Lopes.
Após o episódio, a imagem ganhou repercussão mundial e o projeto da hidrelétrica no Rio Xingu, inicialmente chamado de Kararaô, foi interrompido e posteriormente renomeado para Belo Monte.
Tuíre Kayapó. Foto: Mídia NINJA
A obra foi adiada 22 anos, mas a batalha indígena foi perdida, quando, em 2011, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) concedeu a licença para que a construção da usina fosse iniciada.
A Federação dos Povos Indígenas do Pará (Fepipa) divulgou nota de pesar lamentando a perda e destacando o legado de luta, coragem e determinação deixado por Tuíre. “Sua passagem para outra dimensão nos deixa um vazio imenso, mas também uma responsabilidade ainda maior de continuar sua luta. Seguiremos firmes com a força e o exemplo que você nos deixou, Tuíre”, destacou.
Tuíre Kayapó, liderança indígena. Foto: Benjamin Mast
A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) expressa seu profundo pesar pelo falecimento de Tuíre Kayapó, liderança indígena, mulher cuja força e coragem marcaram a história do Brasil. Conhecida por sua defesa incansável pelos direitos dos povos indígenas e pela proteção das florestas, Tuíre se tornou um símbolo de resistência e luta por justiça, sendo precursora no protagonismo da luta das mulheres indígenas por direitos.
Sua luta, em especial contra a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, destacou-se como um momento fundamental pelo respeito aos direitos territoriais e culturais dos povos indígenas. O gesto de Tuíre, colocando-se diretamente diante de decisões que afetavam sua terra e seu povo, representou um ato de resistência que permanecerá para sempre na memória daqueles que lutam por justiça.
Tuíre Kayapó dedicou sua vida à proteção de seu povo e de seu território, sempre guiada pela busca por direitos e respeito aos povos indígenas. Seu legado de resistência continuará a inspirar aqueles que lutam por um Brasil mais justo para os povos indígenas.
Neste momento de dor, a Funai presta sua solidariedade à família, aos amigos e ao povo Kayapó. Que a memória de Tuíre siga viva como exemplo de luta, resiliência e perseverança na defesa dos direitos indígenas.
A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) atua no suporte logístico para as atividades do Projeto Rede de Monitoramento Ambiental no Território Indígena Yanomami (TIY) e Alto Amazonas. O projeto é a maior iniciativa do Governo Federal de monitoramento ambiental na TIY e coordenado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
O monitoramento acontece desde novembro de 2023 para verificar a qualidade da água, sedimento e pescado na Terra Indígena Yanomami e no Alto Amazonas. O objetivo é possibilitar ações de recuperação ambiental, garantia da segurança alimentar e continuidade da geração de conhecimento sobre o território.
O projeto foi criado em atendimento a uma demanda de ação conjunta de diversas instituições desde a instauração da emergência causada pelos garimpos ilegais na região. O Ibama elaborou o projeto e promoveu a articulação da parceria com a Funai, a Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) do Ministério da Saúde (MS), o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), o Ministério dos Povos Indígenas (MPI), o Centro de Tecnologia Mineral (Cetem) do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Monitoramento
A coleta de amostras de água, sedimentos e pescado dos rios e cursos d’água do território indígena é realizada mensalmente em 26 pontos, com foco nas áreas mais afetadas pelos garimpos. A atividade também cobre 15 pontos nas Unidades de Conservação adjacentes: Estação Ecológica (Esec) de Maracá, Floresta Nacional (Flona) de Roraima, Esec Niquiá e Parque Nacional Serra da Mocidade.
Pesquisadores do Cetem deslocam-se via aérea, com suporte logístico da Funai, até os pontos de coleta na TI Yanomami. Dentro das Unidades de Conservação, a logística é realizada pelo ICMBio.
As amostras coletadas são enviadas para análises laboratoriais. São elas que devem apontar a potabilidade da água, a contaminação da área por substâncias derivadas do garimpo, como o mercúrio, e a eventual contaminação do pescado da região.
Segundo o Ibama, o conhecimento gerado a partir dessas informações vai possibilitar a adoção de medidas preventivas ou de reparação a serem implementadas nas áreas afetadas. E, com isso, melhorar a qualidade de vida dos povos do território e do meio ambiente daquela região.
A expectativa é que nesta primeira etapa sejam concluídos três ciclos de coletas em cada ponto amostral, com continuidade da ação por pelo menos mais dois anos.
Utilizado na extração de ouro, o mercúrio, quando aplicado de forma indiscriminada e sem a devida licença dos órgãos competentes na atividade de garimpo, pode provocar efeitos sobre o sistema nervoso central, resultando em doenças neurológicas. Também pode afetar a gestação, com consequências para o feto, ou durante a amamentação, ao ser ingerido pelo recém-nascido. Na natureza, a contaminação pelo metal pode afetar o comportamento dos animais e sua capacidade reprodutiva, causando declínio das populações e perda de biodiversidade.