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Estudo internacional fornecerá visão regional sobre poluição de mercúrio na Bacia Amazônica

O panorama está sendo desenvolvido com base no georreferenciamento das fontes de mercúrio e na quantificação do volume de emissões e liberações. Indígenas e comunidades ribeirinhas são os mais afetados.

A maior bacia hidrográfica do mundo está ameaçada pela contaminação por mercúrio. Entre os nove problemas transfronteiriços considerados prioritários pelos oito países amazônicos, o da contaminação das águas é tido como o mais grave.

Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o mercúrio proveniente da mineração artesanal e de pequena escala (ASGM, na sigla em inglês) é um dos principais poluentes dos rios e representa uma ameaça significativa à biodiversidade, aos ecossistemas aquáticos e à saúde da população, além de produzir impactos socioeconômicos desfavoráveis.

Apesar das legislações vigentes nos países da região, a extração ilegal e informal de ouro na Bacia Amazônica aumentou nas últimas duas décadas. A poluição provocada pelo garimpo ilegal, ao contaminar os rios e os peixes, tem afetado de forma desproporcional os povos indígenas e as comunidades ribeirinhas, impactando a segurança alimentar dessas populações, que dependem da pesca como fonte de subsistência. 

Foto: Divulgação/Polícia Federal

O aumento de registros de poluição do meio ambiente e de contaminação e intoxicação humana colocam os países amazônicos diante da urgência de implementar políticas públicas para monitorar e controlar o uso e a movimentação de mercúrio na Bacia Amazônica, em cumprimento à Convenção de Minamata, da qual são todos signatários.

Para estimular e embasar a elaboração dessas políticas, o Projeto Bacia Amazônica (OTCA/GEF/PNUMA), que implementa o Programa de Ações Estratégicas para a Gestão Integrada dos Recursos Hídricos da região, está desenvolvendo o Panorama sobre a Contaminação do Mercúrio na Região Amazônica, um estudo científico para a quantificação das fontes de emissões e liberações, de acordo com a ferramenta Mercury Inventory Toolkit, elaborada pelo PNUMA em 2013, e a identificação das áreas de risco e vulnerabilidade à contaminação.

Realizado em parceria com o Institut de Recherche pour le Développement (IRD), instituição francesa de pesquisa e ensino, o panorama de mercúrio amazônico está sendo desenvolvido com base no georreferenciamento das fontes de mercúrio e na quantificação do volume de emissões e liberações. Quando concluído, será incorporado ao Observatório Regional Amazônico (ORA), o Centro de Referência de Informação da Amazônia da OTCA.

Segundo o professor Jeremie Garnier, um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo, a etapa em curso de desenvolvimento do panorama está produzindo um inventário georreferenciado a partir de dados governamentais e de organizações não governamentais sobre as potenciais fontes de emissão de mercúrio.

“Na medida do possível, as potenciais fontes de mercúrio estão sendo verificadas a partir das imagens de satélite com vistas a comprovar a existência da atividade responsável pela suposta emissão, observando variáveis preditoras como a mudança do uso e ocupação do solo para delimitar as áreas onde há maior probabilidade de encontrar mercúrio antropogênico, aquele resultante de atividades humanas”,

explica Jeremie Garnier.

As informações georreferenciadas serão disponibilizadas no ORA, segundo as especificações da plataforma, e apresentadas aos países durante evento a ser em breve organizado pela Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA). Na ocasião, deve-se acordar métodos e procedimentos para a etapa seguinte, que é a da quantificação abrangente do volume de emissões e liberações totais de mercúrio na Bacia Amazônica, na qual será utilizada a ferramenta Mercury Inventory Toolkit.

Segundo Garnier, os dados georreferenciados e quantificados propiciarão estimativas mais próximas da realidade sobre a contaminação do mercúrio na região, uma vez que as avaliações existentes, mesmo aquelas produzidas para documentos oficiais em conformidade com a Convenção de Minamata, se limitam a identificar as principais fontes nacionais de poluição sem especificar as emissões na área da Bacia Amazônica. 

Diante dessa insuficiência de estimativas regionais, as ‘Avaliações iniciais da Convenção de Minamata (MIAs)’ conduzidas pelos países indicam a necessidade de mais pesquisa para entender melhor a extensão do problema do mercúrio na Amazônia, lacuna que a parceria Projeto Bacia Amazônica/OTCA-IRD busca superar.

 O ciclo do mercúrio e a presença do metal na Amazônia

O relatório preliminar sobre o processo de elaboração do Panorama sobre a Contaminação do Mercúrio na Região Amazônica, apresentado recentemente pelos pesquisadores Jeremie Garnier e Henrique Roig, descreve as origens e o ciclo do mercúrio e traz informações sobre o mercúrio natural e antropogênico presentes na Amazônia.

Essas informações constarão no panorama regional para sensibilizar e conscientizar instituições governamentais e não governamentais e a sociedade civil quanto ao perigo desse metal e à necessidade de monitorá-lo e estabelecer o controle de uso.

De acordo com o relatório, o mercúrio se origina de diversas fontes, tanto naturais quanto antropogênicas. Entre as fontes naturais, estão os processos erosivos e as erupções vulcânicas, que liberam pequenas quantidades de mercúrio na água e no solo. As fontes antropogênicas são as atividades de mineração, a agropecuária, a indústria médica e odontológica, o setor de energia e outros. Os múltiplos usos industriais e tecnológicos do mercúrio mostram a relevância do metal para a vida moderna.

Os ambientes tropicais geologicamente antigos, onde a formação do solo é mais intensa, como é o caso da Amazônia, podem ser mais ricos em mercúrio natural. Atividades antropogênicas como o desmatamento, a agropecuária e as queimadas de grandes áreas de florestas são fontes significativas de liberação do mercúrio natural acumulado e armazenado no solo.

Sem função biológica conhecida, o mercúrio circula no ambiente de modo complexo, tanto na forma líquida, quanto na sólida e gasosa, envolvendo-se em processos de oxidação e metilação que podem resultar em conversões bioquímicas altamente tóxicas, sendo a mais significativa o metilmercúrio.

Quando liberado durante o processo de extração do ouro, o mercúrio pode ser transportado pelo ar, percorrendo grandes distâncias e contaminando solos e cursos d’água através de deposição seca ou úmida durante a precipitação.

As emissões provenientes da mineração ocorrem também por meio de resíduos despejados em terra e em corpos d’água. Seja no transporte pelo ar ou na deposição na água e no solo, as emissões de mercúrio representam um risco relevante para a saúde ambiental e humana, contaminando sobretudo as comunidades das adjacências das zonas ocupadas pelo garimpo, mas também comunidades ribeirinhas e populações de cidades distantes.

“As vias de ciclagem do metal, dada a sua complexidade, dificultam a localização de zonas contaminadas, mesmo quando é possível localizar os pontos de emissão”,

explica o professor.

Foto: Reprodução/IBAMA

Foto: Reprodução/IBAMA

Primeiros dados regionais consolidados 

Com base nos dados nacionais informados nas Avaliações iniciais da Convenção de Minamata (MIAs) e nos Planos de Ação Nacionais (PANs), a equipe de pesquisadores consolidou em seu relatório preliminar as primeiras informações regionais sobre as áreas mais afetadas pelo mercúrio proveniente do garimpo e também sobre os impactos ambientais, socioeconômicos e a saúde humana.

Os estudos científicos e as informações contidas nas MIAs e nos PANs mostram altos níveis de mercúrio em amostras de peixes, solo e sedimentos e nos corpos de povos indígenas e comunidades ribeirinhas das cidades de Beni e Pando (Bolívia), Madre de Dios (Peru), Chocó (Colômbia), Napo e Zamora (Equador) e no Escudo das Guianas, região que abrange também o Suriname. Em todas elas, a mineração é intensa.

Além disso, as informações contidas nas MIAs e consolidadas pelos pesquisadores mostram que as principais consequências da contaminação por mercúrio na região amazônica são a degradação ambiental dos ecossistemas aquáticos, que torna os recursos hídricos impróprios para o consumo humano, além da degradação do solo e da biota e dos impactos na saúde da população.

As emissões de mercúrio do garimpo contribuem com a poluição dos ecossistemas e com outros efeitos ambientais, tais como as mudanças climáticas associadas a desmatamento e à erosão dos solos, que provocam o aumento das concentrações atmosféricas de gases do efeito estufa. Os registros mostram que esses impactos ambientais têm efeito duradouro.

No que diz respeito às consequências da contaminação por mercúrio sobre a saúde das populações amazônicas, os estudos científicos e as MIAs mencionam danos ao sistema nervoso central, como as perda de coordenação e equilíbrio motor, distúrbios renais, cardiovasculares e imunológicos, comprometimento da visão e do sistema respiratório.

Os altos níveis de mercúrio em mulheres grávidas, apontam as avaliações nacionais, têm prejudicado o desenvolvimento de fetos e comprometido a função cognitiva e as habilidades motoras de bebês, além de sua percepção sensorial.

Os impactos sociais elencados pelos países amazônicos dizem respeito ao deslocamento de comunidades, a perda de patrimônio cultural, além de conflitos envolvendo comunidades de mineração e outras partes interessadas.

As MIAs abordam também o mercado e o fornecimento de mercúrio na Amazônia. De acordo com os dados compilados pelo Projeto, os países amazônicos não produzem mercúrio em níveis significativos e, por isso, dependem das importações do metal. No entanto, a quantidade de mercúrio importado e as rotas de entrada em cada país são pouco conhecidas e alvo de preocupação dos respectivos governos. 

“A falta de informação é preocupante porque pode contribuir com o comércio ilegal e o uso de mercúrio na mineração artesanal e em pequena escala de ouro. A exemplo do que acontece a nível global, a importação de mercúrio pode levar ao comércio ilegal e ao crime”, 

afirmam os pesquisadores no relatório preliminar.

O Brasil não havia divulgado a sua MIA até o fechamento desta edição do boletim Águas Amazônicas. Seus dados, portanto, não aparecem no relatório preliminar deste estudo.

Os primeiros dados consolidados para o Panorama de Contaminação por Mercúrio da Região Amazônica, acrescidos dos mapas com informações georreferenciadas e dos dados a serem aferidos sobre o volume de emissões e liberações de mercúrio na Amazônia, estarão disponibilizados no Observatório Regional Amazônico (ORA), que está abrigado no site da OTCA.

A Convenção de Minamata sobre mercúrio

Minamata é uma cidade costeira do Japão que foi palco de um dos mais graves desastres ambientais do mundo, ocorrido em meados do século XX. À revelia da população, uma fábrica de produtos químicos despejou na baía um líquido contendo altas concentrações de metilmercúrio, contaminando os peixes que a cidade consumia. Cerca de 5 mil pessoas foram atingidas. Além das vítimas com sequelas graves, o número de mortos foi estimado em 900.

A Convenção que leva o nome da cidade japonesa é resultado de um processo de negociação global realizado no âmbito do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). O acordo convoca os 140 países signatários a elaborar um instrumento legalmente vinculante para o controle do uso e do comércio de mercúrio visando à proteção da saúde humana e do meio ambiente. 

Pesquisa maranhense analisa infecção do caramujo africano por larvas de parasitas

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Achatina fulica é uma exótica espécie conhecida como caramujo gigante africano e sua proliferação aumenta no período chuvoso.

Estudo realizado pela pesquisadora Alicia Caroline Melo Lima, trouxe à luz descoberta sobre infecção, por larvas de parasitos, no caramujo-gigante-africano. Intitulado ‘Ocorrência de Achatina fulica (Bowdich, 1822) infectado por larvas de nematódeos no estado do Maranhão, Brasil’, o trabalho tem como foco investigar, caracterizar e determinar a frequência de infecção por estas larvas, nessa espécie invasora.

Fruto da dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação da Biodiversidade, da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), a pesquisa conta com apoio do Governo do Estado, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão (Fapema).

O presidente da Fapema, Nordman Wall, destacou que a pesquisa é muito significativa e trará importantes avanços no conhecimento desta espécie, suas características e impactos para o ser humano e o ambiente.

 “Este estudo aponta para a necessidade de uma vigilância contínua e de mais pesquisas para melhor compreensão e gerenciamento de espécies invasoras, bem como na proteção da saúde pública e dos ecossistemas naturais. A pesquisadora vai fornecer uma base sólida para futuros estudos e ações de controle, destinadas a reduzir os impactos negativos deste caramujo nas regiões onde existe a proliferação dessa espécie. O estado segue firme no apoio e financiamento a estudos que venham garantir mais qualidade de vida e mais saúde aos cidadãos”, 

avaliou Wall.

Conhecido popularmente como caramujo-gigante-africano, a Achatina fulica é uma espécie exótica invasora originária da África, que tem sido motivo de preocupação em várias partes do mundo, devido ao seu potencial impacto na agricultura, ecossistemas naturais e na saúde pública. Uma das questões mais preocupantes é sua capacidade de abrigar parasitos que podem representar riscos para a saúde humana e animal.

Esses animais possuem uma capacidade de adaptação a ambientes alterados, podendo ser encontrados em locais como terrenos abandonados e até mesmo em lixões. Sua resistência aos períodos de seca e ao frio é notável, e sua dieta variada inclui uma ampla gama de alimentos disponíveis ao seu redor, tais como frutas, legumes, flores, folhas e até mesmo restos de lixo. Sem predadores naturais, o caramujo africano pode exercer um impacto negativo sobre a fauna de gastrópodes nativos.

Além disso, constitui-se como uma praga agrícola significativa e serve como hospedeiro intermediário para larvas de nematódeos que podem transmitir algumas doenças. Entre estas, a Meningite Eosinofílica e a Angiostrongilíase Abdominal, contraídas pela ingestão de verduras, frutas, legumes e hortaliças contaminadas pelo muco do caramujo.

Atualmente, esta espécie está amplamente distribuída em todo o território brasileiro e, apesar da presença generalizada, há uma ausência de dados científicos específicos sobre sua ocorrência no Maranhão.

“As informações disponíveis geralmente se limitam a relatos de moradores locais e cobertura em telejornais. O estudo busca preencher esta lacuna”,

frisou.

Foto: Divulgação/FAPEMA

Divulgação

Para reunir informações, a pesquisadora conta com a participação da população, por meio do projeto Ciência Cidadã, uma estratégia que engaja tanto amadores, quanto cientistas, na coleta de dados para pesquisas científicas.

“Essa colaboração é fundamental para obter uma compreensão mais completa da ocorrência e dos impactos causados pelo caracol africano no Maranhão”,

ressalta Alícia.

Todo o material coletado será examinado no Laboratório de Malacologia e no Laboratório de Parasitologia Humana, da UEMA. Com apoio do governo, por meio da Fapema, a pesquisadora avança no estudo. “A Fapema é importante por possibilitar a execução do estudo e nos possibilitar compreender mais sobre esta espécie, os potenciais riscos para a saúde pública e possíveis impactos na biodiversidade nativa”, explica Alicia Lima.

Inovação

Foto:Divulgação/FAPEMA

A pesquisa é inovadora para o Maranhão, ressalta Alicia Lima, destacando-se pela introdução da técnica de digestão artificial, adquirida por meio de treinamentos realizados no Laboratório de Referência Nacional em Malacologia da Fundação Oswaldo Cruz (LRNM/Fiocruz).

“Essa abordagem possibilita a recuperação de larvas de nematódeos vivas dos gastrópodes A. fulica, que representa um avanço na pesquisa parasitológica na região maranhense”,

afirma.

A pesquisa foi realizada sob a orientação das professoras Débora Martins Santos e Selma Cantanhede. Conta com parceria dos professores Lígia Tchaicka, Nêuton Souza, Luciana Alves Pereira; da bióloga Rayssa Marques Pinto; e dos alunos de graduação, Helena Reis e Diego Barros.

Mosquito transmissor da dengue X pernilongo: descubra diferenças e o que atrai cada um

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Cada vez mais presentes nas cidades, esses insetos agem em locais e horários diferentes. Entender o que eles buscam pode ajudar no manejo e na prevenção.

Exterminar criadouros, usar repelente e colocar telas protetoras nas janelas e portas são formas já conhecidas de evitar a proliferação do Aedes aegypti, mosquito transmissor de doenças como dengue, zika e chikungunya. Outra medida que pode ajudar neste sentido é saber como o inseto age, entender que ele tem horário e locais mais prováveis para sugar o sangue e aprender a não confundi-lo com pernilongos.

“Se um mosquito picar você em casa à noite, em uma cidade, por exemplo, há 99% de chance de ser um Culex quinquefasciatus, conhecido como ‘pernilongo comum’ ou ‘muriçoca’. O Aedes aegypti pica majoritariamente de dia porque o ciclo circadiano dele aponta a noite como momento de repouso”, 

relata a curadora da Coleção Entomológica do Instituto Butantan, Flávia Virginio.

Foto: Renato Rodrigues/Comunicação Butantan

As pernas listradas do A. aegypti, podem até ajudar na identificação, mas como essa é uma característica presente em algumas espécies do gênero Aedes, ela não é necessariamente uma garantia de que você esteja de frente com um A. aegypti. Um exemplo disso é o Aedes albopictus, que tem a mesma característica e também ocorre no Brasil. Por aqui, ele não é considerado um vetor da dengue, diferente do que ocorre no sudeste asiático, onde é o principal transmissor da doença.

O tamanho corporal dos mosquitos adultos também pode ajudar a diferenciá-los, embora isso possa variar dependendo das condições ambientais e da disposição de alimento que os representantes de cada espécie sejam expostos.

“O tamanho corporal muda conforme o sexo, sendo em geral, fêmeas maiores do que os machos. Considerando minha experiência vendo diariamente mosquitos das três espécies, em geral, o Culex quinquefasciatus costuma ser mais ‘robusto’ e maior que os Aedes aegypti e Aedes albopictus“, ressalta Flávia.

Porém, essas características podem variar se um exemplar de uma espécie comer mais do que o da outra durante a fase larval. “Certamente o que comeu mais será maior do que o que comeu menos”, reforça.

Atração por sangue

Os mosquitos A. aegypti e A. albopictus despertam com o nascer do sol, período conhecido como crepúsculo matutino, e procuram por alimento geralmente nas primeiras horas da manhã. O oposto ocorre com o pernilongo (C. quinquefasciatus), que tende a permanecer atrás de armários, sofás, em casas de cachorro ou outros lugares com pouca luminosidade durante o dia e sai do repouso no fim da tarde.

Seu pico de atuação ocorre por volta da meia-noite e vai decrescendo até a manhã do outro dia. Apesar de agirem em horários diferentes, tanto as fêmeas do Aedes aegypti quanto as do Culex quinquefasciatus vivem à base de sangue humano porque o líquido é essencial para nutrir seus ovos, embora também consumam seiva de plantas.

As fêmeas do A. albopictus também se alimentam de sangue, mas “se viram bem” sugando aves e mamíferos por viverem em áreas de mata ou de intersecção entre áreas rurais e urbanas, ocupando principalmente o que chamamos de “peridomicílio” o quintal destes ambientes. 

“Quando acaba o alimento das fêmeas do A. albopictus em áreas florestadas, o que já vem ocorrendo por causa do desmatamento e pela urbanização, elas vêm para as cidades e se alimentam de humanos também”, 

disse Virginio.

Ao sugar o sangue de alguém infectado pela dengue, o A. aegypti se contamina com o vírus, embora não possa transmiti-lo a outras pessoas instantaneamente. A fêmea não adoece como o ser humano, mas pode ter diminuição de sua capacidade de voo e reprodução. Em questão de dias se torna capaz de transmitir o vírus para o humano pela sua saliva. O mesmo ocorre com os vírus Zika e chikungunya.

Já os machos de Aedes e Culex se alimentam somente da seiva de plantas, fontes de carboidratos necessários para sobreviverem.

“Em raras exceções, até onde se sabe, alguns machos podem nascer infectados, devido à transmissão transovariana, onde a fêmea infectada passa o vírus para seus filhos, e consequentemente, estes machos podem transmitir o vírus sexualmente para as fêmeas. Mas isso ainda está sob investigação dos cientistas”,

afirma Flávia.

Temperatura e cheiros

Além do sangue, as fêmeas de Aedes e Culex também são atraídas por “cheiros” e gases expelidos por humanos e animais, captados através de quimiorreceptores nas antenas e em outras estruturas do corpo.

“Apesar de elas não possuírem narinas, como os humanos, quando sentem o ‘cheiro’ de suor, entendem que há vida ao redor e se aproximam para tentar se alimentar. É a mesma coisa quando sentimos cheiro de um bife na grelha e temos vontade de comer”,

explica a curadora.

Além do cheiro, estes mosquitos também são atraídos pela temperatura corporal humana e por pessoas que vestem roupas de cores mais escuras, como preta, azul e vermelha. Da mesma forma que existem cheiros atrativos, existem os odores que repelem os mosquitos. O exemplo mais popular são os repelentes de uso tópico ou de ambientes.

Infográfico: Milena Martins

Criadouros: onde e por que se formam

As fontes de alimento determinam inclusive onde ocorre a cópula e a postura dos ovos. As fêmeas do A. aegypti preferem sobrevoar ambientes domésticos e fechados para ficar mais perto de humanos. Por consequência, depositam seus ovos em criadouros artificiais instalados em terrenos ou quintais, tais como caixas d’água destampadas, vasos de plantas, pneus e garrafas vazias, que enchem de água na chuva.

Outros ambientes menos relatados em campanhas de combate ao mosquito também podem ser criadouros: brinquedo de crianças, baldes, até tampinha de garrafa pet. O mesmo ocorre com as fêmeas do A. albopictus, com a diferença de que elas optam por pôr os ovos em criadouros naturais como bromélias, buracos de árvores e troncos de bambus, que também acumulam água em períodos chuvosos.

Os ovos de ambas as espécies do gênero Aedes, que têm 5 mm de comprimento, são quase imperceptíveis ao olho humano e podem se manter intactos por até um ano em ambiente seco ou úmido, eclodindo somente quando submersos em água.

Da eclosão dos ovos surgem as larvas, que quadruplicam de tamanho em cerca de cinco dias até se transformarem em pupas, e, após dois dias de intensa metamorfose, se tornam adultas com capacidade de voo, momento considerado o “nascimento do mosquito”. Todo esse ciclo de vida do Aedes pode durar de sete a 10 dias dependendo do calor, um acelerador do processo.

“Em geral, nascem primeiro os machos, que ficam rodeando o criadouro. Depois nascem as fêmeas e eles fazem a cópula. A fêmea busca o alimento sanguíneo para nutrir os ovos, e os machos vão procurar outro criadouro para copular com outras fêmeas. Essa é a estratégia de reprodução clássica do A. aegypti e do A. albopictus”,

esclarece a entomóloga.

Durante a gestação dos ovos, fêmeas de A. aegypti infectadas com alguns arbovírus podem repassá-lo por transmissão vertical. “Na infecção transovariana, a fêmea repassa o vírus para os ovos, que em geral, seguem a proporção de metade de fêmeas e de machos. Esses machos, então, podem transmitir o vírus sexualmente para outras fêmeas durante a cópula”, explica.

As fêmeas de C. quinquefasciatus também se alimentam de sangue humano, com a diferença de sobrevoarem tanto ambientes internos quanto externos em busca do alimento. As fêmeas depositam seus ovos em água rica em matéria orgânica, especialmente em rios, córregos, piscinas sem tratamento com cloro, ou depósitos de água poluídos, onde ocorre a eclosão dos ovos em larvas em até 48 horas. Daí, são cinco dias até virar pupa e mais dois ou três dias até o nascimento do adulto.

“Estes locais são criadouros gigantes de Culex que se proliferam com mais facilidade durante o verão e se espalham cada vez mais rápido para regiões que não têm estes problemas”, ressalta a curadora.

Por que somente o A. aegypti transmite dengue no Brasil?

Das mais de 100 espécies do gênero Aedes já descobertas, por que somente o A. aegypti é capaz de transmitir a dengue aos humanos no Brasil? Flávia esclarece que até o momento não foi identificada a transmissão pelo A. albopictus no país, embora já tenha sido comprovada sua capacidade e competência vetorial para alguns vírus circulantes no Brasil. 

Isso significa que o mosquito consegue transmitir a dengue em condições laboratoriais controladas, só que até o momento não foi detectado nenhum exemplar desta espécie naturalmente infectado no Brasil.

“Na ciência não podemos apenas dizer, temos que provar que existe. Então, até que se prove, o A. albopictus não transmite a dengue no Brasil, porque não foi encontrado nenhum exemplar do mosquito naturalmente infectado. Mas como ele tem todas as competências, precisamos ficar ligados”,

expõe.

Já o A. aegypti é um vetor de aproximadamente 200 vírus, nem todos encontrados naturalmente no mosquito. Parte destes vírus foram testados em laboratório onde se constatou a competência do A. aegypti de infectar-se e ser vetor de todos eles.

“Para a ciência e para saúde pública estes estudos são importantíssimos porque se algum dia houver transmissão de alguns destes vírus entre humanos, já sabemos que o A. aegypti pode ser o vetor”,

disse Flávia.

Febre amarela urbana não tem relação com Aedes aegypti

O A. aegypti já foi vetor da febre amarela urbana no Brasil no começo do século 20 até a década de 1940, época que este tipo de transmissão foi erradicada do país. Atualmente, o mosquito vetor da febre amarela silvestre é o mosquito Haemagogus, que ocorre em áreas florestais e pode infectar humanos. A vacinação contra a febre amarela foi um dos fatores essenciais para evitar a proliferação da doença em áreas urbanas e silvestres.

“Enquanto o A. aegypti não for encontrado infectado com o vírus da febre amarela, a gente não pode dizer que a febre amarela urbana voltou a circular no Brasil. O Haemagogus vive em áreas florestadas e, mesmo que na última epidemia de febre amarela tenhamos encontrado mosquitos infectados com o vírus dentro da cidade, os pontos de transmissão sempre foram as áreas florestadas, o que chamamos de ‘silvestre'”,

explica a curadora.

Por isso, a transmissão naquela época continuou sendo chamada de febre amarela silvestre. “Até porque envolviam de alguma forma mosquitos, macacos, que são os hospedeiros ‘principais’, e os seres humanos, que são os hospedeiros ‘acidentais'”, conclui a entomóloga.

Ações para garantir segurança alimentar aos Yanomami são intensificadas pelo Governo Federal

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Sob coordenação da Casa Civil, ministérios se unem e integram medidas para fortalecer a autonomia alimentar aos indígenas.

Foto: Divulgação/Casa Civil

O Governo Federal prepara uma nova etapa contra a fome e a desnutrição na Terra Indígena Yanomami. Na quarta-feira (24), seis ministérios e três órgãos trabalharam juntos na definição de novas ações que darão plena autonomia aos indígenas no resgate de roçados, da produção e levarão alternativas para assegurar o pescado, entre outros alimentos, devolvendo aos Yanomami a autonomia alimentar.

Ainda ocorre na TIY a distribuição emergencial de cestas básicas. Desde o início de 2023, quando a crise humanitária veio à tona, o Governo Federal entregou aos indígenas 74 mil cestas de alimentos.

“Seguimos com a distribuição através de um contrato emergencial. Em paralelo, estamos construindo políticas que darão aos indígenas as condições necessárias para que eles recuperem sua autonomia alimentar, algo muito esperado por eles”, 

explicou a secretária adjunta de Articulação e Monitoramento da Casa Civil, Débora Beserra.

As principais medidas estão a cargo da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), e do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) e do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA). Além de inovações, o planejamento interministerial ampliará iniciativas em curso, a exemplo da entrega de mais de três mil kits de ferramenta agrícola e de pesca, e de 184 equipamentos para casas de farinha.

“Os yanomami precisam de apoio para que voltem a exercer sua soberania alimentar”, 

complementou a secretária.

A gestora explicou ainda que o governo fará a formação de agentes para a assistência técnica necessária àquela realidade tão ímpar. A entrega de sementes e a pesca artesanal também compõem a gama de ações. O recurso para que as políticas públicas sejam efetivadas em 2024 está contemplado na liberação de crédito extra de R$1 bilhão, como prevê medida provisória editada pelo presidente Lula em março.

No decorrer da oficina, 30 servidores federais que atuarão na consolidação deste processo conheceram os detalhes do que cada órgão está construindo. Equipes que atuam na Terra Indígena também vieram a Brasília, na oficina desta quarta, para compartilhar a vivência no atendimento aos Yanomami. 

A determinação do governo é que a crise imposta a este povo seja superada, resgatando seus costumes, modo de vida, sua cultura e tradições. A Terra Yanomami é a maior terra indígena do Brasil, acredita-se que também seja a maior existente no mundo, abriga 27 mil indígenas, que possuem culturas distintas, estão distribuídos pelo território e falam seis línguas Yanomami diferentes.

Startup que estuda produção de óleos essenciais a partir de plantas amazônica recebe apoio no Amapá

Essências como a de cumaru, andiroba e breu branco estão entre os produtos fabricados.

Foto:Reprodução/Ueap

Um dos grandes potenciais econômicos da Amazônia são as reservas medicinais e cosméticas que as suas mais de 30 mil espécies vegetais possuem. Entre os produtos que podem ser gerados a partir dessa vasta flora, estão os óleos essenciais, e é justamente com o objetivo de desenvolver esse mercado na região, que a Universidade do Estado do Amapá (UEAP) vem dando suporte técnico e estrutural à startup Sensações Amazônicas, que aproveita a riqueza da floresta para produzir esse material.

A iniciativa faz parte das dissertações de mestrado das alunas Naikita Silva e Thaís Freitas, graduadas em Engenharia Química na instituição, pertencentes ao programa de pós-graduação em ciências farmacêuticas da Universidade Federal do Amapá (Unifap). O projeto, que tem a orientação dos professores doutores Gabriel Araújo e Lilian Solon, fabrica esse óleo a partir de materiais retirados de caules, folhas, resinas, flores e sementes de plantas e que podem ser usados em cosméticos, alimentos e aromaterapia.

“Com as análises do mestrado, percebemos que não tínhamos óleos essenciais de plantas e frutos amazônicos e assim surgiu a ideia inicial da startup. Assim, a Sensações Amazônicas nasceu como uma iniciativa inovadora e sustentável, para levar a experiência da Amazônia para o mundo através do aroma e dos benefícios terapêuticos de seus produtos”, 

explica a diretora de operações (COO) do projeto, Naikita Silva.

A ideia da startup é ir além das matérias-primas já recorrentemente utilizadas no ramo de óleos essenciais, como lavanda e melaleuca, e explorar outras espécies como cumaru, andiroba, copaíba e breu branco, que já são utilizadas, inclusive, pelas próprias comunidades tradicionais para tratamento de doenças e cuidados pessoais.

Baseado em um acordo de cooperação técnica entre a Ueap e a Sensações Amazônicas, a universidade vem oferecendo mentoria e o espaço laboratorial para o desenvolvimento da iniciativa, que também foi aceita pelo Sinapse Bio, programa de pré-incubação que visa estimular, através de investimentos do setor privado, empreendimentos inovadores que auxiliem na preservação da floresta amazônica e propiciou recursos para criação do projeto.

“Por meio do Laboratório de Química Orgânica e Bioquímica, a universidade tem fornecido apoio técnico e formação continuada para essas alunas, visando à melhoria da qualidade, adequação às legislações vigentes e aos requisitos de mercado”, esclarece o professor Rodrigo Araújo.

Edital é lançado para apoiar 30 novos projetos indígenas com R$ 9,8 mi do Fundo Amazônia

O Projeto Dabucury foi apresentado ao BNDES pela CESE e o apoio da Coiab, uma entidade que representa e defende os direitos dos povos e territórios indígenas.

No Acampamento Terra Livre, em Brasília, a Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), em parceria com a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), lançou edital no valor de R$ 9,8 milhões para seleção de 30 projetos de organizações indígenas na última quarta (24). A iniciativa é parte do Projeto Dabucury, financiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com recursos do Fundo Amazônia, no valor total de R$ 53,8 milhões. 

Por meio dele, serão apoiados até 60 projetos de organizações indígenas, que contribuirão, por exemplo, para produção sustentável com geração de renda, recuperação de danos ambientais e melhoria das condições de vida.

“Em pouco mais de um ano e quatro meses de gestão do presidente Lula, quando o Fundo Amazônia foi reativado, a agenda indígena também foi retomada. Nós podemos anunciar R$ 147 milhões de recursos voltados para a pauta indígena com projetos nos quais a gestão de recurso passa a ser realizada pelas organizações indígenas. Isso é uma reivindicação histórica importante. E lembrando que: as terras indígenas são aquelas em que se encontra o menor nível de desmatamento. Portanto, apostar e investir nas terras indígenas, na organização dos indígenas, fortalecendo a sua gestão, é estratégico para enfrentar o desmatamento”, disse a diretora Socioambiental do BNDES, Tereza Campello.

O Projeto Dabucury foi apresentado ao BNDES pela CESE e contou com o apoio da Coiab, maior organização indígena do Brasil, com federações e associações de 180 diferentes povos da Amazônia. O lançamento do edital ocorreu na tenda da Coiab no ATL. Além da comunicação para as organizações presentes no ATL, a divulgação do edital será feita pelas redes sociais e sites da CESE e COIAB. As informações também estarão disponíveis no site do Fundo Amazônia.

Foto: Fábio Rodrigues Pozzebom /Agência Brasil

O edital lançado na quarta-feira contribui para a implementação da Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental das Terras Indígenas (PNGATI). Segundo diagnóstico do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm) – política pública, coordenada pelo MMA, que orienta a aplicação de recursos do Fundo Amazônia – os povos indígenas têm capacidade de atuarem como efetivos protetores da floresta.

Poderão ser apoiados projetos nos seguintes temas: proteção territorial e dos recursos naturais; governança e participação indígena; prevenção e recuperação de danos ambientais; uso sustentável de recursos naturais e iniciativas produtivas; e capacitação, formação, intercâmbio e educação ambiental. Para cada edital, serão organizadas oficinas para construção coletiva dos projetos executivos e treinamento para gestão e prestação de contas.

A seleção é aberta para organizações indígenas atuantes nas terras indígenas localizadas nos estados da Amazônia Legal. São duas as categorias de seleção: Categoria Urucum, para apoiar até 15 projetos com valores de R$ 350 mil a R$ 400 mil; e Categoria Jenipapo, para apoiar até 15 projetos com valores de R$ 200 mil a R$ 250 mil. As propostas serão avaliadas por uma câmara técnica e aprovadas por um comitê gestor, formados especialmente para o Projeto Dabucury.

Apoio ampliado

 Na semana passada, o BNDES aprovou cerca de R$ 60 milhões para a proposta Redes Indígenas da Amazônia, apresentada pela The Nature Conservancy Brasil (TNC Brasil) e estruturada em parceria com a Coiab. Os dois projetos, Dabucury e Redes Indígenas da Amazônia, fortalecem a atuação das organizações indígenas na gestão e consolidação das terras indígenas. A relevância de tal atuação se destaca à medida que apenas 2% do desmatamento na Amazônia em 2022 foi registrado em terras indígenas, ainda que essa categoria fundiária corresponda a 23% da área total da Amazônia Legal.

Desde que foi lançado, em 2009, o Fundo Amazônia destinou, no total, mais de R$ 285 milhões para 16 projetos de temática indígena. São R$ 138 milhões para 13 iniciativas entre 2009 e 2018 e mais R$ 147 milhões para projetos desse tipo desde a retomada, com teor estruturante e potencial para atingir 332 terras indígenas.

Além desses apoios mais recentes (TNC e CESE), o BNDES aprovou, em novembro de 2023, R$ 33,6 milhões para gestão territorial em 13 Terras Indígenas do estado do Acre, sob responsabilidade da Organização dos Povos Indígenas do Rio Juruá.

Foto: Reprodução/BNDES

Fundo Amazônia

Maior iniciativa do mundo para redução de emissões provenientes de desmatamento e degradação florestal, o Fundo Amazônia é administrado pelo BNDES em coordenação com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). Com as novas aprovações, o valor destinado pelo Fundo a iniciativas com foco exclusivo nos povos indígenas chega a R$ 147 milhões desde o ano passado. 

O valor é maior que os R$ 138 milhões destinados entre 2009 e 2018. Os novos projetos aprovados pelo BNDES vão fortalecer as organizações indígenas e aperfeiçoar a gestão de suas terras, em linha com as diretrizes da Política Nacional de Gestão de Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI).

Transparência

O BNDES reúne no site do Fundo Amazônia informações detalhadas sobre todos os 110 projetos contratados, bem como os seus contratos. Tudo informado no seu site oficial, o BNDES publica ainda, periodicamente, relatórios anuais de atividades, informes sobre a carteira de projetos e informações acerca da execução dos projetos, possibilitando que todos os interessados acompanhem as atividades desenvolvidas com os recursos do Fundo. 

Nele, estão também disponíveis os resultados dos diferentes tipos de avaliação aos quais o Fundo Amazônia já foi submetido, e os relatórios de auditoria externa independente produzidos, anualmente, os quais, ao longo dos 15 anos de existência do Fundo Amazônia, não proferiram apontamentos.

Políticas públicas para indígenas em centros urbanos terão medidas específicas, aponta ministra

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O crescimento expressivo de indígenas  em áreas urbanas tem gerado preocupação na ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara.

As políticas públicas voltadas à população indígena darão atenção especial aos chamados “indígenas em situação de contexto urbano”, grupo cada vez mais presente nas cidades, em especial na busca por estudo e trabalho. Muitos deles vivem dificuldades relacionadas à questão da mobilidade, uma vez que costumam transitar entre a cidade e a aldeia.

A preocupação foi manifestada pela ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, ao programa ‘Bom Dia, Ministra’, transmitido nesta quinta-feira (25) por veículos de rádio e TV da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). 

Há cerca de 1,7 milhão de indígenas no Brasil, segundo o Censo 2022. Em 1991, eram 294 mil e, em 2010, esse número já estava em 897 mil. Caso se confirmem os percentuais observados nos censos anteriores, estima-se que metade da população indígena esteja em ambientes urbanos.

De acordo com declarações anteriores da ministra, o crescimento observado entre aqueles que se declaram indígenas se explica não apenas pelo aumento de crianças e jovens, mas também pelo maior sentimento de pertencimento entre indígenas que vivem em contexto urbano.

Durante o Bom Dia, Ministra desta quinta-feira, Sônia Guajajara revelou que há várias frentes de trabalho sendo desenvolvidas pelo Ministério dos Povos Indígenas, seja olhando para quem está nas aldeias, seja para quem está nas áreas isoladas e remotas, e também para os indígenas que estão em contexto urbano.

“Temos, no ministério, uma coordenação de indígenas em situação de contexto urbano. Ontem [quarta-feira, 24] mesmo tivemos a discussão com alguns representantes que estiveram no ministério, para pensarmos políticas que sejam adequadas para atender esses indígenas que estão nas cidades”,

disse a ministra.

Segundo Sônia Guajajara, há um “número expressivo” de indígenas na cidade, em várias capitais, e em várias cidades maiores. “Precisamos realmente de políticas para esse povo que, muitas vezes, são excluídos das políticas universais. Não podemos pensar políticas como privilégio. Precisamos que elas sejam, de fato, específicas e adequadas para atender também essa população”, defendeu.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Marco Temporal

Quanto ao Marco Temporal, tese jurídica que reconhece como terra indígena apenas aquelas que estavam ocupadas ou em disputa na data de promulgação da Constituição, em 1988, a ministra disse que o instituto “nega o direito originário; não reconhece a ocupação tradicional dos povos indígenas; e exige ainda que os indígenas comprovem a presença física e ainda uma disputa por aquela terra no dia 5 de outubro de 1988”.

“Mas todos sabemos que muitos são os motivos que levaram os indígenas a não estarem em determinadas terras naquela data de 1988. Seja por expulsão, seja por doenças ou por retirada feita pela própria ditadura militar, período em que aconteceram muitas retiradas de indígenas de seus territórios. Indígenas que, com o tempo, reivindicam esse direito de ter o seu território tradicional de volta. Então, o Marco Temporal acaba excluindo muitas terras indígenas de serem devolvidas para seus povos”, 

acrescentou Guajajara

Para a ministra, essa causa precisa de um apoio mais amplo, não restrito às populações indígenas. “A gente precisa muito do apoio da sociedade e de todo mundo, para que possamos de fato enterrar de vez o Marco Temporal, e assim garantir a retomada, acelerando os processos de demarcação de terras indígenas no Brasil”. 

Recursos

A ministra lembrou que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou o recurso extraordinário e declarou que o Marco Temporal como inconstitucional. “Mas, em seguida, o Congresso Nacional apresentou uma proposta de lei com esse mesmo tema. A Câmara e o Senado aprovaram. O presidente Lula então vetou o Marco Temporal integralmente, mas o Congresso derrubou os vetos do presidente Lula”, disse.

“O presidente Lula, então, não sancionou nem assinou a lei, que acabou sendo assinada pelo próprio Congresso Nacional, pelas presidências da Casa. Depois de sancionada, os partidos PSOL, Rede e movimento indígena, por meio da Apib [Articulação dos Povos Indígenas do Brasil], entraram com uma Adin [ação direta de inconstitucionalidade] no Supremo Tribunal Federal, essa ação foi para as mãos do ministro Gilmar Mendes que, surpreendentemente, em vez de colocar na pauta para julgamento como esperava o movimento indígena, publicou uma liminar suspendendo todos os processos de demarcatórios, até que a ação seja julgada pelo pleno do tribunal”, 

completou a ministra.

Produção abre seleção para atores em curta-metragem sobre Revolução Acreana; Saiba como participar

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Obra “A Trégua da Flauta” será dirigida pelo cineasta acreano Silvio Margarido e tem vagas para três protagonistas e 10 figurantes. Inscrições podem ser feitas por e-mail, do dia 22 de abril a 3 de maio.

Foto: Victor Lebre/g1 Acre

A produção do curta-metragem sobre a Revolução Acreana ‘Trégua da Flauta’ está com seleção aberta para formar o elenco da obra dirigida pelo cineasta acreano Silvio Margarido. São três vagas para protagonistas e 10 figurantes.

‘Trégua da Flauta’ aborda a guerra entre Brasil e Bolívia pelo território do Acre por meio de temas universais como a busca pela paz e o papel da música como linguagem universal.

“Através de uma narrativa fictícia, inspirada em eventos históricos reais, o filme visa provocar reflexões profundas sobre os efeitos devastadores da guerra e a possibilidade de encontrar momentos de trégua e humanidade, mesmo nas circunstâncias mais adversas’, afirmou a equipe por meio de nota. 

As inscrições podem ser feitas através do e-mail atreguadaflauta@gmail.com até o dia 3 de maio. Todas as vagas são remuneradas. No e-mail de inscrição deve constar currículo, duas fotos de corpo inteiro e uma foto de rosto.

O filme é financiado pela Fundação Garibaldi Brasil (FGB), por meio do Edital de Áudio Visual da Lei Paulo Gustavo.

Confira os papéis com vagas disponíveis:

Abílio – imigrante, cearense, aproximadamente 50 anos, seringueiro e músico com habilidade em tocar flauta

Rodrigo – descendente de indígenas, cerca de 35 anos, fluência em espanhol, soldado boliviano

Praxedes – Jovem negro, por volta de 18 anos, recém-chegado de Belém, no Pará

10 figurantes – Soldados brasileiros e bolivianos, com disposição para cenas de ação

Ficha Técnica

Direção e Roteiro: Silvio Margarido

Direção de Produção: Rose Farias

Assistente de Direção: Ney Ricardo

Diretor de Arte: Darci Seles

Produtor de Arte: Evania Maria

Diretor de Fotografia: Assis Freire

Finalização de Cor: Pafy

Trilha Sonora: João Veras

Maquiagem: Alanna Rocha

Delegacia Especializada em Crimes Contra a Pessoa no Amapá torna procedimentos 100% digitais

Medida reduz os custos do Estado com insumos físicos e aumenta agilidade e segurança dos serviços prestados à população.

Foto: Aog Rocha/GEA

Para tornar o serviço mais ágil e eficaz para a população, a Delegacia Especializada em Crimes Contra a Pessoa (Decipe) da Polícia Civil, localizada no Conjunto Macapaba, na Zona Norte de Macapá, no Amapá, agora atende de forma 100% digital. Todos os documentos da delegacia foram integrados ao sistema de Procedimento Policiais Eletrônicos (PPE), ferramenta que permite mais segurança e controle dos dados.

O processo de modernização vem sendo implementado desde 2023 pelo Governo do Amapá, atendendo o ato normativo do Conselho Superior da Polícia Civil, que instituiu a obrigatoriedade dos procedimentos eletrônicos. Marcando a nova era, a equipe de policiais civis da delegacia realizou um ato simbólico e incinerou mais de 956 documentos em papéis que ocupavam vários armários da instituição e tornavam a prestação de serviços mais lenta e burocrática

“Foi feito um trabalho de verificar se todos os procedimentos que constavam no arquivo estavam no sistema PPE. Os que não estavam, foram escaneados e incluídos dentro do sistema. Esse foi um ato de grande importância pois estamos nos adequando à realidade de hoje, onde o mundo está cada vez mais sendo realizado na esfera digital, o judiciário já está há algum tempo migrando seus processos para o digital e a Polícia Civil não pode ficar de fora”,

afirmou o delegado titular da Decipe, Leonardo Leite.

Foto: Aog Rocha/GEA

Leonardo ainda frisou que entre outros impactos positivos sobre a digitalização dos serviços está a redução de custos para o Estado, que não precisará fazer orçamento para comprar tintas, impressoras e papel.

“Também diminuímos os gastos com combustível, uma vez que a maioria das intimações estão sendo realizadas de forma virtual, e a facilidade que a virtualização proporciona, inclusive com assinaturas digitais, ocasionando em uma certa celeridade nas investigações”, frisou o delegado.

A expectativa é que todas as delegacias da Polícia Civil no estado sejam totalmente inseridas nas plataformas digitais.

Anajás

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Anajás é um município no Pará, cujos primeiros habitantes foram os indígenas Inajás.

Foto: Reprodução/Prefeitura de Anajás

Anajás é um município no Pará, localizado na Região Norte do Brasil. A cidade tem uma área territorial de 6.913,640km² e uma população residente de 28.011, segundo o censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Seus primeiros habitantes foram os indígenas Inajás, com variações de nome: Anaia, Ania e, como é mais conhecida, Inajá.

Na conquista do Marajó, foi a tribo que mais resistiu à conquista armada, enfrentaram e expulsaram a flechadas os primeiros colonizadores que faziam parte da missão empreendida pelo jesuíta João de Souto Maior. O território primeiro pertenceu ao município de Chaves. A cidade, primeiramente denominou-se Mocoões, por se situar à foz do rio de mesmo nome.

Atualmente a cidade tem como principais atividades as visitas turísticas em praias e rios, pois é localizada em região privilegiada, cercada por águas cristalinas e paisagens deslumbrantes. Além da pesca esportiva e passeios de canoas. Durante o tradicional passeio é possível avistar animais como jacarés, capivaras e diversas espécies de aves.

*Com informações de Prefeitura de Anajás e IBGE