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Com previsão de vazante severa, amazonenses se preparam para possível seca histórica 

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O Amazonas se prepara para enfrentar o que, segundo especialistas, promete ser a pior seca da história. A expectativa é que a vazante dos rios este ano supere a marca histórica de 2023, quando o nível do Rio Negro, em Manaus, atingiu 13,59 metros. A menos de duas semanas para a Amazônia entrar no período seco, o cenário já preocupa quem depende das águas para garantir o sustento.

O comerciante Miguel Gomes Cordeiro é proprietário de um flutuante que funciona como lanchonete na Zona Leste de Manaus. O lugar ficou irreconhecível no ano passado quando as garças disputavam o que sobrou de peixes junto com pescadores. Agora, ele se prepara para uma estiagem ainda mais forte este ano.

“Nós temos um poço artesiano aí que abastece ‘nós’ também. A gente compra muita água mineral. Nossa cacimba está vedada pra quando secar ‘nós’ usar ela de novo”, diz Miguel.

Nesta semana, o nível do Rio Negro, na capital, já baixou mais de um metro comparado ao ano passado.

A situação também é sentida no interior do Amazonas. Em Tabatinga, a descida do Rio Solimões começa a dificultar a vida de quem trabalha no porto da cidade.

Entre o dia 17 e 18 de junho, o nível do rio baixou 26 centímetros. Até o início do mês de junho o local estava coberto pela água, hoje está totalmente seco.

Para o meteorologista Francis Wagner Correia, a vazante precoce também tem relação com a diminuição das chuvas na região.

“O padrão de chuvas está bem abaixo da média do padrão normal desde outubro do ano passado, em grande parte da bacia amazônica, principalmente na porção central e norte da bacia, influenciando os rios em toda essa porção da Amazônia”, explicou o especialista.

Impactos na indústria

O setor industrial, um dos mais afetados com a estiagem de 2023, também demonstra aflição com a seca deste ano. A Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros) divulgou uma nota de preocupação com os impactos que o período de estiagem pode trazer ao Amazonas em 2024.

“É importante que o poder público tome medidas urgentes e imediatas para mitigar os impactos adversos da iminente estiagem, que se avizinha com grande rapidez e promete ser a mais severa da história. Há o risco real de uma crise econômica, ambiental e social de proporções inéditas, cujas consequências serão muito desoladoras”, afirma o presidente da associação, José Jorge do Nascimento Júnior.

Em meio a este cenário, um esquema especial para distribuição de insumos e encomendas está sendo planejado. Durante o período da seca, caso se torne impossível a navegação de grandes embarcações nos terminais portuários fluviais, em Manaus, será montado um porto flutuante no município de Itacoatiara. Lá, balsas vão receber os contêineres e trazê-los para a capital.

“Aí cada empresa, muito particularmente, vai fazer a sua solução logística. Alguns trarão estoques um pouco antes, outros moverão para um pouco depois. Então há uma diversidade de soluções, mas a tônica é o pior caso possível, o pior cenário possível é de dois meses de seca”, explica Augusto César Barreto Rocha, coordenador da comissão de logística do Centro da Indústria do Estado do Amazonas.

A dragagem dos rios é outra medida que vai garantir que as embarcações mais pesadas naveguem sem encalhar.

Um barco viaja por um trecho do rio Amazonas afetado pela seca, perto do município de Manacapuru, na Região Metropolitana de Manaus, em 27 de setembro de 2023. 

Para a Defesa Civil do Amazonas, a maior preocupação, agora, é com a população ribeirinha, que mais sofreu com o isolamento. Essa população é formada por quase 700.000 pessoas, segundo o órgão. O alerta é para estocar água e alimentos.

“A gente está falando de um cenário crítico que se avizinha, e um dos problemas que nós tivemos ano passado, entre outros, foi o isolamento. Então nós estamos com uma preocupação muito grande, principalmente com as pessoas mais vulneráveis, com as pessoas mais suscetíveis e principalmente com os ribeirinhos, porque nós temos em torno de 4547 comunidades ribeirinhas dispersas no estado”, explicou o secretário da Defesa Civil do Amazonas, coronel Francisco Máximo.

*Com informações do g1 Amazonas

Revista internacional sobre saúde publica pesquisa de professor roraimense

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A Universidade Estadual de Roraima (UERR) ganhou destaque na revista internacional Healthcare‘, da editora MDPI, da Suíça. Edição recente da publicação traz um artigo do professor do curso de Educação Física da UERR, André de Araújo Pinto. A pesquisa coordenada por ele, e realizada em parceria com pesquisadores Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade Federal de Viçosa (UFV), aponta a relação entre fatores de risco cardiovasculares e a insuficiência cardíaca (IC) em idosos.

A pesquisa, que contou com o apoio fundamental da Secretaria Estadual da Saúde (SESAU), analisou dados de 1.322 idosos de todos os municípios de Roraima, com idade média de 70,4 anos.

“Na pesquisa, descobrimos que idosos que apresentam simultaneamente fatores de risco como hipertensão, diabetes, hipercolesterolemia e tabagismo têm 20 vezes mais chances de desenvolver insuficiência cardíaca”.
André cita esta informação como a principal conclusão do estudo.

Ainda segundo o pesquisador da UERR, a presença de apenas um dos fatores de risco cardiovascular investigados já aumenta em 53% a probabilidade de IC nos idosos, e essa possibilidade cresce substancialmente com a presença simultânea de mais fatores.

“Por isso, a importância de um estilo de vida saudável na terceira idade, já que comportamentos como inatividade física, consumo de tabaco e maus hábitos alimentares favorecem o desenvolvimento de doenças que podem levar à IC”, adverte o pesquisador.

O estudo destaca que a doença sobrecarrega significativamente os sistemas de saúde em todo o mundo. “A IC é uma condição cara de tratar, tanto para o sistema de saúde quanto para os idosos e suas famílias, devido às frequentes hospitalizações e tratamentos, incluindo medicações”, explica. Os participantes da pesquisa foram atendidos nas unidades básicas do estado. A coleta dos dados foi realizada em conjunto com o Departamento de Vigilância Epidemiológica (DVE) da SESAU, em 2022.

O artigo do pesquisador da UERR também ressalta a importância de abordagens personalizadas no tratamento de idosos com diferentes perfis de risco, pois é comum que eles apresentem múltiplas condições crônicas além de hipertensão e diabetes. O material é subproduto da pesquisa intitulada “Fatores de Risco Cardiovasculares e Sequelas Associadas à Infecção pelo SARS-COV-2 em Idosos de Roraima”. 

*Com informações de Universidade Federal de Roraima

Professores lançam livro sobre o trabalho e formação docente na Amazônia

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Os professores Jacqueline Lidiane de Souza Prais, Wendell Fiori de Faria e Bruno de Oliveira Figueiredo, docentes do Departamento Acadêmico de Ciências da Educação (Daced) da Universidade Federal de Rondônia (UNIR), Campus de Ariquemes, lançaram o livro ‘Trabalho e formação docente na Amazônia‘. O livro foi publicado pela Editora de Castro, e pode ser acessado gratuitamente. 

A obra é fruto do evento científico II Seminário Nacional de Educação de Ariquemes (II Semiari) promovido em 2023 pelo Daced, que contou com o apoio da UNIR, e do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas, Educação Inclusiva e Acessibilidade Pedagógica da Amazônia (GPAM). 

Dentre os coautores estão servidores docentes e técnicos da UNIR, professores da Rede Municipal de Educação de Ariquemes, Licenciandos e Egressos do Curso de Pedagogia e Engenharia de Alimentos.   

Nos oito capítulos que compõem o e-book, os pesquisadores rondonienses apresentam análises singulares quanto ao trabalho pedagógico no cenário amazônico e reflexões para pensar a formação docente.

Para compor a capa e abertura de capítulos, a obra conta com nove obras artísticas do professor Mardone Vieira dos Santos, especialista em gestão escolar pela UNIR. Além da beleza estética, o professor expressou em suas obras os encantos e singularidades da Amazônia Rondoniense. 

Sobre a obra

Os desafios vivenciados em escolas rurais, a literatura escrita por mulheres amazônicas, o papel da gestão escolar para a inclusão educacional, diálogo entre teoria e prática no ciclo da alfabetização, revisitando John Dewey em experiência na Educação Infantil, desenvolvimento cognitivo infantil em Jean Piaget, o uso das mídias sociais digitais como estratégia para a Comunicação Pública da Ciência, e o acesso à Informação no uso das Bases de Dados, são as temáticas centrais abordadas pelos autores. 

*Com informações Universidade Federal de Rondônia

Boa Vista tem turismo impulsionado por projeto que utiliza tecnologia como incentivo

Professores, alunos e egressos dos cursos de Turismo da Universidade Estadual de Roraima (UERR) estão desenvolvendo um projeto que utiliza tecnologias inovadoras para incentivar e impulsionar o setor turístico de Boa Vista. A ideia inicial é mapear os principais pontos e roteiros turísticos da capital de Roraima para posteriormente disponibilizar os dados para os turistas através de plataformas digitais.

Intitulada ‘Boa Vista 4.0 Smart Turismo Sem Fronteiras’, a iniciativa é coordenada pelos professores Ismar Borges e Rosijane da Silva, ambos integrantes do Laboratório MultiAmazon, da UERR.

“Este projeto visa transformar Boa Vista em um destino turístico inteligente, conectado e acessível globalmente, utilizando tecnologias digitais avançadas como QR Codes, Google Maps e inteligência artificial”, conta Borges.

A ideia é implantar um sistema de zoneamento turístico urbano inteligente, abrangendo quatro idiomas: português, inglês, espanhol e a língua indígena Macuxi.

“O sistema dividirá a capital de Roraima em áreas estratégicas, facilitando a navegação e exploração tanto por visitantes quanto residentes. O zoneamento otimiza o planejamento e a gestão do turismo, tornando Boa Vista mais atrativa e acessível”, destaca.

Além de otimizar a experiência turística, a iniciativa promove a sustentabilidade, pois não utiliza materiais impressos. Outra vantagem é que permitirá atualizações constantes das informações turísticas. O sistema contará ainda com recursos para as pessoas com deficiência visual ou auditiva.

“Poderá ser utilizado em visitas de campo, trabalhos acadêmicos e como ferramenta de ensino para diversas disciplinas”, avalia Borges.

O cronograma de atividades teve início com a coleta de dados e zoneamento, e será desenvolvido em cinco fases ao longo de 12 meses. Com apoio da Fundação RECINATUR, presente na América Latina, o projeto é piloto e poderá ser ampliado a partir de investimentos de apoiadores.

“As parcerias serão bem-vindas. As informações podem ser solicitadas pelo e-mail ismar@uerr.edu.br”, indica o docente da UERR.

Com a novidade, a expectativa dos criadores do ‘Boa Vista 4.0 Smart Turismo Sem Fronteiras’ é fornecer à capital de Roraima um sistema turístico informativo, inteligente, totalmente inovador, e tecnologicamente estruturado, de modo que a cidade se torne um destino turístico interconectado e universalmente acessível, por meio do uso das plataformas e ferramentas digitais disponíveis para celular e outros eletrônicos.

*Com informações da UERR

Pesquisadores peruanos desenvolvem primeira vacina para peixes

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Um grupo de pesquisadores peruanos está desenvolvendo uma vacina para espécies de peixes como a truta, bem como para variedades amazônicas, o que constituiria um grande avanço porque os antibióticos seriam deixados de lado e as imunizações seriam injetadas e combateriam diversas bactérias a que eles estão sujeitos.

Atualmente, a pesquisa está em fase de testes, na qual os pesquisadores estão ajustando detalhes e continuam a realizar verificações com o objetivo de identificar a eficácia da vacina. 

A constatação é do PhD Jefferson Yunis Aguinaga, especialista em aquicultura e pesquisador da Universidade Científica do Sul no Peru, que informou que até o momento pesquisadores trabalham nas regiões de Junín e Puno com trutas; em Loreto, com gamitanas (tambaquis) – trabalho conjunto realizado com o Instituto Peruano de Pesquisas da Amazônia; e em San Martín, na província de Moyobamba, com tilápias e tambaqui. 

Embora possa não parecer possível, tal como os humanos, os peixes também podem ser vacinados e por razões semelhantes. Quando o peixe é criado em grandes quantidades para venda, normalmente utilizam-se antibióticos para combater infeções, mas hoje estão a ser substituídos por vacinas, explicou o cientista.

A este respeito, especificou que, na aquicultura, assim como na pecuária, os peixes são tratados para as bactérias que apresentam. No entanto, com o tempo, as bactérias param de responder aos medicamentos, tornando as infecções mais difíceis de tratar e aumentando o risco de propagação de doenças e morte.

Chega um ponto em que os antibióticos comuns usados ​​na piscicultura não têm mais efeito sobre as bactérias. Diante deste problema, procuramos outras alternativas como a vacinação dos peixes ”, afirmou o pesquisador.

Yunis Aguinaga explicou que também trabalharam com probióticos, mas a vacinação “nos deu melhores resultados”. De acordo com as informações prestadas sobre os estudos, o grupo de pesquisadores peruanos desenvolveu uma extensa vacina para peixes, cujo objetivo é ser aplicada em campo. 

Como acontece em qualquer projeto de vacinação, os pesquisadores desenharam vários protótipos em nível de laboratório e testaram alguns deles em campo em espécies como trutas e peixes amazônicos.

“Ao contrário das vacinas em humanos, nas quais trabalhamos com uma única espécie (a espécie humana), as imunizações em peixes funcionam com muitas espécies de peixes com vários patógenos. Isso torna o processo um pouco mais complexo”, explicou Yunis, que também é pesquisador do Instituto do Mar do Peru (Imarpe).

Afirmou então que, com as informações obtidas, foi realizada a vacinação de um grande número de peixes em diversas pisciculturas e os resultados foram avaliados.

Em três anos teremos uma vacina que poderá ser aplicada em trutas e peixes amazônicos dentro do país”, especificou Yunis.

Até o momento, Jefferson Yunis, junto com seis alunos de tese da Universidade Científica do Sul, realizaram a vacinação na piscicultura Pucayagro em Moyobamba, San Martín, vacinando mais de 20.000 peixes.

“Este é o primeiro trabalho publicado no mundo que aborda vacinas para peixes na Amazônia“, destacou Yunis, indicando que para a realização do projeto receberam recursos do Conselho Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação Tecnológica (Concytec) e o Imarpe. O estudo foi publicado na revista científica Aquaculture Reports. 

Como a vacina é aplicada nos peixes?

Foto: Reprodução/Agência Andina

Ao contrário do processo de vacinação conhecido, no caso dos peixes existem duas metodologias dependendo do tamanho do peixe: por imersão, no caso dos peixes pequenos; e por injeção, no caso de peixes grandes.

Jefferson Yunis afirma a esse respeito que no processo de imersão, pequenos peixes são imersos em um banho-maria de aproximadamente 20 litros, no qual foi previamente colocada uma quantidade de vacina líquida. “Isso dura um minuto e meio ou dois minutos. Depois os peixes vão para o lago normal”, disse Jefferson .

Quando ficam maiores, os peixes recebem uma injeção. 

Uma pessoa pode vacinar aproximadamente 3.000 peixes por hora. Este processo é feito com pistolas que são dispensadoras dessas vacinas e que fornecem a dose exata. Basta aproximar a parte ventral (fundo) do peixe com ela previamente virada. É um movimento da agulha muito rápido, semelhante ao das máquinas de costura ”, detalhou posteriormente.

Como são realizadas as interações com as pisciculturas?

Como as interações não são as mesmas em laboratório e em campo, os pesquisadores precisam realizar testes em pisciculturas para poder ver a evolução da eficácia da vacina neste espaço.

“ O ciclo produtivo dos peixes varia de 6 meses a um ano na maioria dos casos. Levando isso em consideração, nosso projeto está previsto para ser concluído em três anos ”, destacou o pesquisador. 

Além das intervenções realizadas para identificar a evolução do estado vacinal, os investigadores do projeto realizam diagnósticos para identificar as doenças específicas de cada local e o seu dinamismo.

Neste sentido, sustentou que devido ao transporte de peixes as doenças circulam entre regiões. É um processo em que, embora sejam colhidas amostras para análise, nem todos os peixes são vacinados, porque um processo de imunização envolve monitoramento. 

“Vamos de três em três meses provar estes peixes e contamos com o apoio de biólogos profissionais ou veterinários das pisciculturas,” observou o estudioso.

Importância do projeto

Embora o projeto busque chegar à versão final da vacina para sua implementação inicial em Loreto e San Martín, a ideia dos pesquisadores é poder estender seu uso em todas as regiões do país.

A este respeito, Yunis anunciou que se leva em consideração que em cada região os peixes enfrentam diferentes patógenos. 

“As trutas de Puno adoecem por algumas coisas que não adoecem em Junín. Em Moyobamba têm patógenos diferentes dos de Iquitos. Diante disso, a ideia é propor protocolos adequados por região e também considerando as diferentes espécies de peixes “, enfatizou o cientista.

Atualmente os países amazônicos não possuem informações sobre esta alternativa e nesta situação os produtores da nossa selva se sentem desarmados e não têm muitas opções. Com o referido projeto, está sendo proporcionada uma nova perspectiva que pode ser utilizada e ajudar na aquicultura no país, especialmente na Amazônia.

Também participaram da pesquisa os pesquisadores Jhoanna Coaguila-Davila da Universidade Científica do Sul, Carla Fernandez-Espinel do Instituto do Mar do Peru, Violeta Flores-Dominick do Instituto do Mar do Peru e Marco Medina-Morillo do Instituto do Mar do Peru. Peru e Luis Gonzalez-Callirgos da piscicultura Pucayagro.

*Por informações da Agência Andina

Relatório do Ministério dos Transportes não apresenta plano concreto contra impactos ambientais de obras na BR-319

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Organizações da sociedade civil se manifestaram sobre o relatório do Grupo de Trabalho (GT) BR-319, produzido pelo Ministério dos Transportes. Em nota de posicionamento divulgada nesta sexta-feira, dia 21 de junho, assinada pelos coletivos Observatório BR-319, Observatório do Clima e GT Infraestrutura e Justiça Socioambiental, as organizações reconhecem a importância do documento em relação às questões em torno das obras de recuperação da rodovia, assim como a abordagem de demandas defendidas há anos pela sociedade civil. No entanto, apontam preocupação com a falta de um planejamento operacional detalhado para enfrentar os impactos socioambientais com uma possível repavimentação da rodovia.

Saiba mais: Ministério dos Transportes conclui que pavimentação da BR-319 é viável ambientalmente

As organizações enfatizam que não são contra as obras na BR-319, mas defendem um processo decisório que respeite a legislação brasileira voltada para a proteção do meio ambiente e priorize um licenciamento ambiental inclusivo, alinhado com os direitos das populações impactadas e com a sustentabilidade socioambiental do Interflúvio Madeira-Purus.

Entre os pontos positivos apontados no relatório do governo, está a sugestão da criação de uma unidade gestora intergovernamental, porém o documento não traz detalhes sobre recursos e cronograma, nem ações efetivas para criar condições reais de governança territorial na BR-319.

“Antes que se fale em repavimentação é preciso ter um plano concreto e recursos que garantam a atuação fortalecida dos órgãos públicos para a devida gestão do território, garantindo a integridade ambiental e os direitos de povos indígenas, comunidade tradicionais e agricultores familiares. A realidade que vemos é que na região de influência da rodovia, não existem recursos suficientes nem para implementação e proteção das Unidades de Conservação já existentes. Estão passando o carro na frente dos bois, falando em repavimentação antes de gestão, e já vimos que, na Amazônia, isso só resulta em destruição da floresta e problemas sociais”, afirmou a secretária-executiva do Observatório BR-319, Fernanda Meirelles.

Para as organizações, repavimentar a rodovia sem levar em conta a falta de governança ambiental da região vai impactar negativamente ações de combate a queimadas, desmatamento, mudanças climáticas e proteção de áreas protegidas. Para isso, é necessário que o governo federal assegure recursos financeiros e humanos. A nota também enfatiza que a licença prévia concedida para obras no trecho do meio da BR-319 está judicializada e é nula.

“Não há como dar continuidade ao processo de licenciamento da reconstrução e pavimentação do trecho do meio da BR-319. A licença prévia concedida pelo governo Bolsonaro está eivada de nulidade. Atestou-se a viabilidade ambiental da obra sem qualquer garantia de controle do desmatamento e dos impactos socioambientais, bem como sem a consulta prévia às comunidades locais”, alertou a coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, Suely Araújo.

Outro ponto de crítica ao relatório é que o documento ignora pareceres e notas técnicas de órgãos como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) sobre as graves consequências que o asfaltamento da BR-319 pode trazer ao meio ambiente. Ao invés disso, o GT sustenta que a BR-319 é “ambientalmente viável”. O GT também ignorou informações produzidas pela academia e sociedade civil que apontam preocupações ambientais, sociais e econômicas sobre os impactos da recuperação da rodovia.

Foto: Izabel Santos

“Se a opção é pela repavimentação da BR-319, o governo federal deve conduzir um planejamento operacional – com recursos, cronograma e capacidades institucionais – com ações efetivas para enfrentar os riscos e problemas existentes e criar condições efetivas de governança territorial”, destacou o membro da secretaria executiva do GT Infra, Brent Millikan. “Este plano deve incluir ações a serem iniciadas antes das obras, com metas claras, inclusive para servirem de ‘gatilho’ para o início das mesmas. Para avançar nesta direção, o atual GT BR-319 deveria ser ampliado para se tornar um comitê interministerial, envolvendo o comando do governo (Casa Civil/SG/PR) e órgãos chave como MMA/ICMBio/Ibama, MDA/Incra e MPI/Funai, Iphan/MinC – contando com espaço institucional para a participação de representantes da sociedade civil”, completou Millikan.

Participação da sociedade civil

A nota também destaca informações distorcidas no relatório sobre a ampla participação da sociedade civil e dos povos indígenas nas audiências públicas do GT BR-319. A mais grave é a de que um representante do povo indígena Parintintin teria relatado que são favoráveis à rodovia e que houve aprovação dos estudos, apresentados em audiências públicas como requisito para emissão da licença prévia. A informação é negada pela liderança Raimundo Parintintin, que participou da audiência, mas como coordenador-regional da Coordenação Regional Madeira, da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

O relatório também afirma que não houve contribuições ou apontamentos por parte das organizações da sociedade civil convidadas para as audiências públicas a respeito das obras na BR-319; porém, o convite às organizações foi feito em cima da hora, impossibilitando a participação presencial. O GT também não disponibilizou links para a participação on-line das organizações.

“O relatório técnico elaborado em 90 dias pelo Grupo de Trabalho apresenta lacunas significativas que comprometem a capacidade de abordar e gerir adequadamente os impactos ambientais e sociais de um projeto de tal magnitude”, diz trecho da nota das organizações.

Leia a nota de posicionamento completa:

Quem assina a nota

O Observatório BR-319, o Observatório do Clima e o GT Infraestrutura e Justiça Socioambiental são coletivos formados por cerca de 150 organizações da sociedade civil com atuação em diversos temas transversais à pauta socioambiental e que atuam na Amazônia.

O Observatório BR-319 (OBR-319) é formado por 14 organizações e, desde 2017, atua na área de influência da rodovia BR-319, formada por 13 municípios, 42 Unidades de Conservação (UCs) e 69 Terras Indígenas (TIs), entre os estados do Amazonas e de Rondônia. Esta rede tem o objetivo de produzir informações sobre a rodovia e os processos necessários para a adoção de medidas adequadas à realidade local, para o apoio técnico às populações locais para o manejo sustentável de recursos florestais e pesqueiros, gerando renda, incentivando o fortalecimento da organização sociocultural dessas populações e contribuindo para o desenvolvimento no Interflúvio Madeira-Purus.

O Observatório do Clima, por sua vez, é uma associação civil sem fins lucrativos e econômicos, fundada em 2002, que tem por finalidade a defesa e promoção da segurança climática e do meio ambiente por meio das suas mais de cem organizações membro. Para tanto, desenvolve uma série de atividades, dentre elas a propositura de ações judiciais. Sua atuação na área é pautada pelo rigor técnico, estudos, produção de dados e interlocução com o Poder Público e sociedade civil, sendo organização de referência na matéria objeto desta lide.

Desde 2012, o GT Infraestrutura e Justiça Socioambiental tem atuado como rede de entidades da sociedade civil brasileira voltada para a incorporação da justiça socioambiental em políticas, programas e projetos de infraestrutura, especialmente nos setores de transporte e energia, com destaque para a região amazônica.Sua atuação tem se caracterizado pelo enfrentamento de ameaças de obras de alto risco socioambiental e na reparação de danos de projetos existentes como no apoio a iniciativas inovadoras de boas práticas, protagonizadas por comunidades locais, movimentos sociais e seus parceiros, caracterizadas pela integração das dimensões socioculturais, ambientais e econômicas do desenvolvimento sustentável na sua concepção e implementação.

Alegorias (Festival Folclórico de Parintins)

Foto: Divulgação/Assessoria boi bumbá Caprichoso e boi bumbá Garantido

As alegorias são grandes estruturas artísticas que funcionam como suporte e cenário para apresentação. Esculturas gigantes com movimentos e cenários grandiosos ajudam a contar as histórias do boi-bumbá no Festival Folclórico de Parintins, representando o item 16. Denominou-se ‘Alegorias’ porque se tratam de grandiosos cenários que inclusive ganham movimentos. Beleza, criatividade e originalidade são avaliadas.

Comunidades rurais de Rio Branco passam a receber água potável após 23 dias sem chuvas significativas

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O abastecimento de água em comunidades rurais, que geralmente inicia em julho, começou em 17 de junho em Rio Branco (AC). Sem chuvas significativas há 23 dias, equipes da Defesa Civil Municipal levam para as comunidades carros-pipas para atender os moradores mais afetados.

Na terça dia 18, o nível do Rio Acre na capital acreana chegou a 1,90 metro. No último dia 11, governo do estado decretou emergência por conta da falta de chuvas e do baixo nível dos mananciais em toda a Bacia do Rio Acre, que se encontra em situação de alerta máximo.

Três meses após sofrer com enchentes históricas, o Acre agora está começando a sentir os efeitos de um novo evento climático extremo, a seca. Durante todo o mês de maio, o Rio Acre, principal afluente do estado, ficou abaixo de 4 metros. Agora em junho, o manancial tem atingido marcas ainda mais críticas.

Especialistas ouvidos pelo grupo Rede Amazônica, já apontavam para a possibilidade de seca antecipada antes da publicação do decreto de emergência, quando o Rio Acre marcou 2,52 metros no dia 30 de maio, a menor marca para o mês.

O plano de contingência de escassez hídrica começou atendendo 29 comunidades e a meta é distribuir 30 milhões de litros de água. As comunidades são das seguintes regiões:

  • Panorama
  • Jarbas passarinho
  • Quixadá
  • Adalto Frota
  • Liberdade
  • Vila Manoel Marques
  • Vila Verde
  • Maria Paiva de Moura
  • Ramal do Joca
  • Ramal do Curica
  • Padre Nilson Josua
  • Ramal do Romão
  • Aquiles Peret

Ainda conforme o planejamento da Defesa Civil de Rio Branco, inicialmente, 19 mil pessoas devem ser beneficiadas. Os caminhões vão estar nas comunidades diariamente sob o comando das equipes do órgão municipal.

Moradores começaram a receber água nessa segunda-feira (17) — Foto: Arquivo/Defesa Civil de Rio Branco
Foto: Arquivo/Defesa Civil de Rio Branco

A Defesa Civil Municipal informou ainda que a vistoria nessas comunidades começou no início do mês para contabilizar o número de moradores afetados.

Seca severa

Em junho, o Rio Acre subiu de nível apenas no dia 2 de junho, quando saiu de 2,59 metros para 2,60 metros. Em todos os outros registros, divulgados pela Defesa Civil da capital de forma diária, o cenário é de queda. 

O baixo índice pluviométrico na região contribui para o cenário de seca. O esperado para junho é de que chova 60 milímetros. No entanto, não chove desde o início do mês, o que pode afetar o abastecimento de água, segundo o coordenador estadual da Defesa Civil, coronel Carlos Batista.

“Nós temos redução dos mananciais e com essa redução, dificulta um pouco a captação de água. Então há todo esse problema na agricultura e na pesca”, disse Carlos.

A situação contrasta com a vivenciada no início do ano, quando o manancial transbordou, e o total de chuvas chegou a 438 milímetros.

De acordo com o Monitoramento Hidrometeorológico da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema), emitido na sexta dia 14 de junho, apenas em Assis Brasil, no interior do estado, houve aumento de 12 centímetros nas últimas 24 horas, saindo de 2,90 metros para 3,02 metros, isto porque houve chuvas de 9,6 milímetros durante este período.

Apesar da oscilação em Assis Brasil, toda a Bacia do Rio Acre está em situação de alerta máximo, com redução no nível. Segundo a Agência Nacional das Águas (ANA), não houve chuvas significativas na região.

De cheia a seca extrema em poucos meses

Brasiléia ficou 80% inundada durante enchente — Foto: Arquivo
 Foto: Arquivo

Todos os locais por onde o rio ‘passa’ registraram enchentes entre fevereiro e março. Em Brasiléia, o município teve cerca de 80% da área inundada entre fevereiro e março e enfrentou a maior enchente de sua história, quando o manancial chegou a 15,58 metros na cidade.

Quase 4 mil pessoas ficaram desabrigadas ou desalojadas. Mais de três meses depois, o nível atual registrado é de 1,13 metro nesta sexta (14), com queda de 10 centímetros desde o início de junho.

Em Xapuri, onde o Rio Acre alcançou 17,07 metros, a última medição aponta para 1,56 metros. Em alguns pontos do manancial, é possível ver bancos de areia [veja abaixo]. A enchente deixou mais de 200 pessoas desabrigadas e outras 545 desalojadas na região. Neste mês, o nível iniciou em 1,71 metros. Ou seja, uma queda de 15 centímetros.

Já em Assis Brasil, o manancial chegou a 13,36 metros com mais de 400 pessoas desabrigadas e quatro bairros atingidos. Já nesta sexta, o nível registrado é de 3,02 metros. A marcação do último dia 2 de junho era de 2,99 metros. A cidade foi a única da Bacia do Rio Acre a registrar índice significativo de chuvas: 31,2 milímetros.

Rio Branco, por fim, foi a cidade onde o Rio Acre apresentou a maior queda em junho [60 centímetros] e a única da Bacia que não registrou chuvas. No dia 6 de março deste ano, o manancial chegava a 17,89 metros, sendo a segunda maior enchente da capital desde 1971. O nível atual desta sexta (14) é de 1,99 metros. Ou seja, quase 16 metros a menos do que foi registrado há mais de três meses.

“Essa é a segunda menor cota para junho, em toda nossa série histórica que começou em 1971, e está a 5 cm da menor cota, que foi de 1,94m, que foi em junho de 2016. A gente vem percebendo que o comportamento do Rio Acre tá em tendência de vazante. Nas demais bacias, os níveis estão em tendência de vazante também”, complementou o coordenador da Defesa Civil estadual.

Falta de chuvas

É preciso entender ainda que as chuvas na região precisam estar dentro da normalidade para o rio poder correr normalmente, o que não acontece atualmente no Rio Acre. Em maio, choveu apenas 56,4 milímetros na capital, o que corresponde a 40% do que era esperado para todo o mês, que era de 108 milímetros.

Esta irregularidade na quantidade de chuvas faz com que aumente a frequência de secas e de cheias. Os sistemas de larga escala, como o El Niño, acabam servindo como ‘catalisadores’, acelerando estes fenômenos climáticos e influenciando nas mudanças do clima.

“Isso implica situações que, além da quantidade normal que temos de água, que irá diminuir, uma parte desta diminuição será decorrente dessas secas, que é quando tem situações de precipitações muito abaixo da média. E o que a gente estima é que isto vá ficar cada vez mais frequente”, disse ao g1 o pesquisador da Agência Nacional das Águas e especialista em regulação de recursos hídricos e saneamento básico, Saulo Aires de Souza.

Em setembro de 2023, foi decretada emergência em áreas que sofriam com a falta d’água, situação esta reconhecida pelo governo federal nos 22 municípios. Este ano, o decreto saiu três meses antes do previsto.

Decreto de emergência

A situação de seca antecipada na Bacia do Rio Acre é pontuada no decreto de emergência, que tem vigência até 31 de dezembro deste ano. O governador Gladson Cameli destaca ainda que:

“A continuidade prevista do baixo volume de precipitação, aliada ao aumento de temperaturas, provoca a redução do armazenamento de água no solo no Estado e potencializa a probabilidade de ocorrência de situações emergenciais e intensificação de secas na região para o período”.

Rio Acre apresenta níveis muito abaixo do esperado para junho, diz Defesa Civil — Foto: Andryo Amaral/Rede Amazônica Acre
 Foto: Andryo Amaral/Rede Amazônica Acre

Em Rio Branco, a Defesa Civil municipal confirmou que, por conta desta possibilidade de seca ‘antecipada’, um plano de contingência de escassez hídrica está pronto para ser colocado em prática. Contudo, detalhes sobre quais medidas fazem parte do plano ainda não foram divulgados.

Em nível estadual, um plano de contingenciamento foi elaborado para este período de seca. No entanto, não especificou o que está sendo planejado.

“Todas as defesas civis municipais também já enviaram pra gente o plano de contingência e a gente está nessa preocupação dessa força-tarefa bem articulada com comando unificado, envolvendo os três níveis de governo pra que a gente venha amenizar, reduzir os impactos do efeito de uma seca, de uma estiagem prolongada, mais para aquelas populações que são mais afetadas”, comentou o coronel Carlos Batista.

O diretor-presidente do Serviço de Água e Esgoto de Rio Branco (Saerb), Enoque Pereira, disse que apesar de o Rio Acre ter previsão de registrar uma cota menor que de 2022, a autarquia trabalha para que a vazão de água seja de 1,5 mil litros por segundo, para não comprometer o abastecimento da cidade.

Histórico de secas

O ano em que o manancial apresentou a menor marca histórica foi em setembro de 2022, quando marcou 1,25 metro. Naquele ano, o rio já estava abaixo dos quatro metros no mês de maio.

O mesmo quadro foi observado em 2016, ano com a segunda pior seca. Em junho daquele ano, dado como a menor cota até então, o nível do rio estava em 1,94 metro e em 17 de setembro atingiu a menor cota histórica da época: 1,30 metro.

“Para o ano de 2024, mesmo com todas as previsões de ser uma das secas mais severas dos últimos anos, o Saerb garante que manterá o abastecimento de Rio Branco, salvo em caso de colapso total do Rio Acre”, complementou.

* Com informações g1 Acre

Parceria da Embrapa com povos indígena de Rondônia investe em transferência de tecnologia

A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) participou na quarta-feira (19) da cerimônia de assinatura de um Protocolo de Intenções entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Associação Metareilá. Considerado histórico por todo o contexto que envolve a aproximação da instituição com os povos indígenas, o evento celebra a parceria entre a Embrapa e o Povo Paiter Suruí, da Terra Indígena Sete de Setembro, no estado de Rondônia. A parceria já resultou na organização de cursos para os povos indígenas, em projetos de reflorestamento, entre outras iniciativas.

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Como representantes da Funai, além da presidenta Joenia Wapichana, estiveram presentes a diretora de Promoção ao Desenvolvimento Sustentável, Lucia Alberta; o coordenador-geral de Promoção ao Etnodesenvolvimento, José Augusto; e o coordenador da unidade regional de Cacoal (RO), Rubens Naraikoe Suruí.

A presidenta da Funai compôs a mesa de cerimônia do evento ao lado da diretora de Negócios da Embrapa, Ana Euler; da secretária nacional de Articulação e Promoção de Direitos Indígenas do Ministério dos Povos Indígenas (MPI), Juma Xipaia; do presidente da Associação Metareilá do Povo Paiter Suruí, cacique Almir Narayamoga Suruí, que também é coordenador executivo do Parlamento Indígena do Brasil (Parlaíndio); e do secretário nacional de Territórios e Sistemas Produtivos Quilombolas e Tradicionais do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Edmilton Cerqueira.

A pesquisadora Terezinha Aparecida Borges Dias fez uma explanação mostrando a atuação da Embrapa com os povos indígenas, lembrando do primeiro contato feito na década de 1990, com apoio da Funai, no estado do Tocantins.

Transferência de tecnologia

O Protocolo de Intenções tem como diretrizes o fortalecimento da governança territorial, o desenvolvimento de sistemas agroalimentares sustentáveis, o diálogo permanente entre os saberes tradicionais e o conhecimento científico, a conservação da agrobiodiversidade, a agregação de valor aos produtos amazônicos, a promoção da soberania e segurança alimentar e a busca de soluções para a crise climática e a preservação da floresta.

“Busquei essa iniciativa porque entendi que a gente tem que trabalhar juntos para que o meu povo pudesse juntar esse conhecimento científico com conhecimento tradicional para produzir com o objetivo de fazer gestão em seu território, valorizando sua cultura e potencializando economia de biofloresta”, afirmou o cacique Almir Narayamoga Suruí.

A iniciativa a que se refere o cacique são os trabalhos que já ocorrem na Terra Indígena Sete de Setembro para a melhoria do cultivo de café, banana, castanha, entre outros, por meio da transferência de tecnologias da Embrapa, com apoio de outros parceiros. “Espero que essa seja uma iniciativa que possa servir para outros povos indígenas, para mostrar que nós também fazemos parte do desenvolvimento do nosso Brasil de forma muito responsável e planejada de médio e longo prazo”, considerou.

“Espero que essa seja uma iniciativa que possa servir para outros povos indígenas, para mostrar que nós também fazemos parte do desenvolvimento do nosso Brasil de forma muito responsável e planejada de médio e longo prazo”. – Cacique Almir Suruí, presidente da Associação Metareilá do Povo Paiter Suruí.

Cacique Almir Narayamoga Suruí, presidente da Associação Metareilá do Povo Paiter Suruí. Foto: Reprodução/Funai

Diálogo com os povos indígenas

Ao parabenizar a iniciativa, a presidenta da Funai, Joenia Wapichana, destacou a importância do diálogo que foi construído entre a Embrapa e os povos indígenas, como no caso de valorizar as sementes tradicionais nas suas pesquisas para a implementação de projetos.

“Foi uma mudança que eu vi acontecer dentro do diálogo com a Embrapa em que os povos indígenas colocaram as suas intenções, a Embrapa aceitou e daí nasceu uma relação de confiança, que a gente não precisa criar produtos geneticamente modificados, mas que a gente fortaleça as sementes que já existem”, afirmou a presidenta da Funai, fazendo referência aos conhecimentos tradicionais que, segundo defende, precisam ser valorizados tanto quanto o conhecimento científico e acadêmico.

Joenia também reforçou como a Funai tem atuado na orientação da política indigenista. Segundo ela, a instituição tem defendido os direitos constitucionais indígenas para que os povos tenham a sua decisão respeitada em termos de gestão territorial. “Nessas parcerias que surgem com os povos indígenas para a execução de projetos de desenvolvimento sustentável e de gestão territorial e ambiental, a iniciativa deve partir dos povos indígenas”, ressaltou.

“A gente não precisa criar produtos geneticamente modificados, mas que a gente fortaleça as sementes que já existem”. – Joenia Wapichana, presidenta da Funai.

Joenia Wapichana, presidenta da Funai. Foto: Reprodução/Funai

Inovação indígena

De acordo com a diretora de Negócios da Embrapa, Ana Euler, o trabalho da instituição com os povos indígenas contribuiu para a estruturação da Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (PNAPO) e a Política Nacional de Gestão Territorial e Ambiental de Terras Indígenas (PNGATI). “A nossa principal contribuição vem do trabalho de conservação e disponibilização de sementes nos nossos bancos de germoplasma [formado a partir da identificação, da caracterização e da preservação de células germinativas de alguns seres vivos, sejam eles animais ou vegetais]”.

Atualmente, o trabalho que a Embrapa desenvolve com a Funai está amparado por um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) vigente até 2025. O objetivo é a conjugação de esforços para o fortalecimento da implementação da PNGATI e dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Agenda 2030 da Organização das Nações (ONU). Em especial, promovendo pesquisa, fomento e extensão no âmbito de iniciativas produtivas dos povos indígenas por meio do diálogo de saberes e valorização dos conhecimentos tradicionais e apoio ao desenvolvimento de novas tecnologias e inovações sociais.

“Queremos promover a troca de conhecimentos de tecnologias e saberes associadas à conservação da nossa rica agrobiodiversidade”. – Ana Euler, diretora de Negócios da Embrapa.

Ana Euler, diretora de Negócios da Embrapa. Foto: Lohana Chaves

“Colocamos os povos indígenas como parceiros estratégicos de nossa agenda de pesquisa e de transferência de tecnologia. Queremos promover a troca de conhecimentos de tecnologias e saberes associadas à conservação da nossa rica agrobiodiversidade. Queremos apoiar a inovação indígena como acontece na Terra Indígena Sete de Setembro, com os modelos que hoje existem de reflorestamento, produção de café, etnoturismo rural e tantas outras iniciativas que a gente sabe que estão presentes em todos os territórios indígenas do Brasil”, reafirmou a diretora Ana Euler.

*Com informações da Funai

Praga da mandioca: uma cultura em risco

Olimpio Guarany*

Há cerca de um ano, uma doença desconhecida atingiu as plantações de mandioca na região norte do Amapá, colocando quatro municípios em situação de emergência. Em Oiapoque, comunidades indígenas perderam suas roças, o que comprometeu a produção da farinha e outros derivados, considerados a base da alimentação e a principal fonte de renda. A Embrapa constatou que a doença causa um crescimento excessivo das hastes laterais da planta, produzindo sintomas semelhantes a uma vassoura. O caule fica negro por dentro e, quando cortado, a planta começa a morrer, especialmente de cima para baixo. Nos casos mais severos, a planta morre completamente. 

Sobre esse assunto, conversei com o engenheiro agrônomo e doutor em desenvolvimento socioambiental, Antônio Claudio, chefe da Embrapa no Amapá. Ele comentou que a instituição se uniu a outras congêneres da Franca e da Alemanha para identificar a origem da doença. Inicialmente pensou-se que era uma bactéria, mas o laboratório da Alemanha já identificou que é um tipo de fungo não descrito aqui no Brasil. O ministério da Agricultura deverá ser comunicado oficialmente em breve. O dr. Antônio Claudio afirma que esse patógeno veio de fora e entrou no Amapá pela fronteira. A preocupação é que ele já saiu da região do município do Oiapoque e atinge comunidades em Calçoene, casos do Carnot e Cunani. 

Diante desse quadro grave, é imperioso que medidas urgentes sejam tomadas pelos setores competentes do poder público. Antonio Claudio chegou a dizer que a Embrapa vai tentar fazer uma barreira para tentar limitar o avanço do fungo. 

Entendo que estamos diante de um flagelo sociocultural, já que a mandioca é a mais tradicional cultura do nosso povo, especialmente dos povos originários. É da mandioca que se produz a farinha, componente básico da dieta alimentar, o beju, a goma, o tucupi e os alimentos a partir da folha da maniva. Não podemos deixar morrer a principal cultura de um povo. Imaginem que, sem a roça, os indígenas ficam sem ocupação, tendo que consumir farinha produzida em outros lugares, com sabores, texturas e cores diferentes das tradicionais. Além disso, a rotina do dia a dia desses povos fica comprometida. 

Ao que se sabe, uma empresa de Santa Catarina, usando biotecnologia, desenvolveu um fertilizante foliar, reconhecido pelo ministério da Agricultura, que fez diversos testes em comunidades indígenas e quilombolas de Oiapoque e Cunani, colhendo excelente resultados. 

Enfatizamos que o fertilizante Logos não é um “veneno” que destrói um fungo ou uma bactéria, causando danos químicos ao meio ambiente. A tecnologia do foliar Logos tem como fundamento básico trazer o equilíbrio para o meio ambiente, estimulando os fungos bons do solo a voltarem, permitindo que as folhas realizem uma fotossíntese de qualidade. Quando o meio ambiente está em equilíbrio harmonioso a vegetação agradece e até os animais como abelhas e zangões voltam a realizar o exercício da pulverização natural, fato que verificamos em várias situações nos testes realizados no Amapá A comprovação da tecnologia do Logos mostra-se evidente nas regiões do Oiapoque e Calçoene, onde em apenas 30 dias, em média, as lavouras de mandioca voltaram a ser produtivas”, disse o professor Sérgio Parastchuk, pesquisador e diretor da empresa.

Penso que o que está em jogo aqui não é apenas uma planta, mas a sobrevivência de uma cultura, de um modo de vida. A mandioca não é apenas um alimento; ela é a alma dessas comunidades, a essência de sua identidade. A perda das roças significa a perda de autonomia, de tradição, de histórias passadas de geração em geração. Cada planta que morre carrega consigo um pedaço da alma de um povo. Não podemos assistir inertes a essa tragédia. Precisamos agir agora, com urgência e determinação, para salvar não apenas as plantações, mas a dignidade e a identidade de milhares de pessoas. Se deixarmos essa doença vencer, estaremos permitindo que uma parte vital da nossa história desapareça para sempre. Não podemos deixar que isso aconteça. É nosso dever lutar pela preservação da mandioca, pela continuidade das tradições e pelo futuro de nossos povos originários.

Sobre o autor

Olimpio Guarany é jornalista, documentarista, economista e professor universitário. Realizou a expedição histórica, navegando o rio Amazonas, desde a foz até o rio Napo (Peru) por onde atingiu o sopé da cordilheira dos Andes e depois subiu a Quito, Equador (2020-2022), refazendo a saga de Pedro Teixeira, o conquistador da Amazônia (1637-1639).

*O conteúdo é de responsabilidade do colunista